Robert Johnson Filho Do Diabo
Patrizia Barrera
Patrizia Barrera
Agradecimentos
Texto original, resultado de longa pesquisa e muita paixão.
Obrigada a todos que apreciaram este livro e o guardaram com carinho.
Patrizia Barrera
Julho de 2015
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Copyright Patrizia Barrera 2020
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RHA PRODUCTION
ALEM DA LENDE
Um garoto solitário
Às vezes eu gosto de dissipar um pouco os mitos, reduzi-los a uma dimensão mais humana. É esse o caso de Robert Leroy Johnson, sempre definido como demoníaco, obscuro, em certo sentido ligado ao Maligno e àquela imagem sombria dos pioneiros do rock.
Sobre eles já foi dito de tudo e um pouco mais, embora, como acontece com muitos artistas da época, os dados biográficos disponíveis para nós sejam muito poucos. Mas talvez seja precisamente a Lenda que incide sobre a imortalidade de sua figura que, na minha opinião, também acentua sua profundidade artística. Não posso esconder que não gosto do seu personagem, e provavelmente muitos de vocês vão me odiar por isso. Mas não costumo ter papas na língua e adoro trazer à tona verdades desconfortáveis. No caso de Robert Johnson, trabalhei duro para traçar a realidade VERDADEIRA dos fatos... e garanto que encontrei alguns detalhes realmente saborosos para os leitores! Mas comecemos do início.
Uma infância certamente difícil, mas nem um pouco obscura, como muitos afirmam.
Sua mãe se chamava Julia Major e era definitivamente uma garota muito exuberante! Em 1889, ela se casou com um tal Charles Dodds, que possuía terras e uma pequena loja de móveis de vime. O homem parecia ter origem judaica e não era muito bem visto na pequena cidade de Hazlehurst, no Mississippi, onde a família morava. Hábil comerciante, ele frequentemente atraía a inveja de outros pequenos proprietários da região, provavelmente também irritados por ele não ser um “americano puro”.
Esta foi a primeira casa de Robert Johnson em Hazlehurst. Ela era uma ruína até os anos 90, quando a cidade decidiu restaurá-la e transformá-la em um museu. A casa foi construída por Charles Dodds e inicialmente tinha uma varanda, que também pode ser vista em algumas fotografias antigas de Johnson. Uma comodidade para a época: a casa também tinha água corrente!
Sabe-se que na época as coisas aconteciam muito rapidamente: ela chegou às mãos dos irmãos Marchetti (e até o homem morto parece ter fugido também!) Charles foi forçado a fugir na mesma noite, em 1909, sem deixar vestígios. Deixada sozinha com dez filhos para cuidar, a pobre Julia não sabe o que fazer: isolada, evidenciada, objeto de vários assédios, ela não consegue dar conta da pequena fazenda, que acaba em ruínas. Enquanto isso, seu marido se muda para Memphis e troca seu nome para Spencer. Juntando algum dinheiro dos dois lados, Julia consegue enviar os filhos mais novos para o pai, dois de cada vez, até ficar sozinha em Huzlehurst com as filhas mais velhas. E aqui a tragédia explode: forçada a fechar até a loja de móveis, porque não pode pagar os impostos, e a encontrar acomodação em uma cabana abandonada nos subúrbios, a pobre mulher é forçada a aceitar o que chamamos de "empregos sazonais" para sobreviver, colhendo algodão 12 horas por dia em plantações próximas.
Aqui está a mesma casa, restaurada, como está hoje.
Nesse momento, ela tem um breve relacionamento com um fazendeiro local, Noah Johnson, e engravida do pequeno Robert, que nos primeiros anos de vida é criado por suas irmãs. Por um tempo, isso não chega aos ouvidos do marido, Charles... mas não por muito tempo! Incapaz de entender a solidão de sua esposa, ele explode em ira, recusando-se a reconhecer a criança pelos anos seguintes, embora ainda faça tentativas desesperadas de reunir a família. Isso acontecerá 10 anos depois, mas o pequeno Robert (Leroy) será para sempre o "bastardo", apenas tolerado e pouco amado. Como forma de um consolo "preventivo" para a traição da esposa, no entanto, parece que ele já havia tido um relacionamento estável com outra mulher, com quem teve dois filhos. Então, quando a família finalmente se reuniu, era na realidade uma grande família extendida, que incluía os dez filhos de Charles e Julia, os dois de Charles com sua amante e o pequeno Robert. Não é possível ser muito feliz em uma situação como essa!
Aqui está o certificado original do censo de 1920... Naquela época, o pequeno Robert já estava morando com sua mãe e o padrasto, Dusty Willis, no Arkansas. É interessante notar que o sobrenome da criança aparece como Spencer...
Nem é preciso dizer que o casamento entre Charles e Julia acaba; em 1919, a encontramos casada novamente com um certo Dusty Willis, e o novo casal vai morar em Robinsonville, no delta do Mississippi. Robert vivia com eles, mas o relacionamento com o padrasto é muito difícil. O garoto tinha acabado de saber quem era seu verdadeiro pai e, relutante em relação a ambos os padrastos, gritava o sobrenome Johnson aos quatro ventos. Ele é briguento, de temperamento curto e sofre de dores de cabeça constantes. Apesar de ter aprendido antes a ler e escrever (e alguns dizem que ele até tinha uma boa caligrafia), ele não quer mais ir à escola e não completa o ensino fundamental. Seu único consolo é ir à beira do rio e tocar gaita e harpa de judeu.
Em casa, ele é absolutamente inútil, e mais ainda quando o assunto é trabalhar no campo. Em 1920, a pequena família se mudou para o Arkansas, em Lucas Township, no Condado de Crittenden, como mostra um
censo de 1920, mas as coisas não melhoram muito. É sabido que Robert tinha um olho “bailarino”, ou seja, um olho menor que o outro, e que ele tinha consideráveis dificuldades de atenção. Dizem que ele pode ter sofrido epilepsia... mas não posso confirmar esse fato, porque muitas crises de agressão típicas da adolescência podem ser confundidas com essa doença. E parece que o bom Robert teve várias crises, já que, no final, a família se resignou à sua vida de retardatário!
Caubóis e estradas do extremo oeste. O Condado de Crittenden era assim em 1920.
Aos 14 anos, começou a frequentar barcos musicais nas margens do Mississippi para fumar, beber e sair com mulheres. Infectado pela música de Son House e Willie Brown, ele se refugia no Blues, mas a música “amaldiçoada” é escondida da família, que ostraciza essa sua paixão em todos os sentidos. Talvez neste período tenha nascido a mania do jovem Johnson de brincar em cemitérios e em locais sombrios: muito longe do pensamento do “diabo”, o pobre Robert simplesmente procura um lugar escondido para praticar sua paixão em paz e chorar em silêncio. Antes de ser tocado pelo Maligno, aos 15 anos, ele é um adolescente inquieto e, na realidade, um desajustado.
Agora, antes de prosseguir, gostaria de focar sua atenção na famosa harpa de judeu, da qual muitos falam. Se você der uma olhada na internet, encontrará muitos artigos sobre Robert Johnson que afirmam que ele a tocava... sem ir muito ALÉM na descrição. No entanto, esse pequeno instrumento diz muito sobre psicologia e, acima de tudo, sobre as habilidades artístico-musicais do jovem Johnson!
Esta é uma harpa de judeu de 1900. Provavelmente, o pequeno Robert aprendeu a tocar uma dessas nos barcos do Mississippi....
A harpa do judeu é na prática ... um BERIMBAU DE BOCA, um instrumento de origem Jipsy que era tocado pelos nômades de Rajastan desde 1500 e que, como muitos outros, havia chegado às margens do Mississippi com os imigrantes italianos e judeus, que o adotaram. Hoje, como antes, chamar alguém de Jipsy era chamar de modo depreciativo, como "cigano" . O pequeno instrumento era, portanto, quase o símbolo de um estilo de vida alternativo, para não dizer vadio. Também era muito fácil de adquirir, fabricar e até tocar; nenhuma habilidade em particular era necessária, exceto perseverança. Johnson provavelmente o usava também para alcançar estados de transe e bem-estar (hoje, chamaríamos de "brisa"), porque as vibrações do instrumento, junto do uso de álcool, levavam a uma forma de afastamento e dissociação da realidade, uma técnica provavelmente aprendida em lugares infames no Delta.
A harpa do judeu, de matriz declaradamente Afro, ainda é difundida na Nova Guiné, entre a Papua. Obviamente, com as alterações necessárias....
Além de tocar harpa e gaita, nosso Robert também parece ter omeçado a trabalhar um pouco para se sustentar, principalmente quando as relações com sua mãe e seu padrasto desmoronaram completamente. Estamos em 1928, e Johnson atua como trabalhador agrícola na plantação de Abbay-Leatherman, perto de Robinsonville. Aqui, ele provavelmente conheceu o primeiro e único grande amor de sua vida, Virginia Travis, com quem se casou aos 18 anos em Penton, MS, em 17 de fevereiro de 1929. Sem dinheiro, os dois vão morar na casa da irmã dela, Bessie, e de seu cunhado Granville Hines. Parece que o chalé modesto ficava nos arredores de uma comunidade que não existe mais, chamada Nova África, mas, para ter uma ideia de como era social e culturalmente orientada, você pode fazer uma viagem a New Road Africa até Clarcksdale. Ainda é uma comunidade bastante rígida, um pouco fechada e certamente animada por grande fervor religioso. Tudo parece limpo e arrumado o suficiente, e a vida segue tranquila, de acordo com uma ordem social bastante dura. Viver lá em 1929 não deveria ser uma explosão... para um cara como Robert Johnson!
Uma imagem raríssima que retrata Robert Johnson na varanda de sua casa em Nova África, onde ele morava com sua esposa, Virginia, a irmã dela e o cunhado. É 1928...
Embora ele trabalhasse e amasse sua esposa, uma jovem tímida e doce de quinze anos que faz trabalhos domésticos, sabe-se que Johnson não tolerava a vida rural e que fugia de casa com muita frequência. Ele ia a clubes de má fama e barcos no rio em busca de um sonho. Corrompido pela música do Blues e pela obsessão por Charlie Patton e Son House, ele ficava muito pouco perto de sua esposa, que estava grávida de seu primeiro filho. Mas a tragédia se aproxima. Na noite entre 9 e 10 de abril de 1930, Virginia morre no parto, com o pequeno Claude Lee no colo: Robert não está com ela. Ele está tocando para clientes bêbados em barcos do Mississippi.
Ao voltar para casa dois dias depois, ele encontrará sua esposa morta e enterrada e o ostracismo de toda a comunidade, que o apedreja como um vagabundo, libertino e escravo do diabo. Agredido por sua cunhada, Bessie, que o acusa publicamente de "ter vendido a alma ao diabo e, assim, matado sua esposa", o jovem é literalmente jogado para fora de casa, humilhado, ferido e completamente devastado na alma. Ele desaparece no mesmo dia e começa a passear nos trens de carga de cidade em cidade, cada vez assumindo um nome diferente: Robert Spencer, Robert James, Robert Barstow e Robert Sacks. Nós o encontramos por um breve período em Hazelhurst, provavelmente em busca de conforto. Ele o encontrará em um dos meio-irmãos do padrasto Charles, que lhe ensinará os rudimentos do violão e até lhe dará um, um Gibson Kalamazoo, que Robert manterá consigo até sua morte. Bem aqui aparece uma mulher muito mais velha que ele, Calletta Craft, com quem se casa em segredo em maio de 1931. Ela não apenas lhe dará um filho, mas permitirá (ou melhor, incentivará) que se relacione com aquele que foi chamado de “o Diabo em pessoa”.
FILHO DO DIABO
O mestre das trevas
Mas quem era essa figura sombria, sempre comparada ao diabo? Foi por causa dele que Robert Johnson fez o famoso PACTO, vendendo sua alma para alcançar sucesso e habilidade para tocar violão? Foi mesmo esse homem o famoso mentor que o acompanhou até a "encruzilhada" onde o Maligno foi evocado? Vejamos como foram os fatos.
A lenda sobre Ike Zimmerman nasceu de um famoso testemunho de Son House, que conheceu Robert em 1930 em um dos clubes do Mississippi. Na época, a euforia do blues era palpável, e os músicos se juntavam a patronos e jovens promessas tocando todos juntos, como em uma dessas jam session de hoje. Bem, Son House relata que Robert Johnson tocava violão como quem empunha uma enxada e que muitos clientes pediam para que ele silenciasse o garoto que fazia as pessoas sentirem dor de cabeça! Depois de apenas um ano desse episódio, os dois se reencontram... e dessa vez Johnson deixa todo mundo sem palavras pelas habilidades incríveis e pela velocidade em dedilhar as cordas que ele havia desenvolvido em apenas um ano! E foi Son House, junto de seu alter ego, Willie Brown, quem sugeriu que apenas vendendo a alma ao diabo é que alguém poderia se tornar tão bom em tão pouco tempo!
E como naquele curto ano todos se lembravam de ter visto o jovem Robert na companhia de Ike Zimmerman "tocando blues” e nas lápides do cemitério fora da cidade, a combinação de Talento-Zimmerman-Demônio foi quase automática.
Aqui está o "fofoqueiro" Son House na época dos fatos ...
Os rumores correram e a lenda do pacto com o diabo imediatamente tomou forma: finalmente, foi o próprio Robert Johnson a fixá-la, dando-lhe definitivamente uma voz em seu CROSSROAD BLUES. Então, como acontece nesses casos, a lenda começou a correr mais rápido do que ele e o envolveu, transformando-o em um artista "belo e condenado", destinado (como ele era na época) a uma vida intensa e curta de sucesso e a uma morte dramática e repentina. E Zimmerman em tudo isso... que papel ele desempenhou?
Eu encontrei muitas notícias sobre ele... em uma rádio do Alabama, que entrevistou sua filha há alguns anos quando reivindicava algumas das peças de seu pai publicadas mais tarde por Robert Johnson. A imagem que aparece é bem diferente da que você encontra por aí!
Isaia " Ike " Zimmerman (mas o sobrenome original parece ser Zinnerman) nasceu em Grady, Alabama, em 1907. Embora tenha desenvolvido seu amor pela música desde cedo, ele foi forçado a trabalhar como agricultor quando criança nos pequenos negócios da família. No seu tempo livre, no entanto, ele gostava de dar umas voltas pela região, e parece que em Montgomery era bem conhecido. Nesta cidade encantadora, ele se casará uma certa Ruth, que era cozinheira em umadas melhores hospedarias do lugar. Com ela, ele se mudou para um lugar chamado The Quarters, em Beauregard Road.
É interessante notar que a pequena aglomeração de 6 casas ficava bem ao lado de um cemitério e que a casa de Ike ficava jo cruzamento, como conta sua filha. Ali a família aumenta e ele muda de emprego, mas nunca perde a paixão pelo blues, que, como sempre, não é bem vista pelos habitantes locais. No entanto, ele é muito habilidoso não apenas com o violão, mas também com outros instrumentos, além de ser um bom professor. E parece que em algum momento ele começou a gostar de ensinar violão... para mulheres! Um outro ponto de contraste com a pequena comunidade, se pensarmos que no início dos anos 20 a sociedade, seja negra ou branca, não parecia favorável às mulheres "aculturadas". Muito menos que tocassem blues!
Então, Zimmerman acaba dando aulas... nos cemitérios, e não apenas nos de Beauregard, mas em todos os da área, já que ele costumava andar por aí. A razão dessa escolha lúgubre é muito simples: eram lugares sagrados, calmos e um pouco fora de rota, lugares onde nem mesmo o chefe mais acalorado do distrito faria investidas... ou coisa pior. Com o tempo, a figura de Ike foi "absorvida e tolerada" e começou a fazer parte da paisagem. Seus breves passeios o levaram a Martinsville, onde seu irmão Herman morava e onde muitas vezes parava em um lugar chamado ONE STOP, porque toda a área tinha um único ponto de ônibus. É aí que acontece o fatídico encontro entre Zimmerman e Johnson.
Segundo os testemunhos, Robert estava sem um centavo e parou no bar para se refrescar e tocar um pouco. Os dois se deram bem imediatamente e Ike convidou o garoto sem dinheiro, que demonstrava um grande amor pelo violão e uma forte vontade de aprender a tocar, para sua casa. Johnson ficará ali um ano inteiro. Toda a família Zimmerman se apegou ao garoto, e as crianças brincavam com ele. À noite, todos se reuniam ao redor da fogueira para tocar baladas tradicionais ou até músicas típicas da família Zimmerman. De acordo com o relato dos filhos, parece que as famosas Ramblin' on my mind e Come on into my kitchen, publicadas por Johnson, na verdade eram músicas compostas por Ike, das quais Johnson se apossou.
De qualquer forma, os dois trabalharam duro: aos sábados e domingos, eles caminhavam por uma estrada de terra através da floresta, atravessavam um cruzamento (!) e então viravam à direita para entrar no cemitério, onde tocavam dia e noite. De fato, muito mais à noite, já que o bom Ike trabalhava como operário durante o dia para sustentar a família! Às vezes Robert voltava para sua esposa Callie... mas por períodos muito curtos. Além do violão, parece que Zimmerman o ajudou a afinar a arte da gaita e que foi co-autor de muitas das músicas que foram gravadas por Okeh alguns anos depois.
Logo eles começaram a fazer "duelos musicais" por toda a região entre Juke e Martinsville: tocavam violões no meio das ruas até que foram para o Texas, onde seus caminhos se partiram. Robert voltou ao norte para surpreender seus companheiros músicos com as habilidades adquiridas, e Ike deixou Beauregard para se mudar com sua família primeiro para Los Angeles e, finalmente, para Compton, na Califórnia, onde iniciou uma atividade pastoral. Ele nunca parou de tocar blues e morreu pacificamente em sua cama em 1974.
Uma foto raríssima de Ike Zimmermann quando orientava o jovem Johnson...
Só isso? Então, e o pacto com o diabo?
Digamos que, se realmente não queremos colocar o pobre DOUTOR FAUSTO em jogo, a idéia de vender a alma ao Maligno... é uma história antiga! Toda a tradição afro-americana e europeia está cheia de referências a essa prática; basta lembrar a famosa história de Irving Washington, “O Diabo e Tom Walker”, de 1824, ou “ O Diabo e Daniel Webster”, de Stephen Vincent Benét. Stephen Vincent Bennet del 1936. E o que dizer de um dos ilustres predecessores de Robert Johnson, o músico negro TOMMY JOHNSON, que, triste e alcoolizado, na sequência do igualmente confuso CHARLIE PATTON, percorreu o Mississippi gritando seus BIG ROAD BLUES?
E se realmente queremos colocar tudo, não foi Son House que sublinhou a "familiaridade" entre a história de Robert Johnson e a do bluesman de St. Louis PEETIE WHEATSTRAW, que se autoproclamva “filho legítimo de Satanás”? Finalmente, se queremos
Chegar às histórias que nos são familiares, que tal a de Nicolò Paganini e muitos de seus passos que foram ditados pelo diabo?
Em suma, fazer de um talento nato adquirido de um árduo empenho e de uma disposição inata uma Lenda, bordá-lo na glória de Robert Johnson e expandir essa imagem para fins puramente comerciais pelas etiquetas que o produziram não foi difícil. Pena que depois o músico CONDENADO tenha se engasgado sozinho, alimentando sua própria fábula!
Aqui está Tommy Johnson, o primeiro Filho do Diabo dos pântanos do delta. No entanto, a figura deste músico alcoólico não criou problemas para a comunidade negra da época: por quê? Veremos a seguir....
No entanto, seu comportamento certamente não era edificante: ele já tinha tido boas conversas sexuais com a senhorita Virginia Mae Smith dois meses após a morte de sua pobre esposa, grávida de um filho que ele nunca quis reconhecer, e fugiu em segredo para se casar com a rica e multidivorciada Callie Craft, dez anos mais velha, apenas por razões econômicas. Espalhava por toda parte rancores, discordâncias e corações partidos.
Ao contrário de muitos bluesman que iam para a cama de qualquer pessoa com o único objetivo de obter qualquer migalha, uma garrafa e um pouco de calor, Robert Johnson utilizou suas habilidades de amante com o cálculo preciso de um empresário, vendendo-se para quem oferecia mais. Ele não considerava indecoroso o apoio de mulheres idosas e ricas, a quem seduzia, explorava e na maioria das vezes batia, para finalmente abandoná-las quando encontrava algo melhor. Seu segundo casamento terminou... quando Callie adoeceu (alguns dizem que foi por um aborto ou um filho nascido morto) e era necessário estar ao seu lado. Da noite para a manhã, Robert a deixou para acompanhar em excursão uma estrela que passava.
Entre 1932 e 1933, muitas vezes o encontramos viajando: ele pegava carona ou embarcava em trens como clandestino, e às vezes até pegava o ônibus. Por um curto período de tempo, ele se estabeleceu em Helena, Arkansas, começando a proselitizar músicos locais como Howlin' Wolf, Honeboy Edwards, Memphis Slim, Robert Nigthawk, Sonny Boy Williamson, apenas para citar alguns. Ele também entrou em um relacionamento (ainda?) com a bela Estella Coleman, ajudando o filho dela, o futuro bluesman Robert Lockwood Jr., a seguir o caminho do sucesso.
Um Robert Lockwood maduro em 1940.....
Mas seu companheiro de viagem favorito era Johnny Shine, com quem foi para Nova York e para o Canadá.
Encontramos traços dessa preferência em uma foto que remonta talvez a 1933 e que circulou pelo mundo como “a terceira foto desconhecida do grande Robert Johnson”...
Um idoso Ike Zimmermann em 1974, dois meses antes de sua morte....
O MISTÉRIO EM UMA FOTO
Do pó ao Ebay
A história desta foto é extremamente singular: descoberta por acaso no Ebay em 2007 por um colecionador, publicada na revista Vanity Fair em novembro de 2008, foi finalmente autenticada em janeiro de 2013, após longas e cuidadosas dissertações sobre sua originalidade. O que me fazia duvidar, além da expressão do jovem Robert, que não parece ter NADA de demoníaco aqui, é que os botões da jaqueta de Shines parecem ser "femininos". A menos que o jovem Shines usasse a jaqueta de sua irmã, é possível que a foto original tenha sido “virada” e que o músico identificado como Johnson fosse na verdade canhoto, outro ponto a favor em sua natureza... Luciferina!
Aqui está a foto virada na direção certa...
Até então, de fato, as duas únicas fotos "confirmadas" eram aquelas de posse de sua meia-irmã Carrie, que são as que conhecemos bem; nelas, Johnson também NÃO aparece canhoto. Então, como são os fatos realmente?
Temos vários relatos de Johnny Shines sobre isso. Sabemos que este último acompanhou Johnson por alguns anos, de 1933 a 1935, e que ambos viajaram por todo o Delta, de acordo com as melhores tradições dos Ramblers. Shines nunca fala sobre o suposto canhotismo de seu amigo, mas narra em detalhes como Johnny adorava tocar Blues de costas, em comparação com outros músicos, enquanto ele se virava discretamente de frnte para tocar música de outro tipo que os clientes costumavam pedir, como as baladas do velho Sul.
Sua mania de dar as costas é bem confirmada também por Son House, que, como sempre, a pinta com um vodu. “Ele não queria que os outros músicos o olhassem nos olhos enquanto tocava e virava as costas, provavelmente porque assim ninguém poderia roubar dele o segredo da velocidade de suas performances. Sabe-se que o diabo não gosta de ser encarado de frente! ”
Frases como essas são suficientes para alimentar uma lenda! Muito mais simples trazer a hipótese de ser canhoto, uma hipótese que explicaria parcialmente as dores de cabeça da infância de Johnson, suas dificuldades de concentração, irritabilidade e não querer ir à escola.
Os canhotos por séculos foram considerados um “sinal demoníaco”, e não poucos indivíduos acabaram perseguidos durante o período da Inquisição por esse motivo!
Mesmo na época moderna (e estou falando de meados dos anos 70), havia uma tendência de corrigir essa diversidade amarrando a mão da criança e a estimulando a escrever com a mão direita!
Portanto, se relacionarmos ser canhoto no início dos anos 1900 nos Estados Unidos, no Delta, a uma comunidade negra e a uma criança “bastarda” (portanto, um filho da culpa, já marcado por si próprio) que, além disso, quando crescer "tocará o blues”... bem, podemos entender a enormidade da carga psicológica e emocional que acompanhou o jovem Johnson ao longo de sua curta vida. Sob essa perspectiva, é fácil supor que as habilidades repentinas atribuídas ao pacto com o diabo foram simplesmente uma reapropriação do canhotismo perdido, talvez precisamente pelo estímulo de seu mestre Zimmerman, que soube ler a alma atormentada do garoto.
Então, musicalmente, vemos uma duplicação real de Robert Johnson: por um lado, um artista capaz de tocar qualquer coisa solicitada em qualquer estilo, uma habilidade típica de músicos que tiveram que se adaptar aos gostos variados dos clientes dos bares; do outro, um artista que soltava os dedos na guitarra tocando blues... de costas...
No primeiro caso, certamente há a aquisição de um "método" que, se para Son House e outros músicos era inato, em Johnson foi o resultado de um empenho constante e disciplinado; no segundo, há o sentimento de libertação do Blues, que é, portanto, realizado de acordo com sua natureza canhota mantida escondida dos outros, pelas razões que dissemos.
Por outro lado, é amplamente documentado que Johnson era uma pessoa dissociada e alienada: Shines relata o quão amável e gentil seu amigo era com o público e como era violento e indecente em particular, especialmente com mulheres, que maltratava, espancava e abandonava.
“Muitas vezes ele desaparecia quando estávamos tocando e me deixava sozinho - diz Shine - ele ficava o dia inteiro sem dar notícias, depois voltava como se nada tivesse acontecido. Eu sabia que ele adorava se meter em problemas, rodeando mulheres casadas, e mais de uma vez ele brigou com os maridos. Às vezes, ele era jogado na prisão por algumas noites por assédio, embriaguez e brigas. No começo, era bom viajar com ele, subir e descer dos trens, tocar onde queríamos. Johnson era amado pelas pessoas porque sabia como satisfazê-las em todos os aspectos. Mas quando ele começou a se envolver com as mulheres, ele mudou. Ele expressava sua raiva em qualquer mulher que estivesse ao alcance, espancava até a morte e depois vinha tocar comigo.
Ele dizia: “Ah, bater em uma mulher faz eu me sentir melhor!”, e, de fato, quase todas as músicas que ele escrevia eram sobre mulheres. Em certo ponto, a convivência com ele se tornou impossível e nos separamos. ”
Um Johnny Shine maduro, anos após a morte de Johnson... tocando as músicas de seu amigo....
Em 1936, Johnson foi atormentado pelo desejo de gravar suas músicas e entrar no mercado fonográfico. Foi preciso muito trabalho para ser recebido por HC Speir, um caçador de talentos branco que dirigia uma loja de discos no Mississippi e que já havia descoberto grandes talentos, como Charlie Patton, Skip James, Tommy Johnson e Son House. Diz-se que Speir reconheceu as habilidades de Johnson em tempo real, mas, por antipatia, preferiu repassá-lo a Ernie Oertle, outro TC, que se ofereceu para levá-lo a S. Antonio em novembro de 1936 para uma sessão de teste.
Isso aconteceu no quarto 414 do Gunter Hotel, onde a Brunswick Record havia instalado um estúdio de gravação "ambulante", como era costume na época.
De fato, junto de Johnson, havia uma multidão de músicos reunidos aqui e ali no Delta, especialmente mexicanos, e até o Wagon Gang Chuck, um grupo musical muito popular na região do Delta na época. Ali, Johnson, como Oertle relata, “gravou agachado e de costas, tanto que foi difícil para posicionar os microfones”
No entanto, Oertle não ficou tão surpreso: ele estava acostumado com as manias do bluesman e seus rituais e pensou que Johnson estava simplesmente procurando pelo “ângulo de carregamento”, ou seja, a melhor maneira de expressar o som.
Nesta primeira sessão, foram gravados, entre outros, l’ COME ON INTO MY KITCHEN, KINDHEARTHED WOMAN, CROSSROAD BLUES e TERRAPLANE BLUES, a única das quais Johnson ouviu a gravação e que se tornou um grande sucesso, vendendo 5.000 cópias na primeira semana, um verdadeiro recorde para a época!
Nesta primeira experiência te teste, encontramos um ciclo de canções certamente vinculadas ao Sul rural, visceral e impactante, sempre considerado “a expressão mais verdadeira do melancólico Johnson”. Entre elas, se destaca Kindhearted Woman por sua complexidade e por uma maior busca pelo som; o texto é certamente muito mais articulado que os outros e, sem surpresa, por anos, junto com Crossroads Blues, quase se tornou a bandeira distintiva do artista.
Uma segunda sessão foi realizada em 1937 diretamente em Dallas, no Vitagraph Building, localizado na 508 Park Avenue, onde a Brunswick Record tinha sua sede.
Ao todo 29 músicas, além de alguns ensaios inacabados e gravações descartadas, totalizando 41 gravações. Um pequeno número de peças que, no entanto, constituem um patrimônio precioso para a música mundial.
No entanto, Robert Johnson teve um sucesso PÓSTUMO. Embora apreciado como músico, suas habilidades de inovação não eram bem conhecidas na época, e sua morte prematura o relegou a um esquecimento imediato que o esconderia das críticas por cerca de trinta anos. Em 1938, o período de seu maior sucesso, se você perguntasse a alguém na rua “Quem é Robert Johnson?” não teria encontrado alguém capaz de lhe responder; mas poderiam lhe descrever quanto cabelo Son House tinha na cabeça. No entanto, seu nome estava começando a aparecer entre os especialistas do setor, pois naquele mesmo ano o notório John Hammond, produtor da Columbia Records, o contratou para a primeira edição do então famoso "From Spiritual to Swing", no Carnegie Hall, em Nova York. Como se diz, a consagração oficial do jovem Johnson! Pense que, quando se soube de sua morte, com Big Bill Broonzy o substituindo no palco, foram feitos dois minutos de silêncio e tocaram as duas de suas últimas gravações para uma multidão atordoada e chorosa.
Se ele tivesse resistido e permanecido vivo por ao menos mais dois meses, Johnson teria desfrutado de seu merecido sucesso naquela noite!
Aqui está a capa do álbum do famoso evento de que Johnson não pôde participar. Observe a lista incrível de nomes ilustres....
Como se explica essa falta de popularidade entre as pessoas comuns?
Robert Johnson NUNCA FOI famoso em vida, e sua produção parece insignificante em comparação com a dos outros bluesmen da época. Mas ele voltou à moda, e pode-se dizer que foi redescoberto, nos anos 60, com a nova geração de artistas de Rock. Em particular, graças a uma coleção publicada pela Paramount chamada KING do Delta Blues Singer, que literalmente fez sucesso, tanto que foi reimpressa em 1969 e em 1970.
Artistas como Eric Clapton e Cream contribuíram significativamente para o renascimento de sua estrela, gravando uma nova versão do Crossoroads Blues, sem mencionar os Rolling Stones, que enlouqueceram com sua versão de Love in Vain e Stop Breakin Down Blues.
Mas, antes, artistas menos conhecidos tentaram tirar Johnson de seu túmulo.
Em 1951, Elmore James gravou sua versão (muito particular) de I Believe I dust my broom, que não teve o merecido sucesso, enquanto a agora famosa Sweet Home Chicago se tornou a bandeira de muitos Bluesmen excepcionais, acima de tudo, Muddy Waters , que, por sua vez, teria influenciado os Beatles.
Na realidade, Johnson encarnava uma realidade muito atual para os americanos dos anos 60: a imagem de um maldito anti-herói, amaldiçoado e obcecado pelo diabo, que canta o Blues quebrando-o por dentro, combinando bem com a natureza revolucionária da nova geração americana. Em suas músicas, ele literalmente “grita” a dor existencial de uma sociedade que não encontra mais pontos de referência eficazes em si mesma e que, com angústia frenética, se lança para um futuro sombrio, cheio de incógnitas.
Se quisermos, a produção de Johnson é cheia de mulheres, álcool e violência, como na mais pura tradição do blues. No entanto, em seus textos, ele demonstra o forte desgosto pelo que ele mesmo narra e de que não tem tanta certeza. Seu ritmo obsessivo como uma dança de recém-nascido, sua voz estridente e nasal, as pausas entre palavras, o uso de microfones e os textos articulados em que se destaca sua devastação moral, seu sentimento de “bastardo sem-teto"”perseguido pelos “demônios do remorso”, causaram um grande impacto sobre os músicos da época, cansados de sua própria doença.
Tendo emergido de uma década de bem-estar e princípios familiares saudáveis, os meninos dos anos 60 se sentem esmagados por uma sociedade em que a tradição tem o sabor da uniformidade e em que o conceito de Pátria se aproxima muito da palavra GUERRA. Será então a campanha do Vietnã e a brecha que se seguirá que lhes dará voz; enquanto isso, o mundo exige uma mudança, e isso acontece, via de regra, através da música. Nasce então a geração do ROCK.
Fortemente influenciados pelo blues, os Rolling Stones se tornaram o ícone vivo do rock. Seus shows entre os anos 60 e 70 eram cheios de drogas, álcool e rituais sombrios. Não raro, eles eram os protagonistas de rituais pseudosatânicos, e diz-se que foram espectadores impassíveis de assassinatos reais realizados em seus shows por grupos de pessoas agitadas....
Ser do Rock, na América da época, é equivalente a “quebrar o molde, refutar a tradição, questionar convenções e anseios por uma sociedade de verdadeira agregação, na qual os conceitos de Humanidade e Progresso não são palavras escritas em papel. Portanto, é indicativo, e também natural, que Johnson, com sua música amaldiçoada e suas inovações estilísticas que tendiam a fazer da guitarra a “verdadeira voz da alma”, fosse usado como ponto de partida para a construção desse novo mundo. Além disso, o Artista Satânico, com suas passagens ilusórias e evocativas, os textos nos quais ele se chama "condenado", seu evidente desprezo pelas mulheres e a descrição muito detalhada de um estilo de vida degradado e viciado, NÃO PODERIA não ser um ícone ideal para uma geração que faz da sua atitude de ruptura um estilo de vida. E então a famosa tríade “droga, sexo e rock ’n roll”, na qual uma geração de jovens americanos se baseou entre os anos 60 e 70, não se inspira amplamente na conduta Johnsoniana de “álcool, mulheres e blues”?
Malignamente, posso sugerir que talvez nem tudo o que reluz seja ouro. Uma das características que tornou Johnson famoso e lhe deu memória eterna foi seu ritmo exuberante e eclético, muito diferente daquele do Bluesman do Delta dos anos 30.
Para ter uma idéia, quando Keith Richards ouviu pela primeira vez uma de suas gravações, ele se perguntou: “Mas quem é o outro guitarrista que toca com ele?”, porque ele não tinha notado que Johnson estava sozinho. Isso porque toda a música mantinha, do começo ao fim, um ritmo articulado e rápido, e a voz dissonante e nasal de Johnson tinha o sabor de um verdadeiro "choro".
No entanto, existem declarações autênticas do diretor executivo da Sony, Berhil Cohen Porter, que ganhou um Grammy em 1991 pela reedição das obras de Johnson, sobre a possibilidade de as
gravações de 1936/1937 terem sido aceleradas, um hábito típico da dupla Okeh/Vacalion, que adorava fazer esquisitices semelhantes.
Em 2010, foi então John Wilde, na famosa revista de música THE GUARDIAN, que sublinhou que as gravações de Johnson haviam sido deliberadamente aceleradas para dar um “toque de modernidade” ao todo.
Difícil dizer como as coisas realmente ocorreram, uma vez que as matrizes originais de 78 giros da época não existem mais. Mas se isso fosse verdade, a música de Robert Johnson, chamado o AVÔ DO ROCK, talvez pudesse ser reinterpretada.
Comparação entre a foto encontrada no Ebay (esquerda) e a de Johnson. Você notará as enormes diferenças entre as duas. Embora análises computadorizadas da anatomia facial de Johnson tenham afirmado com confiança que ambas as fotos retratam o artista, resta esclarecer o que poderia tê-lo feito mudar a expressão facial e o somatismo em tão pouco tempo. Talvez... o pacto com o diabo?...
De fato, ele entrou no ROCK’ N ROLL HALL OF FAME com quatro canções NÃO de Blues, mas de Rock. Especificamente, com Sweet Home Chicago e Cross Roads Blues, de 1936, e Hellhound on my Trail e Love in Vain, de 1937. Por outro lado, sem sua lenda, talvez HOJE o universo do rock não seria o mesmo, dada sua influência em monstros sagrados como
Eric Clapton, que iniciou sua carreira após ouvir a música do mestre; ou Led Zeppelin, que o homenageou com a fantástica TRAVELLING RIVERSIDE BLUES, na qual são jogadas referências às músicas e às letras de Johnson! Em suma, de Jeremy Spencer e Fleetwood Mac a Peter Green, os Estados Unidos e a Inglaterra apertaram as mãos para consagrar Johnson como “Mestre Espiritual” da nova Era.
O certo é que Robert Johnson nunca aproveitou o sucesso e teve uma morte prematura e obscura. Nem mesmo o local de sua sepultura é conhecido oficialmente, e isso alimentou durante anos a lenda de que talvez ele nunca tenha existido. Mas não gosto de mistérios e tentei lidar com eles.
Aqui está o que descobri para vocês...
MATANDO SATANÁS
Crônica de uma morte anunciada
Placa comemorativa em Huzlehurst...
Fantasiar sobre a morte dele é certamente fácil e emocionante, especialmente se você se delicia com a lenda do pacto com o Diabo. No entanto, a realidade é muito menos poética e, certamente, mais amarga, de modo a lançar uma sombra não tanto sobre sua pessoa mas sobre a sociedade da época e sobre as crenças populares que às vezes podem contribuir para a morte de alguém.
Muitos falaram sobre o que aconteceu naquele maldito agosto de 1938. Beth Thomas, uma das muitas amantes perseguidas e espancadas por Johnson, afirma que foi seu pai quem o matou na ponte de Quito, perto de Greenwood, apunhalando-o pelas costas na noite de 13 de agosto. O pai parece que estava farto dos maus-tratos a sua filha, que voltou para casa inchada e sangrando enquanto Johnson tocava em um dos clubes perto do rio.
Este é o atestado de óbito mais famoso de Johnson, que afirma que ele morreu de estricnina....
Que Thomas havia participado do assassinato do art ista poderia ser parcialmente verdadeiro se acreditarmos no que seus amigos íntimos Sonny Boy Williamson e Honeboy Edwards relataram sobre o suposto envenenamento realizado por mãos “desconhecidas”.
No entanto, existem também dois atestados médicos conflitantes: o primeiro fala da morte por estricnina, o outro, por sífilis, e o terceiro, por pneumonia. Mas todos concordam que Johnson morreu após uma longa agonia e sem tratamento médico. Como assim? Vamos tentar reconstruir os acontecimentos.
Aqui está os Three Forks, local onde se diz que Johnson foi morto. Mas minha pesquisa me leva a pensar que não foi aqui que o artista foi envenenado...
No entanto, foi o próprio Edwards, em outras circunstâncias, quem deu uma versão ligeiramente diferente dos fatos. Parece que, antes do famoso litro de rum que continha o veneno, uma primeira garrafa já havia chegado aberta, trazida pelo próprio barman, e que Sonny Boy Williamson a derrubou deliberadamente no chão, sussurrando para Robert: “Não beba, é perigoso!”. E Johnson não bebeu. Mas, após a chegada da segunda garrafa, essa também já aberta,
Johnson foi levado a beber. Esses parecem detalhes triviais, mas garanto que não é bem assim.
Para os artistas de rua, e para os bluesmen em particular, a vida sempre estava por um fio. Apesar do que se possa acreditar, o músico andarilho era visto como “vadio e mendigo” e só era tolerado se fosse bom no entretenimento.
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