Anjo De Ouro (Anjos Caídos #5)

Anjo De Ouro (Anjos Caídos #5)
L. G. Castillo
Com a dor e o medo causado por sua existência já um velho conhecido, Jeremy se acostumou às repercussões de ser o arcanjo da morte. Mas quando seu dever gera o ódio da única mulher que jamais poderá ter, ele descobre uma dor que corta mais profundamente do que qualquer espada. Apesar de o céu estar à beira da guerra, Jeremy desafia as ordens que lhe foram dadas para ficar e se manter ao lado de seus irmãos, e retorna a Kauai na esperança de encontrar conforto no respeito de seus companheiros humanos, mas o que ele encontra está longe do que esperava. Velhas feridas cicatrizam lentamente e Leilani é duramente pressionada para simplesmente perdoar seu abandon. Dividido entre promessas sedutoras e a ameaça de uma guerra completa, Jeremy é forçado a procurar respostas onde nunca ousou antes – um inimigo de poder antigo. Será ele capaz de resistir ao chamado das trevas? Ou será forçado a assistir enquanto seu amor se transforma em cinzas? Com a dor e o medo causado por sua existência já um velho conhecido, Jeremy se acostumou às repercussões de ser o arcanjo da morte. Mas quando seu dever gera o ódio da única mulher que jamais poderá ter, ele descobre uma dor que corta mais profundamente do que qualquer espada. Apesar de o céu estar à beira da guerra, Jeremy desafia as ordens que lhe foram dadas para ficar e se manter ao lado de seus irmãos, e retorna a Kauai na esperança de encontrar conforto no respeito de seus companheiros humanos, mas o que ele encontra está longe do que esperava. Velhas feridas cicatrizam lentamente e Leilani é duramente pressionada para simplesmente perdoar seu abandon. Dividido entre promessas sedutoras e a ameaça de uma guerra completa, Jeremy é forçado a procurar respostas onde nunca ousou antes – um inimigo de poder antigo. Será ele capaz de resistir ao chamado das trevas? Ou será forçado a assistir enquanto seu amor se transforma em cinzas?

L.G. Castillo
Anjo de Ouro: Anjos Caídos 5

ANJO DE OURO

ANJOS CAÍDOS 5

L.G. CASTILLO

Traduzido por LAURA TRUAN
Traduzido por LUDMILA FUKUNAGA
Copyright © 2020 por L.G Castillo.
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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor. Lugares e nome públicos são usados com propósitos de ambientação. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou negócios, empresas, eventos, instituições, ou locais é completamente coincidência.

Design de capa: Mae I Design (http://www.maeidesign.com/)

1
O olho direito de Leilani estava tremendo e com certeza iria pular para fora nos próximos dez segundos, cinco se Candy não calasse a boca.
– Meu pai é daltônico ou algo assim. Tipo, sério, eu disse a ele que queria rosa metálico. Por que se incomodar em perguntar que cor de Boxster eu queria se ele não ia comprar o certo? Quero dizer, sério, olhe para isso.
Candy sacudiu o pulso, enviando gotículas de água no ar enquanto apontava para a janela com um garfo molhado.
– Parece rosa metálico para você? Não é nem perto.
Leilani agarrou a faca que estava limpando com os olhos tremendo mais rápido.
Eu deveria ter pedido para limpar o banheiro. Qualquer coisa era melhor do que ouvir Candy falando daquele maldito carro esportivo.
– Você está tão quieta hoje. Não vai dizer nada sobre o meu presente de aniversário?
Se Candy batesse os cílios falsos dela mais uma vez, Leilani jurava que o faria…
Eu preciso desse trabalho. Eu preciso desse trabalho. Pense em Sammy.
Colocando seu sorriso mais doce, Leilani colocou cuidadosamente a faca na bandeja com os outros utensílios. Um dos garçons entrou e pegou a bandeja do balcão.
– É bonito – ela conseguiu falar quando olhou para o pesadelo rosa no estacionamento onde a Cabana de Taco do Sammy costumava ficar. – Você sabe, alguns de nós não têm muita sorte em receber um presente tão bonito.
– É, talvez. – Candy encostou-se no balcão, girando uma mecha de cabelo escuro em volta do dedo. – Acho que sim, poderia ser pior. Tipo, eu poderia ficar sem carro e pegar carona como você.
Ela não acabou de dizer isso. Cadê esse ajudante de garçom?
– Sem ofensa, Leilani. Quero dizer, é ótimo que você seja tão auto-suficiente, especialmente com sua mãe e padrasto mortos e tudo mais.
Ela cerrou os punhos, pronta para atacar Candy se ela não calasse sua boca logo. Ela não podia acreditar que realmente já fora amiga dessa garota. Candy costumava ser legal. Então um dia… Bam! Os peitos apareceram e o cérebro desapareceu.
– Não me ofendi. – Ela engoliu sua raiva e orgulho.
Piranha ou não, se não fosse por Candy e seu pai, ela não teria esse emprego. Tinha sido ideia de Candy pedir ao pai que desse um emprego a Leilani no restaurante ‒ embora suspeitasse que era mais por culpa do que amizade. Apenas alguns meses depois que seus pais morreram, a Cabana de Taco do Sammy foi demolida e uma placa anunciando que o Hu Beach Resort e Restaurante o havia substituído.
– Hey, já sei. Eu vou deixar você usar meu carro para um test drive. Você vai gostar dele. Mas certifique-se de tomar um banho antes de entrar, os assentos são um tipo especial de couro.
Ignorando as divagações de Candy, Leilani esfregou o peito. A dor ainda estava lá. Estava sempre lá. Desde o dia em que acordou no hospital e viu o rosto de tia Anela, a imensa dor se instalou em seu peito e não saiu mais.
Engraçado como as coisas que você mais odiava de repente se transformam no que você mais deseja.
Nos dias após a morte de seus pais, ela ficou sentada sozinha na cabana, desejando seu antigo emprego de volta. Ela desejou que sua mãe saísse da cozinha e a provocasse sobre seu cabelo curto e a importunasse para servir uma mesa. Ela desejou que seu padrasto viesse para a cabana, se esgueirasse por trás de sua mãe e agarrasse sua cintura, balançando-a no ar. Ela desejou poder revirar os olhos quando ele a beijasse profundamente e Sammy gritaria: – Eca. Pessoas velhas.
Desejos são sonhos que nunca se realizam.
Ela pegou um pano de prato e limpou vigorosamente o balcão já limpo, lutando contra a ardência em seus olhos.
Ela tinha sido estúpida ao pensar que poderia manter a cabana de tacos e administrar o negócio com a ajuda da tia Anela. A realidade lhe deu um tapa quando descobriu que seu padrasto tinha uma enorme hipoteca do local e uma dívida pendente. Tia Anela estava vivendo de assistência pública, eles mal tinham o suficiente para se alimentar. E que banco iria emprestar dinheiro para uma criança de quinze anos?
Sim, isso foi estúpido. Desejar, sonhar. Ela parou com todo esse absurdo infantil.
– Ai, ai. – Candy se inclinou, sussurrando: – Fale sobre ser uma garota de sorte. Você chega em casa com Kai todas as noites.
Kai estava ao lado da porta da cozinha, vestido com seu traje de dança de fogo. Bíceps maciços flexionando enquanto ele ajustava seu haku havaiano, um cocar de grama.
Os cílios de Candy estavam batendo tão rápido que ela estava prestes a decolar.
Ela realmente não podia culpar Candy por babar por Kai. Muitas garotas caíram aos seus pés sempre que o viam, especialmente quando ele usava seu malo vermelho, um sarongue que mostrava suas pernas musculosas.
Ele era todo músculo, e trabalhara duro para isso. Ele malhava todos os dias no quintal, levantando pesos e fazendo flexões com Sammy como seu treinador pessoal.
Ela riu, lembrando quando Sammy subia em suas costas, contando, enquanto Kai o levantava acima da cabeça. Se não fosse por Kai, pedindo a Sammy para ajudá-lo com seus treinos, Sammy provavelmente ainda estaria sentado na sala de estar negligentemente assistindo televisão.
– Essa nova roupa ficou ótima em você. Eu sabia que ficaria. Ooh, eu amo a tattoo! – Candy arrastou as unhas vermelhas e polidas pela tatuagem tribal que cobria o braço de Kai.
Ele franziu a testa.
– Então, isso foi ideia sua? Você pediu o micro tamanho ou algo assim?
– Não seja bobo. Foi ideia minha e eu estava certa. Você está fabuloso.
Leilani revirou os olhos. Se Candy piscasse mais, seus globos oculares estourariam.
Hum, agora esse era um bom pensamento. Talvez pudesse pedir que Kai flexionasse seus músculos um pouco mais.
– É muito pequeno e apertado. Eu mal consigo me mexer nessa coisa. – Ele puxou o malo, mexendo-o desconfortavelmente.
– Eu posso ajudá-lo com ajustes no seu guarda-roupa a qualquer hora.
Meu Deus. A garota maluca estava realmente ronronando suas palavras. Kai tinha esse estilo bad boy, coisa de dançarino de fogo que atraia Candy e todas as garotas num raio de dezesseis quilômetros até ele. Mas para Leilani, ele era apenas Chucky.
– O que há de errado, Leilani? – Kai perguntou, ignorando Candy.
Eu vomitei um pouco na minha boca.
– Nada. – Ela rapidamente deu um sorriso, ficara muito boa com o sorriso falso ao longo dos anos.
– Ei, Candy. Relaxe. Eu posso lidar com isso sozinho – ele disse, tirando as mãos de seu malo antes de voltar sua atenção para Leilani. – A que horas acaba o seu turno? – Perguntou ele.
– Certo! – Candy bufou enquanto saía da cozinha. – O show começa em quinze minutos, Leilani.
– Você vai fazer com que eu seja demitida, Kai – disse Leilani quando Candy foi embora.
– Ela fala demais. Não se preocupe, eu cuido disso. Então, quando acaba o seu turno?
– Logo após o show.
– Boa. Espere por mim no estacionamento?
– Sim, claro. – Ela deu-lhe um pequeno aceno quando saiu para se juntar aos outros dançarinos de fogo, que estavam fazendo alguns ensaios de última hora. Quando ele se foi, ela pegou o avental e jogou no balcão.
Sorrisos falsos. Agradecimentos falsos. Tudo falso. Essa era a vida dela agora.
Obrigada pelo trabalho, Sr. Hu. Obrigada por demolir a cabana de taco e cobri-lo com asfalto. Obrigada por me deixar fazer o hula com Candy todas as sextas e sábados à noite.
Ela se lembrou de uma época em que dançar era tudo o que ela queria fazer. Agora era apenas uma maneira rápida de ganhar alguns trocados extras. O dia em que seus pais morreram foi o dia em que seu mundo ficou escuro e toda a magia foi embora.
***
O vestiário estava uma bagunça de garotas e spray de cabelo. O ar estava tão denso que mal conseguia respirar.
– Então você e Kai tem alguma coisa agora? – Candy sentou-se na frente de um espelho, pressionando o pó bronzeador sobre seu amplo decote.
– Não, apenas amigos. – Ela se sentou na única cadeira vazia ao lado de Candy.
– Sério? Eu achei que tivessem, já que ele não saiu com mais ninguém depois de você.
Ótimo. Ela nunca iria esquecer a única vez que deixara Kai levá-la para o baile de formatura do ensino médio.
– Foi apenas um encontro. – Leilani puxou o elástico segurando o cabelo. Removendo isto, ela passou os dedos pelo cabelo grosso, afofando.
– Ah, um encontro por pena. Entendi.
Eu preciso desse trabalho. Eu preciso desse trabalho.
Na realidade, ela não podia ficar com raiva de Candy porque tinha sido mesmo por pena. Desde a morte de seus pais, Kai fez tudo o que pôde para ajudar. Ele era um irmão mais velho para Sammy; ajudava em casa consertando as coisas sempre que quebravam; e ele até se oferecia para emprestar dinheiro, o que ela recusava veementemente. Embora de vez em quando pegasse a tia Anela colocando algum dinheiro no bolso do vestido enquanto acariciava a bochecha de Kai.
Ela suspeitava que tia Anela e Kai tinham planejado para ela ir ao baile, mesmo que fosse a última coisa que ela queria fazer. Kai lhe perguntou durante o jantar bem na frente de tia. Era difícil dizer não depois que a tia disse sim por ela e imediatamente marchou para o quarto e tirou um vestido que tinha comprado apenas para a ocasião.
Sim, totalmente premeditado.
– Então, ele está saindo com alguém?
– Não que eu saiba. Se está tão interessada nele, você deveria convidá-lo para sair.
– Hum, talvez. – Candy olhou para seu reflexo pensativo por um momento. – Apresse-se e coloque sua saia. Não se atrase como da última vez… ah! – Pegando um batom no balcão, ela jogou para Leilani. – Use isto. Essa coisa barata que você usa não está funcionando para você. Nós temos que parecer bem bonitas Precisamos manter o lugar lotado, você sabe. Você viu as garotas no novo resort do outro lado da ilha? Elas são ótimas.
O olho de Leilani se contraiu novamente.
Eu preciso desse trabalho. Eu preciso desse trabalho.
Candy saiu do provador improvisado pouco antes de Leilani pudesse derrubá-la no chão.
Por Deus, as coisas que faço para pagar as contas. Ela passou o batom sobre os lábios e olhou para si mesma no espelho.
Droga! Candy estava certa. A cor ficava bem nela.
Jogando o batom na mesa, ela tirou os sapatos, vestiu o traje e foi em direção ao palco.
Ela olhou para a multidão. Todas as mesas do salão estavam cheias. Isso deveria deixar o Sr. Hu feliz.
Alguns dos garotos que serviam as mesas estavam ocupados acendendo as tochas que rodeavam o perímetro externo. A multidão vibrou de excitação quando algumas das garotas do hula se misturavam com os convidados.
Ela odiava essa parte do trabalho. Era como se entregar aos turistas, e estava prestes a se juntar a elas quando uma sensação estranha tomou conta dela.
Algo estava errado.
Sammy! Onde está Sammy?
Ela examinou a platéia, subitamente ansiosa. Então soltou um suspiro quando o viu sentado à mesa onde o deixara.
Pobre garoto. Ele parecia entediado com os pés apoiados na mesa, recostado na cadeira e lendo uma revista em quadrinhos. Ele estava acostumado a ter que esperar seu turno terminar sempre que tia Anela não estava se sentindo bem o suficiente para cuidar dele e ele nunca reclamava.
A ansiedade não desapareceu, no entanto. Em vez disso, ficou mais forte.
Seus olhos examinaram a platéia, imaginando o que estava diferente. Perto do palco havia cinco mesas cheias do que pareciam caras de fraternidade vestindo camisetas combinando com símbolos gregos. Claro que Candy estava ocupada em uma das mesas, escrevendo seu número em um guardanapo.
O coração de Leilani bateu forte. Por que ela estava nervosa? Nunca ficava nervosa.
Música tocou suavemente em segundo plano, era a dica de que o show de hula estava prestes a começar. Seu coração disparou mais rápido quando Candy e as outras meninas subiram ao palco para tomar seus lugares.
– Você está bem, Leilani? – Perguntou uma delas.
Ela assentiu enquanto olhava para o final da lanai. Logo atrás de um par de tochas, ela viu uma sombra.
Ela apertou os olhos, tentando ver quem era. O fogo dançava como se a provocasse, bloqueando sua visão. A figura se moveu e ela pulou para trás enquanto as memórias passavam por sua mente.
Pneus gritando. O Sammy chorando. Girando e virando de cabeça para baixo. O barulho do metal. O vidro quebrando. Fogo ardente. Então… ele.
Cabelos dourados emergindo da fumaça. Fogo ardente na forma de asas de anjo saindo de seu corpo perfeitamente esculpido. Olhos de safira a olhando ternamente.
Não! Agora não.
Ela pressionou as palmas das mãos contra os olhos, empurrando as memórias de volta para onde pertenciam, no pequeno canto de sua mente, enterradas.
Era o mesmo sonho que tinha todas as noites desde o acidente e levou meses para que finalmente parassem.
Ela não sabia por que sonhava com Jeremy. O idiota nem se deu ao trabalho de checá-los. Ele foi embora sem uma palavra.
Ela e Sammy estavam melhores sem ele. Era estúpido pensar que o Garoto de Ouro alguma vez se importara com eles. Ele era apenas outro haole idiota.
A música ficou mais alta e ela desviou os olhos da figura atrás do fogo. Provavelmente era outro turista estúpido com a mesma forma de corpo. Ela não tinha tempo para pensar no passado.
Esta era sua vida agora.

2
Jeremy olhou para o estacionamento. Ele estava no lugar errado?
Ele voltou para a praia, refazendo os passos. A mesma trilha estava lá, mas no momento em que saiu da densa folhagem, seu pé pisou no asfalto preto em vez da porta da frente da cabana de taco.
Ele franziu a testa.
Não estava mais lá. Tudo sumira. Não havia mais nada para ele? O único lugar que sabia que poderia encontrar paz, um lugar para esquecer que era um arcanjo, agora era um estacionamento cheio veículos e carros esportivos como o rosa berrante, parado perto da porta da frente do restaurante.
O que ia fazer agora? Ele vagou sem rumo pelo Texas, depois pelo Novo México. Ele não tinha certeza do porquê. Cada lugar o lembrava do olhar frio nos olhos de Naomi quando ele fora embora.
Quando se viu voando em direção a Nevada, a voz de Gabrielle sussurrou no fundo de sua mente, o alertando. Então, ele partiu para o lugar que mais se sentia em casa: Kauai.
Uma brisa soprou e o cheiro de comida flutuou no ar, fazendo seu estômago roncar. Ele prometeu permanecer em sua forma humana enquanto estivesse na ilha. Ele queria ser anjo o mínimo possível, mas isso também significava que tinha que se alimentar constantemente.
Seu coração tremeu ao se lembrar das bochechas gordinhas de Sammy sorrindo enquanto lambia os dedos ao comer seus tacos especiais de uma carne misteriosa.
Agora tudo sumiu. Talvez ele devesse ficar do outro lado da ilha, não sabia por que queria ficar ali.
Ele soltou um suspiro frustrado enquanto passava a mão pelos cabelos soprados pelo vento.
Claro que ele sabia o porquê. Ele queria checar Sammy e Leilani. Ele queria ter certeza de que estavam bem.
Foi estúpido, pensar que a cabana ainda estaria ali. Claro que não. Quem poderia assumir o lugar depois da morte de Lani e Samuel? Sammy e Leilani eram apenas crianças.
Seu estômago roncou novamente.
Tudo bem, tudo bem. Hora do jantar. Ele deu um tapinha no estômago enquanto se dirigia ao restaurante.
Quando se aproximou da entrada, ele riu da enorme placa na parede ao lado das portas duplas.
Ao lado das palavras Restaurante da Candy havia uma caricatura de Candy Hu em um traje de hula. Um balão de texto saindo de sua boca dizendo: "Você vai amar a nossa comida!"
Ele esperava que Leilani não soubesse nada sobre esse lugar. Talvez eles tivessem sorte e sua tia os tivesse levado para morar em outro lugar, a mataria ver isso.
– Aloha! Bem-vindo ao Candy! – Disse uma recepcionista vestindo uma blusa e um sarongue enquanto corria em sua direção. – Você pode esperar o resto da sua turma no bar.
– Sou só eu.
– Oh, sério? – Ela tocou a corda do seu biquíni.
– Sim.
– Bem, só me seguir, então. – Ela piscou antes de se virar, indo para o restaurante. – Vou levá-lo para a melhor mesa da casa. Fica bem na frente do palco. Temos um show de hula hoje à noite. Você vai adorar – ela disse, enquanto se dirigiam para a varanda.
– Espera. Se você não se importa, eu gostaria de algo mais particular. Talvez uma mesa atrás?
Ela adorou isso, agitando os cílios. – Claro.
Droga. Ela provavelmente pensou que ele queria ficar a sós com ela.
Levou algumas manobras e fingir estar absorvido pelo menu antes que a garota finalmente entendesse a dica e o deixasse em paz. Felizmente, o garçom foi eficiente e trouxe sua refeição rapidamente.
Ele mordeu o hambúrguer. Era bom, mas não tão bom quanto os hambúrgueres que a mãe de Sammy fazia.
Seus olhos examinaram a multidão. O lugar estava cheio de famílias, principalmente turistas. Todos estavam sorrindo e se divertindo. Ele era o único sentado sozinho. Por alguma razão, isso o incomodou.
Ele deu outra mordida na comida. Bem, ele tinha que se acostumar a ficar sozinho agora. Não havia como ele voltar para casa.
Ele ouviu uma risada aguda e familiar e quase se engasgou.
Candy está aqui?
Ele se levantou e viu Candy Hu conversando com um grupo de rapazes perto do palco. Claro que ela estava lá, o restaurante tinha o nome dela. Ele observou a parte de cima do biquíni justo que mal a cobria.
Bem, ela certamente cresceu.
Seu coração bateu mais rápido. Se Candy estava aqui, talvez, apenas talvez…
Afastando-se de sua mesa, ele examinou a área com cuidado, desta vez procurando pelos familiares cabelos espetados e olhos castanhos.
Música saia pelos alto-falantes perto de sua mesa. Candy gritou, correndo para o palco. A música mudou e uma voz cantou. Candy dançou pelo palco, seguida por um grupo de garotas. As meninas estavam vestidas da mesma forma, vestindo um sarongue vermelho e uma flor branca escondida atrás da orelha direita. O movimento dos braços e o balanço dos quadris eram encantadores.
Leilani deveria estar lá em cima. Ela deveria estar no centro do palco.
– Sim, gata! – Um dos caras na mesa gritou.
Pensando melhor …
Jeremy franziu a testa enquanto olhava para a mesa de rapazes que Candy estava flertando. Ele se sentiu mal pelas meninas. Os idiotas cheios de testosterona não apreciavam a beleza de sua dança. A música, a luz, o movimento ‒ era angelical.
Ele engoliu em seco, empurrando o nó na garganta. Elas eram como anjos, seus braços como asas. Elas eram tão graciosas, do jeito que seus braços se erguiam e caíam como se dançassem no ar, especialmente no final.
Eu a conheço! Ele deu um passo à frente, mantendo os olhos na jovem.
Não poderia ser ela.
Poderia?
Ele ficou congelado ao lado de um par de tochas flamejantes enquanto a voz cantava sobre o amor de Kalua. O torso esbelto da jovem balançava enquanto braços delicados acenavam, imitando as ondas do oceano. Cabelos grossos e escuros repousavam em seu ombro, brilhando como seda preta. Seus lábios de rubi estavam ligeiramente abertos, como se estivessem prontos para um beijo. Ela estava perdida na música, olhando para baixo como se estivesse perdida em um sonho.
Ele esfregou os olhos, sabendo perfeitamente que não havia nada de errado com sua visão angelical. Ele podia ver todos os cílios escuros, todas as curvas sensuais de seus lábios e todos os poros em seu adorável rosto.
Ele esperou com a respiração suspensa enquanto a jovem levantava a cabeça. Cílios longos se ergueram lentamente e olhos castanhos cheios de alma olhavam para a platéia.
Leilani.
Ela conseguiu. Ela estava fazendo o que sempre quis fazer, estava dançando.
Ele ficou hipnotizado. Mesmo quando ela voltava para trás, permitindo que Candy ocupasse o centro do palco, ele não conseguia tirar os olhos de Leilani. Algo dentro dele se mexeu.
Não. Isso não.
Imediatamente ele deu um passo para trás, sacudindo os sentimentos malucos que corriam desenfreados através dele.
Ele estava apenas solitário. Sim, era isso que estava sentindo. Leilani fora uma boa amiga e Sammy também. Ele estava lá apenas para garantir que eles estavam bem. Agora que viu que ela estava bem, ele poderia ir. Leilani nunca deixaria nada acontecer com seu irmãozinho.
A música parou e a multidão rugiu com aplausos.
Pronto. Acabou. Estava na hora de ele partir, no havia razão para ficar. Ele viu o que precisava ver.
Ele virou-se, pronto para seguir para o outro lado da ilha, quando um garoto magro com olhos azuis bebê e manchas de chocolate nos cantos da boca o bloqueou.
– Jeremy?

3
O coração de Jeremy deu um pulo. Sammy não era mais um garotinho. Suas bochechas gordinhas estavam esbeltas agora. Havia um punhado de sardas na ponta do nariz, e ele estava pelo menos trinta centimetros mais alto.
Ele se parece com o pai.
Sammy esfregou os olhos como se não pudesse acreditar no que estava vendo.
– Ei amigo. Sou eu, Jeremy.
Olhando mais perto, Sammy cutucou seu bíceps. – Você é real. Você não era um amigo imaginário.
– Claro que sou… o que você está fazendo? – Ele perguntou quando Sammy deu a volta e deu um tapinha nas omoplatas. Ele ficou rígido quando percebeu o que Sammy estava fazendo.
Ele está procurando minhas asas. Ele se lembra.
– Eu sabia – Sammy sussurrou com voz rouca, encarando-o novamente. – Eu sabia que você era real.
Pegando a mão dele, Sammy pressionou a palma da mão na dele, encarando as mãos como se elas fossem desaparecer a qualquer momento.
– Tão real quanto o chocolate. – Jeremy pegou um guardanapo da mesa e passou ao lado da boca de Sammy. – Vejo que você ainda gosta de comer Sammiche.
O rosto de Sammy congelou e ele soltou a mão de Jeremy.
Jeremy estremeceu quando percebeu o que havia feito. Ele não precisava ler mentes para saber o que Sammy estava pensando. A expressão entristecida em seu rosto dizia tudo. Ele era um lembrete do passado doloroso de Sammy.
Droga! Por que eu estou aqui? Tudo o que ele fazia era trazer dor às pessoas com quem se importava. Era óbvio que Leilani e Sammy haviam seguido em frente. Ele deveria tê-los deixado em paz, em vez de ser um lembrete do pior dia de suas vidas.
– Sinto muito, Sammy. Eu não quis…
Houve um barulho alto e um baque seguido de um coro de risadas. Alguém gritou o nome de Leilani, que foi seguido por uma série de maldições. A platéia riu mais alto.
Os olhos de Jeremy subiram para o palco. Candy estava deitada de costas, com os braços e as pernas se agitando. Atrás dela estava Leilani, com a boca ligeiramente aberta enquanto ela o encarava e Sammy.
Emoções inundaram seu rosto. Choque, felicidade, tristeza e outra coisa.
Aquele olhar. Aqueles olhos.
O atraia para ela.
Ele queria abrir caminho através da multidão rindo, esquecer que ele era um arcanjo e tirar ela e Sammy de lá.
Aquele olhar em seu rosto era desejo.
Ela estava desejando ele.
Pare com isso! Ele cravou as unhas na palma da mão.
Ela era uma garota jovem e impressionável. Ele era uma representação de um passado que ela havia perdido. Ela ansiava por esse passado, não por ele. Tinha que se lembrar que eram amigos. O mínimo que ele podia fazer era garantir que ela estivesse bem.
Ele acenou, sorrindo.
Leilani piscou, e então seu rosto se franziu em uma carranca. Um fogo acendeu em seus olhos que o deixarou sem fôlego. Ele agarrou a cadeira ao lado dele, mal ciente do assento de metal entortando sob a pressão de seus dedos.
Leilani marchou para fora do palco, ignorando o olhar mortal de Candy e passando por um homem mais velho vestindo uma camisa havaiana.
– Vamos aplaudir essas belas moças – disse o homem. – E, claro, um agradecimento especial a nossa adorável Candy Hu.
Candy ficou entre encarar Leilani e sorrir para a multidão quando saiu do palco.
Candy não era a única com olhos prontos para destruir.
– Uh, oh. Leilani está chateada – Sammy disse enquanto seguia direto para eles. – Corra, Jeremy.
Se não fosse um arcanjo, ele seguiria o conselho de Sammy. Quanto mais perto ela chegava, mais assustadora ela parecia.
– Eu acho que pode ser um pouco tarde para isso, amigo.
– O que diabos você está fazendo aqui, Garoto de Ouro? Los Angeles ficou chata para você?
– Aloha para você também – disse ele, dando-lhe o sorriso mais charmoso.
Ela fez uma pausa. Os olhos dela vidrados se suavizando. Era a mesma expressão que a maioria das mulheres usava sempre que ele soltava todo o seu charme.
– Eu estava tendo um tempo de folga e pensei em dar uma olhada em você e Sammy. Parece que vocês dois estão indo muito bem. Então, você está dançando agora?
Houve um silêncio desconfortável enquanto ela o olhava inexpressivamente.
– Leilani? – Ele acenou com a mão na frente do rosto dela.
O que havia de errado com ela? Ele nunca a viu tão quieta.
Seu rosto ficou vermelho e mais vermelho. Sua respiração saiu em suspiros ásperos. Os lábios rubis se moveram, mas nenhuma palavra estava saindo.
– Corra, agora – Sammy sussurrou. – Ela vai explodir.
– Ótimo? Você realmente acha que estamos indo muito bem? – ela cuspiu, sua voz subindo com cada palavra que ela falava. – Garoto, como você é sem noção. Eu deveria saber melhor. Não acredito que cai na sua conversa mole. Amigos. Certo. – Ela deu uma risada.
– O que você quer dizer? Eu sou seu amigo.
– Claro que você não sabe. Como você pode? Você não é um de nós. Você vem para a ilha fingindo ser um amigo. Você fez Sammy gostar de você, minha família gostou de você. E eu… – Pausando, ela mordeu o lábio trêmulo.
– Leilani. – Ele estendeu a mão para tocar sua bochecha.
Ela se afastou da mão dele, encarando-a. – Você fez todo mundo gostar de você e então, no minuto seguinte, você se foi. Simples assim. – Ela estalou os dedos.
– Ele foi ao hospital – disse Sammy.
– Já falamos sobre isso antes, Sammy. Você estava confuso – ela disse suavemente, afastando os cabelos da testa suada.
– Eu não estava confuso. Diga a ela, Jeremy. Você estava lá.
– Bem…
– Viu o que você fez? – Ela retrucou. – Você fez um menino de cinco anos alucinar sobre você. Ele queria tanto que você estivesse lá que te imaginou lá! – Ela então se virou para Sammy, abaixando a voz e falando com ele calmamente. – Você estava tomando muitos medicamentos. Ele não estava lá.
Jeremy abriu a boca, prestes a dizer que estava lá. Ele esteve ao lado deles a cada segundo, mas não podia deixar que soubessem quem ele realmente era.
– Eu sinto muito. Eu não sabia sobre o acidente. Eu tive que ir por causa de negócios da família – ele finalmente disse.
– Tanto faz. Eu não posso lidar com você agora, tenho que voltar ao trabalho. Sammy, eu disse para você esperar na cozinha.
– Eu posso olhar ele – disse Jeremy. – Podemos colocar a conversa em dia.
– Sim! – O rosto de Sammy se iluminou.
– Não, não vamos cair nessa de novo.
– Ah, vamos lá, Leilani. Por favor – Sammy implorou.
– Tenho certeza de que ele tem outras coisas que precisa fazer. Talvez em outra ilha?
Ela estava chateada, e com razão. Ele sabia que tinha que ir, mas não queria, não com ela brava assim. Ele estava prestes a defender sua causa quando alguém gritou, e o som da bateria soou nos alto-falantes.
A platéia gritou e berrou enquanto cinco homens vestidos com sarongues vermelhos na altura da coxa corriam pela platéia.
Enquanto corriam para o palco, um deles com uma tatuagem tribal cobrindo o braço estava no centro, girando um bastão de fogo. Ele parou de segurar o fogo bem acima da cabeça e levou-o aos lábios. Ele cuspiu líquido e o fogo soprou acima de sua cabeça. A platéia rugiu de alegria.
– Não vá embora ainda, Jeremy. Você tem que ver Kai fazer sua dança do fogo. Eu o ajudei a aprender alguns movimentos – disse Sammy, parecendo orgulhoso.
Esse é o Kai?
Ele olhou com admiração para o homem quase do mesmo tamanho que ele, girando dois cajados de fogo. Ele os girava tão rápido que se turvavam em um grande círculo de fogo.
Aquele era o garoto que Leilani chamava de Chucky? Ele não era mais um garoto. Ele era um homem.
Os outros dançarinos flanquearam o lado de Kai, fazendo as meninas da platéia gritarem ainda mais. Eles pareciam pequenos em comparação com o corpo maciço de Kai.
Eles trabalhavam em harmonia enquanto o fogo girava sobre suas cabeças, ao redor de seus corpos e sob as pernas.
– Ele não é ótimo? – Os olhos de Sammy brilharam enquanto observava Kai.
Ele olhou para Leilani, que estava subitamente quieta, e seu coração vacilou.
Os olhos dela também estavam brilhando.
Ele forçou seu coração a bater novamente. Era isso que ele queria. Era assim que deveria ser. Ele não queria que eles ficassem sozinhos, eles tinham Kai.
Ele deveria estar feliz por eles, deveria deixá-los sozinhos para viver suas vidas. Então, por que não conseguiu mexer os pés? E por que ele não tirava os olhos de Leilani?

4
Naomi estava sentada na janela aberta do seu quarto, balançando as pernas na beirada. Uma lágrima rolou por sua bochecha.
Por que, Welita? Por que você teve que me deixar?
Houve um clique suave no chão, seguido por algo molhado cutucando seu cotovelo.
– Ei, Bear – sua voz murmurou.
Onde quer que olhasse, via algo que a lembrava de Welita. Ela vira uma flor e chorou porque se lembrava de como Welita gostava de trabalhar em seu jardim. Ela não podia mais cozinhar, porque tudo o que sabia fazer era porque Welita havia lhe ensinado. Ela mal conseguia olhar para o pequeno Chihuahua sem cair em prantos.
Bear choramingou quando a pata bateu no colo de Naomi.
– Eu estou bem, sério. – Ela pegou Bear e colocou a pequena cachorra em seu colo. Bear estava preocupada. Pobrezinha. Ela esqueceu o quão sensível Bear era.
A minúscula cabeça de Bear inclinou para o lado, olhos negros e molhados piscando.
– Você não acredita em mim?
Bear latiu.
– Eu não consigo disfarçar nada, hein? – Ela suspirou. – Welita se foi. Pode sentir isso?
Bear choramingou novamente, depois enterrou a cabeça no colo de Naomi.
– Os animais sabem?
– Eles sabem – a voz de Lash veio atrás dela. – Bem, Bear sabe com certeza. Ela está deprimida desde que voltamos. Ela nem rosnou quando Gabrielle a acariciou ontem.
Ela rapidamente enxugou as lágrimas, não podia deixar Lash vê-la chorando novamente. Ela sabia que estava rasgando-o por dentro.
– Gabrielle esteve aqui? Eu não a ouvi.
– Você esteve desligada por um tempo. – Ele sentou-se ao lado dela e colocou um braço ao seu redor.
Quando ela não estava chorando, era um zumbi ambulante. Lash e Rachel se revezaram para garantir que ela se alimentasse.
– Eu sei que preciso seguir em frente. É muito difícil. Não quero esquecê-la.
Ele beijou o topo da cabeça dela. – Nós nunca a esqueceremos. Ela sempre estará conosco.
– Eu sei que você está certo. Se ao menos eu pudesse fazer meu coração acreditar nisso.
– Você consegue, sei que você pode. Welita gostaria que você fosse feliz.
Ele estava certo. Ela conseguia ouvir Welita dizendo: Sim, mijita, a vida é preciosa. Não negligencie aqueles que amam você.
Ela tinha que tentar mais.
– Então, o que Gabrielle queria?
– Ela estava, hum, checando você.
Ela levantou a cabeça e olhou para os olhos cor de avelã. Ele estava escondendo algo.
– E?
– E o quê? – Ele tocou uma mecha solta de cabelo, em seguida, delicadamente colocou-a atrás da orelha dela.
– Não guardamos segredos um do outro, Lash, lembra?
– Eu sei. Eu sei. É só que…
– Só que?
– Ela queria me dizer onde e como Jeremy está.
Ela ficou rígida, não queria ouvir falar de Jeremy, e ao mesmo tempo queria.
Ela estava tão confusa, queria que ele fosse embora. Ela queria o rosto, o lembrete da morte de Welita, fora de sua vida, e ficara aliviada quando conseguira o que queria. Mas no momento em que conseguiu, ela se arrependeu.
Nos últimos dias, sua mente havia lutado entre ficar satisfeita por não precisar ver Jeremy e desejar que ele voltasse para que ela pudesse se desculpar.
Ela ainda não conseguia acreditar no que havia dito a ele. Ela foi horrível, não tinha o direito de acusá-lo de tirar a vida de Welita. E o pior de tudo, ela o afastou de sua família.
– O que ela disse?
– Ele está em Kauai. Ele está bem, eu acho.
– Ela vai trazê-lo de volta?
– Ela disse que ele tem que voltar por conta própria.
O rosto dele se contorceu, ele estava lutando contra a angústia que sentia por dentro para poupar seus sentimentos. Quão egoísta ela era? Ela afastou o irmão e o melhor amigo dele, e ele mal podia falar com ela sobre isso.
– Lash, eu sinto…
Um barulho alto seguido de um guincho a interrompeu.
– Não tão rápido, Uri! – Rachel reclamou. – Eles podem não estar prontos para visitas… ah, aí está você.
Rachel e Uri bateram as asas enquanto pairavam na frente deles.
– Como você está hoje? – Rachel deu um sorriso gentil.
– Melhor.
– Que bom.
– Lash, tem algo…
Rachel colocou a mão em Uri, parando-o no meio da frase.
– Ainda não – ela sussurrou furiosamente.
– Mas eu pensei…
– Mais tarde.
Eles se entreolharam desconfortavelmente.
Os olhos de Naomi dispararam entre Rachel e Uri enquanto o silêncio enchia o ar.
O rosto em forma de coração de Rachel demonstrava preocupação quando olhou para Naomi.
Algo está errado. Ela podia sentir isso.
– Cara, você está nos assustando. Conte-nos o que está acontecendo – disse Lash, levantando-se.
– Não sei como. – Uri esfregou a nuca nervosamente.
Rachel deu um tapinha no braço dele e depois foi até Naomi, pousando suavemente ao lado dela. – Sabe, eu adoraria uma xícara de chá.
– Você não gosta de chá – disse Naomi quando Rachel a ajudou a levantar. As notícias devem ser muito ruins. Rachel estava praticamente a arrastando para a cozinha.
– Uh, sim, mas eu gosto do jeito que você faz com canela e…
– Rachel… – Ela avisou.
– Certo, certo. Desculpe. – Rachel soltou o braço dela. – Diga a eles, Uri.
– Precisamos trazer Jeremy de volta.
Lash olhou para Naomi nervosamente antes de olhar de volta para Uri.
– Estamos trabalhando nisso.
– Ele precisa voltar. Agora. – Uri parecia frenético.
Naomi piscou, surpresa. Lash parecia tão chocado quanto ela. Uri sempre foi tão descontraído.
– Eles estão julgando o Jeremy! – Rachel deixou escapar.
– Um julgamento? Por quê? – Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. E se Jeremy não voltasse? Isso pioraria as coisas para ele?
– Por desobedecer às suas ordens, certo? – Lash disse, balançando a cabeça. – Não se preocupe. Não é nada demais. Estive em julgamento dezenas de vezes. Porra, Uri, você me assustou.
– Você não entende – Rachel disse suavemente.
– Você me conhece? – Lash riu. – Eu falo por experiência própria aqui. Jeremy vai ficar bem. É o seu primeiro julgamento, então serão leves com ele. Sério, vocês precisam relaxar.
– Receio que você esteja errado, meu amigo – disse Uri, sua voz profunda e séria. – Isso é diferente porque é Jeremy.
Uri fez uma pausa, respirando fundo. Olhos azuis gentis seguraram os de Naomi por um momento. Não houve julgamento, mas ela não pôde evitar a culpa borbulhando profundamente dentro dela.
– Os arcanjos têm um código mais rigido que os outros – disse Uri. – Somos exemplos para os outros na hierarquia. Jeremy não apenas desobedeceu ao seu superior, mas o fez na frente dos subordinados.
Ah não. O que eu fiz? A vergonha inundou Naomi. Se Welita pudesse vê-la agora, ela ficaria mortificada. Não era assim que se tratava a família.
Rachel apertou a mão dela. Mesmo sem precisar dizer uma palavra, Rachel sabia o que estava pensando.
– Então nós o traremos de volta. Fácil – disse Lash. – Se ele se desculpar, nem precisará passar pelo julgamento. Tenho certeza de que Raphael pode convencer Michael a pegar leve.
– Ele já se encontrou com Michael – disse Rachel.
Lash parou. – E?
Uri tristemente balançou a cabeça.
– De jeito nenhum! Isso é uma piada, certo? O que é isso, Uri. Você deve estar brincando comigo! – O rosto de Lash ficou vermelho.
– Gostaria de estar, meu amigo. Eu supliquei ao Michael também, ele não pode ser influenciado. Os arcanjos julgarão os erros de Jeremy.
Naomi soluçou quando Lash bateu a mão contra a parede, deixando escapar uma série de maldições. Ela tinha que fazer algo para consertar isso.
– Eu entendo sua raiva. Eu também sinto. Eu convenci Michael a me enviar para buscar Jeremy. Ele concordou em deixar você ir comigo.
– Eu vou com você! – Naomi choramingou. Ela foi a razão pela qual ele fora embora. Ela sabia que poderia convencê-lo a voltar.
– Você não pode – disse Uri. – Michael especificamente proibiu que você fizesse parte disso.
Naomi olhou para Rachel, que estava chorando agora, lágrimas suaves escorrendo por suas bochechas.
– Você pensou que poderia me distrair com chá? – Naomi soluçou junto com ela.
– Eu não sabia mais o que fazer. Eu sinto muito.
– Shh, Naomi. – Lash a puxou para seus braços. – Uri e eu vamos cuidar disso. Traremos Jeremy de volta e encontraremos uma maneira de argumentar a seu favor. Ele é o melhor arcanjo que eles têm. Todo mundo o ama aqui. Tudo vai dar certo. Você verá.

5
Jeremy estava de volta.
Leilani não queria pensar em Jeremy de volta na ilha. Ela estava cansada e pegajosa.
Ela jogou o lençol úmido para o lado, saindo da cama. A casa estava quente como o inferno. Ela não conseguia dormir e toda vez que fechava os olhos, tudo o que via era Jeremy.
Ela caminhou pela cozinha e pela porta dos fundos. Abrindo, ela se encostou na porta, olhando para o quintal. Uma brisa suave atingiu seu rosto suado.
Por que você teve que voltar?
E por que ela não conseguia tirá-lo da cabeça?
Ela tinha coisas mais importantes em que pensar, como fazer o ar condicionado funcionar. Ela precisaria trabalhar um turno extra de fim de semana para conseguir o dinheiro para consertá-lo. Ou talvez Kai pudesse fazer sua mágica novamente.
Por que você teve que voltar? E por que você tem que ser tão bonito?
Ela olhou para a lua, lembrando-se de seus sonhos infantis sobre Jeremy segurando-a, beijando-a. Isso era tudo em que pensava desde o dia em que o conheceu.
Por que ele não era o idiota que pensava que era quando o conheceu? A vida teria sido muito mais fácil. Mas não, a vida queria torturá-la e tornar Jeremy tão bonito por dentro quanto por fora.
Ele era gentil, doce e atencioso. Tudo o que fez, desde tentar animá-la quando Candy roubou seu emprego e ser amigo de Sammy, a fez se apaixonar por ele e muito.
Por que você teve que voltar? E por que você tem que ser tão bonito?
Ele não mudou nada, ainda era bonito e incrivelmente forte. E aqueles olhos. Uau, meu Deus, aqueles olhos. Eles falavam com ela, intoxicavam-na a ponto de estar perdida em um lago azul.
Ela suspirou, fechando os olhos. Aqueles lábios. Oh, como ela se lembrava daqueles sonhos e como era tê-los pressionados contra os seus. Macio, firme, sensual. Seu coração acelerou com desejo.
Argh! Ela bateu a cabeça contra a moldura da porta várias vezes.
Esqueça ele. Esqueça ele. Esqueça ele já!
Pare com isso.
Ela não era mais uma criança, não tinha tempo para essa porcaria adolescente.
Os olhos dela se abriram ao som de alguém choramingando. Sammy estava tendo seus pesadelos novamente.
A culpa era de Jeremy por trazer de volta as memórias. Ela sabia que Sammy estava sonhando com aquele dia. Era o mesmo choramingo que fez todas as noites durante um ano após a morte dos pais. Não foi por acaso que tudo começou de novo ao mesmo tempo em que Jeremy apareceu.
Ela não sabia exatamente o que havia acontecido depois de perder a consciência e não podia acreditar em tudo o que Sammy havia dito a ela. Sammy transformou Jeremy em um super-herói que andou pelo fogo e arrancou as portas do carro. Foi só o que ele falou por dias. Quando as crianças da escola o provocaram sobre seu amigo super-herói imaginário, ele a arrastou para todas as praias da ilha, tentando encontrar Jeremy para que pudesse provar que Jeremy era real. Depois de semanas, a realidade finalmente o atingiu. Seu suposto amigo se foi. Ele parou de falar sobre Jeremy e os gemidos à noite começaram.
Maldito seja, Jeremy!
Gostoso ou não, ela já o havia superado. É isso mesmo, nada de desperdiçar células cerebrais pensando nesse idiota. O que ela precisava fazer era focar sua atenção em Kai.
Kai havia amadurecido no momento em que descobriu que seus pais haviam morrido. Ela gostava dele. Com o tempo, poderia até começar a amá-lo. Afinal, ele ficou. Ele cuidou de Sammy quando ela ou a tia Anela não estavam.
E daí se o seu único beijo não a fez enrolar os dedos dos pés? Foi no baile do ensino médio, esses beijos não contavam.
Ela ainda se lembrava de como Kai parecia encantador naquela noite, com os cabelos escuros alisados para trás e o pomo de Adão tremendo nervosamente, enquanto estavam na varanda da frente. Ele se inclinou devagar, sem saber como ela reagiria. Ela arqueou a cabeça para trás, convidando seu beijo. E então ele a beijou, um beijo profundo e doce.
Ela descansou as palmas das mãos no peito dele e esperou.
E esperou.
Esperou a Terra se mover. Esperou que seus joelhos dobrassem ou que as borboletas invadissem seu estômago.
Nada. Ela poderia muito bem estar beijando uma pedra.
– Lua linda! Lua linda!
Leilani se assustou com risadas estridentes.
– Ah, você ainda está acordada. Eu não quis te assustar, estava apenas colocando Risadinha de volta em sua gaiola – disse tia Anela enquanto se dirigia para a gaiola de pássaros ao lado da porta. Uma cacatua branca estava sobre seus ombros, balançando a cabeça animadamente.
– Lua linda! Lua linda!
– Sim, risadinha. Hoje temos uma lua bonita.
– Eu cuido dela. – Leilani pegou o pássaro.
Risadinha bateu suas asas e gritou. Leilani puxou a mão de volta.
Risadinha riu.
– Isso não foi legal, Risadinha – repreendeu a tia Anela.
Leilani revirou os olhos. Ela amava tia Anela por morar com eles, mas aquele pássaro a estava enlouquecendo. Não era segredo que Risadinha queria destrui-la. Tinha sido guerra desde o primeiro dia.
Tia Anela avisara que Risadinha era inteligente e gostava de repetir tudo o que ouvia. Ela não estava brincando. Leilani havia aprendido da maneira mais difícil.
Quando ela e Sammy ajudaram a tia Anela a se mudar, ela bateu o cotovelo no balcão da cozinha. Ela soltou uma série de maldições que a teriam garantido castigo por um mês se seus pais tivessem ouvido. Risadinha estava em sua gaiola, brincando com um de seus brinquedos, agindo como se não tivesse ouvido nada disso. Ela não disse uma palavra, nem mesmo uma risadinha, até a tia Anela entrar na cozinha e depois bam! Aqueles palavrões voaram direto daquele maldito pássaro.
– Algo está errado? – Tia entregou Risadinha para ela.
Leilani olhou para ela, observando sábios e enrugados olhos castanhos. Seus cabelos curtos e escuros estavam manchados de cinza, dando a ela uma aparência de preto salpicado com banco em volta do rosto enrugado.
– Nada está errado. Está um pouco quente. – Ela se virou, colocando Risadinha na gaiola.
Ela não estava realmente mentindo. Estava quente.
Mãos suaves tocaram seu ombro, virando as costas. Os olhos de Leilani brilharam. Ela não conseguia olhar para ela, a tia era como uma médium ou algo do tipo que podia ler mentes. Às vezes, ela sabia o que Leilani ia dizer mesmo antes de pensar nas palavras.
Mesmo que a tia não fosse parente dela e de Sammy, ela era ohana ‒ família. Tia praticamente criara a sua mãe e depois a si mesma quando era pequena. Tia tinha estado com a família por tudo, quando o pai partiu para Los Angeles, quando a mãe se casou novamente, quando Sammy nasceu e quando seus pais morreram. Ela até vendeu sua própria casa para pagar a hipoteca de seus pais, para que ela e Sammy pudessem ficar na casa onde foram criados. Leilani lhe devia tudo.
– Algo aconteceu. Sammy estava falando no sono novamente, chamando por alguém chamado Jeremy.
Um nó se formou em sua garganta ao som do nome dele. Ela queria esquecê-lo e a tia estava dificultando.
Forçando um sorriso, ela foi à geladeira e pegou uma jarra.
– Jeremy? Oh, isso não é nada. Ele é apenas um turista com quem Sammy costumava a passar um tempo há alguns anos.
– Só isso?
A cozinha estava silenciosa enquanto ela servia limonada em dois copos. Quando entregou um para a tia, ela segurou sua mão.
– Você tem certeza de que é só isso?
Leilani tomou sua bebida gelada. Ela deveria contar à tia sobre Jeremy. Talvez pudesse lhe dizer como parar de sonhar com um homem que nunca poderia ter.
Eu não posso. Ela não deveria estar preocupando a tia com seu drama. Ela já fez muito por eles.
– Sim – ela respondeu, mantendo a voz leve. – Ah, a propósito, você ainda vai me ajudar a coreografar uma nova hula, certo?
Ela engoliu a bebida enquanto tia a estudava.
– Você não está pronta para conversar ainda. Tudo bem. Talvez amanhã.
– Sim, amanhã.
– Você está indo dormir?
– Em um minuto. – Ela beijou a bochecha da tia antes de sair da cozinha.
Quando ouviu uma porta se fechar, olhou novamente para a lua cheia. Ela esperava que a tia ficasse tão distraída com a nova dança hula que não se lembrasse de perguntar novamente. E talvez isso não importasse mais. O Garoto de Ouro estava fadado a desaparecer novamente. Em breve, ela esperava.
– Por que você tem que ser tão malditamente sexy? – Ela sussurrou na noite tranquila.
Ele facilitaria muito mais para ela se ficasse longe deles. Sammy seria um desafio, ele gostaria de rever seu velho amigo.
– Oh, Jeremy – ela suspirou.
– Jeremy sexy! – Risadinha gritou.
– Oh, meu Deus! – Ela golpeou a gaiola de pássaros enquanto Risadinha continuava gritando a frase.
– Shh! Pare com isso!
– Jeremy sexy! Jeremy sexy!
Leilani pegou o pano e colocou sobre a gaiola. O som abafado de " Jeremy sexy" continuou por alguns segundos antes de finalmente parar.
Ela iria parar de ouvir o nome dele? Leilani afundou no chão. Dobrando as pernas no peito, ela deixou cair a cabeça nas mãos. Todo mundo a estava torturando, os deuses ou o destino, até o maldito pássaro!
Risadinha gritou: " Jeremy sexy " uma última vez seguida por seu riso estridente.
Leilani riu com ela.

6
Leilani era linda.
Jeremy olhou para a lua enquanto andava pela praia, os pés afundando na areia quente. Ele não deveria estar surpreso, Leilani tinha sido uma garota bonita.
Ela não é mais uma garota.
Pare com isso!
Ele chutou o chão, enviando areia para o ar. Ela ainda era uma garota. Sim, uma garota bonita, mas uma jovem garota, uma garota que todo mundo no restaurant da Candy assistiu enquanto balançava seus adoráveis quadris; uma garota com braços delicados flutuando no ar ao som da música; uma garota com lábios de rubi que se abriam um pouco ao dançar, como se estivesse esperando um beijo.
No entanto, aqueles olhos, aqueles olhos castanhos cheios de alma, o assombravam. Seus olhos eram sábios além dos anos. Ele se lembrou de quando andaram na mesma praia em que ele estava agora, como contou a ela sobre Naomi e como ela contou a ele sobre seu pai. Mesmo então, ela havia entendido o coração dele.
Ele veio para a ilha por um motivo. Ele queria vê-la e Sammy. Agora que já havia visto, ele deveria ir embora.
Por que não fora embora?
O som do riso encheu a noite tranquila. Ao longe, um jovem casal estava abraçado na frente de uma pequena fogueira.
Jeremy fez uma pausa, observando o homem puxar a mulher para ele. Ela se inclinou contra o peito dele enquanto os braços a envolviam. Com sua audição angelical, ele ouviu o homem dizendo à mulher como ela era linda. A mulher sorriu. Arqueando a cabeça para trás, convidando para um beijo.
Leilani cruzou sua mente.
Jeremy se virou, caminhando na direção oposta, calando o som dos lábios em movimento e gemidos suaves.
O que estava acontecendo com ele? Era algum tipo de teste? Ou talvez Saleos tivesse descoberto onde estava e inventara uma maneira de torturá-lo, porque nada disso fazia sentido. Era Naomi com quem ele sonhava. Era Naomi que ele amava.
Não era?
Então, por que seu coração voltou à vida no momento em que viu Leilani no palco?
Era apenas luxúria? Ele nunca reagiu a alguém como quando viu Leilani. Ele já teve mulheres seminuas se jogando contra ele ao longo dos anos. Esse não era o problema. Mas essa atração, o desejo intenso de arrebatá-la do palco fora esmagador.
Ele estava com nojo de si mesmo. Ele precisava parar com essa porcaria, e rápido. Não deveria sentir o que estava sentindo, já arruinara sua relação com a própria família. Naomi o odiava, e agora Leilani o odiava. Bem, pelo menos Sammy ainda parecia gostar dele. E ele ainda tinha Lash.
Eu devo estar enlouquecendo, porque posso jurar que estou ouvindo Lash agora.
– Mano!
Jeremy recuou quando Lash bateu em seu braço. Ele piscou, confuso ao ver Lash e Uri na frente dele.
– Não quis assustá-lo, mano, mas estamos gritando com você há alguns minutos – disse Lash.
– Eu não ouvi você – disse Jeremy.
– Isso é coisa de Saleos. Ele está mexendo com sua mente. – Uri ficou rígido, seus olhos passando pela praia. – Nós devemos ir. Agora.
– Não, espere! – Jeremy riu.
Ótimo. Agora ele estava enlouquecendo. Como poderia explicar que estava perdido em pensamentos por duas mulheres em que não deveria estar pensando?
– Não é Saleos, eu estava distraído. Estava pensando no lugar que fui comer um hambúrguer e vi um velho amigo e, hum, havia dança. Ah, inferno, isso não é ele. O que vocês dois estão fazendo aqui, afinal?
Os olhos castanhos de Lash se arregalaram por um momento, surpresos e imediatamente Jeremy se sentiu culpado por descontar neles.
– Desculpa. Tem sido um pouco difícil. O que está acontecendo?
– Sem problemas, eu entendo – disse Lash. – Eu sei que tem sido difícil. Tem sido difícil para todos nós. Queremos que você volte para casa.
– Eu não estou pronto. – Nem mesmo perto disso.
– Você não tem escolha, meu amigo – disse Uri. – Não há uma maneira fácil de dizer isso. Michael está chamando você de volta e convocou a corte dos arcanjos também.
– Ele o que? Não, você está enganado. – Jeremy aprendeu sobre a corte angelical dos arcanjos quando se tornou o arcanjo da morte. Isso é ruim. Muito ruim.
– Receio que não. Você está sendo julgado por desobediência angelical.
O estômago de Jeremy torceu. Ele não podia acreditar no que estava ouvindo. O último arcanjo a ser julgado fora seu pai.
– O que acontece se eu não voltar?
– Você deve voltar. – O rosto de Uri estava mortalmente sério.
– Ele vai, Uri. Cara, relaxe. – Lash riu nervosamente. – Jeremy, toda a nossa família está esperando por você. Assim como Naomi.
Jeremy ouviu a hesitação em sua voz. Mesmo se ele voltasse, não seria o mesmo. Ele sabia que seria punido por sua desobediência, eles o baniriam como fizeram com Lash.
O pensamento dos arcanjos o punindo fez seu sangue ferver. Seus anos de serviço abnegado não signifivam nada para eles? Ele sempre fora seu servo mais leal e, no momento em que queria, precisava de um descanso, eles queriam julgá-lo por desobediência.
Uh-uh. Ele não voltaria. De jeito nenhum.
– Não. Eu vou ficar aqui. – Ele ficou surpreso com a calma que sentiu quando disse isso. Ele estava até um pouco feliz por isso. Então, eles o baniriam. E daí? Ele já havia se banido. Tudo o que seu castigo significaria é que ele não seria capaz de voltar quando quisesse. O que eles dariam a ele? Dez? Vinte anos?
Houve um segundo de silêncio e choque antes que Lash e Uri falassem ao mesmo tempo.
– Jeremy, você deve reconsiderar.
– De jeito nenhum, mano! Vou te arrastar de volta para lá, se for preciso.
Jeremy levantou a mão, silenciando-os.
– É isso que eu quero fazer.
– Podemos resolver isso – disse Lash. – Naomi…
– Isso não é apenas sobre ela. Isso é sobre mim. Eu não consigo explicar.
Ele mal podia entender, mas não queria voltar. Ele queria ficar. Talvez estivesse sendo teimoso e se realmente fosse honesto consigo mesmo, era sua tentativa juvenil de se impor diante do homem, ou no seu caso, dos arcanjos.
– Diga à família que estou bem e que não se preocupem – disse Jeremy, acabando os argumentos de Lash para que voltasse. Ele não queria perturbar seu irmão, mas precisavam partir antes que ele mudasse de idéia.
– Você está louco? – Lash gritou. – Diga à família para não… desculpe, mano, eu tenho que fazer isso.
Houve um rosnado alto seguido por um corpo duro batendo nas costas de Jeremy. Seu rosto bateu na areia. Lash deu ordens enquanto os braços de Jeremy batiam.
– Depressa, Uri, agarre as pernas dele! Droga, Jeremy, corte as unhas de vez em quando, certo?
– Saia de cima de mim!
– Não!
– Saia! – Jeremy resmungou, empurrando Lash para longe dele. Antes que pudesse se levantar, Lash estava nele novamente.
– De jeito nenhum! Você vai voltar comigo!
Jeremy jogou Lash longe dele novamente e ficou de pé.
Lash ofegou, recuperando o fôlego. Areia cobrindo seus cabelos e rosto enquanto determinados olhos castanhos seguravam os de Jeremy. Ele se agachou, preparando-se para enfrentar Jeremy novamente.
– Uri e eu estamos arrastando sua bunda de volta para casa. Certo, Uri?
– Não podemos – disse Uri.
– Um inferno que não podemos.
– O que eu quero dizer é que ele tem que vir por vontade própria. Jeremy, você deve saber o que está arriscando se ficar. Você está mais vulnerável agora, e Saleos usará isso a seu favor.
– Eu posso lidar com Saleos. – Jeremy ignorou o fato de que estava vagando no deserto de Nevada há pouco tempo atrás.
– Não é apenas sua família que precisa de você. Todos nós precisamos de você. A guerra é iminente. É só uma questão de tempo.
– E você tem a minha palavra de que estarei ao seu lado no momento em que acontecer. – Parecia que a guerra sempre fora iminente. Jeremy não estava preocupado.
– Por favor, Jeremy – disse Lash. – Não queremos perder você.
O coração de Jeremy doeu com a expressão no rosto de Lash. Ele não podia voltar, ainda não.
– Não se preocupe, irmão. Não há nada que Saleos tente que fará com que me junte a ele.

7
Alguém poderia pensar que ele estaria um pouco preocupado com Michael realizando um julgamento por suas ações. Qualquer anjo em sã consciência teria pelo menos aparecido.
Mudando para sua forma angelical, Jeremy bateu as asas e pulou para o céu. Ele adorava voar. Se havia algo com que se preocupava, era não ser capaz de voar. Quando Lash foi punido, seu voo fora limitado.
Jeremy não conseguiria lidar com isso, precisava voar. Fazia parte de quem ele era. Não havia nada como ter o vento batendo em seu rosto e um ruído branco afastando todo a bagunça dentro de sua cabeça.
Ele bateu as asas, o simples movimento o impulsionando mais rápido. Cara, isso era exatamente o que ele precisava para limpar sua mente. Não havia nada para se preocupar. Fazia semanas desde que Uri e Lash o tinham visitado e ele ainda possuía todos os seus poderes angelicais.
Eles já devem ter feito o julgamento. Nada havia mudado; nenhum fogo e enxofre chovendo sobre ele, apenas paz. Portanto, esse deve ser o seu castigo ‒ o paraíso na Terra, por quem sabe quanto tempo.
Ele riu enquanto subia mais alto sobre as montanhas verdes. A vista era deslumbrante. Abaixo, a água azul cercava a exuberante ilha do jardim. Acima, nuvens brancas como algodão flutuavam contra um céu azul profundo.
Sim, esse era o tipo de punição para ele.
Mesmo sentindo falta da sua família, essa fora a melhor decisão que poderia ter tomado, colocando alguma distância entre ele e Naomi. Talvez ela o tenha perdoado, mas ele ainda não confiava em si mesmo perto dela.
Ele continuou sua vida em Kauai como se nunca tivesse ido embora. Ele procurou por Bob e Susan, esperando alugar a pequena cabana de praia novamente. Felizmente, eles estavam no meio de uma reforma e não tinham outro inquilino. Ele não se importava com as paredes não pintadas ou o piso semi-acabado. De fato, contribuir e ajudar Bob a pintar e colocar pisos era a melhor coisa para ele, chegava a ser terapêutico.
A única coisa que sentia falta era de ter sua moto. Ele não conseguira encontrar outra igual, então teve que se contentar com a que pegou na loja local de carros usados. Ele queria algo mais agradável e rápido, mas considerando que ficaria na Terra por um longo tempo, ele teria que ter mais cuidado com seu dinheiro.
E então havia Leilani e Sammy.
Música familiar veio do restaurante da Candy quando ele voou sobre o restaurante. Era a música do Kalua. Ele sorriu enquanto observava Leilani no palco, dançando como a vira naquela noite algumas semanas atrás e novamente na sexta e no sábado seguintes. E toda sexta e sábado depois disso.
Era o seu momento favorito da semana. Ele voava um pouco, depois assistia Leilani trabalhar enquanto Sammy estava sentado a uma mesa fazendo sua lição de casa ou lendo algum gibi de zumbi.
A palavra "perseguidor" passou por sua mente nas primeiras vezes em que foi ao restaurante da Candy para observá-los. E ele argumentou consigo mesmo que era porque estava preocupado com eles. Mas depois de assistir Leilani, ficou perfeitamente claro que ela tinha tudo sob controle. Seu peito inchou de orgulho com o quão duro ela trabalhava indo e voltando entre atender clientes e ajudando Sammy em sua lição de casa, e até conseguia acalmar Candy sempre que, diariamente se não a cada hora, ela tinha um de seus ataques.
E todos os dias Kai também estava lá, levando a bandeja de Leilani quando estava pesada demais para ela, olhando feio para alguns turistas masculinos que davam em cima dela e carregando um Sammy adormecido para sua picape sempre que ele e Leilani trabalhavam até tarde.
Jeremy deveria estar aliviado, deveria estar feliz. Mas quando Kai levara Sammy para a casa da tia Anela e Leilani beijou Kai na bochecha e agradeceu, tudo em que conseguia pensar era em como ele queria estar lá com eles. Ele queria rir com eles quando Sammy deu um tapa no fundo da garrafa de ketchup e o vermelho esguichou por toda a toalha de mesa branca. Ele queria revirar os olhos com Leilani nas costas de Candy sempre que ela reclamava do pesadelo rosa que dirigia.
Ele se convenceu de que um dia seria capaz de fazer isso com eles, que voltaria a ganhar a amizade deles de alguma forma.
E, no entanto, todos os dias em que pensava poder construir a amizade e a confiança deles novamente, no fundo de sua mente, ele sabia que não deveria.
Ele pairou mais perto quando Leilani e as outras dançarinas se curvaram e deixaram o palco. Ela olhou em sua direção e seu coração pulou uma batida.
Ser amigos era tudo o que ele queria. Certo?
Certo???
Balançando a cabeça, ela saiu do palco.
Claro que era tudo o que ele queria e não havia nada de errado nisso.
– Pode entregar, Sammy.
Jeremy virou-se para o estacionamento. Um grupo de meninos estava ao lado da picape de Kai. Um deles, que parecia muito mais velho que os outros, estendeu a mão em expectativa para Sammy.
Preocupado, ele rapidamente voou para um bosque próximo e mudou para sua forma humana enquanto continuava a observar os meninos.
– Você tem certeza de que não vamos ter problemas? – Sammy perguntou a um garoto de cabelos escuros ao lado dele.
– Cara, Kevin, o que há com seu amigo? Pensei que você tivesse dito que ele era legal – disse o garoto mais velho ao garoto de cabelos escuros.
– Vamos lá, Sammy. Não teremos problemas – sussurrou Kevin no ouvido de Sammy. – Chris pegou sua licença na semana passada. Traremos a picape de volta antes que o turno da sua irmã termine. Prometo.
– Eu não sei. – Sammy piscou, olhando de Kevin para os outros meninos que estavam esperando. Vendo sua hesitação, suas vozes se juntaram em um coro o atacando.
– Como você é amigo de um perdedor, Kevin?
– Cara, o jogo já começou. Pegue as malditas chaves e deixe sua bunda infantil aqui.
– Eu te disse, você não pode confiar em um haole.
Os olhos brilhantes de Sammy dispararam ao redor do grupo de garotos se aproximando dele.
Rosnando, Jeremy saiu correndo do bosque direto para eles.
– Ei, Sammy – disse ele, forçando sua voz a soar alegre quando se aproximou deles.
Ele enfiou as mãos nos bolsos, preocupado por não conseguir se controlar. Tudo o que era necessário era um leve toque de seus dedos e ele poderia facilmente enviar os garotos voando pelo ar.
– Jeremy.– Sammy pareceu aliviado.
– O que está acontecendo, amigo? Parece que você está indo para uma festa ou algo assim. – Ele olhou para o garoto mais velho, Chris.
– O que você tem com isso? – Chris perguntou, estreitando os olhos.
Esse pivete… ele soltou um suspiro lento. Precisava se acalmar. Chris era apenas uma criança, uma criança chata, mas ainda assim uma criança.
– Nada. Só quero conversar com meu amigo aqui. – Jeremy bateu a mão no ombro de Sammy e a manteve lá. – Esta é a picape de Kai, não é? Bonita.
Naquele momento, um rosto familiar saiu do restaurante. Ele sorriu. Isso estava ficando divertido.
Acenando, ele gritou: – Ei! Policial PJ! Bom te ver de novo!
O policial que o parou há alguns anos quando ele dirigira sua moto com uma velocidade maior que 45 km/h, virou-se na direção deles. Ele apertou os olhos, o rosto confuso.
– Merda! Estou saindo daqui! – Chris correu em direção à praia com os outros garotos correndo atrás dele.
– Desculpe, Sammy. Ele é meu primo, eu tenho que ir. – Kevin deu a Sammy um olhar de desculpas antes de correr atrás deles.
– Obrigado, Jeremy. Eu acho – disse Sammy quando foram deixados sozinhos no estacionamento.
Jeremy não perdeu a expressão de alívio e arrependimento no rosto de Sammy. Ele queria perguntar o que diabos ele estava pensando, saindo com aqueles caras. Era óbvio que eles não prestavam.

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Anjo De Ouro (Anjos Caídos #5) L. G. Castillo
Anjo De Ouro (Anjos Caídos #5)

L. G. Castillo

Тип: электронная книга

Жанр: Ужасы

Язык: на португальском языке

Издательство: TEKTIME S.R.L.S. UNIPERSONALE

Дата публикации: 16.04.2024

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О книге: Com a dor e o medo causado por sua existência já um velho conhecido, Jeremy se acostumou às repercussões de ser o arcanjo da morte. Mas quando seu dever gera o ódio da única mulher que jamais poderá ter, ele descobre uma dor que corta mais profundamente do que qualquer espada. Apesar de o céu estar à beira da guerra, Jeremy desafia as ordens que lhe foram dadas para ficar e se manter ao lado de seus irmãos, e retorna a Kauai na esperança de encontrar conforto no respeito de seus companheiros humanos, mas o que ele encontra está longe do que esperava. Velhas feridas cicatrizam lentamente e Leilani é duramente pressionada para simplesmente perdoar seu abandon. Dividido entre promessas sedutoras e a ameaça de uma guerra completa, Jeremy é forçado a procurar respostas onde nunca ousou antes – um inimigo de poder antigo. Será ele capaz de resistir ao chamado das trevas? Ou será forçado a assistir enquanto seu amor se transforma em cinzas? Com a dor e o medo causado por sua existência já um velho conhecido, Jeremy se acostumou às repercussões de ser o arcanjo da morte. Mas quando seu dever gera o ódio da única mulher que jamais poderá ter, ele descobre uma dor que corta mais profundamente do que qualquer espada. Apesar de o céu estar à beira da guerra, Jeremy desafia as ordens que lhe foram dadas para ficar e se manter ao lado de seus irmãos, e retorna a Kauai na esperança de encontrar conforto no respeito de seus companheiros humanos, mas o que ele encontra está longe do que esperava. Velhas feridas cicatrizam lentamente e Leilani é duramente pressionada para simplesmente perdoar seu abandon. Dividido entre promessas sedutoras e a ameaça de uma guerra completa, Jeremy é forçado a procurar respostas onde nunca ousou antes – um inimigo de poder antigo. Será ele capaz de resistir ao chamado das trevas? Ou será forçado a assistir enquanto seu amor se transforma em cinzas?

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