Canções De Natal Na Velha América

Canções De Natal Na Velha América
Patrizia Barrera
História das mais belas canções de Natal da tradição americana
Uma visão geral intrigante e divertida da história das canções de Natal relacionadas à tradição americana. Anedotas gostosas, dos bastidores, escândalos e fofocas de outros tempos, de uma América que já não existe mais. Tudo o que você não sabe sobre as mais belas canções de Natal da Velha América pode ser encontrado neste livro, escrito com paixão e de fácil leitura.


Patrizia Barrera

toc

CANÇÕES DE NATAL NA VELHA AMÉRICA (#u988a9922-c107-52eb-aff2-b333e2f077d5)
PREFÁCIO (#u1a32b8e4-4e47-56f1-866c-aff75c09b882)
QUEM EU SOU (#u99a06995-2405-513c-b79f-ce54e5182e86)
A ORIGEM DO NATAL (#u965eb8a9-c421-58dc-bf86-68c3dc78d958)
ROCKING AROUND THE CHRISTMAS TREE (#ucd1934a3-2634-5801-9814-69b44ae27e7b)
RUDOLPH, A RENA DO NARIZ VERMELHO (#ua5cf7a93-5df4-51b5-ae37-0f7ddd4a87b3)
WINTER WONDERLAND (#litres_trial_promo)
FROSTY THE SNOWMAN (#litres_trial_promo)
WHITE CHRISTMAS (#litres_trial_promo)
JINGLE BELLS (#litres_trial_promo)
LET IT SNOW! (#litres_trial_promo)
JINGLE BELL ROCK (#litres_trial_promo)
THE LITTLE DRUMMER BOY (#litres_trial_promo)
BLUE CHRISTMAS (#litres_trial_promo)
SLEIGH RIDE (#litres_trial_promo)
I'LL BE HOME FOR CHRISTMAS (#litres_trial_promo)
I SAW MOMMY KISSING SANTA CLAUS (#litres_trial_promo)
THE CHRISTMAS SONG (#litres_trial_promo)
AMAZING GRACE (#litres_trial_promo)
MERRY CHRISTMAS, DARLING. (#litres_trial_promo)
SANTA BABY (#litres_trial_promo)
I HEARD THE BELLS ON CHRISTMAS DAY (#litres_trial_promo)
AGRADECIMENTOS (#litres_trial_promo)
Copyright (#litres_trial_promo)

CANÇÕES DE NATAL NA VELHA AMÉRICA
Patrizia Barrera
CANÇÕES DE NATAL NA VELHA AMÉRICA

di

PATRIZIA BARRERA

tradução de
SILVIA VIANNA e LUCIANA COSTA




PREFÁCIO
Obrigada a todos, queridos amigos!
Adorei escrever este livro. Especialmente porque em minha pesquisa me deparei com tantas coisas interessantes que me sinto muito feliz de compartilhá-las com vocês também. Neste pequeno livro, você encontrará a magia do Natal da Velha América explicada e difundida através de suas canções daquele período produtivo e maravilhoso que foi o triênio entre 1930 e 1960. É claro que a tradição americana é muito mais complexa: as canções natalinas (ou “Carols” se preferirem) foram uma importante vertente para a música da época, e são numerosíssimas as músicas relacionadas às festividades sagradas. No entanto, a minha intenção não foi criar uma antologia específica, mas guiá-los nas sugestões dos anos mágicos, mostrando-lhes o que muitas vezes se esconde por trás das canções de Natal; os protagonistas, os fatos e as histórias gostosas sobre as quais muitas vezes esquecemos ou que nunca chegam às manchetes. Será como voltar no tempo e reviver aquela realidade escondida com a alegria e pureza da criança que se esconde dentro de nós. Este é o primeiro volume. Planejo escrever um segundo volume sobre as canções mais antigas, que ampliará a visão daqueles que, como eu, são apaixonados pela Velha América. Por agora, só posso agradecer antecipadamente e desejar a todos um FELIZ NATAL!

QUEM EU SOU
Sou cantora e compositora. Quer ouvir essas lindas canções de Natal tocadas por mim?


Entre no meu site oficial http://www.patriziabarrera.com/
É gratuito!
Produzido por



A ORIGEM DO NATAL


Vocês podem achar difícil de acreditar, mas o Natal é na verdade... uma festa pagã. Melhor dizendo, era uma festa reservada a bruxos e bruxas que costumavam dançar em torno de uma árvore ou, mais provável, em torno de círculos de pedra no dia do solstício de inverno no hemisfério norte - 22 de dezembro. Era uma celebração orgiástica, com danças, uso de ervas e sexo, com o objetivo de obter o favor dos deuses no período do inverno, que nos tempos antigos era muito assustador.
A origem? Alguns dizem que veio da cultura druida e que suas raízes eram celtas. Se vocês já leram as histórias em quadrinhos de Asterix e Obelix, podem também ter uma ideia, mesmo que divertida, da complexidade da tradição esotérica que acompanhava esses povos. Estavam localizados nas Ilhas Britânicas no período que vai do século IV ao III A.C.; mas também estavam espalhados em longas expansões, como na Itália, na Península Ibérica e na Suécia. Nós os conhecemos como BRETÕES e provavelmente o que nos atrai mais sobre seu passado é o mistério de Stonehenge, mais até do que suas tradições religiosas. E é deste povo extinto que vem toda a magia e encanto do Natal, a mesma que ainda sentimos hoje em dia.
Os romanos, que derrotaram e colonizaram os celtas em várias ocasiões, assimilaram seus costumes e tradições, e foi assim que a celebração do solstício de inverno se tornou uma tradição do Império. Na verdade, a celebração do solstício de inverno está um pouco presente em todas as culturas: nos tempos antigos os ciclos naturais eram bem observados e o fato do dia mais curto (e, portanto, o aparente “abandono do sol”) cair por volta do dia 21 de dezembro representava um fato conhecido, mas não considerado "determinado". O sol era um Deus vívido; e como todos os deuses, sujeito a excessos, rancores e atos violentos. Era, portanto, necessário agradá-lo para que ele continuasse a dar calor ao homem. Os dias imediatamente seguintes à 21 de dezembro eram, portanto, vividos pelos primitivos com terror e medo, especialmente quando a luz inevitavelmente se tornava mais fraca e as noites mais longas. A certeza de que o sol retornaria e que um novo ano se abriria para a humanidade acontecia apenas em 25 de dezembro, o dia em que, devido a várias leis astronômicas que não estou aqui para explicar, o sol parecia "renascer" poderoso e vitorioso.
Simplificando, o sol vivia um novo "Natal". Esta interpretação simples talvez explique o sucesso das celebrações relacionadas ao solstício de inverno que encontramos em muitas culturas espalhadas pelo mundo.
Quando os romanos "reciclaram" as danças pagãs, estavam na verdade propondo algo óbvio e esperado pelo povo. Depois dos romanos, vieram os cristãos que, ao combinar as danças pagãs cheia de símbolos representativos com a divindade de Cristo e a virgindade de Maria, estavam na prática conectando sua religião a mitos e costumes muito mais antigos. A virgem com o menino, na verdade, não é uma herança cristã.
No Egito, por exemplo, 2000 anos antes do nascimento de Jesus, o deus Hórus (o Sol) foi retratado como uma criança nos braços da deusa Ísis (a Lua), que era mãe e irmã. Mesmo antes, na Pérsia, o mito de Deus Mitra nos deveria fazer refletir: parece que nasceu de uma virgem, teve doze discípulos e, acima de tudo, que foi chamado de "O SALVADOR"! O Deus Sol babilônico TAMMUZ não é menos surpreendente: também foi representado nos braços da Deusa mãe ISHTAR, tinha um halo formado por doze estrelas, o que representava os 12 signos do zodíaco. (12 como os discípulos de Cristo, percebem?) Parece que ele também morreu e ressuscitou depois de três dias... e isso em 3000 A.C.
Me abstenho de comentar sobre os rituais cruéis de Dionísio, em que o Deus criança foi literalmente despedaçado por mulheres loucas, apenas para renascer mais bonito e forte do que antes; e faço referência a apenas um Deus Sol da península de Yucatan, também nascido das virgens CHRIBIRIAS. Porém, quero enfatizar que os rituais que acompanharam o solstício de inverno não diziam respeito apenas a esse hemisfério, mas também ao outro, já que até os Incas celebravam o Deus Sol VIRACOCHA no inverno do hemisfério sul, ou seja, 24 de junho!



FOTO 1) Aqui está a extraordinária semelhança entre a Deusa Ísis e a Virgem Cristã. São diversas as semelhanças: o que chama a atenção é a centralidade de suas figuras na religião pagã e cristã. Ambas foram consideradas mortais, virgens e ligadas à figura do "Salvador", Hórus para Ísis e Cristo para Maria, que a iconografia clássica resume como a criança que seguram nos braços e que ambas amamentam.
No fundo, somos todos iguais. E todo mundo celebrava alegremente um Natal cheio de danças e canções, entre um abraço e uma bebida, até que o cristianismo chega para estragar tudo. Obviamente foram proibidos o sexto e outras partes agradáveis da festa, pois não correspondiam à imagem da pureza de Maria; mais tarde, as proibições foram estendidas à dança, considerado o "dom do diabo". E, finalmente, decidiram substituir as canções pagãs que ainda louvavam estranhas divindades do passado, pois confundiam as pessoas com as divindades cristãs.
O primeiro a fornecer um texto original foi o bispo romano, em 129 D.C., que forçava fiéis a cantar um HINO DO ANJO no Natal; a Igreja Ortodoxa, para não ficar para trás, produziu um HINO DA DIVINDADE em 720 D.C. por meio de um certo Comas de Jerusalém. Com isso, a escrita de textos religiosos para serem cantados no Natal tornou-se de fato uma profissão, que era reservada aos monges. Foi no século IV que tomaram a iniciativa de estabelecer a data do nascimento de Jesus em 25 de dezembro, de maneira a combater as ainda numerosas celebrações do solstício de inverno. Na realidade, nenhum dos Evangelhos se refere a um momento preciso quando se trata do Nascimento. Jesus nasce e ponto. Os teólogos tomaram como exemplo o censo, não ignorando o fato de que os romanos tinham uma verdadeira paixão pela "contagem" de seus súditos, que adoravam realizar censos também por razões de planejamento e controle. Substituir as celebrações pagãs com o nascimento de Nosso Senhor foi, portanto, um e brilhante golpe de mestre.
No entanto, as pessoas não apreciaram imediatamente a mudança: a vida era curta e difícil demais para acabar com um dos poucos momentos do ano para extravasar. Condenados ao jejum e à moderação dos costumes, os novos cristãos refugiaram-se em canções populares que, tendo o mérito de serem cantadas em sua língua nativa, eram facilmente compreensíveis e memorizadas por todos. A Igreja, na verdade, obrigou a plebe a decorar cânticos em latim, e as celebrações eram conduzidas entre um povo triste e sério que tentava murmurar palavras que não compreendiam o significado.
Muitos Bispos paleocristãos se opuseram a essa situação, como por exemplo Santo Ambrósio. Ele inclusive adaptou o texto VENI, REDEMPTOR GENTIUM à música popular de origem pagã para que o povo, mesmo não conhecendo o texto, pudesse ao menos cantarolar a música. Mas foram casos isolados. Entre anátemas e ameaças de excomunhão, a Igreja Católica conseguiu compor uma verdadeira antologia musical que foi imposta ao povo, e que conseguiu sobreviver até a Idade Média. Certamente, o povo não ficou feliz. No início dos anos 1200, as pessoas perderam o desejo de celebrar o Natal, e o nascimento de Nosso Senhor passou apático entre famílias carrancudas, cuja única transgressão consistia em finalmente poder comer um pedaço de carne após o longo jejum do Advento. Um dos santos mais atentos e reformadores do catolicismo, São Francisco de Assis, percebe esse problema e decide ressuscitar a alegria extinta para reaproximar o povo do céu.
Entendendo as dificuldades dos pobres, ele cria uma espécie de celebração viva do nascimento de Jesus, com uma manjedoura e protagonistas que, diferentemente do que se acredita, não estavam ali para serem admirados, mas para cantar as estrofes tradicionais nunca esquecidas, acompanhadas de assobios e gaitas de fole, narrando brevemente a história do Nascimento. Era uma semana inteira de preparação para o Natal, com jogos e competições, assim como sorteio de prêmios pela melhor preparação do presépio. Tudo culminava em 25 de dezembro, quando começavam danças ao ar livre, que tinham como objetivo dissipar a crença de que as danças em honra de nosso Senhor eram pecaminosas. Deve ser dito que, à primeira vista, a Igreja não aprecia a mudança, mas a reputação de santidade de Francisco era tão pura e intocável que o Papa não se importa; além disso, o alegre costume já havia cruzado fronteiras, e desembarcado na França, Espanha e Alemanha, fazendo tanta propagando do cristianismo que proibi-lo teria sido certamente um tiro no pé.


FOTO 2. Frequentemente Francisco participava das apresentações teatrais do Natal, colocando no meio da noite um bebê recém-nascido na manjedoura, e ao mesmo tempo celebrando a Santa Missa. Deste modo, a população ignorante era educada sobre os mistérios do nascimento de Jesus e da virgindade de Maria de maneira simples e eficaz.
Assim, na Europa, ao lado dos cânticos estritamente em latim da Igreja, o Natal passa a ser celebrado com canções em língua comum, cada vez mais precisas e complexas, que eram então ensinadas e divulgadas ao povo por menestréis e pastores. O termo CAROL é de origem francesa, e indica precisamente a canção profana ligada ao Natal, muitas vezes acompanhada de danças e festas. Não temos nada escrito sobre as primeiras canções folclóricas do final da Idade Média, uma vez que as canções se espalhavam via oral, e não eram transcritas.
A canção mais antiga registrada vem da Inglaterra, datada de 1470 e foi a primeira versão de I SAW THREE SHIPS. Devo dizer que a Inglaterra liderava o setor canções de Natal, com um povo entusiasta e bem organizado que reunia os primeiros cantores solo, chamados WAITS (ou seja, aqueles que esperam). E esperavam o ano todo porque, acompanhados por músicos profissionais, visitavam vários países levando a música de Natal e vivendo em esmolas. Estes foram os primeiros artistas de rua que a tradição se recorda e, quando chegavam, traziam alegria e as boas novas. Com a aproximação do Natal, eles retornavam ao seu país natal, onde representantes das aldeias os acompanhavam em suas apresentações.
Foi por isso que os WAITS se tornaram WAITNIGHT, já que, vestindo roupas de Pastor, eles cantavam a noite toda olhando as estrelas, em memória aos primeiros pastores que lotaram a manjedoura de Jesus. Dada a dureza do clima, esse definitivamente não era um costume saudável, o que provavelmente estimulou a criação dos primeiros presépios de madeira. Assim, famílias inteiras, ou até mesmo toda a população de uma aldeia (caso fossem construídos em tamanho natural), se reuniam para fazer a vigília na véspera de Natal. Esses "presépios gigantes" ficavam em estábulos enormes, o que garantia tanto a saúde física quanto a espiritual das pessoas. A tradição se intensificou ao ponto de forçar as Igrejas da Europa a se adaptar, permitindo que o povo celebrasse o Natal com as suas próprias canções. Houve, portanto, um período em que, embora a Missa fosse celebrada em latim, se cantavam coros canônicos ao lado de canções populares que narravam, em linguagem comum, o nascimento de Jesus. Essas canções deixaram de ser consideradas pecaminosas. Um povo feliz lotava as igrejas que, por isso, acendiam milhares de velas; de fato, o povo ficava feliz duas vezes, porque as velas acendidas eram feitas de sebo de animal, e uma vez apagadas eram dadas às centenas de fiéis famintos que... as comiam imediatamente após a missa! Sim, a vida era difícil na Idade Média!

FOTO 3. Um dos costumes mais comuns na Idade Média na Inglaterra era celebrar o Natal com grandes banquetes em que o prato principal era o pavão vivo. O belo pássaro era previamente abatido e cuidadosamente esfolado, de modo a não estragar a plumagem. Era em seguida recheado com ovos e especiarias e depois assado. Finalmente ele era "coberto" com sua pele e adornado com ouro. Chegando na América, os frades peregrinos substituíram quase de imediato o pavão pelo peru, que se tornou o símbolo gastronômico do Natal americano.
Os tempos de alegria durante o Natal foram, no entanto, curtos: a Santa Inquisição na Espanha e na Itália voltou a proibir e combater canções e danças, pois diziam que vinham do diabo e causavam tentação para a carne. A Alemanha e a Inglaterra, abraçando a nova onda de Protestantismo, fizeram com que a população mergulhasse numa austeridade ainda mais profunda. Até mesmo a França Católica, agora oprimida por governantes de origem espanhola que chegavam ali por meio de casamentos políticos munidos de crucifixos e rosários, perde a sua natureza dançarina. Em toda essa escuridão, o povo não esquece as canções de Natal, cantando-as em privado como sinal de protesto. Isso ocorre especialmente na Inglaterra, devido a influência de Oliver Cromwell e suas leis puritanas, que levaram austeridade até mesmo às colônias americanas.
Em 1730, O Reverendo Mather denunciou um escândalo de um "costume deplorável" na Província da Baía de Massachusetts em que, na noite de Natal, as pessoas jogavam cartas, brincavam à mesa e "cantavam canções vulgares" sobre o nascimento de Jesus! Essa foi uma moda que ganhou cada vez mais terreno e que, como em qualquer tradição que se dê ao respeito, tem seus heróis nas centenas de trovadores que, apesar das leis inglesas, coletaram todas as canções populares sobre o Natal antes de desembarcar no novo continente e difundir a palavra! O costume dos WAITS não apenas se espalhou, como também foi melhor estruturado com grandes produções teatrais que, nas idas e vindas entre a Inglaterra e as Américas, voltaram ao ponto de partida. Na verdade, a maioria das antigas canções de Natal que cantamos até hoje, como o Stille Nacht (Noite Feliz) ou What child is this? foram escritas na segunda metade de 1700.
Com o caminho livre, grandes potências surgiram: em 1822, o congressista e historiador DAVIES GILBERT publicou uma antologia de canções antigas de Natal, seguido por WILLIAM SANDYS, que divulga algumas canções históricas, como THE FIRST NOWELL ou HARK! THE HERALD ANGELS SING. O golpe final foi dado na época vitoriana, quando a rainha puritana que cobria até mesmo as pernas das mesas com uma saia se casa com o belo e alemão príncipe Albert.
Ele era um amante das músicas antigas de Natal e se empenhou muito para reorganizar as Festas, dissolvendo a imagem de "celebração fúnebre" para reviver seu antigo esplendor. Nasce assim um Natal em perfeito estilo laico, que se espalha como incêndio ao redor do mundo e deixava as pessoas ansiosas pela chegada da festa. Desde então, ao lado dos presépios e árvores decoradas, as canções foram enriquecidas com novos simbolismos que marcaram a mudança dos tempos. Entram em cena a neve, o visco, as renas e o Papai Noel que, aproveitando as tradições muitas vezes desconhecidas de cada país, tornam-se patrimônio público no Natal.
As diversas canções de Natal se tornam, em seguida, um excelente negócio para a indústria do cinema, para as gravadoras e canais de televisão. Milhares de autores enriqueceram-se produzindo verdadeiros sucessos que ainda nos fazem chorar e sonhar, como o WHITE CHRISTMAS ou THE CHRISTMAS SONG.
Todavia, como tudo na vida, essa onda de sucesso passou e o mercado mudou. Hoje tudo o que ouvimos de Natal são simples regravações de canções do passado, e o pouco que há de novo não entra para a história. As tradições estão desaparecendo, as Festas se resumem a um comércio estéril e as pessoas parecem ter perdido o desejo de cantar.
Por quê? Onde está o espírito do Natal? O perdemos?


ROCKING AROUND THE CHRISTMAS TREE


Começamos nossa viagem pelas mais belas canções dedicadas ao Natal com uma música da melodia cativante, letra leve e uma assinatura autoral muito importante: Johnny Marks, um dos poucos compositores de canções de Natal que mereceram entrar para o Songwriters Hall of Fame (Hall da Fama dos compositores).
Entre os anos 30 e o início dos anos 60, compor canções sobre o Natal era quase uma profissão. Alguns autores se especializavam neste ramo que, principalmente com o advento da televisão, foi muito seguido, comercializado e amado. Todos os anos, dezenas de autores ofereciam suas obras a gravadoras. Conseguir com que elas fossem gravadas por cantores populares era uma garantia de sucesso. A América, seja católica ou protestante, sempre amou o Natal. Bing Crosby, um cantor muito famoso com diversas canções gravadas, tornou-se o queridinho do público com White Christmas e, graças à popularidade da canção, chegou ao patamar das estrelas. Entre os anos 30 e 40, era do swing, jazz e um rock’ n roll ainda recém-nascido, as canções de Natal tinham uma pegada vibrante, alegre e dançante. Foi só mais tarde, na década de 50, que elas assumiram um ritmo mais melódico e sugestivo, pois se adequava a uma sociedade sonhadora e decente, que viu renascer os bons sentimentos típicos da família tradicional. Contudo, Rocking around the Christmas Tree trouxe uma pitada de alegria e dinamismo, ao mesmo tempo que mantinha a referência à harmonia no lar, tão importante para o povo americano.
Vejam o texto:
ROCKING AROUND THE CHRISTMAS TREE
At the Christmas party hop
Mistletoe hung where you can see
Every couple tries to stop
Rocking around the Christmas tree,
Let the Christmas spirit ring
Later we’ll have some pumpkin pie
And we’ll do some caroling.
You will get a sentimental
Feeling when you hear
Voices singing let’s be jolly,
Deck the halls with boughs of holly
Rocking around the Christmas tree,
Have a happy holiday
Everyone dancing merrily
In the new old-fashioned way


FOTO 4. Essa é a capa original do álbum de 1958 da jovem e sorridente Brenda Lee. O álbum, produzido pela Decca, teve um sucesso razoável. A cantora, que na época tinha 13 anos, criou uma ponte perfeita entre o rock' n roll recém-nascido e tradição de Natal em família. Lee se manteve como única intérprete da música por quase 30 anos, mas foi perdeu esse "título" com a versão de Kim Wilde e Mel Smith de 1987, que alcança o terceiro lugar na lista de hits ingleses daquele ano. Ainda presente no imaginário coletivo, a versão rock da então recatada Miley Cyrus chamou a atenção de milhões de ouvintes em 2006.
Agora, a tradução em português:
Dançando em torno da árvore de Natal
durante o feriado natalino
Visco pendurados na altura dos olhos,
e todo casal a beijar-se ali.
Dançando em torno da árvore de Natal
Deixe o espírito do Natal nascer,
depois vamos comer torta de abóbora
e cantar canções de Natal.
E você se comoverá
quando escutar o coro a cantar "Vamos ser felizes!"
E cobrir os salões com ramos de azevinho
Dançando em torno da árvore de Natal
"Feliz Natal"!
E todos cantam felizes
na nova maneira antiga.
Como podem ver, esse é uma letra que à primeira vista parece leve, mas que possui algumas ideias interessantes. O termo rocking (dançando) introduz a novidade da sugestão de rock, da mesma forma que outra canção de Natal, talvez ainda mais famosa: Jingle Bell Rock de Bobby Helms. Mesmo que privado de sua característica dureza, a introdução do rock nas canções de Natal foi de fato uma novidade e, de maneira estranha, foi bem aceito até mesmo pelas gerações anteriores mais tradicionais, que viam na alma do rock em ascensão um símbolo de degradação da sociedade. Magia de Natal?
Na verdade, a canção se faz imediatamente "perdoar", enfatizando os temas fixos da tradição: o beijo sob o visco, as vozes alegres, o espírito do Natal e... - o toque de mestre da união entre o velho e o novo, citando até mesmo o refrão da famosa DECK THE HALLS, canção símbolo do americano médio mais velho. A canção foi composta por Johnny Marks em 1957, lançada pela DECCA e cantada por Brenda Lee, na época com 14 anos, que a gravou duas vezes, em 58 e 59. Parece que originalmente a canção tinha um ritmo mais country e foi então "remendada" pelas peculiaridades vocais e interpretativas de Lee. Esse foi, então, um experimento muito bem-sucedido, considerando que essa gravação de Brenda Lee foi quase a única feita para essa música!


FOTO 5. Criança prodígio, Brenda Lee começou sua carreira aos 6 anos de idade, conquistando o primeiro lugar em um show de talentos na escola. A recompensa foi a aparição ao vivo em um programa de rádio muito escutado chamado Starmakers revue. Sua família era muito pobre e, graças às incessantes apresentações de rádio de Lee, conseguiu sobreviver. Ela era muito baixinha (cerca de 1,45m), mas sua voz era tão impactante que recebeu o nome de "Miss Dynamite". Ela alcançou sucesso não com o Rocking Around the Christmas Tree, mas com a canção de 1960 "I'm sorry", pela qual foi premiada com o Grammy Award. Considerada pelo público como uma cantora pop, Brenda Lee foi, no entanto, uma das poucas mulheres da época a se tornar uma ilustre expoente do rockabilly e do Rock'n roll.
Johnny Marks (1909-1985) começou sua carreira em 1947 como compositor de canções natalinas. Sua primeira canção foi "Rudolph, a rena do nariz vermelho", baseada no poema de mesmo nome, escrito pelo seu cunhado, Robert. A canção, então, atinge um sucesso sem precedentes, rendendo ao autor os direitos a 30 milhões de cópias vendidas e, em 1964, inspira a criação de um filme de mesmo nome muito querido!
Diretor da ASCAP (Sociedade de Autores, Compositores e Editores) de 1959 a 1961 e fundador da igualmente famosa música de São Nicolau em 1949, Johnny Marks escreveu muitas canções que os convido a escutarem. Menciono aqui algumas: THE NIGHT BEFORE CHRISTMAS (1952) interpretada pelo dueto mágico Gene Autry/Rosemarie Clooney, outra estrela do período. RUN,RUDOLPH,RUN (1958), interpretada pelo ícone do rock CHUCK BERRY (quem mais poderia ser?) I HEARD THE BELL ON CHRISTMAS DAY (1956), uma ópera ambientada na Guerra Civil, interpretada por vozes importantes como Harry Belafonte, Bing Crosby, Elvis Presley, Frank Sinatra....e muitos outros. Em resumo, muitas músicas maravilhosas que valem a pena escutar e lembrar.
Para registrar: Johnny Marks foi premiado com o Prêmio CHRISTMAS SPIRIT (Espírito de Natal) pela International Society of Santa Claus (Sociedade Internacional do Papai Noel) em conjunto com outro compositor notável: Irving Berlin, pai de WHITE CHRISTMAS e outras belas canções que falaremos em um dos próximos capítulos.


FOTO 6. Johnny Marks mais velho, em uma foto quase íntima dos anos 70.
A canção foi gravada em julho de 1958 em um dos escritórios da Decca com o produtor de Nashville, Owen Bradley. Era um dos verões mais quentes dos últimos anos, e a cantora e a orquestra não conseguiam se concentrar. Owen então, além de ligar o sistema de ar condicionado no máximo, instalou um canhão de neve artificial para resfriar o ar, e montou uma grande árvore de Natal nos estúdios de gravação, cheia de bolas e luzes coloridas, a fim de trazer de volta a concentração da cantora e de toda a equipe. Parece que o truque funcionou à perfeição e todos se divertiram muito, ao ponto de que apenas duas gravações foram suficientes para terminar a gravação da música. Em 2014, a NPR entrevistou a agora idosa Brenda Lee e, por brincadeira, perguntou qual era a direção correta para dançar em torno da árvore de Natal. A resposta da cantora foi imediata: "Sul. Seguindo o curso do sol." Embora de origem judaica (como seu ilustre colega Irving Berlin), Johnny Marks alcança a fama como compositor de canções de Natal. Em uma de suas inúmeras entrevistas, quando perguntado se ele se orgulhava de seu sucesso, Marks confessa abertamente: "Bem, não estou muito feliz por ser lembrado apenas por canções de Natal!"



RUDOLPH, A RENA DO NARIZ VERMELHO
Um elogio à diversidade



Quem não se derrete ouvindo a fábula de Rudolph, a rena do nariz vermelho? Embora tenha sido criada há muito tempo, a fábula da criatura "diferente", que por isso foi isolada pelos seus colegas até a sua aceitação pelo próprio Papai Noel, está gravada no coração de toda criança que vive uma história parecida e tenta superar seus próprios complexos. Na realidade, se trata de uma verdadeira inovação no campo da literatura infantil, que pela primeira vez percebe a fragilidade do universo "adolescente", oprimido por fenômenos de discriminação e intimidação. Se pensarmos que Rudolph ganha vida em 1939, não podemos deixar de nos maravilhar com sua poética, além de ser bem atual e de reconhecer a própria profundidade humana. A pequena rena, nascida da mente e do coração de Robert Lewis May, vive uma história simples, mas corajosa: nascido com um enorme nariz vermelho, brilhante e quase cintilante, Rudolph é desprezado pelas outras renas, que nunca brincam com ele, e ainda por cima riem dele. Ele, desse modo, permanece sozinho, marginalizado, destinado à solidão perpétua. Seu porte físico não o ajuda, porque a doce criatura é pequena, magra, muito diferente da imagem clássica do bebê americano rechonchudo, na qual todos os filhotes de contos de fadas, bons ou maus, são inspirados.


FOTO 7. Essa é a primeira versão de Rudolph, no livro original de 1939. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, o primeiro Rudolph não se parece nada com ele. Como podem ver, se trata de uma pequena rena, com traços NÃO infantis e muito semelhantes ao animal em carne e osso. Será só mais tarde, com o advento dos desenhos animados, que sua imagem será modificada. A cabeça redonda, olhos grandes e corpo barrigudo que lhe serão atribuídos lembram a imagem clássica do recém-nascido e são construídos especificamente para inspirar ternura.
Rudolph então cresce em nostalgia pelo mundo exterior, do qual é excluído; no entanto, a solidão não amargura seu coração, que se mantém cheio de amor e esperança. À sua maneira, ele é grato pelas pequenas coisas que a vida lhe reserva, e as desfruta serenamente, sempre esperando pelo futuro. E então vem o milagre: Papai Noel tem que entregar seus presentes na Véspera de Natal, mas a noite é tão escura e enevoada que suas renas não sabem para onde ir e voam perdidas no céu. Há, portanto, o risco de deixar todas as crianças do mundo sem presentes de Natal! Papai Noel fica aflito, mas... no escuro da noite ele vê uma luz que ilumina o coração da floresta. É o nariz da pequena rena, a olhar para as estrelas refletidas no rio. Quando Papai Noel vai até ele para pedir ajuda, a pequena rena aceita de imediato guiá-lo na entrega de presentes para o mundo que sempre o rejeitou, porque seu coração não conhece o rancor. Será assim que Rudolph se tornará uma rena do trenó do Papai Noel, e seu lugar será o de líder. Entre elogios e aplausos, as outras renas serão finalmente capazes de olhar "além" de sua aparência e reconhecer as virtudes de sua "diversidade".
A moral salta aos olhos pela sua impressionante modernidade, especialmente se pensarmos na América moralista e racista dos anos 40, no anseio congênito pela uniformidade pública e nas campanhas homofóbicas antes da guerra. A pequena rena com um grande coração conquistou até mesmo as mentes mais duras e menos maleáveis, trazendo consigo um sopro de mudança que nem todos perceberam logo de cara, mas que persistiria ao longo do tempo. Outro milagre de Natal? Não é bem assim. A fábula de Rudolph apresenta uma história comovente, que foi amplamente divulgada com um incrível cinismo na fase de venda do novo personagem.
É importante mencionar que seu criador, Bob May, foi copywriter na grande rede de lojas Montgomery Ward. Seu trabalho consistia em criar novos personagens de contos de fadas que, durante a época de festas, ajudavam a vender brinquedos, livros e acessórios de Natal. Tanto as grandes empresas quanto a indústria musical usavam esta estratégia; todos os anos eram produzidas novas canções relacionadas com o Natal. As vezes estes personagens se tornavam tão famosos, que envolviam a produção de toda uma gama de acessórios de fácil comercialização e lançavam "moda". Camisas, broches, fantoches e logos muitas vezes acompanhavam uma ou outra canção e um ou outro personagem. Exatamente como acontece hoje em dia, quando é lançado um filme de sucesso (não podemos esquecer, por exemplo, a série de acessórios inspirados em Os Caça-Fantasmas, em Toy Story e - porque não - em Titanic).
Nos anos 30, as lojas de brinquedos costumavam dar livros de colorir para as crianças com fins publicitários. Os berros das crianças para ganhar um livro forçava os pais a visitarem essa ou aquela loja, abrindo as portas à potenciais compras. O trabalho do copywriter era, portanto, o de produzir todos os anos um material atraente com o objetivo de fazer brilhar os olhos do público infantil, sem perturbar os adultos. Mas Bob May também era um artista: em um artigo do jornal Gettysburg Times em 1975, ele mesmo revela os bastidores da história do nascimento de Rudolph.


FOTO 8. Esse é um belo retrato de Bob May no início dos anos 40. O artista confessou muitos anos mais tarde, pouco antes de sua morte, que de fato a figura da pequena rena foi inspirada em si próprio quando criança, época em que foi vítima de bullying. A revelação desacreditou a imagem da boa sociedade americana, que não estava de modo algum pronta para reconsiderar a verdadeira natureza dos alunos de suas próprias faculdades. O fenômeno do bullying é agora infelizmente conhecido, mas nos anos 20 e 30 era proibido falar sobre isso, mesmo em ambiente familiar. May confessou ter tido pensamentos trágicos de suicídio e de superá-los graças ao amor de seus pais que, embora muito pobres devido à crise da Grande Depressão, conseguiram dar-lhe estudos e oferecer-lhe um futuro.
"Um jovem chamado Robert May, infinitamente triste e de coração partido, naquela noite na véspera de Natal olhou pela janela e viu correntes de gelo entrando. Barbara, sua filha de 4 anos, se escondeu em seus braços chorando. Sua mãe, a esposa de Bob, querida Evelyn, estava morrendo de câncer.
- Porque a mamãe não é como todas as outras mães? - perguntou a pequena Barbara, ao olhar nos olhos do pai. Porque ela está sempre na cama de olhos fechados e não brinca comigo? -
A mandíbula de Bob se contraiu e seus olhos se encheram de lágrimas; sentia em seu coração muita dor, mas também muita raiva. Sua vida sempre foi dura desde criança, desde quando sua aparência estranha o fez vítima das piadas e ofensas de seus colegas de escola. Era o patinho feio sem esperança de transformar-se um dia num lindo cisne. Lembrando amargamente os apelidos horríveis que recebeu quando criança, ele decidiu poupar sua doce menina da dor de ser chamada de "órfã". Ele lutaria. Era véspera de Natal, pelo amor de Deus! E sua querida Evelyn estava morrendo. Não havia dinheiro na casa, tudo tinha virado fumaça nos medicamentos desnecessários que não tinham servido para salvar a esposa querida, que tinha conhecido e amado desde os tempos da faculdade. Pensou em sua filhinha, que receberia como presente de Natal apenas a morte de sua mãe, e percebeu que não era o momento de se render.
"Você vai ter o melhor presente de Natal já recebido por uma criança!" - decide em seu coração. Com isso, começa a escrever impulsivamente a história de uma pequena rena com um grande nariz brilhante que, beneficiada pelo Espírito do Natal, iluminaria para sempre as noites escuras de sua infância.
Rudolph nasce assim, pelo amor a uma mulher moribunda e a uma menina muito pequena para suportar a dor da perda. E quando Bob leu a história para a jovem moribunda, ela apertou a filha no peito pela última vez, sorrindo com o pensamento de deixá-la nas mãos da pequena rena…”


FOTO 9. Não consegui encontrar foto da pobre Evelyn, mas essa de Bob May com sua filha Barbara rodou o país e amoleceu os corações de milhões de mães. Talvez seja esse o segredo da longevidade da fama da pequena rena?
Claramente, embora sugestiva, se trata de uma história romantizada, digna de um escritor do passado. A realidade foi bem diferente e, em muitos aspectos, mais desagradável.
Em 1938, os danos da Grande Depressão eram muito evidentes na sociedade americana: a crise tinha levado a uma redução gradual na alegria de gastar, e o Natal tinha perdido grande parte de seu apelo consumista. Os pais mantinham as carteiras bem fechadas e até as mesas festivas pareciam menos coloridas. A atmosfera era cinzenta e as vendas de brinquedos baixaram drasticamente: por outro lado, mesmo as grandes cadeias de lojas não pareciam propor nada de novo. No ar ecoava as notas das canções de Natal clássicas, e até mesmo as luzes da indústria da música pareciam desligadas. Ou seja, ninguém queria arriscar, e as famílias pareciam estar totalmente adaptadas a uma atmosfera de austeridade.
Mas não as lojas Ward, que tinham na história do seu fundador Aaron Montgomery uma experiência de vanguarda: apesar da depressão e da crise, recrutou o melhor entre os seus copywriters para dar vida a um personagem tão envolvente que podia brigar até mesmo com Mickey Mouse.
A história do fundador da grande cadeia é indicativa. Ward era apenas um caixeiro-viajante e, em 1872, teve uma ideia no mínimo futurista: iniciar um negócio de vendas diretas, produtor-consumidor, apostando em fornecedores e varejistas e baixando drasticamente os preços. O seu primeiro catálogo, que foi enviado por correio às partes interessadas, consistia numa única página e os primeiros artigos eram ferramentas de trabalho muito comuns para os agricultores. Mas a ideia teve sucesso imediato e, depois de apenas dez anos, Ward foi capaz de vender pelo correio através de catálogos 163 itens diferentes para vários usos (incluindo um dos primeiros fogões a lenha baratos) expostos em 237 páginas! Foi ainda Ward, em 1875, quem inventou a fórmula de "garantia de devolução de dinheiro", o que o levou a um salto para a liderança em popularidade entre os consumidores! A rede Ward desfrutou de um monopólio de vendas por correspondência até 1886, quando nasce a Sears (que a leva à falência muitos anos depois). Todavia, em 1919 Montgomery Ward foi listada na bolsa de valores abrindo sua cadeia de lojas, e foi uma das poucas grandes empresas a sobreviver à crise de 29, quando houve o colapso da Bolsa de Valores. Indomável como poucos de seus rivais, em 1938 Ward decidiu investir grande parte de seus recursos no futuro; e fez isso através do público infantil, como era justo que fosse.


FOTO 10. Foto do primeiro catálogo de página única do império em ascensão Montgomery Ward de 1875! Em poucos anos as vendas por correspondência dispararam e Ward teve a brilhante ideia de economizar nos custos de transporte estabelecendo um limite de peso. Parece que os embaladores eram tão rígidos no respeito às regras, que muitas vezes roupas pesadas como os casacos (que eram muito pesados na época) eram descosturados e enviados em dois pacotes diferentes... e vinham com agulha e linha para costurar de volta!
A ideia era "lançar" um personagem engraçado, porém viril, símbolo da própria cadeia. O primeiro "pupilo" da iniciativa foi um certo Touro Fernando proposto não se sabe por quem, que foi descartado de uma vez devido a má publicidade das touradas. O personagem de May disputava com outros, mas foi de longe o favorito devido à sua característica delicada e índole submissa. Ele também estava tragicamente falido, já que a doença súbita de sua esposa Evelyn, que sofria de câncer há mais de dois anos, tinha drenado suas economias já escassas. O incentivo econômico que Ward prometia ao criador do personagem iria colocar as coisas de volta ao eixo. Bob cuidava de Evelyn e de sua filha, movendo-se loucamente entre o hospital, a casa e o escritório. Em consideração a sua situação, foi-lhe permitido trabalhar a maior parte do tempo de casa: foi lá que o artista teve sua inspiração graças à sua filha Barbara (a única nota verdadeiramente poética de todo o caso). A pequena era fã dos contos de fadas de Papai Noel e suas renas; ela adorava filhotes de cervo, se comovia vendo a mãe cerva e se derretia em lágrimas quando pedia ao pai que a levasse ao zoológico... ele, por razões econômicas, não podia. Bob May coloca grande parte de sua alma no coração da pequena rena: inventa um personagem "diferente", alienado, triste e solitário, que não podia ser outro senão ele mesmo, um menino feio e de óculos. E o faz seguindo um padrão poeticamente infantil ditado pelo amor por sua filhinha, e que se encaixa perfeitamente no espírito do Natal.


FOTO 11. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, as características originais das renas são muito diferentes dos inocentes filhotes de cervo. Como podem ver na imagem original de 1942, Bambi já apresenta os sinais da iconografia clássica de filhotes adoráveis: cabeça redonda, orelhas grandes e olhos pungentes. A Disney produziu o filme em 1942, quando Rudolph era já muito famoso. Coincidência ou plágio?
Este foi o único grande milagre do nascimento de Rudolph: o resto é apenas uma lenda. Evelyn não morre na véspera de Natal de 1938, como dito muitas vezes. Naquela época, ela estava em coma, hospitalizada em um quarto de hospital muito comum, onde, no entanto, seus entes queridos costumavam visitá-la. Ela morre em julho do ano seguinte, entre uma menina chorando e um copywriter que ainda não tinha encontrado a força para terminar sua história. Ele terá sucesso alguns meses depois em tempo recorde em função do aluguel não pago e do perigo de ser despejado.
E Rudolph não foi a súbita "revelação" que operou milagres no terrível diretor de vendas, Sewel Avery. Na verdade, Rudolph com aquele nariz vermelho que lembrava o de um bêbado, foi imediatamente descartado não só uma, mas duas vezes! Temos de compreender isto: o eco do proibicionismo ainda se fazia sentir, e apresentar ao público infantil uma imagem pseudo-alcoólica não parecia conveniente para as lojas Ward, ainda que fossem progressistas. Mas Bob, agora determinado a seguir em frente e receber a abençoada promoção, tirou da manga sua cartada triunfal: pede a ajuda do ilustrador jovem e promissor Denver Gillen, muito talentoso e ambicioso. O jovem fez exatamente o que fazem os grandes atores fazem quando entram completamente no papel: teve uma conversa com a pequena Barbara (verdadeira inspiradora do personagem), e logo percebe que aquele nariz vermelho não era uma pura invenção, mas um detalhe em um certo tipo de cervo que a menina tinha visto há muito tempo no zoológico. Ao passear pelo zoológico, ele logo percebeu que se tratava do caribu, um animal dócil cujo filhote parece frágil e indefeso e que, ao nascer, apresentam um nariz rosa escuro muito particular. Seus desenhos foram capazes de capturar aquela ternura instintiva que, apesar do aspecto não muito feliz, os pequenos sabem como infundir em sua própria espécie; conseguiu trazer leveza a uma história triste, bem adequada para um Natal reflexivo e, com isso, finalmente conseguiu conquistar o terrível Sewel Avery, diretor de vendas Ward.


FOTO 12. Esse é o esboço original da pequena rena em 1939, tal qual apresentado por Denver Gillen. As características do personagem não eram bonitas, mas a fragilidade do desenho, que parecia sair diretamente de um mundo de contos de fadas, conquistou a todos.
Vários nomes foram descartados, entre eles Rollo e Reginaldo. Por fim, a pequena rena ganhou o nome de Rudolph, que evocava uma imagem certamente mais "masculina" que os anteriores. Depois de uma campanha publicitária impressionante, a ideia pegou e, só em dezembro de 1939, vendeu-se mais de dois milhões de cópias, alçando a história da pequena rena ao reino dos clássicos.
O que se seguiu foi uma enxurrada de acessórios de arrepiar os cabelos até mesmo da própria Disney: bonecos, broches, acessórios para crianças, canecas... e até mesmo enfeites de Natal traziam a nova moda da rena de Nariz Vermelho. A América, feliz e contente, foi literalmente invadida e durante 7 anos Rudolph foi o protagonista absoluto das festas sagradas. Não havia nenhum teatro itinerante que não encenasse com seus bonecos Rudolph, e não havia nenhuma mãe que não fizesse o filho dormir ao embalo dessa fábula querida.
Estavam todos felizes então? Não é bem assim. Nosso Bob, depois de um breve momento de glória, não se encontrava melhor do que antes. Ward tinha todos os direitos sobre a história e seu protagonista e, como dizem, sugava tudo enquanto May estava sobrecarregado com contas e mais contas. O jovem também casou-se novamente com uma colega, ex-secretária do mesmo Avery, a doce Virginia Newton com quem teve mais cinco crianças! Em 1946, portanto, Ward tinha vendido seis milhões de cópias livro sozinho, aos quais devem ser adicionados os recursos provenientes da venda de acessórios. Enquanto isso, Bob seguia adiante com seu único salário como empregado. E agora começa a lenda: falam que, por um motivo misterioso em 1947, o temível Sewel Avery, evidentemente tocado por graça divina, cede 100% dos direitos ao seu criador, Bob May, que em apenas dois anos se torna multimilionário e, com isso, consegue viver de rendimento pelo resto da vida. A maioria não sabe explicar este súbito arrependimento as lojas Ward que, ao que parece, mudou de ideia e renunciou à renda bilionária que tinha aumentado seu poder na bolsa de valores. Não se falou disso durante anos, até que, pouco antes do fracasso da grande cadeia em 2001, veio à tona os detalhes.
Vocês devem saber que em 1944 a fábula de Rudolph, a rena do nariz vermelho, apareceu em um curta-metragem de desenho animado feito pelo pioneiro da animação Max Fleisher, em nome da Jam Handy Corporation. Se tratava de dois gigantes da indústria cinematográfica em ascensão: Fleisher, inventor da primeira técnica de animação que daria vida ao império dos desenhos animados, propondo personagens míticos como Betty Boop e Popeye. Foi amplamente conhecido como o pioneiro de uma técnica de animação claramente mais sofisticada e moderna do que a da Disney, rival acirrado. A Jam Handy Corporation, propriedade de Henry Jamison Handy, era um gigante em ascensão no campo da comunicação social. Muito próxima do exército dos Estados Unidos por ter produzido vários filmes promocionais e didáticos, também desfrutava do apoio político e econômico de clientes ilustres como a General Motors e o famoso Bray Studios, além de ter um contato íntimo com a Paramount. Farejando o negócio e conhecendo as condições de vida precárias de Bob May, Fleisher entrou em contato com o artista, oferecendo-lhe apoio concreto na possibilidade de processar as lojas Ward, que por anos não reconheceu qualquer percentual sobre o direito autoral de Bob, e enriqueceu de maneira exponencial nas suas costas. Bob concordou e rapidamente agendou uma reunião privada com Sewel Avery, na qual ameaçou fazer um belo escândalo na convocação em tribunal, o que teria um impacto direto na cotação da Montgomery Ward na Bolsa de Valores. Foi assim que May obteve 100% dos direitos de Rudolph, mesmo que a sua condição de empregado da grande cadeia tornasse duvidoso a atribuição na sua totalidade. É evidente que este não era um presente de Natal, mas uma manobra para poder produzir um novo filme de animação, que faria muito sucesso e traria muito dinheiro ao bolso de todos os protagonistas. Produziram então um filme de 8 minutos muito bem feito que, em 1947, deixou milhões de americanos em êxtase. Em seguida, várias alterações foram feitas, transformando gradualmente a imagem e fábula de Rudolph, privando-a da sua originalidade e nivelando-a ao popular estilo Disney. Ainda digno de nota foi o livro infantil de 1951 com desenhos de Richard Scarry, republicado depois pela Golden Books em 1958 em uma edição revisada e corrigida, e até um pouco sentimental.


FOTO 13. Esse é o lindo desenho de Scarry de 1951, que se manteve inalterado até 1958. Após essa data, o estilo foi infelizmente se modificando de forma gradativa.
A alteração do personagem ficou evidente no especial de 1964, em que Rudolph se transforma em um cachorro alienado que foge de casa, e onde aparecem outros personagens de apoio, também excluídos como ele. A nova história perdeu completamente aquela luz de amor e esperança que é tão central na figura da pequena rena, e é agora aclamada como um clássico... infelizmente, esse é um reflexo dos novos tempos.
Me calo a respeito dos remakes subsequentes, que culminam em um filme horrível de 1998, que se demora no retrato do assédio sofrido pelo pequeno Rudolph em uma atmosfera de gosto vagamente sádico. Me sinto até mal em falar sobre o filme Rudolph, a rena do nariz vermelho - Na ilha dos brinquedos roubados de 2001, em que a magia de fato desaparece. A consagração definitiva de Rudolph, com isso, se deu em 1949, se tornando assunto familiar. Entre livros, acessórios e filmes, faltava uma última coisa: uma canção simbólica que lhe garantiria para sempre o seu lugar no Olimpo. A proeza foi da Columbia, que, talvez para dar um impulso extra para a campanha de publicidade, confiou a tarefa de extrair da fábula uma canção ao próprio cunhado de Bob May: o talentoso Johnny Marks.
Até aquele momento, Marks era apenas uma bela promessa. Embora tivesse contato com a rádio e tivesse os características de um bom compositor, ele não havia escrito nada de excepcional até então; todavia, Rudolph expõe a alma de verdadeiro artista que havia dentro dele. Ele compõe em dois meses uma canção agradável de texto leve, que em poucos minutos torna perfeita a atmosfera da fábula de Natal.
Vejam o texto:
Rudolph, the red-nosed reindeer
had a very shiny nose.
And if you ever saw him,
you would even say it glows.
All of the other reindeer
used to laugh and call him names.
They never let poor Rudolph
join in any reindeer games.
Then one foggy Christmas Eve
Santa came to say:
“ Rudolph with your nose so bright,
won’t you guide my sleigh tonight?”
Then all the reindeer loved him
as they shouted out with glee,
Rudolph the red-nosed reindeer,
you’ll go down in history.
Rudolph, a rena do nariz vermelho.
Rudolph, a rena do nariz vermelho
tinha um nariz muito brilhante.
X E se algum dia o visse,
ainda diria que era cintilante!
Todas as outras renas
zombavam dele e faziam uma quebradeira.
Nunca deixavam o pobre Rudolph
participar de nenhuma brincadeira
Então, uma noite de Natal cheia de neblina
Papai Noel disse:
"Rudolph, com seu nariz tão luminoso,
gostaria de conduzir meu trenó esta noite?”
Então
todas as renas o acolheram
e gritaram cheios de glória:
"Rudolph, a rena do nariz vermelho
ficará para sempre na história! ”
Muito bem escrito! Agora precisava apenas encontrar alguém, uma verdadeira estrela da música, que a tornasse sua e conseguisse transmitir sua beleza para cair nas graças do público. Columbia imediatamente contatou o ícone de músicas natalinas da vez, o rei do chororô, o onipresente Bing Crosby, mas ele torce o nariz e recusa. Depois do grande sucesso do White Christmas que o colocou no universo das estrelas, ele tinha medo de arruinar sua reputação interpretando uma fábula infantil. Ninguém ficou surpreso com a rejeição: o querido "Bing" não se destacava por suas qualidades intuitivas.
No entanto, no caso de Rudolph, Crosby foi inflexível e, com isso, a gravadora passa para o plano B. A escolha recai sobre outra das estrelas do momento, um cantor-ator que jovens e adultos gostavam e que encarnava perfeitamente a imagem do Bom Americano: estou obviamente falando de Gene Autry. O ator havia se estabelecido graças a alguns filmes de faroeste de alcance nacional popular, em que ele aparecia como um cowboy bonito e sempre bem penteado, com a intenção de lutar contra os bandidos, flertar com belas donzelas e cantar canções country ao lado da fogueira. Durante anos apareceu em um especial de rádio da CBS em que, direto de seu rancho, dava "lições" para jovens ouvintes que queriam imitá-lo. O programa continuou por cerca de 16 anos com um índice de aprovação muito alto. Além disso, foi um herói da Segunda Guerra Mundial e campeão de rodeio. Em resumo, todos os americanos queriam ser como ele, e todas as mulheres sonharam com um homem como ele. Mas Autry torceu o nariz para o caso Rudolph por outra razão, muito mais compreensível: apenas alguns anos antes ele havia interpretado uma canção sobre o Natal, Here Comes Santa Claus, que não foi muito bem sucedida, e foi tema de críticas impiedosas. No entanto, o ator confiava muito em sua esposa Ina, que tinha um gosto musical afiado. Ela tanto disse e tanto fez, que eventualmente convenceu Autry. O single Rudolph, a rena do nariz vermelho foi lançado em 1949 e foi o maior sucesso de sua vida. A canção, doce sem ser triste, vendeu em um único mês dois milhões de cópias, 230 milhões até hoje, ficando em segundo lugar entre as maiores canções de todos os tempos imediatamente após... White Christmas.

Конец ознакомительного фрагмента.
Текст предоставлен ООО «ЛитРес».
Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=48773476) на ЛитРес.
Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.
Canções De Natal Na Velha América Patrizia Barrera
Canções De Natal Na Velha América

Patrizia Barrera

Тип: электронная книга

Жанр: Музыка

Язык: на португальском языке

Издательство: TEKTIME S.R.L.S. UNIPERSONALE

Дата публикации: 16.04.2024

Отзывы: Пока нет Добавить отзыв

О книге: História das mais belas canções de Natal da tradição americana

  • Добавить отзыв