Cortejando Um Semideus Arrogante

Cortejando Um Semideus Arrogante
Rebekah Lewis


Um conde arrogante se apaixona por uma linda jovem... mas tem que competir pelo amor da moça contra um duque invejoso. Um romance histórico com uma pitada de sobrenatural!

Bryce Stirling, o Conde de Winterthorne, não quer de jeito nenhum viajar ao interior inglês para o casamento da prima, Ione, com o filho de um visconde. Mas, quando se abriga na estufa de Summerfield, fugindo dos convidados, pega-se cativado no mesmo instante pela linda mulher que escolheu o mesmo local para se esconder da família – e de um tristão persistente que a deseja para si. A senhorita Wendelin Harlow tem três irmãos mais velhos e superprotetores. Assim que o sedutor Lorde Shellington se interessa por ela no casamento, seus irmãos entram em ação, e Wendelin busca o conforto da estufa para evitar todos eles. Quando encontra o Conde de Winterthorne, deseja conhecer melhor o homem misterioso de quem sempre falam na alta sociedade – mas quase nunca é visto. Não demora para os dois imortais descobrirem que estão interessados pela mesma mulher, e Bryce, de alguma maneira, permite que o Lorde Shellington o convenca a participar de uma aposta pelo amor da senhorita Harlow. Quem ganhar, leva a mulher, mas o perdedor terá que abrir mão da imortalidade.



Translator: Mariana C. Dias








Cortejando Um Semideus Arrogante




Índice


Capítulo 1 (#u1be35487-b343-5562-a2a4-7d86e9b6669d)

Capítulo 2 (#u0ad6615f-40e9-5e06-bfd6-50b2c2660413)

Capítulo 3 (#u41427047-d8ce-5753-ac15-0120f5b5643b)

Capítulo 4 (#uf795242e-5726-5015-94dd-209b79680a0e)

Capítulo 5 (#u1ff3ecc9-4a14-5b57-885d-d9411f7aa337)

Capítulo 6 (#u6e945f52-bf46-5949-a518-6276d3d009d6)

Capítulo 7 (#u042b88ff-0864-5981-9768-7843cd2610c4)

Capítulo 8 (#u31d4f134-2393-55de-aa23-2091cf6211ff)

Capítulo 9 (#udb5e68e0-2c32-5a73-ab64-974753ffe700)

Capítulo 10 (#u222ec6b8-6401-528e-9fb3-247dbb5160eb)

Capítulo 11 (#u8fd2357e-5e78-5fd0-a1c0-b4737cf9e2ba)

Capítulo 12 (#u1b15bd29-40d0-5e89-9c77-ba6888a25c4d)

Capítulo 13 (#u4b03d808-1a73-5a27-adf7-e5eedc807f67)

Sobre a autora (#u6b944c52-b6ca-5b5b-913c-70161a5573ab)

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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, instituições, lugares, eventos e acontecimentos são produtos da imaginação da autora ou foram utilizados de maneira ficcional. Quaisquer semelhanças com pessoas reais, vivas ou mortas, ou eventos da realidade não passam de coincidência.

Capa por Victoria Miller.

Copyright © 2021 por Rebekah Lewis

Todos os direitos reservados.

Este livro ou qualquer trecho dele não pode ser reproduzido ou utilizado de forma alguma sem uma autorização exprimida por escrito pela autora, exceto para o uso de citações curtas em resenhas.

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Para Niki e Nelly,

Não tivemos a chance de trabalharmos juntas por muito tempo, mas vocês transformaram aquela época no escritório em uma festa.

Obrigada.




Capítulo 1


11 de agosto de 1817

Bryce Stirling, o terceiro Conde de Winterthorne, cruzou os braços ao encarar, pela janela, o interior inglês em movimento. Summerfield ficava a apenas um dia de viagem de Londres, mas o problema não era essa.

— Não sei por que temos que ir… — Ele se virou e encarou a muitíssimo velha tataravó com um olhar que intimidaria a maior parte das pessoas. A Duquesa de Ceres, no entanto, pareceu entediada com as reclamações do homem. Reclamações, arrependia-se Bryce, das quais ele não abria mão desde que tinha sido informado que a acompanharia ao casamento de pessoas que o neto sequer conhecia. Honestamente, não compreendia por qual razão estava sendo arrastado ao interior contra sua vontade.

Claro, a tataravó não era uma velhinha frágil a quem ele tinha que agradar por dever ao laço familiar ou para ser educado. Não, a Duquesa de Ceres era ninguém menos do que a deusa Deméter, e, de acordo com a sociedade londrina, ela era tia dele. Isto, porque parecia ainda mais nova do que a mãe de Bryce, com a pele sem manchas, o cabelo ruivo e os olhos verdes brilhantes e atentos.

— Por que você está dificultando tanto a situação? Ione é sua prima…

— Prima de muitos graus — corrigiu-a o neto, ignorando o olhar que recebeu por não a deixar terminar a frase. — Eu não cresci com ela. Eu nunca sequer a conheci.

— É raro alguém que sabe da sua origem passar mais do que alguns dias em Londres. Faria bem a você ter uma conhecida com quem conversar. Se ao menos você pudesse ir ao Olimpo… — Deméter franziu a testa. Esta era uma queixa comum. Fazia tempo que Zeus tinha fechado os portões para os forasteiros, incluindo para os membros do próprio panteão que não estavam presentes quando o cadeado mítico foi fechado. Sendo semideus, Bryce deveria poder fazer uma visitinha ao outro lar ancestral quando desbloqueasse os seus poderes divinos, mas, infelizmente… nunca teria essa chance. Não havia como sentir falta daquilo que nunca tinha vivido. Por alguma razão, a ideia de jamais visitar o Olimpo sequer o incomodava.

— Não preciso conversar com ninguém sobre isso. — Por que precisaria? Ser um semideus tinha seus pontos positivos, mas não era como se a sua condição tivesse se tornado um fardo tão grande ao ponto de Bryce não a aguentar. Ainda era novo, tinha vinte e cinco anos e uma vida toda para aproveitar suas… habilidades.

— As irmãs de Ione vão estar lá. Bem, pelo menos um punhado delas. Nem todas vão conseguir comparecer, já que têm outras obrigações.

Em resposta a isso, Bryce bufou. Que tipo de obrigações uma sereia tinha?

— Tenho certeza de que as ninfas do mar são uns amores, mas não tenho interesse em ser atormentado nem em ser afogado por uma delas. — Era o que elas faziam, afinal de contas. O fato de o Capitão Harlow estar se casando com uma ninfa que havia rejeitado aquela parte de seu ser era um acidente e nada mais. Desejava sorte ao homem.

Deméter assentiu.

— É o meu sangue correndo pelas suas veias que o deixa tão preocupado. Você quer ficar em terra, e o mar parece que está fora de questão para você. — Ela alisou a saia verde desbotada do vestido, que exibia rendas prateadas e bordados de contas. — Isso, e o medo de ser levado e enganado como aquele filho horrendo do…

Ele ergueu a sobrancelha.

Pigarreando, Deméter continuou, a voz mais calma:

— O que eu quero dizer é que… o sofrimento de Perséfone se transformou em um estresse sem fim dentro da nossa linhagem. Talvez seja culpa minha, também. — Ela deu de ombros e encarou o teto, como se buscasse o perdão pela reação exagerada, há tantos séculos, quando os tios avós de Bryce, Perséfone e Hades, abalaram o panteão com seu casamento. Deméter nunca perdoou Hades. — Se ele não a tivesse enganado com aquela romã…

Não querendo entrar naquele assunto outra vez – porque, quando ela começava a reclamar de Hades, a conversa podia se arrastar por dias –, Bryce voltou a focar nas ninfas do mar, com quem a tataravó queria arranjar um encontro para ele.

— Respirar estaria fora de questão para mim caso eu sequer olhasse por tempo demais para uma dessas ninfas. — Sem mencionar que os poderes dele estavam enraizados na terra, e o homem não pretendia se afastar de sua fonte de poder.

— Ah, que seja. Mas não significa que você não possa se divertir e conhecer a Ione e o Capitão Harlow. Você precisa de mais amigos em Londres, dos quais não tenha que esconder o seu verdadeiro eu. Como eu lhe disse, faria bem a você.

Ela tinha razão, mas Bryce não precisava concordar. Teria preferido conhecê-los em Londres. Aparentemente, havia comparecido a um baile, há pouco tempo, onde tanto ele quanto Ione estiveram presentes, mas Deméter não achou prudente apresentá-los naquela ocasião – só os deuses sabem por qual razão. Poderia tê-lo poupado de uma viagem inoportuna de carruagem.

Permaneceram em silêncio pelo resto do caminho, que não se alongou muito. Após ajudar Deméter a descer da carruagem, virou-se e encarou a Mansão Summerfield. Era peculiar, apesar de pertencer a um visconde. O Capitão Harlow, na maior parte do tempo, morava ali sozinho – de acordo com os rumores –, enquanto o visconde e a viscondessa, junto com os três filhos, preferiam a agitação e o burburinho de Londres. Os arbustos e os canteiros estavam bem cuidados, mas logo ficou aparente que, quem quer que fosse responsável pela propriedade não tinha muita imaginação se tratando de criar um jardim imponente e digno de receber visitas.

— Devo insistir para que não se meta com a flora deles, Bryce. — A firmeza no tom de Deméter chamou-o de volta para a realidade. — Com certeza notarão, e nem todo mundo aqui sabe que existem olimpianos entre eles.

— Bem, mas nem sempre consigo controlar a necessidade de usar magia. — O mau humor continuou a piorar. Odiava quando recebia broncas como se ainda fosse um garotinho. Era um homem agora. Seu poder de criar e controlar plantas era facilmente mantido em segredo quando em casa, em Winterthorne, com seu grande invernadouro e jardins, mas, na grande casa em Londres, o diminuto jardim e estufa não eram de grande ajuda. A terra o chamava para ser semeada e cuidada, e algumas flores cairiam muito bem em Summerfield, mesmo que não fosse ele o responsável por plantá-las.

Os criados os levaram para dentro da mansão, então, foram rapidamente guiados ao outro lado, passaram pela porta dos fundos e deram de cara com um penhasco com vista para o Mar do Norte. Abaixo, um pedaço de floresta encobria a descida que acabava na praia, que, por enquanto, permanecia fora de vista, apesar do ar e da brisa marinhos. Pelo menos, havia um montão de árvores ali. Bryce emitiu um chiado baixinho, impaciente. Deméter o encarou de soslaio, furiosa, e ele fingiu não ter percebido. Em vez disso, focou nas pessoas ao redor.

Um padre conversava com um cavalheiro mais velho, e Bryce o reconheceu rapidamente como o Visconde de Summerfield. Havia muitas mulheres se demorando por ali, com chapéus elaborados que cobriam o cabelo, mas o vislumbre de uma mecha toda violeta lhe chamou a atenção quando uma das moças prendeu o cacho solto sob o chapéu, escondendo-o. Ah, as ninfas do mar. Eram conhecidas por suas cores interessantes; muitas não conseguiam passar desapercebidas por conta disso.

— Parece que nos atrasamos para a cerimônia. — Deméter apontou para a esquerda, onde uma mulher de cabelo dourado e pele beijada pelo sol sorria amavelmente para um homem de cabelo escuro, que segurava as duas mãos dela enquanto lhe dizia algo. Diversas ninfas os bajulavam, exibindo curiosidade – algumas até mesmo inveja, caso os seus biquinhos provassem algo. — Vou cumprimentá-las e as trarei aqui. Não saia do lugar.

Como se Bryce tivesse algum outro lugar para ir… mas, logo que Deméter desapareceu na multidão de ninfas, o homem se mandou na direção oposta, lançando olhadelas ao redor e evitando as pessoas como podia.

Quando ninguém mais parecia se importar com ele, agachou-se e passou pelos arbustos nos limites da mansão, logo, contornou-a e, então, piscou. Uma estufa se assomava no limite das árvores, escondida da parte da frente da casa por um muro de pedras e por um portão de ferro fundido. Com certeza, Deméter o acabaria encontrando ali, mas era um esconderijo que, por enquanto, daria para o gasto.

Atravessou o terreno e alcançou a estufa. Em seguida, verificou se estava trancada, mas conseguiu abri-la sem dificuldade. Deu uma olhadinha sobre o ombro para garantir que não tinha sido seguido, esgueirou-se para dentro e fechou a porta. Soltando um suspiro aliviado, fechou os olhos e inalou o aroma suave e terroso das folhas e das flores fragrantes. Não se interessava nem um pouco em fazer amigos, e a pontinha dos dedos coçava com a vontade de usar a energia que não podia ser exibida na frente dos mortais.

Quando abriu os olhos e se virou para analisar o que a estufa tinha a lhe oferecer, deu de cara com os olhos grandes e muito azuis de uma jovem de cabelo marrom-escuro, envolta por um vestido rosa desbotado, que combinava perfeitamente com o corar rosado de suas bochechas. Bryce perdeu o fôlego. Por que ficou surpreso em tê-la encontrado ali? Por que a sua beleza tinha feito as entranhas dele se remexerem de um jeito estranho? Uma situação interessante, sem dúvida.

— Eu te conheço — disse ela, de repente, levantando-se da cadeira ao lado de uma mesa diminuta nos fundos da estufa. A mulher tinha estado podando folhas mortas de uma pequena lavanda do vaso logo em frente. — Conde de Winterthorne, acho. Mas não fomos devidamente apresentados.

Ele assentiu, e um cacho louro de seu cabelo caiu sobre os olhos. Então, devolveu-o ao lugar.

— Eu mesmo. E quem tenho o privilégio de encontrar nesta estufa sossegada à beira-mar? — Nossa, ele realmente tinha exagerado, não tinha? Estremeceria se ela não estivesse acompanhando todos os movimentos dele, como se tentando descobrir todos os seus segredos.

— Senhorita Wendelin Harlow. — Ela fez uma mesura, e Bryce não soube dizer se estava sendo educada ou zombando-o. No entanto, agora que sabia quem ela era, o fato de aquela moça estar ali deixou tudo muito mais interessante.

Apoiou as costas na porta e cruzou os braços, dando a ela o seu sorriso mais malandro.

— E o que, conte-me, por favor, a irmã do noivo está fazendo escondida no dia do casamento dele?

Ela piscou, pois claramente não estava esperando ser acusada de tal coisa, mesmo sendo verdade.

— Ah… bem… — A moça sentou-se outra vez. — Meus irmãos são superprotetores. — Ela franziu a testa para a planta em sua frente, então, para a pilha de folhas mortas que ela mesma havia criado ao lado do vaso. — Eu estava caminhando ao redor da propriedade com o Duque de Shellington, e acho que ele tentou me roubar um beijo… — Ela corou e deu uma espiada em Bryce pelo canto do olho.

O homem não achou que ela fosse revelar algo tão escandaloso, e o conde não sabia quem o Duque de Shelligton era. Nunca tinha ouvido falar nele, o que não fazia sentido. Se era um nobre – um duque ainda por cima –, com certeza deveria conhecê-lo. De repente, ficou irritado – porque não conseguia se lembrar do duque, obviamente, e por nenhuma outra razão –, mas assentiu para que ela continuasse.

— Jonathan estava saindo da casa quando o Lorde Shelligton se inclinou sobre mim… Meu irmão teve um acesso de fúria que atraiu diversos espectadores para o que estava acontecendo. Ele não me deixou mais sozinha e me fez ficar ao lado dele durante o casamento, para manter o Lorde Shellington longe de mim. — Ela suspirou, apesar de não ter ficado claro se por conta das atitudes do irmão ou se porque queria que o duque a tentasse roubar um beijo outra vez. Estaria aquela lady correndo atrás de escândalos?

Sem descruzar os braços por completo, Bryce indicou os arredores com uma das mãos.

— Não estou vendo o seu irmão aqui. Você fez picadinho dele e o enterrou nesses vasinhos de flor?

A Senhorita Harlow o encarou por um momento, boquiaberta.

— Você subestima demais a habilidade de Jonathan de me atormentar. Ele voltaria dos mortos se fosse para me atazanar — disse ela, rindo. O som suave e tilintante fez o coração dele bater um pouquinho mais rápido, e Bryce se afastou da porta, aproximando-se dela, mas parou, desajeitado, ao lado da mesa.

— Você gosta de plantas?

Sorrindo, ela encontrou os olhos dele.

— Muito. Não tenho chance de cuidar delas tanto quanto antes, mas, quando visito Summerfield, gosto de passar o maior tempo possível aqui. — Ela olhou ao redor, para as prateleiras nos dois lados da construção, cobertas por vasos e botões em plena floração. — É uma pena nada disso sobreviver na terra.

Mas que coisa esquisita para se dizer.

— Como assim?

— Plantei rosas na primavera passada, na frente da casa, sob as janelas gigantes. — Ela fez uma pausa, esperando para ver se o homem tinha notado as janelas mencionadas. Bryce assentiu. — Em vez de florirem, morreram. Tínhamos um jardim riquíssimo, entretanto, há uns cinco anos, parece que nada com flores sobrevive. Mas, por alguma razão, sobrevivem aqui dentro da estufa. — Ela deu de ombros. — É muito estranho.

Bryce veria o que poderia ser feito a respeito daquilo antes de partir pela manhã. Era verdade que tinha perdido o casamento, algo que não o aborrecia, mas ainda haveria um jantar de comemoração no finzinho daquela tarde, e continuariam presos ali pela noite. Descobriria por que as flores não cresciam e corrigiria a situação. Isso não apenas faria uma linda lady sorrir, como ele poderia libertar, ao longo do processo, um pouquinho de magia reprimida.

— Não desista das flores, pequenina. O solo pode ser caprichoso quando não está a fim de criar vidas. Tente outra vez, talvez funcione.

— Você acha mesmo? — Os olhos dela se iluminaram com um tanto de esperança, o que o obrigou a engolir a vontade de prometer que, sim, as flores sobreviveriam.

— Pode-se dizer que eu pratico muita jardinagem. — O homem deu de ombros, para fingir que sua paixão pouco importava a ele. Algumas pessoas achavam estranho um conde gostar de trabalhar com terra e plantas. — É o meu passatempo.

A Senhorita Harlow parecia ter mais a dizer, mas seja lá o que fosse desapareceu quando a porta da estufa foi aberta atrás dele.

— Te achei, eu… — O homem parou de falar abruptamente quando percebeu que a Senhorita Harlow não estava sozinha.

Bryce se virou para encarar o recém-chegado, esperando que fosse um dos irmãos que se pareciam com ela. Em vez disso, um homem alto, com olhos verde-mar e cabelo preto, que exibia um tom azulado, olhou-o com desprezo. O saber inato da linhagem de Bryce foi suficiente para lhe dizer que aquele homem não era humano, ou seja, deveria ser parente de Ione. Ninfas do mar eram todas mulheres, o que fazia dele… um tritão. Um dos muitos, muitos filhos do deus que levava o mesmo nome.

Todos os quais, Bryce tinha certeza, eram idiotas.

— Lorde Shelligton — disse a Senhorita Harlow, levantando-se. Bryce firmou a sua posição na frente dela. Apesar dos tritões não terem o costume de afogar amantes, como as sereias – parte do incômodo era deixar a mulher viver para lidar com os filhos –, caso um tritão estivesse de olho na Senhorita Harlow, não teria como isso terminar bem para ela. Esses seres não cultivavam relacionamentos duradouros, apenas queriam parceiras para procriarem.

Raios, nem o pai deles era de manter a mesma amante por muito tempo, e a lenda dizia que Tritão tinha produzido três mil filhos e três mil filhas para povoar o reino oceânico de Poseidon. Esse número deveria ser um exagero, mas, por outro lado, também não chegava a parecer impossível para um deus com a idade de Tritão.

Shelligton o lançou um olhar de cima abaixo, contaminado por hostilidade. Bryce deu o troco na mesma moeda. Atrás dele, a Senhorita Harlow apoiou a palma da mão em seu braço, e os músculos do homem contraíram em resposta ao toque. Bryce não tinha estado esperando nada nisso. Ninguém o tocava sem que ele os tivesse tocado primeiro. Geralmente, a atitude ousada dela o teria irritado, mas não odiou a sensação de contato com a jovem.

— Preciso voltar antes que Jonathan venha me procurar de novo. — Ela olhou de um homem ao outro ao passar por Bryce. — Foi um prazer conhecê-lo, Lorde Winterthorne. — A Senhorita Harlow assentiu ao tritão que fingia ser duque. Isso explicava por que Bryce nunca tinha ouvido falar nele. — Vossa Graça.

Quando ela se apressou ao sair da estufa, Bryce sentiu a ausência dela no mesmo instante. Mas, primeiro, teria que colocar o tritão na linha.

— Sim, Vossa Graça — zombou. — Ela está fora de cogitação para você.

Shelligton bufou, indignado.

— Nenhuma mulher está fora de cogitação para mim,

— Essa está.

O tritão se aproximou, parecendo um duque até o último fio de cabelo, em seu casaco e calça cinza-escuros. O peitilho branco e limpo exibia um broche de safira preso bem no centro. Bryce o odiou instintivamente. Aquelas roupas perfeitas e aquele cabelo preto azulado… tentando beijar mulheres jovens e inocentes, sem vergonha alguma, na frente de seus irmãos… Falando nisso, provavelmente deveria estar interessado em procriar com ela. A pobre garota estaria arruinada e presa a uma criança, que seria abduzida em uma noite qualquer caso fosse do sexo masculino. Por qual razão Ione havia sequer convidado os tritões para o casamento? Estaria o Capitão Harlow ciente do perigo que aquela criatura era para a irmã? Pelo menos, Jonathan estava ciente da situação, apesar de Bryce não saber, naquele momento, se o irmão realmente compreendia a proporção da ameaça.

— Isso me soa como uma aposta, e eu nunca recuso uma aposta. — Shelligton tamborilou os dedos na coxa. — Você acha que eu não vou conseguir conquistar a garota, mas eu acho que consigo.

Uma irritação ainda mais intensa percorreu seu corpo.

— Não vou apostar nada. Estou mandando você deixar a mulher em paz. Se quiser chamar isso de algo, chame de ameaça. Ou de aviso.

O tritão estalou a língua.

— Coitadinho do semideus, deve estar morrendo de raiva por eu a ter descoberto antes de você. Claro, se tivesse chegado na hora, poderia ter tido alguma chance. Ou não, já que você não passa de um mero conde.

— Um conde legítimo, pelo menos. — Por que ele sequer estava dando corda para aquela discussão? Não era como se Bryce estivesse tentando ter uma chance com ninguém. — Você entendeu tudo errado. Só quero salvá-la da ruína que seria se envolver com um homem como você. Um duque falso.

Shellington deu um peteleco em um grão de poeira que havia aterrissado em seu braço.

— Sou tão real quanto desejo ser. De qualquer maneira, primeiro, tenho que me estabelecer em Londres antes de persegui-la de verdade, o que realmente pretendo fazer. Admito, no começo, foi apenas pelo entretenimento, mas ao notar quão na defensiva você está, quero ver o seu rosto quando ela me escolher. Mulher alguma rejeita um tritão.

Bryce cerrou os dentes para se impedir de responder, pois sabia que isso apenas pioraria tudo.

— Não me importo com quem ela escolher ficar no fim, mas será com um homem que realmente se importa com a reputação dela. — Pareceu estar se importando demais para que as palavras soassem verdadeiras. Teria o tritão visto algo a mais do que Bryce tinha notado em seu encontro com a mortal?

— Daqui a um ano, no começo da Temporada, nossa aposta começa.

Bryce já estava cansado daquela tolice.

— A Temporada começa depois do Natal. Você quis dizer, então, no começo da Curta Temporada?

— Alguém realmente a chama assim? — O tritão nem sequer piscou. — Você topa ou não?

— Não vou apostar nada com você. — Muito poderia acontecer em um ano. Poderia, por exemplo, garantir que a senhorita Harlow estivesse casada antes de a aposta começar. Ele tinha diversos conhecidos que seriam um bom partido, mas, quando os considerou um a um, dispensou-os de imediato com base em uma ou outra desculpa.

— Porque você sabe que vai perder — provocou Shelligton.

— Porque eu não quero nada de você quando eu ganhar. — Ao dizer isso, seu poder reverberou, ganhando vida dentro de si, enquanto a irritação atingia seu pico, e Bryce cerrou os punhos. Pelo cantinho do olho, botões irromperam em flores maduras nos vasos da direita.

Shellington olhou para as flores, com uma expressão entediada no rosto.

— Que fofo. Você tem um dom tão delicado… Ah, deixe-me te lembrar que consigo satisfazer uma mulher simplesmente cantando para ela.

— Seria uma pena reduzi-lo a um soprano, então. — Não havia como saber se o comentário sobre a cantoria era verdadeiro ou não. As sereias eram um tipo completamente diferente de ser, apesar das lendas que, em algum momento, as misturavam com os tritões.

O tritão riu e se virou, mas parou ao alcançar a porta.

— Um ano. Um de nós conquistará o coração da linda Senhorita Harlow e o direito de se gabar a todos que foi melhor do que o outro.

Bryce revirou os olhos. Talvez, se entrasse no jogo, Shelligton finalmente iria embora e lhe daria um momento de paz.

— E o perdedor?

— O que acha de deixarmos as coisas interessantes? — A voz dele assumiu um tom perverso. — O perdedor abre mão da imortalidade.

Aquilo tudo era ridículo, mas quando viu a porta ser fechada com força assim que o tritão se foi, ele ser permitiu ter um momento para considerar o que havia acontecido. Muito realmente poderia acontecer em um ano, lembrou-se. Seria melhor se a Senhorita Harlow estivesse casada antes do início da próxima Temporada – para o bem de todos os envolvidos.




Capítulo 2


22 de outubro de 1818

Wendelin estava parada na frente da casa londrina do Conde de Winterthorne, embasbacada com todas as flores logo dentro dos portões na rua. O conde vivia no subúrbio de Londres, não muito longe da casa do pai dela. Entretanto, nunca tinha notado aquela propriedade, pois se tivesse, teria com certeza passado horas admirando os lindos jardins. Infelizmente, ela nunca se aventurou a ir tão longe em suas caminhadas.

A voz da mãe, vinda da carruagem logo atrás, lembrou-a do porquê estava ali, e seu nervosismo subiu-lhe a garganta como um cardume de peixinhos. De fato, havia ficado surpresa e um tantinho animada quando recebeu o convite para o baile e descobriu, com ainda mais euforia, quem seria o anfitrião. A mãe tinha ficado mais do que alegre, pois o baile dos Winterthorne era reservado apenas para o alto escalão da sociedade. Apesar do pai dela ser um visconde, ninguém de sua família jamais havia recebido um convite para aquele evento.

Teria ela causado uma boa impressão no Lorde Winterthorne quando o conheceu ano passado? Os dois não tiveram chance de conversar depois daquele encontro secreto na estufa, e ela mal podia esperar pra contar ao homem que as rosas plantadas por ela, no verão passado, tinham sobrevivido sem quaisquer dificuldades. Na verdade, o jardineiro havia conseguido plantar diversas flores por toda a propriedade, e todas cresceram onde, antigamente, nem sequer teriam nascido. Ele estava certo quanto a não desistir. Obviamente, pelas flores ao redor da casa dele, o conde tinha talento quando se tratava de saber como e quando plantar qualquer coisa. Seria entediante da parte dela perguntar ao lorde sobre suas habilidades de jardinagem, ou ele gostaria do assunto? A moça não sabia quantos cavalheiros se importavam com plantas, então não teve certeza de quais seriam os limites envolta da questão.

— Bem — disse a mãe, animada, enquanto o pai de Wendelin ajudava a esposa a descer da carruagem, assim como tinha feito com a filha minutos antes. — Aqui estamos, então. Certifique-se de conseguir pelo menos uma ou duas danças com o conde. Acho que não vai ser difícil, levando em consideração que ele a convidou pessoalmente. — Georgina Harlow, Viscondessa de Summerfield, estava ansiosa para acompanhar a única filha e para arrastar o visconde consigo. Estava claro que esperava que o Conde de Winterthorne fosse pedir a mão da filha naquela mesma noite, e queria que o pai estivesse presente para que a permissão pudesse ser obtida.

Wendelin escondeu a vontade de revirar os olhos. O conde, com certeza, tinha sido gentil, nada mais. Ela era uma nova amiga que ele havia conhecido no casamento do irmão dela. Se os papéis estivessem invertidos, ela também haveria considerado enviar um convite a ele. Isso não indicava o interesse do homem. Se realmente estivesse interessado dela, não a teria visitado em algum momento ao longo do ano passado?

Mas, de vez em quando, ela imaginava… caso não tivessem sido descobertos pelo Lorde Shelligton, ele a teria tentado beijar? Wendelin sacudiu a ideia para longe. Com certeza, a mãe estar dando uma de cupido havia começado a afetar os seus pensamentos, e não lhe faria bem algum desejar algo que apenas terminaria em decepção. A moça queria um amor apaixonante como o que seu irmão James tinha com a esposa, cujo namoro tumultuado havia sido cheio de aventura e resgates arriscados no mar – mas, talvez, sem a parte de quase se afogar e de levar um tiro. Não queria ser cortejada de maneira educada, adequada ou discreta como o irmão Michael tinha feito com a esposa. Não que a esposa dele fosse inadequada ou algo do tipo.

Wendelin queria sua própria aventura. Ou, pelo menos… algo emocionante e inesperado. Ousado e escandaloso. A mãe ficaria horrorizada se pudesse ouvir os pensamentos da filha. Por sorte, quando entraram na casa, deixou as ideias de lado.

O interior da casa era tão abundante em vegetação quanto o lado de fora. Flores e plantas novinhas em folha adornavam todas as alcovas. Era tudo tão lindo, que ela se pegou deslizando os dedos sobre as pétalas delicadas de um lírio no salão de baile, assimilando os arredores.

— Wendelin — sibilou a mãe. — Por que você está perdendo tempo aí no canto? Vá encontrar o conde e assegurar uma dança.

— Tá bem, estou indo. — A mãe deveria realmente estar querendo colocar a filha para fora de casa o quanto antes. Wendelin não se via como um grande incômodo, mas todas as debutantes se tornavam mulheres mais cedo do que tarde. Claro, esta seria a sua primeira Temporada. Seu baile de apresentação tinha ocorrido na primavera, mas ela não havia comparecido a muitos eventos recentemente.

Nem o Lorde Winterthorne ou o Lorde Shelligton tinham comparecido.

Ela suspeitava que, talvez, houvesse imaginado algum interesse dos dois antes do convite para o baile de Winterthorne chegar. Talvez, ele estivesse ocupado com outras coisas ou ainda sequer estivesse na cidade. Suspirando, Wendelin afastou os devaneios da mente. Não ajudaria em nada cultivar tamanha fascinação por um cavalheiro como o Lorde Winterthorne. Afinal de contas, ele era conhecido por ser frio e arrogante. O que um homem desses poderia oferecer a ela, exceto sua boa aparência e um título?

Ele não foi frio comigo nem me oprimiu. E, quando falou sobre flores, seus olhos se iluminaram com tanta admiração…

— Eu realmente preciso parar de sonhar acordada com essas bobagens fantasiosas.

— É mesmo? — Um timbre masculino a fez congelar no lugar. — E o que uma lady tão bonita quanto você considera fantasia?

Wendelin se virou, colocando a mão sobre o coração.

— Lorde Shelligton… Desculpa, Vossa Graça, mas você me assustou. Não percebi que eu tinha falado aquilo em voz alta. — Ele a devia achar muito esquisita. A moça piscou quando o viu, pois sua linda feição nunca falhava em pegá-la desprevenida em um primeiro momento. O cabelo dele era tão preto que, sob algumas luzes, parecia azul-escuro. Mas, claro, era impossível que alguém tivesse o cabelo dessa cor. Ela vestia preto por completo, exceto pelo peitilho de um tom suave de verde-mar, que combinava com os seus olhos de cor nada comum.

Lorde Shelligton fez desfeita às palavras dela.

— Nunca se desculpe por sonhar acordada. Até mesmo as coisas mais impossíveis podem se realizar.

Mas que coisa peculiar de ser dita. Ainda assim, seria bom se lembrar de que, logo, estaria casada. Ainda nesta Temporada, se dependesse da mãe. E era melhor abandonar os sonhos ao assumir as responsabilidades de esposa. Infelizmente, isso…

— Você está mais radiante do que nunca, Senhorita Harlow. — O duque sorriu para ela, exibindo uma covinha na bochecha esquerda. — Me daria a honra de sua primeira dança?

Adrenalina a percorreu. A mãe ficaria muito satisfeita quando soubesse que a primeira dança da filha naquela noite seria com um duque. Mas… Wendelin não conseguiu impedir os olhos de passearem por todas as pessoas no salão, esperando encontrar o anfitrião esquivo. No entanto, foi uma tentativa que não deu em nada, pois o Lorde Winterthorne não estava em lugar algum.

— Claro, Vossa Graça. Seria um prazer. — Lorde Shelligton a levou para a pista quando a quadrilha começou. Honestamente, ela ficou aliviada por não ser uma valsa tão cedo na noite. Sempre virara uma poça de nervos nas valsas. E, bem… havia algo em Lorde Shelligton que a mantinha alerta. Ah, claro, ele era bonito e gentil. Mas havia algo, logo abaixo da superfície de cada toque, em cada encontro de olhares. Um arrepio que indicava algo perigoso, proibido. Quase como se os instintos dela a avisassem para não ficar sozinha com ele.

Havia experienciado a mesma coisa no casamento do irmão, mas, com tantas pessoas ao redor, não sentiu medo naquela data, assim como não sentiu hoje. Riu de si mesma quando trocou de parceiro na dança, afastando-se, por enquanto, do duque. Era apenas o nervosismo e o medo que toda jovem sentia perante a possibilidade de um escândalo, de ser arruinada por um libertino. Nada mais.

Sim, nada mais. Pare de ser tola.

Quando a dança acabou, suas bochechas doíam de tanto sorrir. Gostava muito de dançar. Era uma das poucas vezes que podia colocar a sua energia em jogo sem levar uma bronca. Se dependesse da vontade da alta sociedade, todas as ladies estariam debruçadas em cantos, bordando pela eternidade. Ora! Wendelin desejava a liberdade do interior, o vento no cabelo, a grama sob as solas descalças. Um jardim rodeando-a. Era isso o que ela queria. Por mais que amasse dançar, preferiria estar longe da cidade, se pudesse. Mas que cavalheiro lhe permitiria tal coisa, ainda mais se acabasse casada com alguém como o Duque de Shelligton?

Com certeza, ele teria que estar em Londres durante toda a Temporada com ela, sua esposa obediente.

— Senhorita Harlow? — chamou-lhe Lorde Shelligton, aproximando-se mais do que o aceitável da orelha dela.

Ela se assustou.

— Sim?

O homem piscou e inclinou a cabeça.

— Perguntei se você gostaria de uma bebida.

— Ah! — Ela riu, mas soou forçado. — Desculpa, Vossa Graça. Eu estava pensando em quanto me divirto dançando. — Não havia razão para o sobrecarregar com as demais ideias e pensamentos que ela tinha sobre o futuro. Deixe-o achar que ela era leviana.

O olhar dele baixou dos olhos aos lábios dela, mais um tantinho para baixo e, logo, para cima de novo.

— O rubor do esforço aumentou a sua beleza. Dance até não poder mais, e nunca deixe ninguém lhe roubar esta alegria. — Ele deslizou os dedos, devagarinho, sobre os antebraços enluvados dela, ocasionando arrepios na pele sob o material. — Gostaria de um copo de ponche?

Agora que ele havia mencionado, ela estava mesmo com sede.

— Seria maravilhoso. Obrigada, Vossa Graça.

Lorde Shelligton assentiu e se dirigiu para a mesa de refrescos. Wendelin o observou desaparecer na multidão e suspirou. Teria a mãe a visto dançar com o duque? Virou-se para procurar os pais e arfou. Pegou-se encarando um peitilho asseado e devidamente amarrado sobre uma camiseta branca, preso sob um colete verde-escuro e de um casaco que combinava. Ombros amplos preenchiam esse casaco, e o rosto do homem a quem os ombros pertenciam era ainda mais lindo do que a senhorita se lembrava. Olhos azuis, sob um punhado de cabelo louro, trespassavam Wendelin, e o nervosismo que antes havia parecido com peixinhos, irrompeu em borboletas na sua barriga.

O Conde de Winterthorne, por fim, havia chegado, e ele não parecia nem um pouco feliz em vê-la.






Bryce chegou ao salão na hora exata para testemunhar aquele tritão dançando com a Senhorita Wendelin Harlow. Porque o duque não fez nenhuma aparição em Londres – pelo menos, não que Bryce tenha ficado sabendo –, o conde acreditou que, talvez, o rival tivesse se esquecido da conversa do casamento ou encontrado alguma outra lady para atormentar em algum outro lugar. Mas claro que isso não era verdade. Seu nêmesis, que de vez em quando exibia barbatanas, estivera aguardando Bryce tomar uma atitude.

E isso o irritou demais.

— Lorde Winterthorne — disse a Senhorita Harlow, sem fôlego. — Quase trombei em você.

— Não tem problema. — Então, ele sorriu ao perceber que, talvez, estivesse carrancudo, caso o humor pudesse ser a indicação de algo. — Queria te agradecer por ter vindo hoje, e perguntar sobre o seu cartão de danças.

Ela corou, um rosa lindo que complementava o azul desbotado de seus olhos e vestido. Mesmo não estando apaixonada por ela, Bryce faria tudo o que estivesse ao seu alcance para impedi-la de ser arruinada por Shellington. Aquela pobre garota não fazia ideia do perigo que corria.

— Posso? — Ele apontou para o cartão pendurado no pulso dela. Wendelin assentiu, erguendo o braço para que ele pudesse ver o pequeno pedaço de papel e adicionar seu nome. — Hm. Sim, a próxima música já começou, então vamos dançar a depois desta… e a sua oitava dança da noite.

O queixo da senhorita Harlow caiu um pouquinho, então, ela disse:

— Claro, meu lorde.

— São valsas.

As bochechas dela ganharam um tom mais profundo de rosa.

— Mal posso esperar.

Provavelmente, não tanto quanto ele. Que Shellington dançasse quadrilhas com ela. As valsas seriam dele. Havia sido difícil evitar Wendelin agora que a conhecia, mas teria que respeitar os termos do tritão para mantê-la segura. Certificou-se de ficar longe durante o baile de apresentação dela na primavera, lutando contra seu desejo de vê-la. Muitas vezes, repreendia-se por se importar com a situação. Não queria se casar e nem sequer queria ter comparecido ao casamento da prima com o Capitão Harlow. Mas tinha comparecido, e a havia conhecido.

— Ah, Lorde Winterthorne. — O duque estava de volta e entregou um copo de ponche para Wendelin. — Estava me perguntando se você daria as caras em seu baile. Estão dizendo que você não compareceu a nenhum evento social nesta Temporada antes de hoje.

— Estão dizendo a mesma coisa sobre você.

Wendelin prendeu um cacho solto de seu cabelo escuro sobre a orelha, em seguida, bebericou o ponche. Seu olhar foi do conde ao duque e de volta ao conde.

— Estive ocupado abrindo o Clube Tritão com alguns dos meus irmãos. Você deveria nos visitar.

Ah, Deus. Ele havia trazido outros de sua laia para Londres, para vitimar as mulheres londrinas. Com os dentes cerrados, Bryce disse:

— Vou pensar no caso.

Wendelin aproveitou a oportunidade para voltar a participar da conversa.

— Eu não sabia que você tinha irmãos, Vossa Graça. — Ela enrugou o nariz. — O que é um tritão?

Bryce tinha muitas boas palavras para descrevê-los, mas todas vulgares demais para serem ditas na frente da senhorita.

Lorde Shellington deu um grande sorriso.

— De acordo com as lendas, o deus Tritão foi pai de mil filhos e filhas para popular o reino subaquático. Temos o costume de chamar os seus filhos de tritão.

— Sereias e tritões. Contos de fadas, todos eles — esbravejou Bryce. Quando a porcaria daquela valsa começaria? Queria afastar Wendelin de Shellington o quanto antes possível, mas ele não tinha nenhum direito sobre ela, exceto o de ser o seu parceiro de dança.

O humor que brilhava nos olhos do tritão não era um bom sinal.

— Por que, Lorde Winterthorne, você nunca me disse que não acredita na mitologia grega? Posso jurar que ouvi dizerem que você tem parentes gregos, assim como eu.

Não pretendendo cair na armadilha, Bryce sacudiu um dos ombros. A música acabou, e os casais saíram da pista, dando espaço a outros.

— Olhe. — Bryce tirou o copo, agora vazio, da mão de Wendelin e o empurrou contra o peito de Shellington. O homem pegou o objeto, rindo, mas seu riso morreu rapidamente quando Bryce complementou: — Chegou a hora da nossa valsa.

A Senhorita Harlow permitiu que ele a levasse para a pista, mas franziu a testa quando a dança começou.

— Você não gosta muito do Lorde Shellington, gosta, meu lorde?

Ele balançou a cabeça.

— Não, nem você deveria gostar. Sei que não cabe a mim dizer isso, mas tome cuidado para não ficar sozinha com ele. Não confio naquele homem.

— Está preocupado com a minha reputação? — Os cantinhos da boca dela se ergueram.

Ah, ela achou que ele a estava provocando motivado pelo ciúme.

— Você estaria, caso conhecesse o verdadeiro ele.

— Estou com a sensação de que você não vai me contar os seus motivos.

Ele balançou a cabeça, mas quando a testa dela voltou a se franzir, adicionou:

— Não, porque não estou preocupado com seus sentimentos, emoções ou algo do tipo. Isso tudo não me diz respeito, portanto, os segredos do Lorde Shellington são apenas dele para serem revelados quando achar melhor. — E que Deus a protegesse caso isso viesse a acontecer.

— Você é mesmo grego?

— Sim.

Seja lá o que ela pensou sobre aquilo, Wendelin optou por não compartilhar.

— Faz um tempo que eu queria te dizer… — disse ela, depois de algumas voltas na pista. — As rosas floriram este ano em Summerfield, como você disse que fariam.

O sorriso do homem pareceu amenizar qualquer trepidação causada por sua conversa com o duque.

— Fico feliz em saber disso. — Se rosas a deixavam feliz, ele sabia exatamente como conquistar a mão dela antes do fim da Temporada. A Senhorita Harlow era uma mulher da terra, não do mar. Bryce poderia não ser um duque, mas era capaz de dar à moça tudo o que ela desejava – e mais um pouco.




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Cortejando Um Semideus Arrogante Rebekah Lewis
Cortejando Um Semideus Arrogante

Rebekah Lewis

Тип: электронная книга

Жанр: Современная зарубежная литература

Язык: на португальском языке

Издательство: TEKTIME S.R.L.S. UNIPERSONALE

Дата публикации: 16.04.2024

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О книге: Um conde arrogante se apaixona por uma linda jovem… mas tem que competir pelo amor da moça contra um duque invejoso. Um romance histórico com uma pitada de sobrenatural!

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