A Última Missão Da Sétima Cavalaria: Livro Dois

A Última Missão Da Sétima Cavalaria: Livro Dois
Charley Brindley


A Última Missão
da
Sétima Cavalaria
Livro Dois

por

Charley Brindley

charleybrindley@yahoo.com

www.charleybrindley,com

Arte da capa e contracapa por

Charley Brindley

charleybrindley@yahoo.com

Traduzido
por
Leticia Santos

© 2021 por Charley Brindley, todos os direitos reservados

Impresso nos Estados Unidos da América

Primeira edição Janeiro de 2021

Este livro é dedicado



aos bisavós maternos do autor:

Charles C. Walker 1859–1902
e
Mary Elizabeth Jinks Walker 1858–1932

Os livros de Charley Brindley
vêm sendo traduzidos para 19 línguas:
Italiano
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Português
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Ucraniano
Húngaro
Búlgaro
Árabe
Sérvio
Japonês
Indonésio
Alemão
Bengalês
Romeno
Grego
e
Russo

Os livros a seguir estão disponíveis em formato de áudio:

Raji, Livro Um (em inglês)
Casper’s Game (em inglês)
Dragonfly vs Monarch, Livro Um (em inglês)
Dragonfly vs Monarch, Livro Dois (em inglês)
Do Not Resuscitate (em inglês)
The Last Mission of the Seventh Cavalry (em inglês)
Hannibal’s Elephant Girl, Livro Um (em russo)
Henry IX (em italiano)
Ariion 23 (em chinês)
Qubit’s Incubator (em inglês)
Hannibal’s Elephant Girl, Livro Dois (em inglês)

Outros livros de Charley Brindley

1. Oxana’s Pit
2. A Última Missão da Setima Cavalaria, Livro Um
3. Raji Livro Um: Octavia Pompeii
4. Raji Livro Dois: The Academy
5. Raji Livro Três: Dire Kawa
6. Raji Livro Quatro: The House of the West Wind
7. Hannibal’s Elephant Girl, Livro Um
8. Hannibal’s Elephant Girl, Livro Dois
9. Cian
10. Ariion XXIII
11. The Last Seat on the Hindenburg
12. Dragonfly vs Monarch, Livro Um
13. Dragonfly vs Monarch, Livro Um
14. O Mar de Tranquilidade 2.0 Livro Um: Exploração
15. The Sea of Tranquility 2.0 Livro Dois: Invasion
16. The Sea of Tranquility 2.0 Book Three
17. The Sea of Tranquility 2.0 Livro Quatro
18. The Rod of God, Livro Um
19. Sea of Sorrows, Book Two of The Rod of God
20. Do Not Resuscitate
21. Henry IX
22. Qubit’s Incubator
23. Casper’s Game

Não ficcionais

24. Seventeen Steps to becoming a Successful Sphynx Breeder

Em breve

25. Dragonfly vs Monarch: Livro Três
26. The Journey to Valdacia
27. Still Waters Run Deep
28. Ms Machiavelli
29. Ariion XXIX
30. Hannibal’s Elephant Girl: Livro Três

Confira no fim deste livro detalhes sobre os demais livros

Personagens principais

Sarge, Sargento Mestre James Alexander

Cateri. Companheira do sargento. Era escrava antes da chegada da Sétima.

Sparks.Soldado Richard McAlister

Jai Li. Era sargento no Exército de Libertação Popular. Agora é companheira de Sparks e Sargento na Sétima

Apache. Soldado Autumn Eaglemoon. Nativo americana da etnia Chiricahua

Liada. Nativa de Valdacia e Cartago

Caubói. Soldado David Kawalski. Companheiro de Liada

Tin Tin Ban Sunia. Quando criança era escrava de Sulobo, agora companheira de Joaquin.

Soldado Ronald A. Joaquin

Soldado Karina Ballentine. Estava no curso de veterinária antes de se alistar no exército

Soldado Lorelei Fusilier

Hotshot. Soldado Kady Sharakova

Comandante Burbank da Estação Espacial

Jadis. Boticária
Contents
Capítulo Um (#ulink_dddf6bd4-6dab-56d4-af19-7a81a13ef038)
Capítulo Dois (#ulink_d351ddbd-7cd4-5efc-b960-8ac25d10143b)
Capítulo Três (#ulink_51edfa29-2c9d-5396-9c5a-6a7ac6bbc0d4)
Capítulo Quatro (#ulink_98262b9f-b89b-5217-88ed-b471289075de)
Capítulo Cinco (#ulink_8d981057-700f-5363-b690-a4558fd8a6fe)
Capítulo Seis (#ulink_fa734420-33fa-5b67-b3b1-1e343baf797b)
Capítulo Sete (#ulink_3849d2cf-768e-515c-911d-7b17a4ffd24f)
Capítulo Oito (#ulink_51ccdf15-e351-51ea-a6c7-0a97a78d50ab)
Capítulo Nove (#ulink_78862ffd-a5d1-5df2-aec5-32ce36ca939f)
Capítulo Dez (#ulink_36d54b07-a031-57ea-be6d-bb9db0ce0a4e)
Capítulo Onze (#ulink_fad45d6b-9ad7-500d-a9e2-d8f15292e9d9)
Capítulo Doze (#ulink_6ecaa96b-2696-5578-bd8b-97ee871e603b)
Capítulo Treze (#ulink_6b4531cb-673f-586c-8d01-43ad1c46693e)
Capítulo Quatorze (#ulink_ab02105f-1ed4-5330-ae41-11aebda3ed35)
Capítulo Quinze (#ulink_876804d1-53fe-5d05-a06e-a7f27360e6cf)
Capítulo Dezesseis (#ulink_21b9ef3c-5653-5a71-805e-0fa4d41f3e6e)
Capítulo Dezessete (#ulink_7d5028fb-92cf-5e39-b2b9-5ee80e19c008)
Capítulo Dezoito (#ulink_1af0e333-0611-5f3e-ac2f-e1170e5c418b)
Capítulo Dezenove (#ulink_ad68eac6-137b-5f0e-82e5-d15b413702c7)
Capítulo Vinte (#ulink_bdfaeb96-73ce-5f0d-95ad-ab0fa3c15b24)
Capítulo Vinte e Um (#ulink_89b81e53-0d70-5464-a774-f0d03b6de688)
Capítulo Vinte e Dois (#ulink_452a501c-ed4c-5be9-beb4-d248b93ad54c)

Capítulo Um



Cateri

Cateri estava sentada com o sargento na varanda ao pôr-do-sol, assistindo a um par de pássaros solar da Palestina em migração rondarem as fontes e irem descansar nos ramos inferiores de um pinheiro guarda-chuva.
Era uma tarde de setembro agradável em Roma. O vento suave do oeste trazia uma antecipação de chuva bem-vinda.
“Sargento,” ela sussurrou. “Tão lindo de ver.”
Ele estendeu sua mão para alcançar a dela. “Sim.” Mas não era o azul brilhante das asas que se batiam que prendia a sua atenção. A suave escultura do perfil dela, banhada pelos últimos momentos de luz do dia, o cativava.
Ele piscou, como se clicasse no obturador de uma câmera e imprimisse essa visão única na tela da sua memória.
“Onde é a sua casa?”
“Casa?” Ela olhou nos olhos dele, como se penetrasse ou explorasse o significado da pergunta.
Há apenas alguns meses, ela era uma escrava de Sulobo. O sargento comprou a sua liberdade, e depois conquistou seu coração. Seu inglês melhorava a cada dia, mas ele nunca havia ouvido uma palavra de sua língua natal. Ela falava fluidamente em cartaginês com Tin Tin Ban Sunia e Liada, mas deveria ser fluente em alguma outra língua.
“Antes de você se tornar uma escrava.”



Sargento James Alexander

O sentimento melancólico que a tomou era mais do que tristeza. Ela devia ter conectado as palavras “casa” e “antes”, fazendo com que caísse em desespero.
Ele passou o braço ao redor de seus ombros enquanto ela se encostava nele.
“Está tudo bem,” ele disse. “Não vamos falar disso.”
Ela balançou a cabeça, e então limpou suas bochechas.
Passado um momento, ela disse: “Eu perdi meu povo.”
Ela estava falando sobre sua família? Ou sobre todo mundo? E “ter perdido” podia significar muito mais do que “ter se afastado.”
Ela sabia apenas algumas palavras de inglês, e ele não sabia nenhuma das dela.
“Me diga nas suas palavras.”
Ela olhou para ele, enrugando a testa.
“Me conte o que aconteceu.”
Ela começou devagar, parando, recomeçando.
Sua língua não se parecia com nenhuma que ele havia ouvido no exército de Aníbal, onde várias nações diferentes estavam representadas, nem entre os seguidores do acampamento ou escravos. Ninguém falava nessa estranha língua exceto Cateri.
Suas mãos diziam tanto quanto a sua voz. Palavras e movimentos saíam em pequenos pedaços, depois mais fluidamente como águas antes contidas por uma barragem, jorrando.
O sargento deixou que ela contasse sua história sem interrupção, colocando tudo para fora, soltando um fardo.
Observando o seu rosto passar por uma série de emoções, como um filme em câmera lenta de um tsunami, ele aguardou.
Ela parou, sorriu, e terminou com: “E então você me salvou.”

* * * * *

No dia seguinte, conforme os soldados da Sétima Cavalaria, junto com Cateri, Tin Tin, Jai Li e Liada, estavam almoçando, os sons da reforma podiam ser ouvidos através da sua nova casa.
Trabalhadores estavam arrancando os canos de chumbo e jogando todos em uma pilha atrás da casa, junto com os utensílios de cozinha que também eram de chumbo. Outros homens estavam substituindo os canos de chumbo por canos de barro.
Logo após as 13:00, o rádio ganhou vida. “Olá, Sétima.”
Sparks pulou da mesa e correu para o rádio. “É o Comandante Burbank?”
“Sim. Sparks?”
“Sim, senhor. Onde você está?”
Os demais se aproximaram do rádio para escutar.
“Estamos na Cordilheira Treskavica, logo acima de Sarajevo, ou pelo menos de onde será Sarajevo em alguns séculos.”
Autumn se inclinou perto do ombro de Sparks. “Comandante, aqui é a Autumn. Todos pousaram em segurança?”
“Quando entramos na atmosfera terrestre, perdemos contato com a outra cápsula de fuga Soyuz. Não tenho ideia de onde eles pousaram.”
A Soldado Karina Ballentine correu para a mesa para pegar seu iPad.
“Alguém do seu grupo ficou ferido?” Autumn perguntou.
“Só alguns pequenos cortes e hematomas.”
“A distância entre Roma e Sarajevo é de quinhentos e vinte quilômetros,” Karina leu na tela, “em linha reta.”
“E de quanto pelo chão?” O sargento perguntou.
“Cerca de mil duzentos e oitenta quilômetros pela estrada,” Karina disse, “se houvessem estradas.”
O sargento se aproximou do microfone. “Qual é a situação, comandante?”
“Estamos meio que presos aqui.”
“Presos como?” O sargento perguntou.
Cateri segurou a mão do sargento enquanto ela, Tin Tin, Jai Li e Liada escutavam a conversa junto com os demais.
“Estamos parados na lateral de uma montanha. Toda vez que tentamos descer, os nativos vêm até nós com lanças e flechas, então nós voltamos para a cápsula. Eles parecem ter medo da aeronave.”
“Nativos?”
“Não tenho certeza de quem eles são. Parecem hunos, talvez. Provavelmente duzentos ou trezentos acampados na base da montanha.”
“Como estão seus suprimentos de comida e água?” Autumn perguntou.
“Estamos bem de rações para mais uns dois meses. Bastante gelo e neve para água.”
“Como vocês estão se aquecendo?”
“Nós nos agrupamos dentro da cápsula. Nós poderíamos usar as baterias para nos aquecer, mas estivemos economizando eletricidade para o rádio. Não tem lenha aqui em cima. Estamos sentados na lateral de uma geleira.”
“Certo, comandante,” o sargento disse. “Desligue o rádio, e ligue de volta em meia hora. Nós vamos fazer alguns planos.”
“Copiado. Ligaremos de volta em trinta minutos.”
Todos voltaram para a mesa de jantar.
“Ideias?” O sargento bebeu um gole de café.
“Mais de mil e duzentos quilômetros,” Kawalski disse. “Trilhas desconhecidas, inimigos desconhecidos.”
“Em condições ideais,” Autumn disse, “a cavalo, talvez uns trinta quilômetros por dia, então seriam de quarenta a quarenta e cinco dias para chegar lá.”
“Ele disse que eles têm dois meses de ração,” Kady disse. “A ração pode acabar, ou os hunos podem superar o medo da cápsula.”
“Ou podemos ir em linha reta,” Lorelei disse.
“O quê?” O sargento perguntou.
“Pegue um navio para cruzar o Mar Adriático, carregado com mantimentos e cavalos. Diminua o tempo de viagem pela metade.”
“Eu gosto da ideia,” Kawalski disse.
“Quanto tempo para cruzar a Itália a cavalo?” O sargento perguntou.
“Talvez sete dias,” Karina disse.
“Então nós teríamos que capturar um navio,” Autumn disse. “Na costa adriática.”
“Ou comprar um,” o sargento disse. “Se nós partirmos de Roma, quanto tempo pelo mar até a Croácia —ou onde chamam de Dalmácia— rodeando a ponta da Itália?”
“Cerca de dez dias,” Karina disse.
“Quantos barcos nós temos?” O sargento perguntou.
“Nós temos dois quinqueremes romanos,” Sparks disse, “ou ‘Cinco,’ como são conhecidos, por causa dos cinco bancos de remos, e uma dúzia de trirremes, chamados "Três.’”
“Sério?” Kady perguntou.
“Sim, uma frota regular. O único problema é que…” Sparks hesitou.
“O quê?” O sargento perguntou.
“Eles têm velas, mas são em maior parte movidos a força escrava. São necessários quase trezentos homens para cada Cinco.”
Todos ficaram em silêncio por um momento.
“Não mais,” o sargento disse. “Vamos contratar remadores.”
“Sim,” Autumn disse. “Concordo com isso.”
Cateri se inclinou para o sargento. “O que é coisa cápsula?”
“Hm, é um navio que veio descendo do céu,” o sargento disse. “Dentro dele estão três amigos nossos.”
“Nós vamos salvar esses amigos?”
“Sim, nós vamos.”
“Esses nativos,” Karina disse enquanto lia no seu iPad, “ provavelmente são os Daorsi, ancestrais guerreiros dos Albaneses. Não haverá hunos naquela área em pelo menos quinhentos anos.”
“Armas?” O sargento perguntou.
“Como o comandante disse, flechas e lanças,” Karina disse. “E também Falacas, como aquela que Aníbal carrega, machados de batalha, e espadas longas. Talvez estilingues.”
“Sargento,” Lorelei disse.
“Sim?”
“Antes de atacarmos Roma, você disse que aquela seria a última missão da Sétima Cavalaria.”
“Eu disse isso?”
“Sim,” Kawalski disse.
“Ok,” o sargento disse. “E eu também, antes de começarmos a escalar os Alpes, disse que esta unidade não é uma democracia.”
“Sim.” Autumn engrossou sua voz. “Esta unidade não é uma democracia.” Ela bateu na mesa com o punho fechado. “Enquanto eu estiver no comando, todos vocês farão conforme eu ordenar.”
Os outros deram risada.
“Ficou igualzinho a ele,” Kady disse.
“Bom, agora eu decidi que nós somos uma democracia,” o sargento disse. “Já que estamos tentando persuadir Aníbal a fazer de Roma uma democracia, nós devemos dar o exemplo.” Ele bebeu um gole de café. “Qualquer grande empreitada, como esta missão de resgate, será puramente voluntária. E nós votaremos para a liderança e para todas as grandes decisões, como a rota da viagem.”
“Eu indico Hotshot para capitã,” Kawalski disse.
“Muito engraçado,” Kady disse. “Eu indico você para um treino de tiro ao alvo.”
“A primeira votação deve ser para quem vai se voluntariar para a missão,” Autumn disse, e em seguida levantou sua mão.
Todos os soldados, exceto Kady, levantaram a mão, em seguida Liada, Cateri, Jai Li e Tin Tin seguiram os demais.
“Soldado Katy Sharakova,” o sargento disse. “Você tem algo a dizer?”
“Primeiro nós tiramos os astronautas da montanha, e depois?”
“Nós os trazemos de volta para Roma.”
“E depois o quê? Vamos apenas nos acomodar aqui e virar romanos?”
“Que tal,” o sargento disse, “nós cuidarmos da missão depois da última, e depois, quando retornarmos, conversamos sobre o próximo passo.”
Liada olhou para Kawalski. Ele piscou, e então os dois sorriram.
Kady levantou a mão.
“O quê?” O sargento perguntou.
“Acho que eu me voluntario.”
“Ok, estamos resolvidos,” o sargento disse. “Agora, quem vai liderar este bando?”
“Bom,” Karina disse, “exceto por alguns desentendimentos, o sargento nos trouxe até aqui. Eu acho que nós deveríamos elegê-lo para capitão.”
“Desentendimentos?” Kady disse. “Seriam tipo, grandes equívocos?”
“Não,” Kawalski disse, “nós chamamos esses de ‘dar uma de Kady.’”
Kady levou a mão até o estojo em seu ombro.
“Certo,” Autumn disse, “antes que a Hotshot atire no Caubói, quem é a favor de que o nosso ilustríssimo Sargento Mestre James Alexander Terceiro se torne Capitão Sarge?”
Todos exceto Kady levantaram a mão. Ela mostrou três dedos para Kawalski, juntos. “Leia entre as linhas.” E então ela ergueu a mão.
Kawalski sorriu. “Agora nós precisamos eleger um novo Sargento Mestre, e um Cabo.”
“Jai Li era sargento no Exército Chinês,” Sparks disse, “então eu a indico para sargento.”
“Own, Sparky,” Jai Li disse. “Você tão doce. Então poder te dar ordens.”
“Eu apoio essa indicação,” Kawalski disse, “e eu indico Kady Sharakova para co-sargento”
Kady o encarou.
“O que foi?” Kawalski perguntou.
“Estou apenas esperando pelo restante da piada,” Kady disse.
“Eu estou falando sério,” Kawalski disse.
“É, que nem em assassino em série, ou cereal que nem Sucrilhos?”
Kawalski sorriu. “Todos a favor de Hotshot e Jai Li como nossa equipe de sargentos, levantem as mãos.”
Todos votaram nelas.
“Então agora e posso dar ordens para o Kawalski?” Kady perguntou.
“Claro,” Sarge disse. “Se ele vai ou não obedecer as suas ordens é outra história.”
“Eu acho meu Kawalski faz bom Sargento Mestre,” Liada disse.
Todos menos Kady demonstraram concordar.
“Acho que ele vai ficar ok.” Kady bebeu um gole de café.

* * * * *

Depois da tomada de Roma, a Sétima liberou a casa do Cônsul Lucius Aemillus Paullus na Via Labicana. Já que ele havia morrido na batalha de Canas, ele não precisava mais dela, e sua rica família já havia se realocado nos subúrbios.


Villa Magnificum

A nova sede do Pelotão Delta, Companhia Alfa, Segundo Batalhão, Vigésima Segunda Divisão da Sétima Cavalaria, Exército dos E.U.A. , também conhecido como "Tribo dos Brinquedos", era a Villa Magnificum de Paullus, localizada no lado ensolarado do Monte Aventino de Roma, com vista para o Rio Tibre.
Com uma dezena de fontes, duas piscinas, dezesseis quartos, três cozinhas e um banheiro, tinha espaço para toda a Tribo dos Brinquedos, além dos seus companheiros, cozinheiras, criadas e costureiras.
Também alocados na propriedade estavam quatro meninos do estábulo que cuidavam dos vinte e sete cavalos, além de várias vacas, cabras e jumentos. A equipe de segurança, que consistia de Hagar e seis dos seus soldados, também vivia na propriedade — sem mais turno de guarda para Sparks e Kady.

* * * * *

“Depois desta missão de resgate,” Kawalski disse, “Liada e eu vamos levar Obolus para casa.”
“Casa?” Autumn perguntou. “Para Valdacia?”
Kawalski fez que sim.
“Caramba,” Sparks disse. “Isso fica depois de cruzar o mediterrâneo do outro lado da Cordilheira do Atlas!”
“Sim,” Sarge respondeu. “Nos limites do Saara. Quanto tempo vai levar?”
“Provavelmente três ou quatro meses,” Kawalski disse.
“Uau, uma longa caminhada para um elefante,” Autumn disse.
“Eu não vou fazer esse passeio,” Kady disse.
“Ninguém te pediu isso, Sargento Hotshot,” Kawalski disse. “Seria muito perigoso para você, de qualquer forma.”
“Não, apenas entediante.”
O saque de prata, ouro e jóias que eles haviam feito nos campos de batalha valia milhões de denários romanos. Um denário equivalia a dez asses. Então a Sétima, com uma fortuna equivalente a aproximadamente 100 milhões de jumentos, era uma das famílias mais ricas de Roma.
Todo o ouro deles era cunhado em moedas de quatro tamanhos, cada uma com um “7” estampado em um lado e um “1,” “5,”“10,” ou “50” no outro, dependendo do tamanho da moeda. Elas eram do tamanho de uma moeda de um, cinco, dez e cinquenta centavos, respectivamente. As moedas da Sétima logo se tornaram correntes em Roma, e em uma boa parte da Itália.

* * * * *

“Da próxima vez que atirarem em alguém,” Sparks disse, “guardem os cartuchos.”
“Por quê?” Sarge cortava um pedaço de bife.
“Jai Li e eu descobrimos como fazer cartilhas, balas, e pólvora. Nós temos pessoal trabalhando para recarregar os cartuchos.”
“Sério?” Sarge perguntou.
“Sim, e diga aos trabalhadores para guardarem todo o encanamento de chumbo. Vamos precisar para fazer balas.”
“Vocês tem pessoal?” Kawalski perguntou.
Sparks fez que sim.
“Nés temos pessoal?” Kawalski perguntou para Liada.
Ela entristeceu o rosto e balançou a cabeça.
“Bom,” Kawalski bebeu um gole de café, “eu acho que nós deveríamos ter pessoas trabalhando para a gente também.”
“Para que você precisa de pessoal?” Kady perguntou.
“Porque quando voltarmos, Liada e eu vamos abrir uma tavola calda.
“Tavola calda,” Karina disse. “Uma mesa quente?”
“Sim, onde você pode comer uma refeição quente e tomar um pouco de vino.”

Capítulo Dois
Depois da refeição, os empregados limparam a mesa, e então Sarge abriu um mapa do Mar Mediterrâneo.
“Vamos quebrar essa missão em seguimentos, depois designar grupos para trabalhar em cada parte.”
Todos pareciam concordar.
“A primeira parte é cavalos e mantimentos,” Sarge disse. “Kawalski, você e Liada podem cuidar disso?”
“Sim, senhor.”
“Sim, senhor,” Liada disse, tocando os dedos na testa.



Liada

“A parte dois é sobre os navios. Precisamos ter certeza de que eles estão em condições de navegar e de que temos materiais e tripulação a bordo para fazer qualquer reparo que foi necessário no caminho". Sarge olhou de relance para os demais. “Joaquin, que tal você e Tin Tin Ban Sunia para esse projeto?”
Joaquin olhou para Tin Tin, que concordava. “Estamos nessa,” Joaquin disse.
“A parte quatro é a força de trabalho. Eu acho que Sulobo é o dono de todos os escravos de Roma.”
“Mais de setecentos,” Kady disse.
“De quantos remadores nós vamos precisar?” Sarge perguntou.


Quinquerreme romano capturado. Agora Palatino na frota da Sétima

“Cada Cinco romano requer trezentos homens,” Karina disse. “Se nós pegarmos os dois Cinco e todos os vinte Três, vamos precisar de mais de dois mil homens para mover os remos.”
“Certo,” Sarge disse. “Liada, você falaria com Aníbal por nós? Eu acho que ele deve acabar com a escravidão no novo Império Romano. Então nós vamos contratar os setecentos homens de Sulobo.”
“Aníbal não vai tão fácil achar isso uma coisa boa,” Liada disse.
“Você provavelmente está certa. Escravos são uma parte integrante da economia,” Sarge disse. “Ideias, alguém?”
“Ele ainda não está interessado na livre iniciativa,” Apache disse.
Soldado Autumn ‘Apache’ Eaglemoon nasceu em 11 de julho, 1998, perto de Tombstone, Arizona, na nação Apache dos Chiricahua. Seu pai, Bodaway Eaglemoon, afirmava que Cochise era seu tataravô.
No seu aniversário de treze anos, seu pai lhe disse que se ela terminasse o ensino médio, ele a daria seu Chevrolet Nomad de 1957 quando ela fizesse dezoito anos. Ela então seria livre para ir embora e construir sua própria vida.
No dia do seu aniversário de dezoito anos, antes do café da manhã, Autumn já estava com a mala pronta, encostada ao lado da porta da frente do trailer em que eles moravam, enquanto ela bebia uma última xícara de café com a sua mãe.
“Não se case por dinheiro,” sua mãe disse. “Não se case para ter filhos.” Ela bebeu o café. “Faça um amigo, e então teste a força do seu caráter. Seja ele importante ou não, a forma e cor do seu caráter é tudo que importa. Dinheiro e beleza são inúteis se acompanhados de um espírito vazio.”
“Você ainda está aqui?” Seu pai encheu um copo de café.
“Não, Papa. Eu saí um minuto depois da meia-noite.”
“Você está desperdiçando a luz do dia.” Ele se sentou ao lado dela. “Eu limpei as velas e alinhei os ponteiros. Você tem meio tanque de gasolina.”
Autumn passou seu braço em volta dos ombros finos dele. “Eu também te amo, Papa.”
Ele deu dois tapinhas na mão dela, que estava parada em seu ombro. “Tenho que alimentar as cabras.” Ele afastou a cadeira da mesa e deixou seu café intocado.
Ela abraçou sua mãe na porta da frente.
“Ele te ama, querida, você sabe disso.”
“É, eu sei.” Autumn secou as bochechas.
“Nos escreva quando você chegar em algum lugar.”
Com a mala no banco de trás, Autumn dirigiu para longe do único lar que ela conhecia.
Em Phoenix, ela trabalhou em um café e juntou o suficiente para se mudar para Las Vegas. Logo cansada do murmurinho grandioso e brilhante, e das mil ofertas para vender, ou alugar, seu corpo, ela dirigiu para o oeste até que chegou à praia em Santa Monica.
Ela gastou seus ultimos trinta e cinco dólares em um biquini vermelho e dormiu nas dunas por uma semana.
Autumn nunca teve dificuldades para encontrar trabalho, mas eram sempre empregos onde a aparência era mais importante que a inteligência.
Ela malhava e corria três quilômetros todos os dias de manhã, mas depois de um mês como garçonete no Hooters, ela concordou em passar no escritório de um dos seus clientes regulares.
Ele era um recrutador do exército, e ela sabia disso, mas suas histórias de treinamento especializado, desenvolvimento físico, viagens pelo mundo e aventuras já a tinham convencido parcialmente a se juntar ao exército.
Enquanto estava sentada na frente dele em sua mesa de metal, ela apenas queria saber de quanta liberdade estava abrindo mão.
“O exército dos Estados Unidos terá você como propriedade por quatro anos.”
“Mas ele vão me pagar pela posse do meu corpo, certo?”
“Ah, vão. Trezentos e oitenta e dois por semana.”
“Hmm. Eu faço isso só de gorjetas.”
“Pode ser, mas o Hooters…” ele levou a mão atrás da mesa para pegar algo, “deixa você ter um desses?” Ele jogou o M-4 para ela.
Ela segurou o rifle e o observou de cima a baixo, mexendo no ferrolho. Levantando-o na altura de seu ombro,ela mirou em uma planta de plástico do outro lado da sala. “Legal. Muito melhor do que o arco e flecha que eu usava na reserva.”
“Reserva?”
“Eu sou uma Apache Chiricahua.”
“Sério? O exército não derrotou vocês uns cem anos atrás?”
“Talvez vocês tenham nos derrotado, mas dê uma olhada em todos os cassinos em terras nativas, e me diga quem está vencendo agora.”
O recrutador deu risada. “É, aqueles Kickapoos me deixaram liso em McLoud, Oklahoma.”
“Você teve sorte de eles não terem te escapelado, também.”
Uma semana depois, Autumn se apresentava para o campo de treinamento no Fort Lenard Wood, Missouri.
A taxa de abandono durante as dezesseis semanas de treinamento básico é de cerca de quinze porcento entre os homens. Entre as mulheres, a taxa é de quase cinquenta porcento.
Autumn gostava das oportunidades. O desafio de competir com os homens em aptidão física e acadêmica caia muito bem para ela. E era muito melhor do que servir bebidas usando uma camiseta baby-look no Hooters.
Ela achou de alguma forma irônico que uma Apache fosse selecionada para integrar a Sétima Cavalaria, já que sua maior derrota estava nas mãos de nativos americanos.



Soldado Autumn ‘Apache’ Eaglemoon

Depois de demonstrar suas habilidades no campo de tiro e no combate corpo-acorpo, ela logo recebeu o apelido “Apache.”
Ela ameaçava chutar a bunda de cada um que a chamava de “Apache,” mas secretamente gostava do título e o carregava como uma medalha de honra.
Autumn também teve que apontar, em mais de uma ocasião, que o Tenente Coronal Custer do Regimento da Sétima Cavalaria foi aniquilado pelos Sioux, não pelos Apache.
Ela saiu com diversos homens, mas tudo que ela encontrava eram homens vazios com egos enormes e inflados.
Isso mudou depois que ela foi enviada para o Afeganistão, onde participou da missão que levou ela e seu pelotão para o exército de Aníbal enquanto ele liderava suas tropas na direção dos Alpes e de Roma.
Em sua jornada pelo sul da França e pelas encostas ocidentais das montanhas, ela se tornou uma conselheira para Aníbal sobre geografia e táticas militares modernas, e depois se tornou sua companheira e amante.
Ela ficou encantada em descobrir que ele era de fato um homem de caráter e personalidade forte. Era uma pena que ele jamais iria conhecer sua mãe.

* * * * *

“Eu acho que o que nós temos que fazer,” Karina disse, “é formar uma força policial para Roma para que os artesãos e comerciantes se sintam seguros. Se eles conseguirem prosperar, irão atrair mais pequenos negócios para a cidade.”
“Boa ideia, Karina,” Sarge disse. “Você ficará encarregada da polícia. Use o seu dinheiro para pagá-los até que a gente consiga estabelecer uma base de impostos.”
“Estou dentro.”
“Soyuz Um, chamando a Sétima Cavalaria.”
Sarge pegou o microfone. “Olá, comandante.”
“Você acha que consegue nos tirar dessa geleira?”
“Sim, senhor. Estamos organizando nossos navios para navegar pela ponta da Itália e subir o Mar Adriático. É o caminho mais rápido até vocês. Nós estamos trazendo cavalos nos navios, então depois de ancorar em Dalmácia vamos cavalgar até a Cordilheira Treskavica, em Sarajevo. Provavelmente vai levar um mês para chegar lá.”
“Maravilha, sargento. Estamos ansiosos para conhecer você e seus soldados.”
“Certo. Economizem sua bateria. Vamos ligar pelo rádio com novidades mais ou menos uma vez por semana.”
“Copiado. Soyuz fora.”

Capítulo Três
A frota da Sétima saiu da foz do Rio Tibre em Roma, em uma manhã ensolarada de setembro do ano 215 a.C.
Com o vento soprando do oeste, os remadores tiveram tempo para treinar os braços no convés.
Obolus, que ia no convés de um dos Cinco romanos, não estava feliz de estar no mar novamente. Mas com Liada e Tin Tin lhe dando muita atenção e alimentando-o com blocos de comida e galhos de árvores, ele logo se acalmou.
Os dois enormes Cinco e vinte pequenos Três davam uma bela vista enquanto navegavam em direção ao Mar Tirreno.
Logo, eles virariam para o sul em direção ao Estreito de Messina, que separava a Sicília da Itália.
Se o bom tempo permanecesse e piratas ou navios romanos renegados não barrassem o caminho, eles rodeariam o dedo e o calcanhar da Itália, cruzariam o Adriático, e chegariam na costa da Dalmácia, que ficaria conhecida como Croácia num futuro distante. Esta parte da viagem levaria aproximadamente dez dias.
Lá eles deixariam metade dos remadores, mil homens, para vigiarem os navios e os suprimentos. Os homens ficariam felizes em cumprir este dever, considerando que estavam recebendo um “7” de ouro por cada dia de serviço, a ser pago quando retornassem a Roma.
Vinte e sete cavalos foram colocados abaixo do convés nos navios menores, junto com vacas, galinhas, porcos, cabras e jumentos. Os jumentos seriam usados como animais de carga no trecho de Dalmácia para a Cordilheira Treskavica, onde os três astronautas pousaram. Os outros animais seriam abatidos pelos cozinheiros para alimentar os tripulantes e os soldados, exceto as galinhas que seriam poupadas pelos seus ovos.
O trabuco, Little Boy, estava amarrado no convés do segundo Cinco, o Palatino.
Como Obolus estava no outro Cinco, o carregamento e o armamento da máquina teriam que ser feitos pelos humanos, em vez de usar sua tremenda força.

* * * * *

Depois de passarem pelo Estreito de Messina e rodearem o “dedão” da Itália, a frota da Sétima ancorou onde um dia viria a ser a vila Spropolo, na costa do Mar Jônico. Lá eles passaram dois dias cortando lenha para os fornos. A área era inabitada, exceto por algumas poucas cabras selvagens.
Enquanto os navios estavam ancorados, Liada e Apache escreveram mesagens para Aníbal, descrevendo sua localização atual, como a jornada estava progredindo até o momento, e seus planos em direção ao nordeste e depois para dentro do Mar Adriático.
Enquanto elas revisavam as notas, um forte estrondo veio de um dos outros navios.
As duas mulheres olharam em direção ao Cinco, de onde o som parecia ter vindo.
“Isso foi o Obolus,” Liada disse.
“Ele está bravo de estar no navio?” Apache perguntou.
“Talvez, mas esse é o jeito dele de falar com outros elefantes.”
“E o que ele está dizendo?
“É apenas ‘Oi. Alguém por perto?” Liada disse.
“Ah, entendi. Ele não vai receber uma resposta nesse lugar. Há apenas algumas cabras, e elas não estão falando com ninguém.”
Dois pombos, um casal, foram removidos de sua gaiola, e cilindros de couro especiais com mensagens dentro foram presos em suas pernas. A segunda mensagem era uma cópia da primeira, caso um dos pássaros não conseguisse chegar em casa.
Quando foram soltos, os pássaros cinza e branco circularam o navio uma vez, depois se viraram para o norte, em direção aos quartéis de Aníbal em Roma. Eles retornariam para o sótão onde haviam nascido meses atrás. Seu instinto natural os levaria para casa em cerca de dois dias.
A porta de sentido único no sótão deixaria eles entrarem, mas não saírem. Os dois meninos que haviam sido alocados para cuidar do bando checavam todas as manhãs procurando por recém-chegados que poderiam ter mensagens em suas pernas. Se algum fosse encontrado, as mensagens deveriam ser levadas imediatamente para Aníbal.
Depois que os dois pássaros saíram em sua missão, trinta e oito pombos ficaram na gaiola, esperando sua vez de participar nesse método primitivo de comunicação.

* * * * *

“Então, Hotshot,” Apache disse. “Se você não conseguir um encontro nessa viagem, é melhor desistir.”
Apache, ou Autumn Eaglemoon, estava com Kady no Aventine, o segundo dos grandes “Cinco.”
“Isso mesmo,” Kady disse. “Dois mil homens sem tomar banho. Alguém me segure.”
“Você poderia escolher um bem bonito e arrastá-lo para o lado para tomar um banho.”
“E se ele não souber nadar?”
“Você entra em cena com uma barra de sabão e salva a vida dele.”
“Hmm. Talvez.”
“Ei, chefe,” Caubói chamou no comunicador do seu capacete, do outro navio quinquerreme romano, o Palatino.
“Sim, Kawalski,” Sarge disse.
“Olha só aquele barco no horizonte ao nordeste.”
“Quem está com o binóculos?” Sarge perguntou.
“Eu trazer agora,” Cateri disse no comunicador . Todos os soldados da Sétima, e também seus parceiros, tinham capacetes com sistema de comunicação.
Ela correu descalça pelo convés que balançava saindo do centro do navio, onde estava ajudando Apache a ajustar as velas.
Ela olhou para Sarge com um sorriso quando entregou o binóculos para ele.
Ele piscou para ela, e então pegou os óculos.
Sarge ergueu um pouco seu capacete, e com o binóculos nos olhos, ele ajustou o foco. “Karina,” ele disse no comunicador. “Preciso identificar um navio.”
“Chego em dois minutos,” Karina respondeu.
Ela se apressou para chegar à proa com seu iPad.
Sarge pegou o dispositivo enquanto ela pegava os óculos.



Vista da embarcação desconhecida

“Hmm,” Karina disse. “Vela com listras azuis e brancas, leme à esquerda do barco. Parece ter uns dez metros de comprimento. Aproximadamente vinte e cinco quilômetros de distância.”
Ela devolveu os óculos para Sarge para pegar o iPad.
Sarge observou a embarcação navegar em direção a eles enquanto Karina passava imagens de navios mediterrâneos antigos.
“Aqui, Sarge,” ela disse. “É um barco de pesca grego.”
“Sim, parece que tem duas pessoas abordo.”
“Ei, Sparks,” Caubói disse no comunicador.
“Ei,” Sparks disse.
“O comunicador do capacete da Liada não está funcionando. Você tem baterias carregadas?”
“Sim, carregamos um lote inteiro ontem com os painéis solares. Mais alguém no seu barco precisa de baterias?”
“Envie seis, assim vamos ter reservas.”
“Copiado. Chegando por correio aéreo em dez minutos.”

* * * * *

Quando Sparks chegou à popa, Jai Li já estava com a Dragonfly pronta para subir, com a pequena rede de carga segurando seis baterias NiCad.
Ela estendeu o controle para ele.
Ele sorriu e apontou para ela.
“Sério, Sparky? Você deixa Jai Li pilotar Dragonfly?”


Soldado Yao Jai Li, Sétima Cavalaria

Nascida em uma família rica perto de Zhongguancun, às vezes chamado de Vale do Silício Chinês, em Beijing, Yao Jai Li tinha vinte e dois anos.
Zhongguancun foi construído sobre um antigo cemitério onde governantes da Dinastia Qing enterravam seus eunucos. Diz-se que havia milhares de túmulos não identificados na área antes de ter sido escavada para a construção dos novos campus tecnológicos.
Assim que se formou na Universidade de Pequim, Jai Li se juntou ao Partido Comunista e se alistou no Exército de Libertação Popular. Planejando passar dois anos aprendendo táticas militares, ela então continuaria sua educação, estudando para se tornar uma engenheira de software. E, talvez, um dia, trabalhar no Zhongguancun.
Depois do treinamento inicial, ela foi enviada para a Força Aérea do Exército de Libertação Popular.
Mostrando avidez por treinamento físico rigoroso e aptidão para liderança, ela subiu rapidamente para Kong Jun Zhong Shi, Sargento, em apenas dois anos.
Pouco antes de quando planejava deixar o exército, ela foi enviada em uma missão de treinamento sobre a província de Yunnan. Sua unidade estava se preparando para saltar da aeronave Xian Y-20 quando ela foi atingida pelo mesmo desastre global que destruiu o avião da Sétima Cavalaria.
O deslocamento polar não apenas destruiu cada estrutura contruída pelo homem na Terra e todas as aeronaves que estavam voando abaixo de dois mil metros, mas as poderosas forças também deslocaram o tempo dois mil anos para trás.
Quando a Terra girou instantaneamente quinze graus, o avião de Jai Li foi lançado no Mar Adriático. Ela, junto com outros vinte e três companheiros, conseguiram pular, abrir os paraquedas, e flutuar em direção às águas limpidamente azuis. Por algum tempo, ela pôde ver um pouco do seu pelotão enquanto eles desciam, mas o vento os separou por muitos quilômetros.
Ela atingiu a água, se soltou do paraquedas, e foi arrastada para baixo pelo peso da sua mochila e do seu equipamento. Ela soltou seu rifle e tirou também sua mochila e o cinto de munições, mas ela ainda afundava em direção ao fundo do mar.
Com dificuldade de continuar segurando a respiração, ela desamarrou as botas, as tirou dos seus pés, e se lançou para cima com toda a sua força.
Ela chegou à superfície, ofegante por ar. Sentindo que seu uniforme encharcado a puxava para baixo, ela abriu o zíper e o puxou pelas pernas e depois o tirou pelos pés, ficando apenas com uma camiseta e a roupa de baixo.
Subindo com as ondas de dois metros, ela observava o horizonte mas não via nada. Não via destroços, nem paraquedas, nem nenhum dos seus companheiros — e, o mais assustador, não via sinal de terra em nenhuma direção.
Ela ficou na água, tentando pensar no que fazer.
A água não estava congelando, mas estava abaixo de vinte graus. Era frio o suficiente para ela eventualmente sofrer de hipotermia.
Não havia nada que ela pudesse fazer além de conservar sua energia e tentar se manter flutuando.
À deriva durante o dia e a noite, ela ficou surpreendida na manhã seguinte ao ver que a maré a tinha levado para dentro de um promontório rochoso que se precipitava da costa da Itália no Adriático.
Ela não sabia no momento que estava no Mar Adriático ou que estava vendo as belas colinas da Itália. Ela realmente não se importava com nada disso. Tudo que ela sabia é que estava perto da terra.
Indo em direção a praia, ela usou suas últimas energias para nadar na superfície e chegar até a areia. Ela caiu e rastejou até a marca da maré, onde desmaiou de exaustão.
Pareceu que apenas um momento havia se passado quando ela foi acordada por alguém a cutucando com um galho afiado.
Ela se sentou, levando as mãos aos olhos para se proteger do sol da tarde, e então viu duas mulheres a encarando.
Elas usavam túnicas longas feitas de um tecido grosseiro com fios cinzas e pretos. Essas mulheres carregavam baldes de couro cheios de mariscos.
Jai Li ficou muito alegre por ser resgatada, e tentou comunicar sua gratidão às mulheres.
Mas elas, assim que ouviram uma linguagem estrangeira, agarraram seus braços com força, forçando-a a ficar de pé.
Elas amarraram suas mãos para trás, e depois enrolaram outra corda em seu pescoço.
Batendo nela com o galho e segurando a corda firmemente, elas a levaram para a vila de onde vinham, onde ela foi entregue ao líder.
O homem olhou para ela, e aparentemente sentindo repulsa pelas suas características orientais, deu um tapa em seu rosto, fazendo com que ela cambaleasse.
Ela tentou explicar o que havia acontecido, e que ela estava exausta e faminta, mas o homem apenas sinalizou para as mulheres tirarem ela de lá.
Elas a empurraram para um galpão baixo e trancaram a porta.
Perto do anoitecer, trouxeram para ela uma tigela com um caldo fino.
As mulheres não se importaram em desamarrá-la. Apenas cuspiram alguns insultos, a deixaram no escuro, e trancaram a porta novamente.
Com as mãos amarradas para trás, ela foi forçada a se ajoelhar na terra e comer sua refeição miserável igual a um cachorro.
A sopa nojenta estava fria e nada saborosa, mas ela bebeu de uma vez e lambeu a tigela.
Com o primeiro sustento para seu estômago em quarenta e oito horas, ela caiu no chão, rolou para o lado, e caiu no sono.
Quando a porta se abriu, a luz do sol a cegou por um momento.
Ela foi puxada para fora por um par de mãos rudes. Então ela foi inspecionada de perto por um homem gordo e escuro usando um longo cafetã.
Depois de inspecioná-la, ele murmurou algumas palavras para o chefe da vila, deu a ele algumas moedas, e sinalizou para o homem das mãos grosseiras levá-la.
Ele agarrou seu braço e a puxou em direção a uma carroça de quatro rodas, onde ela foi jogada dentro do veículo similar a uma jaula junto com outras três pessoas,uma mulher e dois homens, todos com as mãos e pés presos por correntes.
Da pequena vila pesqueira, o homem gordo no cafetã, a quem chamavam de “Kyros,” liderou seu comboio de cinquenta carroças em direção ao que ela acreditava ser o ocidente.
Seis das carroças levavam cativos, enquanto as restantes estavam vazias, presumivelmente para levar novos prisioneiros que seriam apanhados pelo caminho.
Ao anoitecer, eles param para Kyros e seus homens fazerem uma refeição e descansarem um pouco.
Um guarda removeu a corda dos pulsos de Jai Li, e deu a ela uma roupa que parecia um poncho, que ela de bom grado enfiou pela cabeça e depois passou os braços pelas duas aberturas nas laterais.
O homem colocou algemas nos pulsos dela, desta vez na frente do seu corpo.
Os prisioneiros receberam água, mas nada de comida.
Eles viajaram por três dias ao longo de uma trilha rochosa que passava por colinas baixas cobertas de zimbro, amieiro verde e rododendro.
Com pouca comida e água, eles estavam fracos e abatidos quando entraram num grande acampamento de soldados.
Jai Li assistia os guerreiros passando pela sua carroça. Com sua capacidade mental fragilizada, ela não prestou muita atenção exceto por notar que estavam armados com armas primitivas. Espadas de ferro, arcos e lanças eram o mais comum. Muitos dos homens carregavam escudos redondos nas costas.
Na verdade, tudo parecia muito antigo: as carroças primitivas com rodas de madeira maciça puxadas por pares de bois; as túnicas sem forma vestidas por homens e mulheres; os pequenos abrigos que pareciam ser nada mais do que uma junção de galhos, folhas e lama.
Durante a noite, começou a chover. Sem cobertura na carroça, Jai Li logo ficou ensopada. Molhada, com frio e fome, ela se sentia mais próxima da morte do que da vida.
Na manhã seguinte, eles receberam água e algumas cascas de pão.
Pela metade da manhã, Jai Li ficou atordoada em ver um esquadrão de soldados — soldados do exército, vestindo uniformes camuflados modernos. Mas eles não eram homens e mulheres chineses. Ela sabia, pelas roupas e insígnias militares, que eram americanos.
Ela ficou em pé com dificuldade e tentou chamar a atenção deles. Como não sabia inglês, tentou se comunicar com sinais, mas eles a ignoraram e se viraram para ir embora, exceto por uma das soldados mulheres, que lhe lançou um olhar curioso.
Jai Li deu um tapinha em seu ombro onde ela normalmente teria três faixas. Ela imitou estar puxando um colar com dog tags da sua gola, em seguida apontou para a gola da mulher.
A soldado disse algo para seus colegas, chamando eles de volta para a carroça. Uma pequena discussão se seguiu, e depois a mulher puxou uma parte do seu uniforme camuflado e apontou para Jai Li enquanto erguia os ombros em sinal de pergunta.
Jai Li fez que sim, e então começou a chorar, se sentindo aliviada por finalmente ver a possiblidade de ser salva de sua terrível provação. Porém, depois que os soldados americanos discutiram, aparentemente sobre ela, e viram o comerciante de escravos Kyros vindo em sua direção, eles se viraram para ir embora.
A soldado sorriu e sinalizou que eles iriam voltar, mas por que estavam partindo? Por que não iriam tirá-la daquela prisão?
Caindo de volta no chão da carroça, ela se sentiu mais solitária e perdida do que antes.
Ela recebeu uma tigela de sopa, mas todo o tempo sem comida tinha-a levado para um ponto além da fome. Jai Li não se importava mais se iria viver ou morrer. Ela empurrou a tigela para o homem ao seu lado.
Na manhã seguinte, ela acordou do sono miserável com a voz de uma mulher. Era a soldado do dia anterior!
Ela falava de uma maneira suave e fazia sinais de incentivo.
Quando Kyros veio na direção deles, um dos soldados — um sargento de alto escalão, Jai Li percebeu pelas faixas — parou o comerciante e apontou para um dos homens na carroça.
Parecia que os soldados queriam comprar o homem.
Uma jovem junto com os soldados aparentemente fazia a tradução.
Depois de um pouco de barganha, o sargento balançou a cabeça em negação e se virou como se fosse embora. Mas então ele se virou de volta, apontou para Jai Li, e fez uma pergunta.
Kyros grunhiu para Jai Li, se aproximou das barras da carroça, e a encarou por um momento. Ele disse algo para o sargento.
O soldado pegou uma moeda de seu bolso e ofereceu para Kyros.
O homem pegou a moeda e a segurou perto de si. Ele piscava e apertava os olhos, mas aparentemente sua visão estava tão ruim, que ele não conseguia enxergar.
Um soldado mais jovem — um homem mais ou menos da mesma idade que Jai Li, vinte e dois anos — pegou algo no bolso da sua jaqueta e ofereceu para o comerciante.
Kyros pegou o objeto, que Jai Li viu ser uma lupa, mas deu de ombros, sem saber o que fazer com ela.
O jovem soldado, a quem Jai Li ouviu os outros chamarem de “Sparks,” pegou a lupa e a moeda, e então os estendeu para que Kyros pudesse ver a moeda através da lupa.
Os olhos de Kyros se arregalaram com o que via. A pequena moeda estava aumentada, e o homem com pouca visão conseguia enxergá-la. Ele deu risada, e deu um tapa nas costas do jovem soldado.
O soldado disse algo e esticou sua mão para pegar a lupa de volta.
Kyros parecia relutante em deixá-la ir.
A jovem que traduzia repetiu algo que o soldado disse.
O comerciante entregou a lupa para ele.
O soldado ajoelhou, juntou algumas folhas secas, e depois de olhar para a posição do sol no céu, estendeu a lupa, focando os raios de sol nas folhas. Logo um fio de fumaça apareceu, e as folhas pegaram fogo.
Kyros ficou impressionado. Ele ficou de joelhos com dificuldade e pegou a lupa, aparentemente querendo fazer a mágica ele mesmo.
Foram várias tentativas, mas ele finalmente pegou o jeito.
Depois que o soldado ajudou Kyros a se levantar, o homem apontou para o soldado e fez uma pergunta para o sargento.
Quando ouviu a tradução, o sargento deu risada e balançou a cabeça.
Jai Li quase deu risada ela mesma, percebendo que o comerciante queria comprar o soldado.
Kyros ergueu a lupa e falou com o sargento através da tradutora.
O sargento aparentemente concordou e esticou a mão para cumprimentar Kyros. Kyros então devolveu a moeda e ficou com a lupa.
Kyros disse algo para seu guarda e gesticulou em direção a Jai Li.
Ela não tinha certeza do que estava acontecendo quando o guarda subiu na carroça e forçou-a a ficar de pé.
Vendo como ela estava sendo tratada com brutalidade, a soldado gritou com o guarda.
O guarda pareceu surpreso e olhou para o seu chefe.
Kyros fez que sim para ele, então o guarda removeu as algemas dos pulsos de Jai Li e a puxou para a traseira da carroça.
A soldado gritou com ele novamente.
O guarda olhou pasmo para Kyros, que apontou para as correntes nos tornozelos de Jai Li.
O guarda se ajoelhou para remover as correntes.
Jai Li, esfregando seus pulsos doloridos, percebeu que o sargento havia comprado sua liberdade com uma lupa.
Ela deu um passo para a beirada da carroça mas, fragilizada pela má nutrição e ansiedade de estar livre, desmaiou e caiu nos braços da soldado.

Capítulo Quatro
“Claro, você pode pilotar a Dragonfly,” Sparks disse. “Apenas fique de olho no vento.”
“Certo.” Jai Li observou as correntes por um momento. “Vento agora vem do sudoeste, vinte quilômetros por hora.” Ela olhou para Sparks, levantando as sobrancelhas. “Eu voo perto da água e viro um pouco para esquerda?”
Sparks fez que sim, e deu um passo para longe da aeronave. “Está chegando, Caubói,” ele disse no comunicador.
“Ele nos viu,” Sarge disse para Karina, que estava com ele na proa do navio. “Dois caras… não, três caras no convés, apertando os olhos.”
Ele observou o barco indo na direção deles.
“Os homens estão se apressando para mudar a vela,” Sarge disse. “Virando para o leste.”
“Estamos com uma cara bem assutadora, né?” Karina disse.
“É.” Sarge abaixou o binóculos, mas manteve os olhos no barco. “Provavelmente é isso.”
A frota da Sétima navegava para o norte, subindo o Mar Adriático, mantendo a costa ao leste à vista mas ficando longe das rochas e dos cardumes.
Quando o vento sazonal que soprava forte do sudoeste, Lebic, parou no meio do dia, os remadores foram colocados para trabalhar.
Isso não foi um evento indesejado. Os homens, e algumas mulheres, ficaram felizes com a mudança de ritmo depois de dois dias treinado os braços.

* * * * *

“Nós temos companhia,” Apache disse em seu microfone.
Ainda não havia amanhecido, mas o horizonte ao leste estava se pintando de rosa e lavanda sobre um calmo mar azul.
“Onde?” Sarge perguntou.
“Sudeste, vinte quilômetros.”
“Parece que o barquinho de pesca está de volta,” Sarge disse.
“E ele trouxe todos os colegas pescadores,” Caubói disse.
“Meu Deus do céu!” Sarge exclamou. “Estou vendo quinze, dezesseis... não, merda, vinte e cinco!”
A linha de navios estava apenas emergindo do obscuro amanhecer.


Navios de guerra gregos

“É,” Apache disse. “E quatro deles são maiores que os nossos Cinco.”
“Postos de combate, pessoal,” Sarge disse. “Eu não acho que eles estão planejando fazer um concurso de pescaria.”
“Espero que eles estejam convidando a gente para um concurso de combate.” Kady veio para frente, ficando ao lado de Sarge.
“Talvez você ganhe o que deseja, Hotshot.” Sarge analisou os convés dos navios. “Parece que eles estão se preparando para batalha.”
“Armas?” Kady perguntou.
“Espadas e lanças com certeza. Talvez alguns arqueiros, também.” Ele abaixou o binóculos. “Karina.”
“Sim, Sarge,” Karina respondeu no comunicador.
“Alguma coisa sobre armamento nos nossos livros de história?”
“Fogo grego pode ser de interesse,” Karina disse.
“O que é isso?” Kady perguntou.
“É tipo um lança chamas.”
“Alcance?” Sarge perguntou.
“Não mais do que vinte metros.”
“Mas do que é feito?” Kady perguntou.
“Provavelmente nafta ou óxido de cálcio, pressurizado por calor, depois ativado no bocal com algum material combustível.”
“Kawalski,” Sarge chamou no comunicador. “Prepare o Little Boy para ação.”
“Estamos trabalhando nisso,” Caubói respondeu.
“Vamos alinhar nossos navios lado a lado,” Sarge disse. “Quero rifles nas gáveas e arqueiros na proa de cada navio.”
Várias pessoas responderam.
Logo a frota da Sétima estava alinhada, da esquerda à direita, com os dois Cinco no centro e os doze Três divididos nos dois lados.
“E se a gente simplesmente expulsar eles da água com o trabuco do Caubói?” Kady perguntou.
“Eles podem ser amigáveis,” Sarge disse.
“Claro. Eles só querem parar a gente para conversar um pouco sobre o tempo.”
“Segurem o fogo, todo mundo,” Sarge disse. “Deixem que eles façam o primeiro movimento.”
Todos os quatorze navios da Sétima tinham pelo menos uma pessoa com um capacete, então Sarge tinha linhas de comunicação com todos.
“Sarge,” Karina disse. “Binóculos.”
Ele os esticou para ela.
Ela estudou os barcos por um momento. “Hoplitas,” ela sussurrou.
“O quê?”
“Soldados gregos hoplitas, iguais àqueles usados na Batalha das Termópilas em 480 a.C., contra os Persas. Guerreiros muito formidáveis. Se eles chegarem perto o suficiente para subir nos nossos navios, estamos ferrados. Parece que tem cem ou mais soldados em cada um dos navios grandes.”
“Você consegue ver arqueiros?” Sarge perguntou.
“Sim. Eles estão formando uma linha ao longo da borda.”
“Homens com rifle,” Sarge disse. “Segurem o fogo até que eles nos ataquem. Então mirem primeiro nos timoneiros. Depois deles, atirem em qualquer um que pareça estar dando ordens.”
“E nós, as mulheres com rifle?” Kady perguntou no comunicador.
“É, vocês também.”
“Eles estão fazendo uma fogueira embaixo de um lança-chamas naquele primeiro navio,” Karina disse.
“Lá vem!” alguém gritou.
Todos se abaixaram conforme a leva de flechas arqueava pela água em direção aos navios da Sétima.
Centenas de flechas atingiram o convés e os mastros.
“Abrir fogo!” Sarge gritou. “Kawalski, mire no navio mais próximo.”
Caubói puxou a corda do gatilho no Little Boy, fazendo voar um rochedo de cento e trinta quilos em direção aos gregos.
Como o seu navio balançava e se movia para frente, e os alvos estavam se movendo também, Kawalski não tinha como mirar com o trabuco. Tudo que ele podia fazer era carregar e atirar as enormes rochas o mais rápido possível.
Sua primeira rocha atingiu a água cem metros a esquerda do grande navio grego.



Sargento Mestre David ‘Caubói’ Kawalski

Sob uma chuva de flechas, Caubói soltou seu segundo tiro. Ele atingiu o convés de um navio grego menor, esmagando as pranchas de carvalho, chegando até o segundo convés, e fazendo um buraco no fundo.
A água começou a se infiltrar rapidamente. E o navio começou a se inclinar a estibordo conforme a tripulação e os soldados pulavam da borda.
Se os soldados não conseguissem sair das pesadas armaduras assim que atingissem a água, estariam fadados a se afogarem.
Os rifles das gáveas atingiram os comandantes e os timeiros, mas os dezessete navios de guerra gregos que restavam continuavam a atacar.
Um navio que avançava atirou um lança-chamas, fazendo com que um dos navios menores da Sétima, o Viminal,pegasse fogo.
Kady e Joaquin, junto com a tripulação no navio, lutaram contra as chamas enquanto os gregos jogavam cortas com ganchos no convés do Viminal. Puxando as cordas com força, os soldados gregos juntaram os dois navios.
Os hoplitas invadiram o barco e dominaram a tripulação do Viminal.
Os tripulantes tinham espadas, mas não tinham escudos ou armaduras.
Os ferozes hoplitas cortaram os homens como feixes de trigo a serem colhidos no verão.
Kady e Joaquin deixaram o convés em chamas para encarar os hoplitas.
Eles usavam uniformes camuflados novos e mais leves, feitos pelas costureiras, com o colete por cima. Estavam armados com pistolas e espadas.
Kady esvaziou sua pistola e levou a mão ao cinto para pegar outro carregador.
Joaquin foi atingido pelas costas. A espada arrebentou a correia do seu capacete, que saiu voando.
Ele se virou e atirou na cara do hoplita. Quando outro homem com uma espada veio correndo em sua direção, ele atirou novamente. A bala o atingiu seu peito, levando-o ao chão.
Uma espada atingiu a pistola de Kady antes que ela pudesse recarregar. Sua arma caiu no convés e saiu rolando.
Enquanto isso, o atacante empurrou sua espada em direção ao coração dela. A lâmina penetrou uma fração de centímetro em seu colete. Ele puxou a espada de volta, e então fez um giro com a perna tentando derrubá-la pelos pés.
Ela caiu no convés, mas rolou no chão e se levantou com um joelho. Sacando sua espada, ela conseguiu bloquear a espada dele que vinha em direção à sua cabeça. Segurando a espada sobre a cabeça, enquanto ele empurrava para baixo, ela agarrou sua adaga e cortou o tendão no joelho do homem.
O hoplita gritou e caiu no chão.
Kady se levantou e empurrou sua espada pela borda da armadura e para dentro do coração dele antes que ele pudesse se recuperar.
Ela girou ao redor, olhando em volta, tentando recuperar o rumo. Vendo dois homens atacarem Joaquin, ela correu até ele e atacou um dos hoplitas.
O soldado girou a espada em direção ao estômago dela.
Ela se esquivou e, com as duas mãos no punhal da sua espada, a levou até o pulso dele.
A espada dele caiu, tintilando pelo convés.
Kady então abaixou a espada com força, abrindo a garganta do homem.
O soldado caiu, engasgando em seu próprio sangue.
Ela respirou fundo e se voltou para o outro soldado que atacava Joaquin.
Levando sua espada até o pescoço dele, abriu as duas veias jugulares.
O homem cambaleou para trás, agarrando sua garganta com o sangue jorrando entre os dedos.
Joaquin foi atingido na cabeça e caiu para trás.
Kady deu um passo por cima do colega, com seus pés ao lado dos ombros dele. Ela ergueu a espada para bloquear o golpe de um machado sangrento.
O machado bateu no punho da sua espada.
Ela girou a espada para os lados, desequilibrando o homem. Enquanto ele cambaleava, ela deu um golpe em sua barriga com a adaga.
Outro hoplita veio até ela, balançando a espada.
Kady saiu de perto de Joaquin para lidar com o soldado.
O homem ia dar um golpe no estômago dela, mas sua cabeça de repente se torceu para o lado, e ele caiu com uma ferida aberta na lateral da sua cabeça.
Ela se virou para ver de onde o tiro tinha vindo e viuSarge na gávea do Palatino, a duzentos metros de distância.
Ela o cumprimentou com sua espada, e em seguida se ajoelhou ao lado de Joaquin. Virando ele de lado, ela pressionou os dedos em seu pescoço. Kady sentiu um pulso firme, mas ele tinha um corte no lado da cabeça.
Mais tiros vieram do rifle do Sarge, atingindo mais cinco hoplitas.
Vendo seus companheiros sendo abatidos pelas balas, os seis atacantes que restavam soltaram suas espadas e se renderam.
Kady gritou para dois dos tripulantes, pedindo por ajuda. Junto com ela, eles correram para apagar o fogo na proa do navio.
Kawalski atirou outro rochedo. A rocha fez um arco por cima de um dos grandes navios e caiu no mar.
Conforme os dois maiores navios se aproximavam, os hoplitas batiam as espadas contra seus escudos, clamando por batalha.
Liada e Tin Tin matavam soldados e tripulantes inimigos com seus arcos.
Centenas de flechas continuaram a voar, causando várias perdas também no lado da Sétima.
“Sparks!” Kawalski gritou no comunicador.
“Sim?”
“Vire a gente noventa metros para a direita para eu conseguir atingir aquele barco que está indo em direção ao Palatino.”
“Copiado.” Sparks virou em direção ao navio grego para alinhar o trabuco de Kawalski para um novo tiro.
O rochedo atingiu o mar vinte metros antes do navio.
Caubói gritou para os seus homens recarregarem o trabuco.
O próximo tiro atingiu um barco pequeno, destruindo o convés e o centro do navio e saindo pela lateral, abaixo d'água. A água foi subindo e o barco rapidamente afundou.
Um dos homens do Caubói gritou e apontou para trás.
Caubói seguiu seu dedo com os olhos. “Puta merda! Sparks, atrás de nós, um navio grego enorme!”
Sparks virou a cabeça e viu o navio se aproximando deles. “Está muito rápido,” Sparks gritou. “Não vamos conseguir fugir.”
Caubói olhou para o seu trabuco, e depois para o mastro e vela lá em cima. “Certo. Vamos ver o que podemos fazer.” Ele gritou para os seus homens virarem o Little Boy.
Os homens tiveram dificuldade em girar o trabuco. Mais doze se aproximaram para ajudar.
Logo a arma tinha sido girada em 180 graus, e apontava para a traseira do navio deles.
Os homens rolaram um rochedo enorme até a corda do Little Boy.
“Que merda você está fazendo?” Sparks disse. “Você vai destruir nosso mastro.”
“Talvez.” Caubói olhou para o navio grego que avançava, e puxou a corda do gatilho.
O contrapeso caiu, o braço subiu, e o rochedo foi lançado para o céu.
A rocha passou alguns centímetros ao lado do mastro, e arqueou por cima do navio.


O trabuco Little Boy
montado no convés do
no navio da Sétima Cavalaria, o Palatino

O rochedo atingiu o navio grego embaixo d'água, destruindo dez metros da carcaça. A água entrou e o navio capotou em menos de dois minutos, levando centenas de homens com ele.
Homens e mulheres nos navios da Sétima comemoraram enquanto o navio afundava.
Os tiros de rifle foram um ataque pesado nos hoplitas, mas um dos barcos chegou até um navio da Sétima. Os soldados gregos saltaram no navio menor e começaram uma sangrenta batalha corpo-a-corpo.
Rifles das gáveas mais próximas direcionaram seu fogo para os hoplitas, criando possibilidades suficientes para os soldados da Sétima virarem o jogo.
Quando o trabuco acertou outro navio grego, o último navio grande ergueu a bandeira branca da rendição.
Seis dos barcos menores se viraram e navegaram para longe, correndo para o leste, enquanto os outros sete colocavam bandeiras brancas em seus mastros.
Depois da rendição, Sarge ordenou que todos os navios e tripulação da Sétima resgatassem aqueles deixados na água pelos barcos que afundaram.
A maioria dos soldados hoplitas havia se afogado, puxados pelas pesadas armaduras.
Os demais resgatados do mar eram tripulantes e escravos, dentre eles muitas mulheres.
“Joguem uma corda para aquele cara se agarrando nos destroços!” Sarge gritou.
“Ei, você!” Kady gritou. Ela foi até a beirada e arremessou uma corda. “É, você com as correntes nos pulsos. Segure a corda.”
O homem encarou Kady por um momento, tentando se mover pela água, então soltou o mastro quebrado e nadou em direção à corda, virando de lado para segurá-la com as mãos acorrentadas.
“Apache!” Kady gritou. “Venha me ajudar. Fisguei um grande.”
Juntas, elas trouxeram o escravo até a lateral do navio.
Enquanto elas puxavam com toda a força que tinham, ele subia pela corda, usando seus braços musculosos.
No convés, ele disse algumas palavras, e depois se curvou para as mulheres.
“De nada,” Kady disse.


Sixwar, escravo de remo

“Você ajuda ele a se secar,” Apache disse, “e eu pago uma bebida.”
“É disso que eu tô falando.”
Um grito veio da popa.
Um soldado hoplita capturado havia agarrado a espada de um dos tripulantes e agora lutava contra dois homens.
O escravo saltou pelos seis degraus e desceu até o convés inferior, e então correu para a briga.
Os dois homens estavam enfrentando o que havia de pior no hoplita.
Kady e Apache correram atrás do escravo.
Chegando à popa, o escravo desarmado entrou na luta.
Quando o hoplita moveu a espada em direção ao seu pescoço, ele levantou seus pulsos acorrentados para bloquear o golpe.
A lâmina afiada bateu na corrente pesada.
O escravo enrolou a corrente em volta da lâmina, arrancando a espada da mão do soldado.
Quando a espada caiu no convés e derrapou pelo chão, o hoplita puxou uma adaga e avançou em cima do escravo.
Ele deu um passo para o lado, mas foi um pouco tarde. A lâmina perfurou sua barriga.
Ignorando a ferida, o escravo girou com a bola em seu pé direito, fazendo a corrente girar e atingir o soldado na cabeça.
Quando o hoplita caiu de barriga para baixo no convés, o escravo pulou nele, agarrou seu queixo, e girou sua cabeça para trás rapidamente, quebrando seu pescoço.
Lá ele ficou por um momento, com um joelho no chão, recuperando o fôlego, então pegou o hoplita e o empurrou para o lado.
Kady começou a bater palmas, e depois Apache se juntou a ela.
O escravo deu um sorriso torto enquanto ajudava um dos tripulantes feridos a ficar de pé.

Capítulo Cinco
Sem a intenção de manter prisioneiros, Sarge ordenou que todos os hoplitas restantes tivessem suas armas tomadas e fossem colocados nos dois barcos gregos, dando a eles liberdade.
Quando os tripulantes e escravos dos navios capturados foram indagados a escolher entre ir embora com os hoplitas ou se juntar a Sétima, todos os escravos e a maioria dos tripulantes decidiram ficar com a frota da Sétima. A oferta de receber um “7” de ouro por dia como pagamento por seus serviços teve uma grande influência em suas decisões.
A vitória acrescentou treze navios à frota da Sétima.
Um dos barcos capturados foi transformado em uma enfermaria, onde Karina e Tin Tin, junto com vários ajudantes, trataram os feridos.
Depois que a frota da Sétima se encaminhou para o norte, Sparks e Jai Li fizeram um inventário dos mantimentos nos navios capturados. Eles acrescentaram 147 gansos, 56 porcos, 27 vacas leiteiras, 250 galinhas, 14 jumentos e 2 cabras ao gado. Havia uma grande quantidade de trigo e cevada, junto com 46 barris de vinho de uva passa e 84 barris de água doce. Eles também encontraram vários quilos de carne de porco e de vaca curadas em sal.
“Ei, Sarge,” Sparks disse no comunicador.
“Sim, Sparks.”
“Tem uma mulher em uma jaula no navio número treze.”
“Como ela é?”
“Túnica vermelha rasgada, botas de couro, cabelo longo e castanho, talvez tenha vinte e poucos anos.”
“Certo,” Sarge disse. “Traga seu barco para perto.”
“Eu quero ver uma mulher em uma jaula,” Kady disse no comunicador.
“Copiado,” Lori disse.
Uma hora depois, Sarge e os demais soldados da Sétima estavam parados olhando para a jaula.
“O que será que ela fez?” Apache perguntou.
A mulher estava sentada em um tapete de pele. Era preto, como a pele de um urso. Ela parecia encantada com toda a atenção.


A boticária, Jadis

“O que tem naquelas bolsas de couro?” Kady perguntou.
“Se parecem com bolsas de sela,” Karina disse.
“Tin Tin,” Sarge disse. “Veja se consegue falar com ela.”
Tin Tin concordou, e falou com a mulher.
Ela encarou Sarge, um pequeno sorriso aparecendo em seus lábios.
Tin Tin tentou outras línguas.
“Yela montan,” a mulher disse.
Tin Tin fez uma pergunta, e a mulher respondeu.
“Ela fala em grego e vem de Aigyptos,” Tin Tin disse.
“Aigyptos,” Karina disse. “Isso é Egito.”
“Por que eles a prenderam?” Sarge perguntou.
Tin Tin falou com ela novamente.
Ela observava cada pessoa, como se lesse algo em sua aparência e postura. Ela respondeu à pergunta.
“Ela diz que é encantadora.”
“Encantadora?” Sarge perguntou.
Tin Tin concordou.
“Bruxa,” Karina disse. “Às vezes uma bruxa ou xamã era chamada de ‘encantadora’.”
“Sério? Qual o nome dela?” Sarge perguntou.
Tin Tin repetiu a pergunta.
“Jadis.”
“Certo, Jadis, a Encantadora,” Sarge disse. “Vamos tirar você dessa jaula. Alguém consegue quebrar o pino daquela corrente?”
Kady puxou a pistola.
“Não, Hotshot. Não vamos atirar. Precisamos de uma barra para pressionar.”
Apache pegou uma espada de hoplita quebrada no convés. “Que tal isso?”
“Não sei,” Sarge disse. “Parece meio fraca.”
Apache enfiou a lâmina quebrada por trás da corrente e torceu para o lado.
Kawalski segurou o cabo da espada, adicionando sua força à de Apache. Ele puxou enquanto ela empurrava.
O pino se partiu, e a corrente caiu.
Jadis pegou a pele de urso, junto com as bolsas de couro. Cada bolsa tinha uma longa alça para pendurar no ombro e vários bolsos costurados nas laterais. Ela deu um passo para fora da jaula, se alongou, e respirou profundamente, como alguém deixando uma caverna escura para ver a luz do sol.
Ela curvou a cabeça em direção ao Sarge e disse algumas palavras.
“Jadis diz obrigada para você,” Tin Tin disse, “e quando podemos comer?”
Sarge deu risada. “Não foi nada. Vamos ao refeitório ver o que tem de almoço no menu.”
Além de Jadis, haviam outras 47 mulheres entre aqueles que se juntaram à frota. A maioria delas, infelizmente, haviam sido escravas sexuais.
Elas eram de diversas nacionalidades e tinham uma variedade de habilidades.
A Soldado Lori Fusilier e Liada receberam a tarefa de designar as mulheres para trabalhos nos vários navios. Muitas deles preferiam as tarefas domésticas como cozinhar, lavar as roupas, ou cuidar das centenas de animais. Cinco das mulheres foram trabalhar no navio enfermaria. Algumas queriam ser tripulantes, enquanto duas, irmãs, se voluntariaram para se juntar aos soldados e aprender a usar espadas e arcos.
Uma mulher, que havia sido costureira na Babilônia antes de ser capturada pelos negociantes de escravos, contratou cinco outras mulheres e abriu uma loja de costura para as 5500 pessoas nos 27 navios.

Capítulo Seis
Caubói e Liada usavam um martelo e um cinzel para remover as algemas dos pulsos e tornozelos dos escravos de remo. Era um trabalho lento, porque as algemas de ferro estavam presas firmemente com pinos de metal, aparentemente feitas para ficarem permanentemente presas aos homens.
Eles trabalhavam debaixo de um toldo na popa do Palatino. Uma grande viga de carvalho servia como bancada de trabalho.
O quinto escravo a colocar os pulsos acorrentados no bloco foi o escravo que Apache e Kady tinham tirado da água.
Ele virou sua algema para o lado e falou algumas palavras.
“Desculpa, cara,” Caubói disse, “mas eu não entendo sua língua.”
O homem sorriu e balançou a cabeça enquanto Liada segurava seu pulso firmemente.
Cateri trouxe um balde de água fresca e copos para refrescar os escravos esperando no sol quente para ficarem sob o martelo e o cinzel.
Quando ela entregou um copo de água para o escravo, ele segurou com sua mão livre e falou algumas palavras para Cateri.
Ela segurou a respiração, e então soltou uma exclamação.
O homem a encarou. Kawalski e Liada também encararam Cateri.
Ela fez uma pergunta.
Ele sorriu e fez que sim com a cabeça.
Cateri deixou o balde de água cair e caiu de joelhos na frente do homem. Ela juntou as mãos e sussurrou algumas palavras.
O escravo tirou a mão do cinzel quando Caubói estava prestes a bater com o martelo e levou as duas mãos a Cateri. Sua corrente era longa o suficiente para ele levantá-la pelos ombros para que ficasse em pé.
Ele falou com ela, mas ela manteve a cabeça curvada, olhando para seus pés.
O homem disse as mesmas palavras novamente e levantou seu queixo para que ela olhasse nos olhos dele.
Lágrimas desciam pelas suas bochechas. “Sixwar,” ela sussurrou. Ela então viu a ferida cheia de sangue em sua barriga.
Cateri clicou no botão em seu comunicador. “Karina. Você está perto parte trás nosso navio?”
“Estou em baixo do convés, Cateri,” Karina respondeu. “O que foi?”
“Esse, hm, escravo tem corte feio no outro lado.”
“Estou indo.”
“Copiado.” Cateri voltou a falar com o escravo. “Sixwar,” ela disse, seguido por algumas mais palavras em sua língua. Ela se ajoelhou na frente dele mais uma vez, curvando sua cabeça, como que em submissão.
“Ei, Sarge,” Caubói disse no comunicador.
“Sim, o que foi?”
“Venha aqui na popa. Você tem que ver isso.”
Karina e Sarge chegaram juntos. Ela examinou a ferida do homem, depois abriu o kit médico.
“Cateri,” Sarge disse. “O que foi?”
“Esse aqui,” ela disse, “vem vinha casa.”
Sixwar observou Karina limpar sua ferida.
Quando ela aplicou o iodo, ele se contraiu, e ela olhou para ele.
Seu sorriso era cerrado e ele estava apertando os dentes de dor.
“Se você acha que isso está doendo,” Karina disse, “espere até eu começar com a agulha e a linha.”
“Cateri,” Sarge disse. “Ele é do seu povo?”
Cateri fez que sim, secando as lágrimas. Ela falou com Liada em cartaginês.
Liada respondeu, e depois fez uma pergunta.
Cateri disse algumas palavras, terminando com “Sixwar.”
“Ele é do povo dela,” Liada disse. “Não é um rei, mais baixo, mas não é pessoa comum. Ele se chama ‘Sixwar.’”
“Sixwar.” Sarge estendeu sua mão para o homem.
Ele segurou a mão de Sarge e falou com ele.
Sarge olhou para Cateri.
“Ele diz para você é, hm…” Ela fez uma pergunta para Liada.
“Talvez, general,” Liada disse.
“Sixwar diz você general de todos os barcos?”
“Bom…” Sarge deu um sorrisinho, “talvez apenas um almirante.” Ele soltou a mão do homem.
Sixwar, que era mais alto do que Sarge, fez que sim, e então se ajoelhou no convés para colocar o pulso no bloco de madeira enquanto Karina costurava sua pele.
Cateri sentou aos pés de Sixwar enquanto Kawalski e Liada trabalhavam nas correntes. Ela e o homem conversaram por um momento, aparentemente discutindo seu povo e terra natal.
Sarge, vendo que estava atrapalhando, se virou para voltar à proa do navio.
Vinte minutos depois, as algemas de Sixwar estavam quebradas. Ele esfregou seus pulsos por um momento, depois colocou uma mão no ombro de Kawalski e outra no de Liada. Ele disse algumas palavras.
“Ele diz para vocês,” Cateri disse, “obrigado por essa liberdade agora.”
“Fico feliz em ajudar, Sixwar,” Kawalski disse. “Agora, talvez Cateri possa te levar ao refeitório para comer um pouco.” Ele fez o sinal de comer.
“Provavelmente ele está com fome por comida boa.” Cateri estendeu sua mão, hesitou, então abaixou a mão novamente. Ela falou algumas palavras e apontou em direção a escotilha aberta que conduzia ao convés inferior.
Sixwar concordou e a seguiu pelo convés.
Caubói e Liada observaram eles descerem os degraus.
“O que você acha disso?” Caubói perguntou.
“Estou feliz pela Cateri,” Liada disse. “Esse primeiro do povo dela que ela vê desde ser escrava.”
“Faz quanto tempo que ela foi capturada?”
“Mais que cinco verões, eu acho.”
“Me pergunto de onde eles vieram...” Caubói disse.
“Apache disse para mim, naquela luta com o hoplita, Sixwar gritou com ele em grego.”
“Isso é interessante.”
“Tin Tin boa com grego. Depois na noite, ela talvez pode falar com ele para saber essas coisas.” Liada acenou para o próximo escravo acorrentado se aproximar.
O jovem negro se ajoelhou e colocou seu pulso algemado no bloco.
Liada segurou firmemente a sua mão enquanto Caubói colocava o cinzel no lugar e erguia o martelo.
Ela falou com o homem, perguntando seu nome.
Ele balançou a cabeça em negação.
Liada tentou se comunicar com ele em todas as línguas que ela sabia, até mesmo em inglês.
Sua única resposta era encolher os ombros e balançar a cabeça.
Quando as correntes foram removidas dos seus pulsos, ele se sentou no convés e colocou seus pés no bloco para que o Caubói trabalhasse nas algemas em seus tornozelos.
Depois que o jovem estava livre, ele se levantou e abaixou a cabeça para Liada e Caubói. Ele juntou as palmas em um gesto de oração, e depois sussurrou algumas palavras.
“Você pode ser livre agora,” Liada disse.
Ele sorriu, depois apontou para a escotilha aberta e fez o movimento de comer.
“Eu acho que ele sabe que Sixwar foi lá para baixo encontrar comida,” Caubói disse.
Liada se levantou. “Sim, eu mostro onde.” Ela segurou na mão do ex-escravo e o levou em direção à escotilha.
“Próximo!” Caubói sinalizou para a próxima pessoa vir até o bloco.
Era uma mulher loira, pálida e cansada.
Ela se ajoelhou e, usando sua mão esquerda, levantou seu pulso direito e o colocou sobre o bloco.
“Caramba!” Caubói pressionou o botão no microfone do seu capacete. “Doutora Karina. Está online?”


A escrava, Cadia

“Sim, Caubói. Estou assistindo Sixwar e um cara negro comerem espaguete e almôndegas como se fosse a primeira refeição da vida deles.”
“Por mais empolgante que isso possa ser, vou precisar de primeiros socorros aqui no convés.”
“Não me diga que você arrancou outra mão.”
“Não, mas talvez a gente tenha que fazer isso.”
“Puta merda!” Karina disse depois que ela chegou e cuidadosamente virou o pulso da mulher.
“Sim, eu sei,” Caubói disse.
“Lori,” Karina disse em seu microfone.
“Sim?”
“Onde você está?”
“Na enfermaria,” Lori disse.
“Diga para o Joaquin trazer o Essex junto com o Palatino. Nós temos uma ex-escrava com gangrena aqui.”
“Estamos a caminho.”
Caubói estudou o pino na algema da mulher, tentando encontrar uma forma de chegar até ele sem quebrar o puslo dela.
“Ei, Hotshot,” Lori disse em seu microfone depois que chegou e inspecionou o pulso na mulher.
“O quê?” Kady respondeu.
“Você ainda tem aqueles bichinhos de estimação na tigela?”
“Você quis dizer minhas Lucilia sericata, também conhecidas comoOestridae, ou como antisséptico vivo?”
“Sim, essas.”
“Eu tenho, e elas estão famintas. Com quem vamos alimentá-las hoje?”
“Uma ex-escrava na popa do Palatino,” Lori disse. “Temos um caso de gangrena.”
“Eba,” Kady disse. “Estarei ai em dez minutos.”
Lori passou pedaços de gaze por entre as algemas de ferro enferrujadas e a carne em putrefação do pulso da mulher. “Vá com calma, Caubói.” Ela segurou firmemente o braço fino conforme Caubói levantava o martelo.
Ele bateu no cinzel, então olhou nos olhos da mulher.
Ela engoliu em seco, tentou sorrir, e depois fez que sim com a cabeça.
Caubói moveu a lâmina do cinzel e bateu novamente. “Segure na beirada do bloco, Lori.”
“Assim?”
“Sim. Meu Deus, espero que eu não quebre o braço dela. É um pouco mais que um fósforo coberto de pele.”
“Como ela conseguiu sobreviver?”
“Ela está tão fraca, que eu não vejo como ela poderia ser de alguma utilidade para eles.”
“Com esse cabelo loiro e olhos azuis,” Lori disse, “ela deveria ser linda quando foi capturada. Tenho quase certeza de que sei qual era a utilidade dela.”
“Bastardos nojentos.” Caubói bateu no cinzel novamente, quebrando o pino.
A mulher gritou quando Lori levantou a algema de ferro para removê-la.
Lori foi muito cuidadosa, mas mesmo assim, pedaços de pele e carne roxa foram puxados, pois estavam grudados no metal enferrujado. “Me desculpa, criança.”
“Meu Deus, Caubói.” Kady veio ao longo do corrimão com sua tigela. “Você está tentando matá-la?”
“É, Hotshot. É por isso que é você quem vai fazer o outro pulso.”
Kady se ajoelhou ao lado da loira e removeu o panoque cobria sua tigela. Ela mostrou o conteúdo para a mulher.
Seus olhos se arregalaram conforme ela engolia um grito; uma centena de larvas se movimentavam ao redor e dentro de um punhado de carne crua.
“Assim que se faz, Hotshot,” Caubói disse. “Assustou ela pra caramba.”
“Ela tem que saber o que nós vamos fazer.”
“Suas maneiras são realmente uma porcaria.”
A mulher olhou para a tigela. Ela soltou algumas palavras.
“Que língua é essa?” Kady perguntou.
“Grego parece ser o mais comum entre os escravos,” Karina disse.
“Tin Tin,” Caubói falou em seu microfone.
“Sim?” Tin Tin respondeu.
“Você pode vir até a popa? Nós precisamos de ajuda para conversar com uma escrava.”
“Chegando em cinco minutos.”
Caubói tinha começado a trabalhar na segunda algema quando Tin Tin chegou até eles.Ela colocou a mão no ombro da loira e falou com ela.
A mulher respondeu, e depois fez uma pergunta.
“Você quer que ela come isso?” Tin Tin perguntou para Kady.
“Comer? Meu Deus, não. Nós precisamos colocar elas na ferida para comerem a carne morta.”
“O que é palavra, ‘carne’?” Tin Tin perguntou.
Kady apontou. “Esses pedaços roxos e pretos. Estão mortos e temos que tirar antes de poder tratar a ferida.”
“Ah, sim,” Tin Tin disse. “Eu estou entendendo agora.”
Tin Tin falou com a mulher.
Ela olhou das larvas para seu pulso e para Kady.
Kady sorriu. “Esse é o único jeito de remover a carne morta.” Ela falou com a voz suave, tocando no antebraço da mulher. “Como estão as minhas maneiras agora?”
O segundo pino foi quebrado pelo cinzel do Caubói. “Você está chegando lá, Hotshot.”
Lori levantou a algema de ferro; os danos eram piores do que no primeiro.
“Pinças.” Kady estendeu sua mão para Lori.
A loira observou Kady pegar uma larva branca que se contorcia.
“Provavelmente você não vai querer ver isso,” Kady disse.
Tin Tin traduziu para grego.
A mulher fez que sim, então virou a cabeça e fechou os olhos.
Kady colocou uma dúzia de larvas, uma de cada vez, no tecido infectado.
Lori cuidadosamente enrolou gases no pulso da mulher enquanto Kady trabalhava no outro.
Alguns minutos depois, elas tinham acabado.
“Ok,” Lori disse. “Vamos deixar assim até amanhã, e depois nós checamos novamente. Vamos pegar comida para ela, Liada, depois a levamos para o navio enfermaria.”

* * * * *

“Bom, pessoal,” Sarge disse. “A Sétima venceu a primeira batalha por si própria. Todas as lutas anteriores foram sob o comando de Aníbal.”
“Foi um bom dia.” Apache estava sentada do outro lado da mesa de jantar.
“Especialmente bom, considerando que estávamos em uma proporção de um para quarenta,” Kady disse.
“Casualidades?” Sarge cortou seu bolo de carne.
“Joaquin levou uns socos,” Kady disse. “Ele está dormindo no navio enfermaria.”
“Nós perdemos quatorze remadores e tripulantes,” Lori disse, “por flechas e lutas de espada.”
“Sinto muito em ouvir isso,” Sarge disse.
“Mas,” Caubói disse, “nós devemos ter levado alguns milhares deles.”
“Provavelmente,” Apache disse. “Com o afundamento daqueles trêsnavios.”
“É,” Lori disse. “Não se sinta mal. Eles começaram.”
“Isso é verdade,” Sarge disse. “Quantos navios e pessoas nós temos agora?”
“Vinte e sete navios,” Sparks disse.
“E mais de quinhentas e cinquenta pessoas,” Jai Li disse.
“Uau,” Sarge disse. “Podemos alimentar todos?”
“Talvez,” Sparks disse. “Falta quanto até a Dalmácia?”
“Três ou quatro dias,” Sarge disse. “Nós vamos ancorar perto do que um dia vai ser o porto de Makarska.”
“Nós temos bastante provisões para quatro dias,” Sparks disse. “E provavelmente até mesmo para uma semana.”
“Quando chegarmos na costa,” Apache disse, “podemos comprar mais suprimentos dos habitantes locais.”
“Então nós vamos salvar seu pessoas do ar que veio para baixo?” Cateri estava sentada ao lado de Sarge.
Sarge fez que sim.
“Quanto tempo vai demorar para chegar lá depois que deixarmos a costa?” Kady perguntou.
Sixwar estava sentando na mesa com eles. Ele estava do outro lado de Cateri e ocasionalmente sussurrava perguntas para ela.
“Qual a distância, Karina?” Sarge perguntou.
“Cerca de duzentos e cinquenta quilômetros da costa.”
“Vamos levar o Little Boy?” Kawalski perguntou.
“Acho que sim,” Sarge respondeu. “Com Obolus puxando o trabuco, ele vai assustar muitos dos nativos. Provavelmente vamos levar dez dias para chegar até os astronautas.”
Cateri segurou a mão de Sarge. “Você tem foto terra?”
“Foto terra?” Sarge perguntou.
“Sixwar pede essa coisa.” Ela se virou para Sixwar, e eles conversaram rapidamente. “Ele diz coisa, eu não sei como chamar, com rio, montanha…”
“Uma mapa,” Karina disse. “Ele quer ver um mapa.”
“Ah, ok,” Sarge disse. “Veja se você tem um mapa antigo dos Bálcãs no seu iPad.”
“Certo,” Karina disse. “Deixa eu ver o que posso encontrar.” Ela logo encontrou alguma coisa. “Aqui está um do século IV a.C..” Ela virou para que Sarge, Cateri e Sixwar pudessem ver.
Cateri estava completamente mistificada, enquanto Sixwar estudava a imagem com interesse.
Ele fez uma pergunta para Cateri.
“Nós estamos em…” Ela fez uma pausa e perguntou algo para Sixwar. Ele disse algumas palavras.
“Nós estamos na água onde?” Cateri perguntou.
Sarge apontou para um ponto no Mar Adriático. “Nós estamos mais ou menos aqui.”
Sixwar se inclinou para trás, cruzando os braços enquanto encarava o mapa na tela. Ele falou com Cateri.
“Karina,” ela disse, “pode fazer maior?” Cateri separou suas mãos.
“Claro,” Karina disse. “Eu posso mostrar toda a Ásia para ele, mas acho que ele não vai entender.”
Ela logo encontrou um mapa maior, mostrando tudo da Itália até a Índia.
Sixwar se inclinou para mais perto e soltou uma exclamação.
Cateri olhou para ele.
Usando seu dedo, Sixwar circulou uma grande área perto do centro do mapa. “Coração,” ele disse.
“Coração!!??” Cateri disse, depois fez uma longa pergunta a ele.
Ele fez que sim. “Coração.”
“Cateri,” Sarge disse. “O que é isso?”
“Nossa terra natal. Sixwar, eu, essa nossa casa, Coração.”
Karina virou o iPad em sua direção e fez uma pesquisa. “Aqui está,” ela disse. “Antes do sexto século a.C., Coração era um país grande e independente que cobria partes do que é hoje o Afeganistão, Irã, Tajiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão. Cerca de trezentos a.C, Coração foi conquistado pelo Império Persa, e depois por Alexandre o Grande, que o transformou em uma colônia da Macedônia. Quando Alexandre morreu subitamente aos trinta e três anos, seus generais entraram em guerra pelo controle do seu império, que foi eventualmente dividido em várias regiões, ficando o Coração como parte do Império Selêucida. Depois de cada conquista, os nativos eram submetidos a força ou vendidos como escravos.” Karina virou o iPad de volta para Cateri e Sixwar.
Todos ao redor da mesa ficaram quietos por um momento enquanto Cateri e Sixwar encaravam o mapa.
Cateri provavelmente havia compreendido pouco do que Karina havia dito, e Sixwar nada.
Cateri fez a ele uma pergunta na sua língua.
Sixwar balançou a cabeça em negação e deu de ombros.
“Sarge,” Cateri disse, “onde na imagem suas três pessoas para salvar?”
“Mais ou menos aqui.” Ele apontou para um lugar perto da atual cidade de Sarajevo.
Sixwar passou o dedo de Sarajevo para Coração, e depois disse algo para Cateri.
“Quanto longe?” Cateri perguntou.
“É uma jornada muito longa,” Sarge disse. “Talvez cinco ou seis meses.”
“O que é ‘meses?’”
“Um mês é trinta dias.”
Ela traduziu a informação para Sixwar.
Ele acenou em compreensão mas não deu nenhuma resposta.

Capítulo Sete
No navio enfermaria, o Essex, Karina e Kady desenrolaram as bandagens dos pulsos da mulher loira.
“Uau,” Karina disse. “As larvas comeram bastante gangrena nessas vinte e quatro horas.”
“É.” Kady começou a remover as larvas gordas e substituí-las por outras famintas. “Amanhã, provavelmente, já conseguiremos começar a tratar as feridas.”
“Parece melhor,” Karina disse para a mulher.
Ela sorriu e disse algumas palavras.
“Qual é seu nome?” Kady perguntou.
Ela deu de ombros, ainda sorrindo.
“Kady.” Ela colocou a mão em seu peito, depois apontou para Karina. “Karina.”
“Ah, Cadia.”
“Cadia?” Kady perguntou.
Ela fez que sim.
“Já está na hora do almoço, Cadia.” Kady fez o sinal de comer.
O rosto de Cadia se iluminou, e ela disse algumas palavras.
“Isso mesmo,” Kady disse. “Eu concordo com tudo que você disse.”
Um dos navios gregos menores que foi capturado havia se transformado em um açougue, enquanto o navio maior foi convertido em um grande refeitório. Trinte e seis homens e mulheres ficavam ocupados dia e noite cozinhando nos fogos a lenha para os milhares de homens e mulheres da frota.
Cada um dos navios tinha uma hora certa para se aproximar do navio refeitório, renomeado como “Savoy”, três vezes por dia. Lá, enquanto os navios permaneciam com a vela içada, os tripulantes aproveitavam suas refeições. Os navios menores podiam se amarrar, dois de cada vez, um em cada lado do Savoy.
Uma da tarde, o Essex tomou seu lugar a estibordo do Savoy. Kady, Karina e mais uma dúzia de ajudantes ajudaram Cadia e os outros pacientes a cruzar as pranchas até o Savoy.
Aqueles que não podiam se mover eram servidos em suas camas.
Longas mesas e bancos estavam dispostos de ponta a ponta do convés superior do Savoy, onde a comida era servida ao estilo de uma pensão, com grandes tigelas e travessas de carne e vegetais colocadas nas mesas onde todos se serviam. Jarros de água, chá e leite também eram colocados nas mesas.
O convés superior do Savoy era sempre um lugar feliz e barulhento, com muitas conversas e risadas.
Não haviauma grande variedade de comida, mas era quente e saborosa.
Espagueti, bolo de carne, pedaços de porco, bacon e ovos, panquecas, purê de batatas e molho, junto com ervilhas, cenouras, beterrabas, cebolas e nabos eram consumidos com apetite.
Como era de costume em muitas das culturas representadas nos navios, joias, bugigangas e ocasionalmente moedas eram deixadas na mesa como uma recompensa para os cozinheiros e serventes.

* * * * *

Quando o vento parou, os remadores foram postos ao trabalho. Felizes pelo exercício, eles pegaram seus remos.
Os remos dos navios logo se transformaram em um concurso de força e resistência.
Todos os vinte e sete navios brigavam pela posição de liderança, com os navios gregos menores logo ultrapassando os barcos romanos mais lentos.
Logo depois do anoitecer, os remadores nos barcos menores largaram seus remos e ficaram apenas com a maré, esperando até que os grandes navios os alcançassem.
O Savoy chegou, e como uma abelha rainha, foi recebido enquanto os outros barcos formavam fila para a refeição da noite.

* * * * *

Karina ficava na enfermaria e era frequentemente acordada para tomar conta dos pacientes.
Antes de partir para o Afeganistão com a Sétima Cavalaria, ela estava estudando medicina veterinária. Ela tinha todos os livros didáticos, e também Anatomia de Gray, Terapia Cirúrgica Atual, Complicações em Cirurgias de Cuidados Agudos e uma dúzia de outros livros de referência médica em seu iPad.
Ela havia se tornado bastante habilidosa em tratar lacerações, ossos quebrados, e doenças menores comuns. Porém, se tratando de medicina interna, ela dependia de fotos, ilustrações e instruções dos livros para tentar aliviar a dor e o sofrimento.
Tarde da noite, alguém a chacoalhou pelo ombro enquanto sussurrava palavras que ela não entendia.
Ela se virou e viu um homem de uns trinta e cinco anos, ajoelhado ao lado da sua cama. Ele estava suado e apertava sua barriga.
Rolando da cama, Karina pensou que provavelmente era um ferimento de faca. Quando os remadores não estavam ocupados com os remos, eles se ocupavam lutando, geralmente por causa de uma mulher.
Ela sinalizou para ele deitar na cama dela e se esticar.
O homem se sentou na cama mas não conseguiu se deitar completamente reto por conta da dor extrema que sentia.
Ele continuava apertando a barriga, abaixo das costelas.
Karina puxou sua mão para ver melhor, mas não havia ferida aberta.
Colocando a palma da mão em sua testa, ela sabia que a temperatura dele estava acima de trinta e oito.
Ela colocou o capacete rapidamente. “Alguém quer ajudar em uma apendicectomia?”
“Com certeza,” Kady disse.
“Estou dentro,” Apache disse.
“Quem está dirigindo seu barco?” Karina perguntou.
“Nesse caso sou eu,” Sparks disse.
“E eu,” Jai Li disse.
“Vocês dois tem que fazer tudo juntos?” Kady perguntou.
“Sim, tudo,” Sparks disse.
Jai Li deu risada.
“Se aproxime do Essex, Sparks,” Karina disse. “Eu preciso da Kady, Tin Tin, Apache, facas afiadas e água quente.”
“Estamos dentro.”
“Eu gostaria ver como corta também,” Jai Li disse.
“Certo,” Karina disse. “Estou lendo as instruções agora.”
O fogo estava sempre ativo na cozinha do Savoy, então não demorou para que três panelas de água quente estivessem prontas para Karina.
Kady, Sparks e Jai Li trouxeram a água quente para o navio hospital.
Enquanto estudava as fotos no livro de cirurgia, Karina colocou um dedo na lateral do homem, na direita, logo abaixo das costelas.
“O apêndice está mais ou menos aqui,” ela disse.
“Mais ou menos?” Kady perguntou.
“A posição varia, dependendo do tamanho da pessoa.”
O homem gemeu e se virou para ficar em posição fetal.
“Nós temos que deixar ele reto,” Karina disse.
Quando Kady e Sparks tentaram esticar o corpo dele, ele gritou.
Jadis, que havia feito uma cama para si com a pele de urso ao fim das camas dos pacientes no convés, veio ver o que eles estavam fazendo. Ela colocou sua mão no pescoço do homem, e depois segurou sua mão. Depois de um momento, ela balançou a cabeça e soltou a mão dele.
Ela se apressou até o lugar onde dormia para pegar suas bolsas. Quando voltou, abriu uma delas e removeu uma tira de couro enrolada. Ela abriu a tira no convés; tinha uma dúzia de bolsos com abas.
Depois de pegar um copo de couro da outra bolsa, ela encheu com água quente das panelas de barro.
Os demais observavam enquanto ela pegava duas folhas secas de um dos bolsos e depois as amassou, colocando na água. Usando um pedaço curto de casca de árvore, ela mexeu o líquido até que ficou marrom escuro e morno.
Usando sinais, ela indicou para Karina que quando ele bebesse o líquido, iria relaxar e dormir.
“Ou isso ou ele vai morrer,” Kady disse.
“Seu apêndice vai explodir,” Karina disse, “e isso vai matá-lo se não conseguirmos que ele relaxe para podermos operá-lo.”
“Você tem certeza de que consegue fazer isso?” Kady perguntou.
“Não. Tudo que eu posso fazer é seguir as instruções e as imagens.”
“É melhor que não fazer nada,” Apache disse.
Karina acenou com a cabeça para Jadis dar a bebida para o homem.
Jadis indicou que eles deviam sentá-lo, então ela se sentou ao lado dele e falou suavemente enquanto levava o copo de couro até seus lábios.
Ele tomou um gole e tentou empurrar o copo.
Jadis puxou ele para seu peito, ainda falando em uma voz baixa e melódica.
“Isso parece algum tipo de canto,” Apache disse.
“É,” Kady disse, “o canto de uma encantadora.”
A expressão do homem se suavizou enquanto ele olhava nos olhos de Jadis. Ele continuou a olhar para ela enquanto bebia do copo.
Logo, o copo estava vazio, e ele estava completamente encostado em Jadis enquanto ela cantava para ele.
Dentro de alguns minutos, seu corpo relaxou.
Karina o segurou e o deitou de costas na cama.
O homem estava completamente mole e roncava levemente.
Karina virou seu iPad para Jadis ver a ilustração detalhada do apêndice.
Jadis olhou para a tela por um momento, depois sorriu. Ela disse algumas palavras e apontou para a lateral direita do homem.
“Ela diz,” Tin Tin disse, “ela nunca viu dentro disso quando vivo. Mas só depois morto.”
“Bom, agora ela vai ver enquanto ele está vivo.” Karina levantou a túnica do homem para expor seu estômago.
“Ah, não,” Kady disse. “Por que nenhum deles usa roupa de baixo?” Ela esticou um pano para cobrir suas partes privadas.
Quando Jadis viu a faca que Karina estava limpando, ela ergueu sua mão num gesto que dizia espere um pouco.
Ela abriu outra bolsa e pegou um pó vermelho. Depois de encher novamente o copo com água quente, ela jogou o pó vermelho, depois mexeu com a casca de árvore. Ela mergulhou seu dedo no liquido, levou à boca para provar, depois adicionou um pouco mais de pó.
Satisfeita com o resultado da poção, ela passou no local da incisão.
“Deve ser algum tipo de antisséptico,” Karina disse.
“Ela não é uma bruxa,” Sparks disse, “ela é uma boticária.”
“Eu espero que sim.” Karina colocou o dedo na pele tingida de vermelho, olhou novamente para a ilustração, moveu seu dedo meio centímetro para a esquerda, então mergulhou a faca no líquido vermelho. “Kady, leia aquela parte sobre onde começar a incisão”
“Seu dedo deve estar no ponto de McBurney.”
“Acho que está.”
“O ponto de McBurney está a um terço do caminho feito por uma linha que que liga o umbigo e a espinha ilíaca anterior superior direita. O que quer que isso seja.”
“Eu vi em uma das ilustrações anteriores.” Karina moveu seu dedo um pouco para a esquerda. “Certo. E agora?”
“Faça uma incisão horizontal de aproximadamente dez centímetros, usando o ponto de McBurney como o centro.”
“Ok. Quão fundo?”
“Corte a pele e o músculo oblíquo.”
Jadis molhou seus dedos no líquido vermelho, então segurou a incisão aberta enquanto Karina cortava os oblíquos.
“Uau,” Karina disse. “Aqui estão os intestinos.”
“Siga o intestino delgado até o ceco,” Kady disse.
“Ceco?” Karina perguntou.
“É o começo do intestino grosso.”
“Encontrei.”
“O apêndice deve estar ligado ao ceco,” Kady disse.
Karina enfiou os dedos mais fundo no abdômen do homem, sentindo o intestino grosso. “Eu encontrei o fim. Agora, só preciso mover em direção à incisão para que eu possa ver… puta merda! Aqui está. Deveria ser do tamanho do meu dedinho, mas essa coisa deve ter três vezes o tamanho normal. A pele está esticada e roxa “.
“Diz aqui,” Kady disse, “que essa coisa vai romper.”
“Nem ferrando,” Karina disse. “E agora?”
“Gentilmente puxe o apêndice pela incisão.”
“Puxar!!??”
“Não grite comigo. Estou apenas te dizendo o que está no livro.”
“Puxando gentilmente,” Karina disse. “Jadis, passe os seus dedos por baixo para dar um suporte.”
Tin Tin traduziu para grego.
Jadis concordou e passou seus dedos por baixo do órgão inflamado.
“Depois?” Karina perguntou.
“Usando o seu fórceps, prenda a base com um clipe para cortar o fluxo de sangue.”
“É, se pelo menos tivéssemos fórceps e clipes. Tin Tin, mergulhe seus dedos no líquido vermelho, então aperte bastante esse tubo.”
“Copiado.”
“Agora, estou achando que estamos prontos para cortar essa coisa,” Karina disse.
“Sim,” Kady disse. “Deixe o suficiente do apêndice para ser costurado com categute ou fio de seda.”
“Claro. Alguém vai buscar um gato, ou um bicho da seda,” Karina disse.
Os outros deram risada.
Karina cortou a ligação do apêndice e soltou o órgão no convés. “Esse fio de algodão vai ter que servir. Kady, corte uns seis centímetros e mergulhe no líquido vermelho. Tin Tin, continue segurando forte.”
Kady preparou o fio enquanto Tin Tin segurava o tubo.
Karina passou o fio duas vezes ao redor do tubo, apertou bem, então amarrou. “Ok, Tin Tin, solte.”
Eles observaram o tubo por alguns minutos.
“Ok,” Karina disse. “Sem vazamentos. E agora?”
“Coloque o intestino de volta em sua posição original.”
Karina cuidadosamente empurrou o intestino grosso de volta em seu lugar.
“Feche e suture os oblíquos,” Kady lia o livro.
Karina colocou fio em uma agulha, e mergulhou o fio no líquido.
“Suture a pele,” Kady disse, “desinfete, coloque bandagem, e aí você acabou.”
Dez minutos depois, Karina estava em pé, com a coluna bem reta, olhando a ferida na barriga do homem.
“O paciente deve ficar na UTI por vinte e quatro horas,” Kady leu no livro, “depois retornar em três dias para um check-up com o cirurgião.”
Karina deu risada. “Adorei a parte da UTI.”
“E eu adorei a parte do check-up com o cirurgião,” Kady disse. “Ótimos pontos, criança.”
“Muito bom trabalho,” Tin Tin disse.
“Vamos apenas esperar que não infeccione,” Karina disse.
“Eu vou me livrar dessa coisa.” Kady se ajoelhou para pegar o apêndice roxo. “Meu deus, como isso fede.”
Um pouco de líquido cinza pingou pelo convés enquanto ela o levava em direção a beirada do navio.

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A Última Missão Da Sétima Cavalaria: Livro Dois Charley Brindley
A Última Missão Da Sétima Cavalaria: Livro Dois

Charley Brindley

Тип: электронная книга

Жанр: Современная зарубежная литература

Язык: на португальском языке

Издательство: TEKTIME S.R.L.S. UNIPERSONALE

Дата публикации: 16.04.2024

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О книге: A Última Missão Da Sétima Cavalaria: Livro Dois, электронная книга автора Charley Brindley на португальском языке, в жанре современная зарубежная литература

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