O Mistrio Do Lago
Serna Moiss De La Juan
Mergulhe no misterioso mundo da natureza humana, que o levar a questionar as origens da vida. Uma excurs?o levar a protagonista pelas montanhas estreitas at uma grande esplanada ocupada por um imenso lago de guas negras ? margem de uma pequena e pitoresca cidade repleta de vizinhos amigveis. Nada faria algum suspeitar de algo escondido naquelas guas tranquilas, uma paisagem buclica durante o dia, mas o que acontece ? noite? A curiosidade da protagonista a leva a procurar respostas que v?o alm das explica??es cient?ficas e cren?as populares dos habitantes do lugar. Descubra o que acontece quando enfrentam um dos maiores desafios da ra?a humana, sobreviver ? extin??o. O que voc? teria feito no lugar dela?
O mistrio
do lago
Juan Moiss de la Serna
Traduzido por Evelyn Torre
Editorial Tektime
2020
O mistrio do lago
Escrito por Juan Moiss de la Serna
1? edi??o: Mar?o de 2020
Juan Moiss de la Serna, 2020
Traduzido por Evelyn Torre
Ediciones Tektime, 2020
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Distribu?do por Tektime
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Prlogo
Mergulhe no misterioso mundo da natureza humana, que o levar a questionar as origens da vida. Uma excurs?o levar a protagonista pelas montanhas estreitas at uma grande esplanada ocupada por um imenso lago de guas negras ? margem de uma pequena e pitoresca cidade repleta de vizinhos amigveis. Nada faria algum suspeitar de algo escondido naquelas guas tranquilas, uma paisagem buclica durante o dia, mas o que acontece ? noite?
A curiosidade da protagonista a leva a procurar respostas que v?o alm das explica??es cient?ficas e cren?as populares dos habitantes do lugar. Descubra o que acontece quando enfrentam um dos maiores desafios da ra?a humana, sobreviver ? extin??o. O que voc? teria feito no lugar dela?
Na vida h muitas ocasi?es
em que bom investigar
e procurar uma resposta
para esclarecer a verdade
Que meio nos rodeia?
Onde estamos?
Que perguntas nos fazemos?
Que explica??o procuramos?
AMOR
Dedicado aos meus pais
Sumrio
CAP?TULO 1 UM NOVO DIA (#ulink_5ac410f8-0f5d-5d2d-bb4b-6ce7b7398a85)
CAP?TULO 2 INTERVEN??O ECLESISTICA (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 3 AS NOVAS PROVAS (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 4 O EFEITO DA GENTICA (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 5 EXPERI?NCIA DE QUASE MORTE (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 6 VOLTA ? ORIGEM (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 7 UM DELES (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 1 UM NOVO DIA
Eu morri e voltei a nascer. Acordei bem cedo de manh?, deslumbrada com um poderoso raio de sol que atravessava o quarto na diagonal, vindo de uma pequena janela localizada acima da c?moda que ficava em frente ? cama, e que deixei as persianas fechadas e a cortina aberta na noite anterior.
Depois de me espregui?ar um pouco com alongamentos suaves de bra?os e costas, senti-me bastante descansada, calma e relaxada, algo que veio a calhar depois para me recuperar de uma jornada exaustiva entre aquelas colinas acidentadas.
Sentei-me na beira da cama e olhei com calma ao meu redor enquanto tentava cobrir com uma das m?os aquele irritante raio de sol que parecia destinado a n?o me deixar continuar dormindo, como se fosse um galo do interior ao nascer do sol.
N?o demorou muito para eu me situar naquele pequeno espa?o onde cabia apenas a cama em que eu ainda permanecia, e diante dela havia a c?moda em que guardei minhas roupas e a mochila no dia anterior, como pude. E aos ps do mvel estavam minhas botas, ao lado de uma pequena cadeira de corda.
Apesar de n?o parecer nada com o meu quarto espa?oso e decorado com croch?, era um lugar agradvel e confortvel para descansar por uma noite, porque n?o sei se me acostumaria a viver em um lugar t?o simples com confortos t?o humildes.
Respirei fundo e, enquanto deixava o ar sair devagar, tentei adivinhar que vida agitada se desenrolaria alm daquelas quatro paredes, uma agita??o que notei quando ouvi sons que, apesar de n?o saber de onde vinham, logo reconheci.
Me espreguicei novamente antes de me levantar de vez, e fui at a c?moda para pegar minhas roupas e me preparar para sair. Fiquei muito agradecida por terem me recebido t?o bem, a verdade que eu n?o sabia o motivo para tal gentileza, porque eu era um estranha naquela cidade.
Por alguma raz?o oculta, que eu n?o conseguia entender, senti como se tivesse chegado ao fim da minha viagem. Ao contrrio do que havia experimentado nas viagens anteriores, nesta eu n?o tive vontade de sair correndo daquele lugar. N?o antes de conhec?-lo melhor. como se, por um momento, eu tivesse perdido o impulso que sempre me fez avan?ar, seguir em frente sem saber muito bem para onde.
Parecia que eu tinha conseguido encontrar o que sempre aspirei desde pequena; um lugar em que me sinto bem-vinda e tranquila, onde a paz reina em toda parte, como eu havia lido nos comentrios de outros viajantes: que depois de visitar diferentes locais do mundo, como uma obsess?o, haviam encontrado aqui o seu lar.
Para alguns, esse lar era onde a opul?ncia e a ostenta??o reinassem para todos os lados, contagiando os habitantes quase como hipnose rumo a uma vida superficial em que a apar?ncia o que mais importa. Para outros, era a beleza das mulheres locais que sagrava o local como perfeito para morar ou descansar nos ?ltimos anos de vida.
H quem considere a histria dos edif?cios como o que faz um lugar especial, um lar, como se dessa forma pudessem compartilhar e fazer parte da histria do local. At aquele momento, eu n?o havia tido esse sentimento, pois nem a histria, nem a beleza ou a ostenta??o haviam me atra?do o suficiente para me fazer sentir plena, completa e calma.
Terminei de fazer os exerc?cios de alongamento para as costas, bra?os e pernas, exerc?cios que aprendi com um alpinista profissional que havia escalado duas vezes o Monte Everest, o pico mais alto do mundo. Um relacionamento intenso, mas banal, porque eu sabia que ele era casado com a profiss?o e n?o deixaria nada nem ningum atrapalhar seus objetivos, e foi assim que ele me abandonou para fazer seus prximos oito mil na tentativa de alcan?ar os treze picos restantes do mundo acima dessa altura.
Os exerc?cios eram movimentos simples, semelhantes aos realizados no yoga, alongar os m?sculos para evitar poss?veis les?es, submetendo o corpo a exerc?cios continuados.
Tomei banho e vesti as mesmas roupas do dia anterior, inclusive minha companheira pesada, a mochila, onde trazia tudo que julguei necessrio para todos os tr?s dias que planejei para essa viagem.
Alm do kit de primeiros socorros indispensvel, eu carregava um tapete que servia de colch?o, um cobertor plastificado para me cobrir na hora de dormir e para o caso de chover e, claro, alimentos desidratados e gua para manter a forma durante as longas caminhadas e levava fora da mochila todo o equipamento de escalada para minhas viagens ? montanha.
Depois fui para uma sala cont?gua onde j haviam posto um caf-da-manh? escasso e austero composto de um peda?o de p?o duro, um pouco de leo e um pouco de leite e, claro, senti falta de um bom caf forte do jeito que eu gostava de tomar antes de ir para o escritrio.
Depois de comer tudo sem muita vontade porque eu era uma daquelas pessoas que escolhe a comida com os olhos, e esta refei??o n?o parecia muito apetitosa, fui explorar a cidade e seus arredores, porque apesar de ter chegado ? tarde ontem, a quase aus?ncia de luz havia me impedido de ter uma ideia mais ou menos precisa de onde eu estava, algo t?o necessrio se eu precisasse regressar.
Alm disso, procurei na paisagem por elementos distintos e caracter?sticos que fossem bem vis?veis ? dist?ncia, para que me orientasse melhor, porque quando se est entre as montanhas, todas podem parecer iguais, e fcil se perder, especialmente em locais que a b?ssola nem sempre funciona devido ?s rochas ricas em ferro.
Eu costumo buscar algum tipo de irregularidade, algo peculiar, uma rvore grande que se destaca das demais, uma rocha saliente ou uma cavidade peculiar entre duas montanhas, tudo o que me permitisse saber para onde devo ir se quiser chegar ao meu destino.
Embora no come?o, quando eu estava come?ando a fazer trilhas, n?o desse muita import?ncia, a experi?ncia e o fato de ter enfrentado dificuldades imprevistas me fizeram valorizar esses pequenos truques dos alpinistas, t?o ?teis quando voc? n?o sabe para onde est indo ou quando vai querer retornar ao local de partida.
provvel que, por esse motivo, eu tenha desenvolvido um gosto pela observa??o da natureza, uma paisagem t?o diferente da que estava acostumada a ver do meu apartamento no meio de uma imensa cidade, o que, por vezes me deixava aptica, fria e impessoal.
Por outro lado, quando estou na natureza, tudo t?o diferente, como se fossem dois mundos separados, quase opostos, e a fuma?a que envolve a cidade d lugar ao ar puro; os tons de cinza e preto caracter?sticos dos prdios antigos s?o alterados pelas cores vivas e brilhantes das plantas e flores; e o barulho incessante das obras e a buzina dos motoristas desesperados s?o substitu?dos pelo som das folhas balan?adas pela brisa suave.
O que me chamou mais a aten??o foi um grande lago em frente ? vila, ficava em um vale formado por duas colinas altas que poderia ter sido a passagem de um grande rio agora extinto.
Provavelmente, as guas do lago n?o s?o o produto de uma nascente subterr?nea como em outras localidades que eu j visitei, mas sim das chuvas de outono ou do degelo das nascentes das montanhas circundantes.
E de toda a extens?o daquele grande lago que ocupava boa parte do horizonte at onde os olhos podiam ver, um pequeno detalhe me intrigou, que talvez tivesse passado despercebido a outros: a cor de suas guas, uma tonalidade que me lembrou a do petrleo, uma cor t?o escura que competia com o tom de qualquer uma das montanhas rochosas que nos rodeava.
Eu estava acostumada com a transpar?ncia das guas cristalinas das lagoas e do orvalho da manh?, ou com os tons azulados dos fiordes ou lagos mais profundos, e at com a cor esverdeada que indica a presen?a de l?quen ou algas; mas essa gua totalmente negra me pareceu, no m?nimo, desconcertante.
Aproveitando a presen?a de um dos moradores locais que passava, pedi a ele que interrompesse sua caminhada l?nguida.
? Bom dia, homem simptico, voc? poderia me dizer se sabe por que o lago tem uma cor t?o escura?
? Vejo que voc? turista. ? ressaltou, fazendo uma pequena careta com o rosto quando parou para me ajudar.
? Sim, cheguei ontem ? tarde. ? respondi satisfeita com sua suspeita.
? E vai ficar muito tempo? ? ele perguntou enquanto tirava o chapu t?pico da regi?o, e aproveitava a oportunidade para sacudi-lo um pouco.
? Eu n?o sei, s estou de passagem. ? respondi, surpresa pelo interesse dele.
? uma pena! Seria bom se os turistas ficassem por um tempo. ? comentou, recolocando o chapu e se preparando para continuar a caminhada.
? Sobre o lago ? comentei rapidamente, lembrando-o do motivo da nossa conversa.
? N?o sei como dizer, talvez por causa da cor das entranhas das rochas que formam essas montanhas, tudo que sei que a gua n?o potvel. ? continuou ele, enquanto come?ava sua lenta caminhada pelas ruas da cidade.
? uma suposi??o! ? exclamei meio perturbada e nem um pouco convencida, porque, pelo que sei, as guas provenientes do subsolo, como no caso de nascentes e fontes termais, que formam muitos lagos, em geral s?o encontradas em locais especiais e cont?m certos elementos na composi??o, como minerais ou sais que conferem certas propriedades terap?uticas.
justamente nesses locais que costumamos encontrar spas, t?o recomendados para idosos ou para tratar certas doen?as reumticas e at asmticas, com o objetivo de aproveitar essas propriedades especiais da gua, tornando-se uma refer?ncia e um dos maiores atrativos da regi?o.
Uma cidade que esteja perto de um lugar assim pode ser considerada aben?oada, uma vez que, em torno desses spas, que s?o lugares projetados para se recuperar a sa?de ou simplesmente descansar e relaxar, todos os tipos de negcios surgem para atender a qualquer necessidade ou capricho que o cliente possa ter.
Mas, neste caso, n?o h constru??o alguma perto do lago que pudesse tirar vantagem das guas, nem mesmo um pequeno cais onde os turistas possam se aproximar para contemplar sua extens?o, n?o havia um ?nico barco para servir de meio de transporte de turistas em busca de divers?o.
Olhando para todos os lados, percebi que a pequena cidade de no mximo vinte casas parecia um pouco negligenciada, diria at que abandonada, com paredes e tetos um tanto lascados, com sinais bvios do desapego de seus habitantes. como se eles n?o tivessem muito interesse em promover aquela apar?ncia quase id?lica que outras aldeias almejam para atrair o turismo de fim de semana ou como no meu caso, turismo de montanha.
Como se n?o tivessem pressa pelo muito desejado progresso e prosperidade econ?mica. Um pequeno investimento em reformar as fachadas, pavimentar melhor a rua principal e, assim, tornar a cidade mais atraente, seria muito recompensado com o fluxo maci?o de visitantes e, por conseguinte, viriam comerciantes, prestadores de servi?os e todos os tipos de classes ca?a-fortuna dispostos a comprar, alugar e investir para colocar estandes de lembrancinhas, hotis, bares e restaurantes.
Mas essas pessoas n?o demonstravam o menor interesse em mudar, viviam como seus pais e avs, desconectados do mundo exterior e, o pior de tudo, sem interesse algum em saber o que estava acontecendo l fora.
Essa percep??o me levou a verificar e descobrir que em nenhum dos picos adjacentes era poss?vel ver uma dessas antenas telef?nicas t?o controversas, porque, embora ainda n?o houvesse veredicto cient?fico claro; parecia que eram a causa do aumento de doen?as t?o srias quanto o c?ncer, ainda mais entre a popula??o mais indefesa, como crian?as, mulheres grvidas e idosos, que levou vrios pa?ses a promulgar leis contra essas instala??es perto dos centros de estudo e creches.
Tambm n?o encontrei nenhuma daquelas antenas de televis?o horrendas nos telhados das casas, que s?o t?o feias e danificam bastante a paisagem. bem comum que ao observar o cu em algumas cidades ou quando se sobe nos telhados, constatar como o horizonte foi literalmente tomado por milhares desses artefatos de metal.
E, para minha surpresa, n?o havia nem mesmo os postes de ilumina??o, t?o necessrios, que se tornaram uma parte indispensvel da paisagem nos campos e nas cidades; pela necessidade de que a eletricidade chegue a qualquer casa e, assim, perceba, se cozinhe, lave roupas, etc. Que se realizem as infinitas tarefas que, de outra forma, seriam imposs?veis pelo menos em um local civilizado.
Esse aspecto um tanto negligenciado do lugar e a aus?ncia de qualquer ind?cio de modernidade contrastavam com a aparente boa sa?de de seu povo, e que at mesmo os mais idosos pareciam geis e sem dores, ningum carregava uma ?nica bengala ou muleta, e olha que o ch?o era bastante escorregadio, cheio de pedras usadas como paralelep?pedos nas ruas, o que seria garantia de pelo menos uma entorse se n?o se tomasse cuidado.
Mas eles pareciam t?o alheios a todas essas aus?ncias, andando de um lugar para outro com tanta tranquilidade que duvido que a maioria precisasse cumprir alguma obriga??o, porque com a pouca pressa com que se mudavam, n?o teriam tempo para cumpri-la.
Aproximando-me de uma das mulheres, vestida com roupas escuras, e que cobria a cabe?a com um len?o preto, sentada em uma cadeira de balan?o de sua casa, tomando banho de sol em paz, tentei obter mais informa??es sobre esta aparente falta de interesse das pessoas ? beira do lago.
? Bom dia, senhora. Posso fazer algumas perguntas? ? falei com ela sem saber se ela estava acordada, pois seus olhos estreitados n?o me deixaram adivinhar.
? Minha nossa, uma turista! ? ela exclamou sem demonstrar o menor choque, e sem abrir os olhos.
? Sim, cheguei ontem ? noite. ? respondi, como fiz com o morador anterior, um tanto surpresa com a atitude dela.
? O que trouxe voc? aqui? ? ela me perguntou antes que eu pudesse interrog-la sobre o lago, e iniciou um movimento repetitivo de balan?o que foi acompanhado pelo rangido caracter?stico de sua cadeira.
? Gosto de montanhismo, e essa era uma rea que eu n?o conhecia. ? respondi, ainda sem saber onde estava.
? N?o me surpreende. ? ponderou ela, colocando a m?o na frente do meu rosto para cobrir o sol e me ver melhor, enquanto abria aqueles olhos cinzentos.
? Bem, eu gostaria de saber mais sobre o lago, porque sua cor chamou minha aten??o ? tentei jogar a pergunta de forma rpida.
? Vai ficar por quanto tempo? ? a mulher me interrompeu sem me deixar explicar, fazendo um movimento para se levantar, enquanto parava o balan?o lento e silenciava o ru?do de sua cadeira de balan?o.
? Eu n?o sei, um ou dois dias. ? respondi meio em d?vida, sem saber muito bem o que traria tanto interesse, j que a outra pessoa com quem conversei fez a mesma pergunta.
? Uma pena! Se tivesse tempo, se pudesse ficar at a prxima lua, ent?o veria como o lago bonito. ? ela comentou com um sorriso largo, enquanto se recostava e recome?ava o movimento oscilatrio.
? Bem, n?o sei quando ser, mas voltando ao assunto, saberia dizer por que o lago dessa cor? ? perguntei na tentativa de retomar o assunto que me interessava.
? Eu n?o sei sobre essas coisas, apenas que assim. ? disse ela, indiferente, enquanto fechava os olhos para continuar seu sono e repouso.
? E voc? sabe por que a gua n?o potvel? ? eu insisti, lembrando das informa??es que o morador anterior havia me dado, chateada pela passividade da mulher.
? A ?nica coisa que posso dizer que um lugar sem vida e, portanto, n?o adequado para uso, por isso preferimos deix-lo como est. ? concluiu ela, um pouco irritada porque a conversa tornara-se muito longa, e moveu a m?o com parcim?nia, de um lado para outro, um gesto para que eu fosse embora.
Depois de agradec?-la por suas palavras, me voltei intrigada em dire??o ao lago, para v?-lo mais de perto, permanecendo pensativa ante aquelas breves palavras escutadas dos habitantes que pareciam n?o se preocupar em ter um lago t?o grande na frente deles e, tambm, sem poder aproveit-lo de nenhuma maneira.
Eu j havia lido sobre alguns tipos de guas que n?o s?o boas para o consumo porque cont?m certos microrganismos ou simplesmente porque possuem altos n?veis de subst?ncias txicas para o corpo humano, seja ars?nico, enxofre ou qualquer outro elemento nocivo presente nos confins da Terra.
Chegando quase ? margem, subi em algumas rochas que podiam servir de assento improvisado, e assim contemplar aquele estranho fen?meno em estado l?quido, do qual mal consegui obter algumas palavras dos habitantes locais, n?o muito mais que ideia repetida de que a gua n?o boa para consumo.
Fiquei sentada em frente ao lago por algumas horas, admirando a cor que nos impedia de adivinhar o que havia nas profundezas de suas guas, sendo o comprimento a ?nica caracter?stica bvia, pois n?o havia nada que indicasse um rio ou cachoeira nas proximidades que fornecesse gua corrente, mas, ainda assim, algo me surpreendeu, porque mesmo ? curta dist?ncia em que eu estava, ainda n?o havia notado nenhum efeito negativo em minha sa?de, nem mesmo o mau cheiro que costuma ser t?o caracter?stico de reas com subst?ncias perigosas ou em lagoas e reservatrios com guas estagnadas.
Logo fiquei encantada vendo as nuvens flu?rem em um ritmo lento atravs das fendas das montanhas, ou acima de seus picos, e n?o pude evitar a compara??o com a caminhada dos habitantes daquele lugar que pareciam despreocupados com a passagem do tempo, alheios ao pulso frentico de uma cidade.
Aqueles conglomerados espumantes de gua evaporada formavam imagens curiosas, ?s vezes fceis de identificar como um animal, e que mudavam ao capricho do ar, refletindo-se como se a superf?cie negra daquele lago fosse um espelho.
Mas, por mais que eu insistisse, n?o consegui ver o menor vislumbre de movimento em sua superf?cie, como se a gua daquele lago estivesse imune aos influxos da brisa que, em qualquer outro lago provocaria pequenas ondas, suaves e espumosas, que bateriam contra a margem, mas n?o havia vest?gios da menor perturba??o, como se as guas fossem uma subst?ncia viscosa e impenetrvel, mais parecida com componentes oleosos como o leo.
Alm disso, n?o havia nada vivo ao redor, nenhuma planta, por menor que fosse, crescendo nas proximidades de lugares ?midos ou l?quen nas rochas onde eu estava, ou algas na superf?cie daquele lago, n?o se via nada vivo perto de mim.
Isso em rela??o ao que vi, mas mesmo acostumada ?s mudan?as entre a cidade e o interior onde os sons s?o mais sutis, n?o conseguia ouvir o menor ru?do naquele lugar que era, sem d?vida, prop?cio para se descansar e relaxar, mas n?o se ouvia nem sapos nem pssaros.
O que, sem d?vida, me confundiu bastante, porque em locais calmos, por mais baixo que seja o ru?do produzido, ele se expande por longas dist?ncias, enquanto na cidade, ?s vezes voc? precisa gritar para que a pessoa ao seu lado entenda suas palavras.
Tanto assim que, para verificar se, por algum motivo meus ouvidos estavam comprometidos disse o que as crian?as com tanta euforia fazem quando veem alguma gruta ou cavidade que possa gerar eco e gritei Eco e, depois de alguns instantes Nada, tentei novamente mas virada para outro lado, desta vez com mais for?a e nada.
Bem, pode ser que, por ser um local aberto, eu n?o tivesse a sonoridade necessria para formar o eco, o que havia ficado claro era que eu escutava bem. Estava segura de que n?o estava com os ouvidos entupidos nem nada parecido.
Mas, por n?o ter vida no local, nem mesmo aqueles animais pequenos e inoportunos, que costumam estar prontos para atacar tudo o que se move ou pelo menos incomodar como: moscas, mosquitos e uma srie de insetos que vemos em ambientes rurais assim.
E de todas essas inconsist?ncias, isto era o que mais me impressionara, porque em muitos lugares onde h ac?mulo de gua, se concentra muitos insetos, alguns atra?dos pela vida que gerada ao redor e outros esperando por visitantes desavisados para dar as boas-vindas. N?o notei nenhum deles, mas durante todo o tempo em que estive l, n?o vi nenhum, por menor que fosse. Tal descoberta me encheu de medo por um instante, tanto que at me fez dar um pulo enquanto eu me perguntava: E se fosse verdade que a gua era txica?, talvez eu tivesse me apressado em me aproximar sem tomar nenhuma precau??o, porque embora eu n?o apresentasse sintomas como asfixia ou tontura, eu n?o conseguia adivinhar o que causaria a aus?ncia de animais voando na rea. Bem, decerto prefiro pensar que as aves haviam migrado e n?o que morreram todas por envenenamento.
Depois de olhar para todos os lados e verificar se eu estava sozinha e que parecia n?o haver sinal de perigo, sentei-me na rocha, onde me sentia segura, porque apesar de estar perto da margem era uma dist?ncia boa o suficiente para n?o cair por descuido.
E abandonei qualquer ideia de que, quando o sol trrido atingisse seu auge, talvez conviesse entrar no lago para banhar-me, ou pelo menos refrescar os ps na beira sem precisar entrar totalmente.
Algo t?o inocente que eu j havia feito tantas vezes sem problemas era agora visto por mim como um poss?vel risco para a sa?de, pois n?o sabia se o simples contato com a gua negra era suficiente para me deixar doente ou se apenas a ingest?o era malfica.
Eu estava no alto da pedra, deitada e relaxada, os olhos semicerrados e quase adormecida, meu olhar observava as nuvens quase que em hipnose, quando percebi algo muito estranho, era um som abafado, como se ouvisse a voz de algum com a orelha grudada em uma porta.
Tal foi o susto que pensei que algumas pessoas haviam me visto e que haviam se incomodado, e que de alguma maneira eu provocara um esc?ndalo e que deveria ir embora dali.
Olhei rapidamente para todos os lados, meu cora??o ainda estava apreensivo, mas n?o vi ningum, e n?o tinha ideia de onde vinha aquele barulho contundente. Eu estava sozinha naquele lugar, sentada na pedra sem ningum por perto quando aquela sensa??o voltou, talvez at mais forte.
Agora eu estava bem atenta, mas n?o conseguia descobrir de onde vinha, e se eu n?o soubesse que era imposs?vel acharia que algum estava batendo na rocha por baixo, porque eu podia sentir o tremor.
Fiquei um pouco preocupada com isso, me mantive em alerta, olhei para todos os lados, sem identificar nada de diferente, me preparei para sair de l ?s pressas quando acontecesse de novo, como se a rocha estivesse oca e a tivessem atingido com viol?ncia; mas n?o podia ser, n?o havia ningum l e rocha me parecia slida.
Naquele exato momento, talvez por reflexo, olhei para o lago para ver se havia ondas na superf?cie em decorr?ncia do tremor, como acontece quando uma pedra lan?ada na gua, e percebi que algo muito estranho estava acontecendo, a superf?cie que at aquele momento permanecia calma e imvel, parecia estar abaulada e come?ava a afundar no centro. como se tivessem retirado a tampa de uma banheira e o ralo drenasse com for?a, mas a calma do lago n?o foi interrompida por muito tempo, o formato c?ncavo se sustentou apenas por alguns segundos e depois voltou ao estado normal.
Tal percep??o me deixou alarmada, n?o entendia o que estava acontecendo, erai a primeira vez que via algo assim, como se algo debaixo da terra se deformasse e refletisse na superf?cie.
Assustada com o que ouvi e vi, corri em dire??o ? cidade, n?o muito longe, t?o destrambelhada que quase ca? da boca ao descer das pedras grandes, mas consegui impedir a queda no ?ltimo instante ou meu rosto ficaria gravado no solo. Depois de me levantar, e sem me importar com as m?os machucadas pelo acidente, continuei correndo, a respira??o entrecortada, n?o ousei olhar para trs.
Corri o mais rpido poss?vel nos trechos que serviam de rua, mesmo correndo o risco de cair de novo, sem saber o que estava procurando, explica??es ou abrigo.
Procurei em todos os lugares para ver se encontrava um morador para pedir ajuda, porque afogada pelo esfor?o n?o conseguia produzir o menor som que pudesse soar como um pedido de ajuda. Mas, apesar de me afastar daquele lago o mais rpido que podia e desse estranho perigo, eu ainda tinha aquela sensa??o avassaladora de que n?o estava bem.
Como pude, continuei correndo para onde ficavam as casas e, quando cheguei, n?o vi ningum, algo ainda mais estranho, porque, quando sa?, havia cerca de uma d?zia de vizinhos, entre os que andavam de um lugar para outro e os que sentavam-se tomando banho de sol na tranquilidade, mas agora, agora tudo estava deserto.
Talvez eles estivessem t?o assustados como eu e se trancaram em suas casas, refugiando-se, esperando que acabasse, fosse o que fosse, eu n?o tinha tempo para mais nada, nem queria descobrir esse mistrio, estava mais preocupada em me salvar.
Cheguei na casa de quem me recebera na noite anterior, cujo dono estava preparando a comida quando sa?; era um homem velho, que os vizinhos me disseram, ? minha chegada, ser o ?nico que possu?a um quarto vago, porque sua filha havia deixado a cidade h muito tempo, havia se apaixonado em uma viagem de estudos. Ent?o a casa dele se tornou uma pousada improvisada, onde eu poderia ficar o tempo que precisasse.
Procurei por ele em todos os c?modos e n?o consegui encontr-lo, seja na cozinha ou em qualquer outro lugar, o que me deixou muito mais nervosa, pois pensei que estaria segura ali, mas agora tambm duvidava que assim fosse.
Corri para o meu quarto e fui imediatamente para a c?moda. Eu procurei ansiosamente entre as gavetas sem encontrar o que estava procurando em meus pertences. Abri as pequenas portas com a chave que permanecia na fechadura e, procurando nos meus pertences, por fim encontrei minha mochila.
Respirei fundo, olhei dentro, esperan?osa, atrs do pequeno aparelho que poderia salvar minha vida, o telefone celular e ligar para a emerg?ncia.
Eu nem me lembro de ter tido esse necessidade antes, porque tive a sorte de nunca me envolver uma situa??o que a gravidade demandasse tal aux?lio, pelo menos n?o desde que comprei um, pensei enquanto um vu grosso era tirado de minhas lembran?as, trazendo-me momentos amargos ? tona. Uma vida que eu havia me esquecido.
Assustada, perdida e agora entristecida, eu n?o conseguia me acalmar o suficiente para me acostumar com aquilo, apalpei todos os lugares at apertar o bot?o de ligar, digitei a senha e depois, fiquei parada, imvel, n?o tinha certeza de que era capaz de encontrar uma explica??o para a situa??o estranha que estava vivenciando.
Mal havia pressionado os tr?s n?meros, pensei ter ouvido o primeiro toque, o segundo mas n?o era o que estava acontecendo. Olhei para a tela e vi a inexplicvel mensagem de Fora da rea de cobertura.
N?o se dizem que funcionam no mundo todo? Contrariada, desliguei e voltei a tentar outra vez, esperando obter um resultado diferente, mas a mesma mensagem voltou ? tela.
Tremendo, tentei ligar para qualquer n?mero da minha lista, tentei entrar em contato com qualquer pessoa que pudesse pedir ajuda, mas nada, a mesma mensagem.
Eu estava com tanto medo, pois at ent?o, sempre que eu usava o telefone, havia alguns amigos do outro lado com quem eu podia compartilhar meus momentos bons ou ruins, mas agora, que eu tanto precisava, n?o havia ningum.
Irritada, joguei o aparelho na cama com desprezo, e tentei deixar a casa para seguir a outro lugar mais seguro, na corrida frentica que s fora interrompida pelos breves minutos que tentei usar o telefone.
Eu quase ca? quando cheguei ? rua de paralelep?pedos, quando pensei ter reconhecido um grande edif?cio branco, que se destacava em altura em meio ?s demais casas por conta de seu campanrio. Eu corri, meu corpo envolto em suor e a respira??o acelerada, queria me refugiar naquele templo, onde supus que sempre deveria haver algum, em uma celebra??o ou apenas rezando.
? medida que me aproximava, suas dimens?es aumentavam e, com muita estranheza, eu me senti mais calma e segura, tanto que at diminu? o passo antes de chegar ?s portas.
Puxando os anis que ficavam no centro das grandes portas, abri-as depressa e entrei em busca de um dos moradores locais, porque o susto que havia sentido no lago havia se tornado uma estranheza e depois em medo pela aus?ncia de qualquer vida naquela cidade.
E para minha surpresa tambm n?o havia ningum l, depois de inspecionar o confessionrio, corri por entre os bancos e fui ? sacristia para ver se pelo menos o padre estava l, mas tambm n?o o encontrei.
Sozinha, exausta e assustada, parada no meio da igreja, minhas for?as me derrotaram e deixei meu corpo cair, como chumbo, em um daqueles bancos longos. Chorando de nervosismo, com as m?os machucadas pela queda, fiquei onde estava, tremendo pelo esfor?o feito.
E naquele momento de desespero, com fiz tantas vezes quando era crian?a, olhei para o Cristo, que havia sido pregado na cruz, e estava pendurado no alto do teto, suspenso sobre o altar. Inspirei fundo, fechei os olhos devagar e me preparei para rezar e pedir por ajuda, quando de repente senti que algo ou algum estava tocando meu ombro enquanto ouvia,
Acorde, senhora! Est na hora de comer. sussurrou uma voz rouca, falhada pela passagem do tempo.
O qu?? Onde? O que aconteceu? perguntei, intrigada quando me recuperei, olhando em volta.
Depois de alguns segundos, quase o suficiente para me recompor, percebi que tudo havia sido uma espcie de sonho, embora parecesse mais um pesadelo, porque eu estava sentada em frente ao lago, na mesma pedra em que fiquei por horas, aquela pedra que antes me pareceu oca.
Olhei em volta e n?o vi nada no lago, nenhuma imperfei??o em sua superf?cie e do outro lado, a cidade e seu povo ? dist?ncia, esse morador ao meu lado, e era o homem que me havia recebido em sua casa que agora me avisava que a comida estava pronta.
N?o sabia o que dizer, porque n?o conseguia entender o acontecido, n?o me lembrava de ter passado por tal experi?ncia antes, nada que pudesse ser comparado. Bem, sonhava como todo mundo, mas tudo havia sido t?o real que fiquei surpresa por n?o ter de fato acontecido, mas claro que n?o poderia ter me vindo t?o rpido da igreja at aqui, ent?o aceitei que era sonho.
Olhei para as m?os e n?o havia vest?gios dos hematomas que arrumei ao descer da pedra, inspecionei minhas roupas e n?o havia a menor sugest?o da queda, apesar de sentir uma estranha acelera??o na respira??o.
Toquei uma das cartidas com a m?o, as artrias que percorrem a face externa do pesco?o de cada lado e que costumamos sentir para medir o pulso. Depois da contagem de um minuto, percebi que estava acelerado demais. Quase excessivo. Isso poderia explicar por que eu estava encharcada de suor, apesar de tudo indicar que eu n?o havia sa?do daquela rocha.
Depois de me certificar de que tudo estava como antes do sonho, desci com cuidado daquela rocha, para evitar cair e fui com o homem at a cidade. Fiquei t?o feliz por poder ver algum que me dava a sensa??o de seguran?a, de modo que, durante todo o caminho de volta, eu o segurei pelo bra?o, algo que o homem n?o parece ter se importado, porque n?o fez nenhum gesto de desaprova??o, pelo contrrio, parecia feliz com a minha decis?o.
Apesar da intensa e detalhada experi?ncia que tive, eu n?o sabia se deveria contar a algum, quem iria acreditar em mim? Nem meus amigos entenderiam tudo o que eu havia sentido naqueles momentos de grande solid?o e desespero.
Havia tantas emo??es e memrias v?vidas que eu me senti estranha. O sonho havia despertado sentimentos que eu pensava terem sido esquecidos e outros da inf?ncia que considerava perdidos no tempo.
A ang?stia vital causada pela solid?o, por n?o encontrar quem me entendia e compreendia; o desespero para encontrar uma sa?da, de fazer o meu caminho na vida, apesar dos muitos obstculos e preconceitos que tive que superar; a dor da perda abandono dos entes queridos; a devo??o religiosa em que fui educada e que n?o pratiquei mais tantas emo??es vieram ao presente como um dil?vio sem poder entender o motivo disso.
Mesmo com essas sensa??es ? todo o vapor, quando chegamos ao chal, larguei o bra?o daquele homem e fui depressa ao meu quarto fazer aquilo que fiz durante o sonho de instantes antes, pegar meu telefone.
Tirei da mochila, liguei, disquei o n?mero de emerg?ncia, e o coloquei no ouvido. Um toque, dois toques
Bom dia, emerg?ncia, como podemos ajud-lo? era a voz de uma mulher de meia idade do outro lado da linha.
Fiquei surpresa pela sauda??o, suponho que seja o que deveriam dizer, mas, como j havia tentado sem sucesso, nem sequer havia preparado o que dizer.
Desculpe, estava testando o aparelho. respondi hesitante. N?o aconteceu nada, desculpe.
Dito isto, desliguei sem dar tempo para que a senhora me dissesse mais alguma coisa, coloquei o telefone no peito e respirei fundo. Fiquei tentada a ligar para um de meus amigos, mas n?o vi a necessidade de incomod-los apenas para ouvir a voz de um deles, pois j havia verificado que o celular funcionava bem, sinal forte a e boa comunica??o com o mundo exterior.
Depois de trocar de roupa, fui para a cozinha, onde o homem havia me deixado um prato de comida pronto, surpresa com a atitude de ir me buscar para comermos juntos.
Muito obrigada, mas fiquei com fome enquanto preparava. disse o homem, recusando meu convite.
Dito isto, ele pegou uma cadeira e saiu de casa para ficar ao lado da porta e, sentando-se sossegado, come?ou a aproveitar o sol, me deixando sozinha na cozinha para que eu pudesse comer.
Embora o caf-da-manh? tivesse sido bastante escasso, a comida de agora parecia desproporcional. Alm de outro peda?o do mesmo p?o duro, havia o que parecia uma sopa de legumes, embora parecesse gua com peda?os quase transparentes de cebola flutuante.
Nada a ver com a multiplicidade de vegetais esmagados, como cenoura, tomate, cebola, piment?o ou couve-flor, que poderiam estar ali para torn-la uma verdadeira sopa juliana e n?o um caldo simples de cebola. Deveria ser um consom? t?pico da regi?o ou algo assim.
Ent?o, em vez de uma salada abundante e brilhante, com todos os tipos de vegetais cortados em peda?os grandes, com alface, piment?o, pepino, tomate, cebola, cenoura e salsa, havia apenas uma pequena escarola com azeite
No prato principal, por mais que eu chafurdasse, n?o havia sinal de nada, nem um bife feito na grelha, nem peixe fresco fumegante e grelhado, ou nem mesmo um ensopado simples com lingui?a e bacon.
E ainda por cima, n?o vi nada para a sobremesa, apesar de gostar de uma fonte colorida de uma variedade de frutas de todas as cores imaginadas, com peras, ma??s, laranjas, tangerinas, bananas, damascos, p?ssegos, uvas, melancias, mel?es, abacates, n?speras, cerejas, morangos, cerejas, figos ou qualquer outro fruto selvagem, mas n?o havia nada.
Acho que o homem tambm comeu pouco, pois para compensar a escassez, encontrei um punhado de pinh?es, como se fossem um pedido de desculpas ou algo parecido.
Acredito que foi por causa da minha chegada imprevista ?quela cidade que meu anfitri?o se viu obrigado a improvisar e n?o tivesse alimentos suficientes para me receber, como seria normal em outra hospedagem. Mas, em vez de comprar outra coisa para me oferecer, ele estava sentado pacificamente ao lado da porta, ent?o, temo que ele n?o tenha muito interesse em resolv?-la, ent?o prevejo um jantar bem ralo ? minha espera esta noite.
Embora fosse poss?vel, que esta era a ?nica coisa que comiam nesta cidade, por ser t?o alto e com uma terra t?o austera e cheia de pedras, talvez fosse dif?cil para o campo produzir qualquer coisa.
N?o seria de esperar que eles pudessem tirar muito proveito daquelas rvores circundantes, alm dos pinh?es, pois n?o era lugar prop?cio ? rvores frut?feras.
Alm disso, estando t?o isolados e sem uma estrada adequada, seria muito dif?cil chegar cargas com regularidade e, portanto, se acostumaram a lidar com a escassez, a fim de sobreviver entre cada distribui??o.
Com uma dieta como essa, n?o me surpreende que os habitantes desta cidade pare?am t?o bem de sa?de, porque, apesar da idade que aparentam, se movem com bastante agilidade, tanto que podem at competir comigo.
O dono da casa, que apenas alguns minutos atrs havia me deixado na cozinha, me trouxe t?o rpido desde a rocha que eu quase pensei que estvamos competindo. Um passo constante e acelerado que me custou para seguir de bra?os dados com ele. Ele manteve o ritmo durante a caminhada sem mostrar sinais de fadiga.
Algo me incomodava com essa situa??o, de que a comida rala era me dada de forma intencional para eu n?o me recuperar e continuar com minha viagem. Poucos alimentos que, apesar de bem preparados, n?o eram um manjar para os olhos.
Eu era uma daquelas pessoas que, mesmo sem comer demais, precisavam da ingest?o de muitos nutrientes diariamente, n?o poderia faltar frutas e legumes em meu prato, e mesmo assim nunca ganhei peso.
Minha figura, quase estilizada, n?o era o resultado de uma daquelas dietas que costumam ser seguidas pelas modelos, na qual elas se alimentam de um ?nico alimento, seja uma fruta ou vegetal, apenas ele quantas vezes voc? desejar por dia, como a dieta de bananas, ma??s ou mel?es.
A esse respeito, ouvi dizer que, embora aparentemente os resultados desejados possam ser alcan?ados, pois perdemos rapidamente muitos quilos, a descompensa??o que ocorre no corpo atravs da remo??o de subst?ncias necessrias para o bom funcionamento pode levar a problemas, at graves, para a sa?de.
Tambm n?o sou uma dessas mulheres que passam horas e horas na academia, tentando queimar qualquer ind?cio, por menor que seja, do ac?mulo de gordura que poderia ser produzido. Alm disso, eu n?o teria paci?ncia suficiente para realizar exerc?cios com pesos todos os dias, apesar das mudan?as por causa dos grupos musculares trabalhados; nem acredito que seria capaz de cumprir um desses circuitos exaustivos, nos quais a cada cinco minutos voc? deve passar de um dispositivo para outro, que, se voc? andar pela esteira pela primeira vez, depois pedalar com a bicicleta, ent?o exercitar o maior n?mero de m?sculos do corpo em um ?nico dia; eu n?o conseguia nem terminar uma s com sucesso, e sem me perder pela metade, uma daquelas sess?es de aerbica ou em qualquer uma das modalidades modernas que surgiram com base no mesmo princ?pio de realizar numerosos movimentos coordenados no menor tempo poss?vel e tudo frente ao espelho.
Sou simplesmente assim, uma mulher delgada, como toda a minha fam?lia, ent?o suponho que tenha muito a ver com a gentica. Portanto, manter a linha sempre foi algo que nunca me preocupou em excesso, ao contrrio de alguns de meus amigos, que est?o sempre discutindo o mesmo tpico, analisando o que podem comer ou n?o e quantas calorias tem em cada refei??o, quais alimentos comer para saber se n?o v?o exceder o mximo permitido por dia.
Tambm acho que ajuda a me manter em forma o fato de que quase todo fim de semana vou fazer caminhadas nas montanhas e, por qualquer motivo, n?o me apetece ir t?o longe, ou se est chovendo e com mau tempo, fa?o uma rpida sess?o de caminhada na pista coberta do centro esportivo ao lado de minha casa.
Um pouco de exerc?cio sempre me ajuda a me sentir bem comigo mesma e, se puder ser no meio da natureza melhor ainda, algo que me revitaliza e me enche de energia, expelindo do meu corpo qualquer toxicidade que possa ter acumulado durante meu dia de trabalho.
Mas eu n?o como fora de hora, nem petisco j que tento trazer algum equil?brio para a vida, valorizo o que fa?o e como, guiada por essa mxima nutricional que gosto de lembrar pelo menos uma vez por dia, mens sana in corpore sano, cuja tradu??o seria mente saudvel e corpo saudvel.
Apesar de ter tido provas, em mais de uma ocasi?o, que eu posso comer qualquer coisa, prote?na, carboidratos ou gorduras, pois tudo se queima rapidamente com minhas atividades dirias. E se restava alguma reserva, eu a eliminava nas minhas escapadas de fim de semana, nas quais o corpo consumia tudo o que podia.
Por isso, me acostumei a boa comida, n?o que fosse muito exigente em termos de variedade de pratos, mas em rela??o ? quantidade, tentando comer pouco, mas tudo.
Para mim, a pior coisa quando se tratava de comer e, portanto, que eu costumava evitar ao mximo eram aquelas saladas cheias de grandes folhas, t?o pesadas para digest?o e com t?o poucos nutrientes.
Ent?o, com tudo ? minha frente, fiz coragem e comecei a comer devagar, sabendo que o velho havia preparado com o pouco que deveria ter, ent?o n?o queria desprez-lo.
Alm disso, como havia feito no caf-da-manh?, fui para meu quarto quando terminei tudo e complementei com alguns dos alimentos ricos em minerais que trouxe na mochila.
Desde que descobri uns biscoitos desidratados que os militares costumam consumir nas competi??es e que s?o recomendados nos manuais de sobreviv?ncia, nunca me deixei ficar sem eles e os levo comigo aonde quer que eu v, na mochila quando vou caminhar, na bolsa do trabalho ou no bolso da cal?a em uma rpida sa?da para compras.
Para mim, era um tipo de seguro-sa?de, porque era uma fonte de energia nos momentos em que eu sentia as for?as me escapando por causa do esfor?o ou, simplesmente, para reunir uma boa quantidade delas durante o descanso.
Eles eram t?o importantes para mim que eu sempre trazia muitos, a data de validade era longa e pesavam t?o pouco, que eu n?o precisava calcular tanto a quantidade e correr o risco de ficar sem.
Especialmente porque nas montanhas comum compartilhar suprimentos com outros viajantes ou alpinistas que se encontra no caminho, que por qualquer motivo perderam ou consumiram todos os seus recursos. Por esse mesmo motivo, sempre carregava o dobro da quantidade de gua necessria para a viagem de ida e volta. Dessa maneira, antes mesmo de sair, era poss?vel minimizar os efeitos de qualquer imprevisto que possa surgir, da? o ditado mulher cautelosa vale por duas.
Depois que terminei de comer o que podia e com a sensa??o de est?mago pesado, fui para o meu quarto suplementar meus nutrientes com os biscoitos desidratados. Algumas pessoas riam porque parecia comida de cachorro, mas eu preferia compar-los ? comida dos astronautas.
Depois de recolher tudo no meu quarto, quis dar um passeio, porque o costume quase religioso de tirar uma sesta aps o almo?o me parecia quase que perda de tempo, porque o corpo, pelo menos o meu, se recupera da fadiga ? noite e n?o ao meio-dia.
poss?vel que, em alguns pa?ses mais quentes, perto do equador, ou perto de algum deserto, esse costume seja uma espcie de defesa natural para evitar a exposi??o ao sol nas horas de maior intensidade, mesmo que seja bom para facilitar uma digest?o pesada como a que eu estava sofrendo agora; mas n?o era costume para mim ou minha fam?lia, ent?o n?o o fazia.
Sa? com cuidado para n?o interromper o sono profundo de meu anfitri?o improvisado, que dormia pacificamente sentado em uma cadeira ao lado da porta, e olhei para os dois lados da cidade para decidir qual caminho seguiria.
? minha esquerda, o caminho das pedras descia como uma rua, para fora da cidade e seguindo at chegar ao lago grande e preto, uma ideia que eu logo descartei, porque ainda sentia calafrios ao me lembrar dos momentos vividos antes de comer.
Do outro lado, subia a estrada para a parte superior da cidade, que eu ainda n?o havia explorado, porque, quando cheguei, mal tive que percorrer alguns metros antes de descobrir onde dormiria. Tambm era um pouco tarde e ? luz do sol estava para desaparecer por detrs dos penhascos das montanhas circundantes, ent?o eu preferi me abrigar e descansar para hoje.
Eu n?o precisei pensar demais para decidir sobre a segunda op??o. Sem me despedir do meu anfitri?o e tentando n?o fazer muito barulho ao sair, ele ainda soava aquele c?ntico inconfund?vel de inspira??es for?adas e sons bufantes, o que denotava alguma paz interior e absoluto desprezo pelos problemas mundanos.
Caminhei com calma pela avenida de paralelep?pedos ladeada de casas, sem parar demais para contempl-las, pois do lado de fora eram todas iguais, ent?o, quem via uma, via todas. Casas de um pavimento com telhado alto e telhas duplas. Telhas comuns a lugares que nevam muito com certa frequ?ncia. Evitam o ac?mulo dos flocos no telhado e o problema que isso traz por causa do peso.
Alm disso, claro, todas tinham uma chamin fina e alta de um lado, o que garantia a sobreviv?ncia de seus inquilinos quando a temperatura ca?a vrios graus abaixo de zero, fundamental para as noites frias de inverno.
Quase que por instinto, olhei para o cu claro acima da minha cabe?a e imaginei, por um momento, como seria uma daquelas raridades da natureza daqui, um presente caprichoso da vida que apenas alguns t?m o privilgio de poder contemplar, uma aurora boreal. Iluminando o cu frio de inverno, quebrando a monotonia da escurid?o da noite, limpando o horizonte com as estranhas mas maravilhosas silhuetas.
Um dos fen?menos da natureza mais atraentes em que tanto a Terra e o Sol se envolvem em termos iguais. O produto da colis?o de eltrons do vento solar com os da atmosfera da Terra. Uma dan?a indescrit?vel de cores maravilhosas, mais t?pica de histrias ou sonhos de crian?as, que cativa e at hipnotiza quem tem a sorte de contempl-la e que n?o se cansa ou se exaure, por mais que esteja sendo observado. Aqui, entre esses picos majestosos e diante de um cu claro, certamente seria uma experi?ncia extraordinria e inesquec?vel, especialmente se as imagens daquelas ondas sinuosas de cores vivas e luminesc?ncia fulgurante fossem refletidas na superf?cie polida do lago, retornando parte de sua cativante imagem, iluminando assim todo o contorno das montanhas adjacentes, tornando-se um espelho espetacular na escurid?o da noite, exatamente como eu havia visto com a passagem das nuvens. Um jogo de cores digno de ser contemplado, onde a imagem poderia ser confundida com um reflexo, formando uma sucess?o de luzes e sombras entre as rvores e rochas circundantes, sem d?vida causando uma das experi?ncias mais cativantes e irreais que se possa ter.
Aps essa viagem da minha imagina??o, olhei para baixo e lembrei que algo assim nunca poderia ocorrer nesta cidade, porque apesar de estar localizada no hemisfrio norte, acima do Trpico de C?ncer, ainda era longe das latitudes mais ao norte, onde era comum visualizar esse fen?meno atmosfrico fascinante. Uma imagem t?o id?lica quanto a que eu estava fantasiando, s poderia ser produzida em alguns lugares com latitudes muito prximas aos polos.
Em minha vida, s tive a oportunidade de v?-lo em uma ocasi?o, quando fui a uma dessas viagens de aventura organizadas pela Lap?nia, lugar que se escuta muito na inf?ncia, embora n?o saibamos muito bem onde localiz-lo no mapa, apesar de ser a terra natal de um personagem cativante que todos os pequeninos anseiam, e que uma vez por ano, alegra o esp?rito e desperta a ilus?o de adultos e crian?as. Em alguns lugares, ele conhecido pelo Papai Noel; em outros, ele chamado de Santa Claus, mas todos os que ouvem falar dele lembram que a esta??o fria est chegando e que em breve receber?o os muito desejados presentes.
Uma tradi??o de generosidade para com os pequenos que se tornam o centro dessas celebra??es, os adultos buscam surpreender e satisfazer os pequenos, seja com brinquedos simples de madeira ou com os mais sofisticados dispositivos de ?ltima gera??o. Tudo desperta interesse, alimenta a curiosidade e as crian?as com seus olhos expectantes ficam cheias de emo??o na expectativa de terem sido lembradas e receberem um belo presente.
Apesar de tudo, considero que a Lap?nia, um territrio bem grande compartilhado por tr?s pa?ses: Noruega, Sucia, Finl?ndia e parte da R?ssia, ainda atualmente um lugar desconhecido para o p?blico em geral, digno de ser descoberto por suas muitas atra??es durante o ano todo. Talvez seja por isso que suas paisagens encantadoras se mantm intactas, onde se pode sentir em um belo osis congelado, cercado apenas pela natureza em seu estado mais puro, longe do dia-a-dia agitado e apressado, dando lugar a uma extensa quietude, que parece parar at o tempo, apenas modificado pela passagem do vento gelado vindo do Polo Norte.
Onde a imaculada cor branca cobre todos os lugares, gra?as ? sua copiosa queda de neve, que muitas vezes esconde qualquer caminho tra?ado pelo homem, e com um frio intenso que congela tudo, mostrando belas impress?es matinais com aquelas cortinas de gelo que pendem das rvores e telhados ? espera de derreter gota a gota. O branco imaculado e o frio polar tornam-se partes indispensveis da vida cotidiana, com presen?a constante em tudo que acontece.
Seus habitantes acostumados a sobreviver em condi??es t?o adversas, vivem fervorosamente suas tradi??es profundamente enraizadas, mantendo os costumes quase intactos desde tempos imemoriais.
Uma experi?ncia enriquecedora e extraordinria diante de uma natureza selvagem, mais selvagem do que nunca, com seus imensos vales nevados, cachoeiras congeladas que parecem vidro ou belas rvores com seus galhos derrubados pelo peso da neve acumulada.
E se tudo isso n?o bastasse, havia o incentivo de poder admirar, durante boa parte da noite, um dos fen?menos mais perturbadores e maravilhosos que podem ser vistos da Terra, a aurora boreal.
Mais uma vez, me deixei levar pelas belas lembran?as de uma bela experi?ncia, e olhando para os dois lados, voltei para onde estava, parada entre aquelas casas de piso ?nico, enquanto avan?ava morro acima pela estrada de paralelep?pedos que tambm era a rua principal da cidade.
Acompanhando as chamins familiares e como parte indispensvel da paisagem, as centenas de toras cortadas empilhadas, ao lado da porta ou na lateral da casa, t?o necessrias para garantir o calor da casa ou como combust?vel na cozinha.
Continuando a avan?ar, e sem perceber muito do que os vizinhos estavam fazendo, fiquei muito surpresa ao ver como a cidade pela qual passava era exatamente como eu vi no sonho que tive antes do almo?o ? frente do lago. As mesmas casas, as mesmas pedras do ch?o, tudo parecia estranhamente familiar, eu quase podia dizer que era exatamente como eu me lembrava, talvez com a ressalva de que nessa ocasi?o havia pessoas na rua e sentadas na varanda de suas casas.
Pode ser um desses eventos estranhos, chamados extrassensoriais, que n?o podem ser explicados de maneira muito clara e convincente, e que determinados jornais e programas de televis?o sensacionalistas tratam com tanto alarde. Algo chamado de paramnsia ou Dj? vu, que pode ser traduzido como j visto, j vivido. Uma experi?ncia pela qual a pessoa acredita que reconhece detalhes de um local em que nunca esteve, mas que pode fornecer detalhes surpreendentes, que n?o deveria saber, se n?o, porque j havia visitado o local antes.
Pelo pouco que sei sobre o assunto, ainda n?o foi poss?vel chegar a uma explica??o por unanimidade, esclarecedora o suficiente para responder como ou por que esse fen?meno misterioso ocorre, permitindo assim o surgimento de vrias tentativas de uma explica??o mais ou menos convincentes, cada uma mais incomum que a anterior.
Da ci?ncia mais conservadora, h autores que defendem a posi??o de que um fen?meno fcil de explicar; seria como uma espcie de autoilus?o do crebro, provavelmente devido a certas disfun??es nas conex?es neurais que alterariam o processamento normal do crebro. Uma falha que confunde o que est sendo armazenado na memria naquele momento com a experi?ncia de recupera??o de informa??es, tornando poss?vel sentir como familiar tudo o que est sendo vivido pela primeira vez.
Uma explica??o que, ao meu entender, bastante complexa e at complicada, e que deixa perguntas t?o importantes sem resposta, j que algumas pessoas s?o capazes de fornecer detalhes exatos de lugares, edif?cios ou objetos, mesmo antes de chegar ao local e, portanto, sem ter tido a experi?ncia prvia de v?-los.
Os parapsiclogos, enquanto isso, tentam resolver esse enigma, afirmando que ainda se est longe de ser capaz de desvendar os limites das capacidades do nosso crebro. Uma prova confivel disso seria justamente este caso, onde h evid?ncias da exist?ncia de um tipo de capacidade que n?o compreendemos, questionando tudo o que acreditvamos at ent?o. Seria um tipo de sexto sentido, que nos alertaria com anteced?ncia, impedindo-nos de nos aproximar do perigo muito antes que ele ocorra. E precisamente, gra?as a esse sentido, que podemos conhecer os detalhes de lugares que n?o conhecemos. Em que a pessoa, atravs deste sentido, teria visitado o local em momento anterior, de alguma forma, para saber se algum tipo de perigo ronda o local antes da visita propriamente dita, e, portanto, capaz de reconhecer estes lugares ao visit-los fisicamente pela primeira vez.
Por outro lado, h que considere isso uma prova inevitvel da exist?ncia de um tipo de segunda vida, que chamam de reencarna??o, algo que milh?es de pessoas no mundo acreditam, como os seguidores do hindu?smo. Por meio dessas cren?as, afirma-se que, depois de que esta vida se finde, o corpo seria deixado e algo dentro dele passaria para uma nova vida, no ventre de uma mulher grvida. Apesar de ser um novo ser que nasce, acredita-se que ele retenha parte do modo de ser e de pensar da pessoa anterior, h quem afirme que pode at transmitir claramente caracter?sticas f?sicas identificveis. E nessa experi?ncia de ser, quando um tipo de m conex?o entre a pessoa que viveu antes e a pessoa que agora vive que, de alguma forma, se pode acessar essas experi?ncias passadas, a pessoa torna-se capaz de se lembrar lugares e de detalhes vividos nessa outra vida.
Existem aqueles que, baseados na premissa de que pode haver uma transmiss?o de informa??es de uma vida para outra, n?o admitem que ocorra entre estranhos que nada t?m a ver um com o outro, admitindo apenas a possibilidade de que ocorra entre pais e filhos de maneira descendente, pois consideram que essas memrias est?o contidas no DNA e, portanto, far?o parte das novas gera??es. Esse fen?meno seria explicado porque um parente direto esteve no mesmo lugar em algum momento do passado.
Qualquer que seja a explica??o para esse fen?meno, tenho certeza de que, neste exato momento, est acontecendo comigo. Enquanto continuo a caminhar, reconhe?o cada um dos lugares por onde passo, o que me causa uma sensa??o de estranheza e at inquieta??o, com uma convic??o t?o profunda que me faz parar. Eu n?o tinha mais certeza do que via, tudo era t?o v?vido, cheio de luz e cor como eu havia experimentado no sonho tido na pedra que n?o podia ter certeza se continuava a sonhar ou n?o, ent?o fiz a ?nica coisa que me ocorreu para conferir: me beliscar.
A forte dor que me causou at me fez surgir lgrimas e me permitiu me certificar de que eu estava ali no meio daquelas casas e n?o em frente ao lago, algo que n?o deixou nada alm de um sentimento agridoce de desconfian?a sobre o motivo de eu reconhecer tal lugar. Depois de alguns instantes e vendo que, se eu n?o seguisse em frente, n?o chegaria a lugar algum, continuei subindo a ladeira at chegar ao topo, onde o ?ltimo edif?cio da cidade, na parte mais alta, e sem surpresas l estava a igreja de paredes brancas, com o grande campanrio, exatamente como no sonho.
Ningum ficaria indiferente a isto, e minha estranheza aumentou, porque n?o me lembrava de ter chegado t?o alto no dia anterior, dada minha exaust?o naqueles momentos da tarde em que apareci nas proximidades da cidade, completamente perdida e sem no??o.
Boa tarde. cumprimentei o primeiro alde?o que vi que estava colhendo alguns galhos.
Boa noite, senhorita. ele respondeu com bvios sinais de surpresa. O que a traz aqui?
Eu me perdi e estou procurando um lugar para passar a noite antes de continuar o meu caminho. eu disse com um sorriso t?mido enquanto colocava minha carga pesada de sempre no ch?o.
Vai ficar na cidade? ele perguntou, estranho, enquanto deixava cair a pilha de lenha que havia coletado.
Sim, claro. eu disse sem entender a rea??o dele.
Quanto tempo? ele me perguntou novamente e sem reagir ? perda dos itens coletados.
Eu ainda n?o sei, pelo menos hoje ? noite. respondi, tentando ser o mais gentil poss?vel, apesar do cansa?o acumulado e das pernas come?ando a vacilar.
Siga-me. ele respondeu e come?ou uma caminhada frentica at a cidade.
Naquele momento, pensei em deixar minha mochila l e busc-la depois, porque n?o tinha vontade de lev-la ?s costas outra vez, mas como n?o sabia para onde estava indo, preferi carregar, dada a falta de cortesia daquele homem que nem sequer ofereceu-se para lev-la para mim.
Posso ter me acostumado a galanteria, algo que, por outro lado, n?o me incomoda muito, mas quando algum t?o abrupto e desatento me incomoda, o que custa ?s pessoas terem um pouco mais de cuidado?
Tentei alcan?-lo quando, de repente, ele entrou em uma casa em cuja porta parei para esperar por informa??o, n?o sabia o motivo da entrada dele, pois deveria me levar a um lugar para dormir, um hotel mesmo modesto, ou pelo menos um abrigo, mas n?o havia indica??o de qualquer tipo de acomoda??o naquela casa.
Olhei em volta, com a pouca luz que ainda existia e pude supor que havia duas fileiras de casas, uma de frente para o outra, formando um corredor no que seria a rua principal. Sem uma palavra, o homem saiu quase que correndo e foi para outra casa na frente daquela, e depois de um breve momento, ele disse:
Aqui!
disse o homem ao sair da segunda casa, me dando instru??es com a m?o.
Aproximei-me sem saber muito bem o que estava acontecendo e, quando estava prestes a chegar, um homem mais velho saiu da casa, e eu o cumprimentei.
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, (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=51834562) .
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