A Garota Que Se Permite
Brian Quinlan
Kasey Lane está tendo uma semana ruim. Bem, semana ruim é eufemismo. Sua ideia de sucesso nunca envolveu perder seu emprego, namorado e apartamento em 24 horas. Agora, sem ter para onde ir e sem ter como pagar por isso, Kasey decide que é hora de um novo começo, o que significa um novo apartamento, uma nova carreira e… nada de homens.
Kasey Lane está tendo uma semana ruim. Bem, uma semana ruim é eufemismo. Sua ideia de sucesso nunca envolveu perder seu emprego, namorado e apartamento em 24 horas. Agora, sem ter para onde ir e sem ter como pagar por isso, Kasey decide que é hora de um novo começo, o que significa um novo apartamento, uma nova carreira e… nada de homens. Mas como um ímã para ridículos e absurdos embates com a lei, seu começo vai do novo ao desastroso em tempo recorde. Além disso, não ajudava em nada o Cara Errado continuar aparecendo toda vez que uma de suas aventuras davam errado e assumia o controle da situação. Agora, enquanto Kasey planeja seu caminho para a independência, ela precisa decidir se o único caminho para o sucesso é seguir sozinha… ou se talvez um parceiro de crime possa tornar a jornada mais doce.
A Garota Que Se Permite
Contents
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Chapter 1 (#u981bff88-f970-5b33-b06d-09a65db9ae6f)
Chapter 2 (#u90a33f03-5eec-56b8-a3d0-afe7f12f8d54)
Chapter 3 (#u6c5036a8-3738-54a2-94bf-5ece7589d330)
Chapter 4 (#u6f524b25-d385-5013-9953-c9a232f8180e)
Chapter 5 (#uddb6db78-0c4c-5490-b55f-9c06f1c15b2d)
Chapter 6 (#u2eb3ff15-80c2-56a4-8015-a7274e53cb74)
Chapter 7 (#ue4e348eb-2ded-5921-ba22-e51419dbeb2e)
Chapter 8 (#uc9b8e90a-c961-5972-8edb-5f36ddd25ff4)
Chapter 9 (#u467cb0df-26b5-5986-a544-8c9aa332494b)
Chapter 10 (#u233a9eaa-9331-5c7f-b635-d9184f8dd509)
Chapter 11 (#udd755391-3cab-5b1b-86ab-983d7ea4ee0d)
Chapter 12 (#uf2e4fe49-f4d2-56be-b77f-24f6047ccaeb)
Chapter 13 (#u89189a2b-da09-5789-a371-fb9af3c2c1d9)
Chapter 14 (#u82929ff5-52cb-5a9d-b245-7938c076d466)
Chapter 15 (#u922252e2-040c-5197-b07f-d7ccca94278f)
Chapter 16 (#u28c33423-0838-536c-a944-6bcea0b6059f)
Chapter 17 (#u66abfa8e-35df-53df-93e0-c2d0f5969bd4)
Chapter 18 (#u8953e3d3-9db5-5518-83d3-dc53754ea5ca)
Chapter 19 (#u30c58ea4-a3a0-51cf-ade2-1f43cca4983f)
Chapter 20 (#u064d74d2-5cb5-5358-a28c-8156bf2fc5b2)
Chapter 21 (#u316cfeff-7c21-5cc2-b20b-640ce7ddd6df)
Chapter 22 (#ufbb805b3-ff1b-5815-b1cd-d1b7b1fe00f8)
Chapter 23 (#u6bd5efc3-7888-5a3a-93da-6eae6d940814)
Chapter 24 (#u9b6ac8ab-8cba-5c55-95e6-c4bde38fd89a)
Chapter 25 (#u569ecfd9-e4b9-5ea0-9db2-a32e28c51b9b)
Chapter 26 (#ub7c5d910-c51e-5cbd-b171-72d52fb77ac4)
Chapter 27 (#u05e282de-cf75-56d1-8015-50b33c79cf5f)
Chapter 28 (#u043be6fd-dc6b-5ebf-94ba-790bf9b2f632)
Chapter 29 (#uefb9171d-a2e0-5a0e-97ab-72d56fdc74d3)
Chapter 30 (#uceb7eaf0-8f2d-50d3-8ee2-d4866e089114)
Chapter 31 (#u0b40b5de-6ebe-5adf-a8cd-cf0b6e8ee191)
Chapter 32 (#u34b0a13e-f556-57cf-8229-997a3d3fe25e)
Chapter 33 (#ubcf2646e-b9fd-5a0d-aaf5-632609d3a4a3)
Nota de Agradecimento (#u0d40070a-f56c-55c2-b0d0-3c10a5a68e47)
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A GAROTA QUE SE PERMITE
Série Coffeesão #2
Bria Quinlan
A Garota Que Se Permite
Direitos autorais © 2017 por Bria Quinlan
Tradução: Elaine Lima
Todos os direitos reservados. Sem limitar os direitos de autoria reservados acima, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou introduzida em um sistema de recuperação, ou transmitida, de qualquer forma ou por qualquer meio (eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro) sem a permissão prévia, por escrito, da autora.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação da autora ou são usados de forma fictícia. A autora reconhece o status de marca registrada e os proprietários de marcas de vários produtos referenciados nesta obra de ficção, que foram utilizados sem permissão. A publicação/uso dessas marcas não é autorizada, associada ou patrocinada pelos proprietários das marcas.
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1
UM
— VOCÊ ESTÁ TERMINANDO COMIGO?
Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Toda vez… toda vez que pensava que esta semana não poderia piorar… BAM! Algo acontecia.
— Vamos lá, Kasey. Você não pode ficar tão chocada assim com isso — disse Jason, olhando para mim por cima do jantar muito agradável e muito caro para o qual ele me convidou, um sentimento de pena brilhando através daqueles olhos semicerrados.
Eu respirei fundo, desviando o olhar para me concentrar, porque isso simplesmente não fazia sentido.
— Você realmente está fazendo isso esta noite? Sério mesmo? — Naquele momento, estava mais chocada do que de coração partido. Embora, pensando bem, provavelmente o coração partido atacaria assim que eu estivesse sozinha em casa, em meu apartamento… meu muito, muito vazio apartamento.
Eu teria que me sentar no chão para ter a minha merecida crise de choro.
— Lamento que você esteja tão surpresa — disse Jason, embora não parecesse nem um pouco triste.
— Surpresa? Eu ia me mudar para morarmos juntos neste fim de semana.
Ele inclinou a cabeça para o lado e olhou para mim como se estivesse fazendo gracinha para uma criança. — Você não vai mais poder se mudar agora, não é?
— Bem, não. Se você está terminando comigo, eu não posso, não é? — Minha voz disparou. Soava um pouco histérica até mesmo para meus próprios ouvidos. No fundo da minha mente, percebi que as pessoas estavam começando a olhar em nossa direção. Jason odiava isso.
Ele estendeu a mão sobre a mesa e envolveu a minha mão, dando um aperto forte. Até mesmo seu falso conforto era… bem, falso.
— Se você se mudasse, como pagaria a sua metade do aluguel? Como você seria capaz de arcar com suas despesas?
Arcar com minhas despesas? Nós estávamos namorando por quase três anos e agora ele estava me dando um pé na bunda porque eu não seria capaz de pagar o aluguel por alguns meses em um apartamento que era dele?
— Dá um tempo, Jason. Perdi meu maldito emprego ontem. Você acha mesmo que eu não tenho nada no banco? Você escolhe o dia seguinte em que fui demitida para fazer isso? — A histeria se foi. Em seu lugar, meu copo emocional foi preenchido até a borda com uma raiva quase cega.
— A economia está ruim — disse ele, encolhendo os ombros como se nada disso realmente importasse. — Quem pode assegurar que você vai encontrar algo rapidamente?
Eu não podia acreditar nisso. Não. Podia. Acreditar. Nisso. Na semana passada, tínhamos acabado de vender todos os meus móveis na OLX porque os dele já “cabiam” no lugar. Eu cancelei meu aluguel, paguei a multa pela quebra de contrato e ficaria sem-teto no final do mês… o que convenientemente aconteceria em dois dias.
— Aqui. — Ele me entregou um cartão.
Um cartão. Eu olhei para o envelope lavanda lacrado. Eu deveria abri-lo? A empresa de cartões realmente tinha um cartão do tipo Estou-te-dando-um-pé-na-bunda-mas-boa-sorte-com-tudo?
— O que é isso?
— Aí tem o primeiro mês do aluguel e metade da fiança que você pagou. Achei que era justo devolvê-lo.
Achou justo? Eu olhei para o cartão novamente, me perguntando o que ele havia escrito nele, tentada a abri-lo naquele momento. Em retrospecto, ele ter me cobrado uma fiança pelo aluguel deveria ter sido o primeiro sinal.
Certo, talvez não o primeiro.
— Então, onde exatamente você acha que vou morar?
Desprezo. Eu passei da raiva para o desprezo. Agora eu era oficialmente uma mulher desprezada.
Não é de admirar que os homens não devessem nos contrariar. Nem o inferno tinha tanta fúria como eu naquele momento, ele não chegava nem perto. Eu poderia ter estripado ele com a faca de peixe chique que descansava contra meu prato.
— Bem, eu não quero parecer sem coração — continuou Jason, estudando seu prato antes de olhar para cima com a expressão menos empática que eu já vi. — Mas agora isso não é realmente problema meu, não é?
A mulher na mesa ao lado engasgou e foi quando eu percebi que a maioria das pessoas haviam ficado em silêncio para acompanhar o melodrama que estava acontecendo na minha vida.
— Não, suponho que não. Eu acho que quando você termina com sua namorada porque ela perdeu o emprego, você pensa que nada é problema seu. — Empurrei minha cadeira, me envolvi em minha jaqueta Ann Taylor e peguei minha bolsa. — Ah, espera! Sabe qual é o seu problema?
Ele balançou a cabeça, um pequeno sorriso puxando sua boca em pontas cruéis de cada lado.
— Conseguir tirar a mancha de Bordeaux de sua Caxemira. — Peguei nossa garrafa de vinho pela metade e despejei na cabeça dele. — Boa sorte com isso.
Eu saí furiosa, um punhado de aplausos seguindo em meu rastro. Lágrimas de raiva quase me cegaram quando cheguei ao saguão.
— Por favor, permita-me. — O recepcionista empurrou a porta e segurou-a para mim, enquanto eu marchava para a noite fria de primavera. — Boa sorte, senhorita.
Sim. Eu precisaria de muita sorte.
2
DOIS
EM FRENTE AO RESTAURANTE, encostado na calçada ao lado, estava o BMW M5 de Jason. Apenas parado lá, totalmente inocente. Claro, o carro não me ofereceria uma carona para casa e Jason tinha escolhido um restaurante longe de uma estação de ônibus ou metrô.
Mas, lá estava ele. Bem ali. Jason era do tipo que não achava necessário ter que pagar pelo estacionamento com manobrista e achar aquela vaga tinha sido uma sorte idiota.
Esperei um momento para ver se ele sairia do restaurante para me checar. Se talvez… apenas talvez, ele fosse humano o suficiente para querer se certificar de que eu estava bem e me oferecer uma carona para casa.
Quando dois minutos se passaram comigo me adaptando à leve brisa fria do ar noturno, percebi que de jeito nenhum ele desperdiçaria um bife perfeitamente bem preparado. Ele provavelmente tirou o suéter, jogou-o em uma garçonete para colocá-lo na água e voltou a comer.
Eu olhei para o BMW.
Eu olhei para o manobrista.
Eu olhei para o BMW novamente.
Para ser justa, o carro não tinha feito nada contra mim. Mas, como uma extensão de Jason, essa noite desastrosa e tudo o que estava errado na minha vida agora, aquele era um alvo muito bom. Escorregando ao lado do pneu dianteiro, tirei a tampa da válvula de ar. Com minha chave, eu leeeeeeentamente deixei o ar sair do pneu com um suave shuuuu até que o aro descansou no chão.
Em seguida, passei para o próximo pneu… e o próximo.
Considerei deixar um pneu cheio só porque parecia fora do lugar. Mas, pensando bem, aquele pequeno assobio de ar era extremamente catártico. Então, eu esvaziei aquele também.
Sentando em um banco na calçada, chamei um táxi, esperando não ter motivo para me estressar com mais essa despesa mais tarde. Ignorei o ar frio da noite de fim de verão e esperei.
Jason levou mais sete minutos para finalmente aparecer. Eu me perguntei se ele tinha comido a sobremesa. Provavelmente. Provavelmente se certificou de pedir aquele pudim que eu amava, só por maldade.
Ele fingiu não me notar e definitivamente não notou todos os pneus vazios. Até ele abrir a porta. Então ele percebeu que o carro parecia um pouco mais baixo do que o normal. Então ele olhou para os pneus. Então para mim.
A expressão em seu rosto… foi uma coisa linda.
Ele não se aproximou de mim ou contornou o BMW. Ele apenas gritou comigo por cima do capô.
— Você cortou meus pneus?
— Não. Eu nunca cortaria os pneus de ninguém. Nem mesmo os seus — Então, só porque eu admitia para mim mesma que aquilo tudo tinha ficado um pouco ridículo… não importa o quão catártico fosse, eu adicionei: — Cresça.
O sujo falando do mal lavado. Bons tempos.
— Então eles magicamente esvaziaram? — Venenoso. Como eu nunca percebi esse traço venenoso nele?
Três anos sem perceber? Aquilo parecia demais, mesmo para alguém tão focada nos estudos e carreira quanto eu. Comecei a questionar todas as conversas em que ele dizia ser o mais esperto, mais esperto do que todos ao seu redor, e percebi que esperto provavelmente não era a palavra certa. Eu realmente estava cega. É melhor eu me tornar um pouco mais atenta se quiser sobreviver no mundo como uma adulta.
E talvez devesse parar de insistir que a gelatina era um grupo alimentar. Mas, alguns padrões permanecem conosco mesmo depois de crescer.
— Eu não sei sobre mágica. Quer dizer, o que é mágica, afinal? Acho que teria sido mágico se meu táxi tivesse chegado aqui antes de você decidir ver se eu fui pega pedindo carona. Mas, infelizmente, ainda estou esperando. — Eu sorri para ele. Um daqueles sorrisos largos e brilhantes que na verdade dizem: Ha Ha Na Sua Cara em vez de Ei, Você é Bem Fofo. Chega de sorrisos fofinhos para ele. — Então, eu suspeito que o mundo da magia está morto.
Peguei um jornal que alguém havia deixado no banco e fingi ler. Deve ter parecido algo bobo a se fazer ali sob a luz fraca do poste, mas parecia um adereço lógico para esta farsa na qual eu estava finalmente assumindo um papel ativo.
— Você acha que pode simplesmente rasgar meus pneus e eu não vou chamar a polícia? — Ele já estava discando. — Alô? 190? Sim, quero denunciar uma agressão. Não, eu não estou ferido. Não fui eu quem foi agredido.
Neste ponto, eu estava tendo dificuldade em acreditar que ele ligou para o 190, que ele estava chamando aquilo de uma agressão. Sem mencionar que eu realmente tinha namorado esse idiota por trinta e três meses. Isso era mais de um mês para cada ano da minha vida.
Talvez Eu fosse a idiota.
— Não — continuou ele, ainda me olhando por cima do capô. — Ninguém se feriu. Bem, não exatamente ferido… Não tenho certeza de qual era a arma… Não, eu não preciso de uma ambulância. Só de um policial.
A essa altura, o recepcionista havia saído para se juntar ao manobrista. Os dois sussurraram e olharam na nossa direção. Eu ouvi uma risadinha escapar de um deles.
— Meu carro… Ela atacou o meu carro… Bem, os pneus estão furados… Isso importa? Eu quero um policial e quero um agora!
O Natal chegava na mesma época todos os anos. Talvez, só por diversão, eu mandasse a ele uma cópia de Como fazer amigos e influenciar pessoas. Você sabe, com um pequeno bilhete legal grudado falando sobre suas habilidades pessoais e um desejo de boa sorte com a vida.
— Tá. Mas é melhor ele se apressar. O que eu faço se ela tentar ir embora? — Ele olhou na minha direção novamente, colocando a mão no capô e acariciando a pintura levemente. — O que você quer dizer com eu não posso segurá-la contra a vontade dela? Tá. Mas é melhor eu ouvir as sirenes nos próximos três minutos.
Ele desligou, enfiou o celular no bolso e apontou o dedo para mim a quatro metros de distância. — Não vá a lugar nenhum.
Pela primeira vez desde que chamei o taxista, estava meio que torcendo para que ele se perdesse. Podia até valer a pena ser fichada só para assistir ao ataque de raiva de Jason.
Quando o policial apareceu alguns minutos depois, havia uma nítida falta de sirenes. Fiquei quase desapontada.
O policial saiu do carro e olhou para o BMW. Ele balançou um pouco a cabeça enquanto pegava um bloco de notas no carro, endireitou a boina e se dirigiu para Jason.
— Qual seria o problema aqui, senhor?
Ah… Eu já gostei desse cara. Se o tom neutro de sua voz mostrava como ele realmente se sentia sobre esta situação, eu realmente gostei dele. Nem me importaria de ser presa por alguém que percebia o quão ridículo era tudo aquilo.
— Meu carro foi agredido.
Eu realmente não conseguia acreditar que ele não tinha repensado o termo desde que desligou a chamada do 190.
— Ela — disse ele, apontando o dedo em minha direção novamente. — Quem agrediu.
Voltei a fingir que lia o jornal e a ignorá-lo.
— Ela agrediu o seu carro? — O policial estava andando ao redor do carro pela segunda vez e se agachou para olhar o pneu dianteiro que estava mais próximo das luzes do restaurante. — Os pneus não foram cortados.
— Eles estão vazios. — Jason soou como se isso fosse o equivalente a um crime de guerra em massa.
— Mas eles não foram cortados. Alguém só tirou o ar.
— Mas, eles estão vazios. — Jason finalmente deu a volta no capô e continuou vindo em minha direção. Antes que eu soubesse o que ele faria, ele agarrou meu braço e me colocou de pé. — Ela esvaziou os meus pneus. Eu quero que ela seja presa.
Como eu tinha namorado um idiota daquele? Sério? Eu provavelmente deveria consultar um terapeuta apenas para descobrir se superei qualquer tipo de estupidez sob as quais tinha vivido nos últimos anos.
Claro, para ver um terapeuta, eu precisaria de um plano de saúde.
— Me solta! — Tentei puxar meu braço, mas ele apenas me agarrou com mais força, seus dedos cravando-se na minha pele através da lã clara da minha jaqueta. — Estou falando sério. Me solte!
— Senhor, tenho que te pedir para soltá-la.
Agora o policial, que ergueu uma sobrancelha para o meu jornal, estava vindo em nossa direção.
— Senhora, você viu alguém esvaziar os pneus desse cara?
— Bem, não estou aqui há muito tempo.
— Há quanto tempo está aqui? — perguntou ele.
— Bem, meu namorado… quero dizer, ex-namorado, me trouxe até aqui para o meio do nada…
— Meio do nada? — Jason não conseguia nem me deixar terminar uma frase. — Estamos a cinco quarteirões do Village.
— Qualquer lugar sem uma estação de metrô é o meio do nada. — Eu aprendi essa lição da maneira mais difícil ao procurar o meu primeiro apartamento na cidade.
— Eu estava tentando dar a você uma última refeição agradável.
— Você estava…?
— Senhora. Há quanto tempo? — Agora o policial estava se dirigindo a mim com aquele tom neutro e um olhar ilegível.
— Meu ex-namorado me largou porque eu perdi meu emprego. Ele disse que eu seria apenas um peso morto. Depois disso, vim aqui para esperar um táxi. Então, praticamente o tempo que leva para um táxi chegar aqui.
O policial deu um leve sorriso. Quase imperceptível. Bem leve. Talvez eu estivesse imaginando, mas tinha quase certeza que não. Eu realmente gostei dele. Eu me perguntei se eles tirariam minhas impressões digitais. Aquela coisa saía com sabão? Eu esperava que isso não afetasse meu pedido de seguro desemprego.
— Bem, não muito tempo então? — perguntou o Policial Indecifrável.
— Creio que não.
— Você não está engolindo essa, está? — perguntou Jason me sacudindo, fazendo meus dentes baterem um pouco.
— Senhor, solte-a antes que eu o jogue na parte de trás do meu carro.
— Mas ela agrediu o meu carro.
— Não é possível alguém agredir um carro. Mas você pode agredir uma mulher. Se você não a soltar, vou levá-lo à delegacia e mandar rebocar o seu carro. Com os pneus vazios.
Posso realmente ter me apaixonado. Toda aquela situação era o meu relacionamento rebote.
O que foi ótimo porque eu ficaria longe, muito longe de caras por um bom tempo.
A mão de Jason despencou. Eu duvidava que tivesse algo a ver com não me agredir e mais a ver com querer a atenção de volta em seu carro.
Assim que ele me soltou, o policial chamou o manobrista e o recepcionista.
— Algum de vocês viu alguma coisa acontecer com este carro?
Ambos balançaram a cabeça.
— Nada? Ninguém veio e deixou todo o ar sair dos pneus?
Novamente com o balançar de cabeça.
— Ah, me poupe. — Jason caminhou entre mim e o carro, provavelmente com medo que eu fosse fazer algo com o seu bebê novamente. — É óbvio que esses dois idiotas estão mentindo.
O manobrista olhou em nossa direção e depois de volta para o policial. — Estou guardando carros desde as seis. Alguém pode ter sido capaz de fazer isso enquanto eu estava nos fundos. — Ele olhou para Jason. — É realmente uma pena que o senhor não quis pagar os cinco reais para ter seu carro estacionado.
Sim, todos nós podíamos ouvir a tristeza em sua voz.
A essa altura, as pessoas estavam paradas na janela assistindo. O policial havia tirado a boina e esfregava o cabelo escuro cortado rente da nuca.
— Então, não temos nenhum dano e nenhuma testemunha. Suponho que você terá que entrar em contato com um guincho e encerrar a noite.
— Você não vai prendê-la? — Jason parecia tão chocado que quase me senti mal por ele.
Era bom que ao menos algo não estivesse indo bem para ele esta noite. Quer dizer, além daqueles quatro pneus magicamente esvaziados.
— Pelo quê? Por ter namorado um idiota? Desculpe, mas não há lei contra isso. — O policial colocou a boina de volta na cabeça e foi em direção à viatura. — Se eu for chamado aqui novamente, vou prendê-lo por fazer uma deúncia falsa. Não importa qual seja o motivo. É melhor você torcer para que o restaurante não seja roubado.
Jason ficou olhando para ele, sua mandíbula um pouco frouxa com a falta de controle da situação.
Eu estava tentando não me gabar da minha pequena vitória. E então, veio o meu primeiro golpe de sorte de toda aquela noite, enquanto o policial caminhava em direção à viatura, meu táxi parou.
— Ei! — O policial chamou, apontando para mim antes de entrar em seu veículo. Eu podia ver sua covinha aparecer de onde eu estava. — Você. Se comporte.
Certo. Porque meu plano era causar um caos em massa quando eu saí esta noite. Eu pulei no táxi antes que Jason pudesse me agarrar novamente.
— Para onde, senhorita?
Desabando no assento, tranquei a porta e disse: — Casa.
Ou o que seria a minha casa por mais dois dias.
3
TRÊS
INFORMEI MEU ENDEREÇO ao taxista antes de perceber que não ia a um caixa eletrônico há dias. Eu tinha um mau pressentimento sobre o que eu encontraria na minha bolsa. Quer dizer, não importa quanto tempo você namorasse alguém, quando ele te convida para um restaurante chique um dia antes de você ir morar com ele, você pensa que: ganharei joias, não que precisarei de dinheiro para o táxi.
$ 1.78
Como consegui pegar um dos poucos táxis sem maquininha de cartão? Nada bom. Mas, felizmente, sou paranoica. Sempre tenho uma nota de vinte enfiada em um dos bolsinhos internos da minha bolsa.
— Quão perto desse endereço posso chegar por vinte dólares?
O taxista deu um suspiro profundo e sofrido, como se ele não fosse levar uma outra pessoa pelos mesmos vinte dólares se eu não estivesse lá.
— Tudo bem.
Tudo bem não era exatamente um local.
— Estou tendo uma noite difícil. — Eu dei a ele um grande sorriso pelo espelho retrovisor. Mas não muito grande. Como se eu estivesse fazendo cara de corajosa. O que eu meio que estava. Com sorte, ele teria pena de mim e talvez deixasse aqueles vinte me levar um pouco mais longe do que o medidor ditava.
Quando Jason me disse que estava me largando, eu achei que devia haver outra pessoa. Que ele se cansou de mim. Eu já estava justificando na minha mente como isso poderia ter sido minha culpa.
Eu tinha me mudado para cá para fazer pós-graduação e o conheci assim que cheguei. Ele tinha sido um dos ex-assistentes do meu orientador no meu último semestre e ensinava uma das matérias uma noite por semana. Ele me colocou sob sua asa imediatamente, moldando minha educação e carreira. Meu tempo foi preenchido por estudos e ele. Minha categoria de amigos não tinha mudado e ainda era preenchida somente pelas minhas companheiras de infância e da graduação.
Então meu estágio se transformou em um cargo de assistente de gerente de projeto. Quando meu chefe conseguiu nos colocar quase na lista negra de um cliente, fui empurrada para uma posição de gerência. Tive que trabalhar duro para provar que a chance que eles tinham me dado valia a pena. Que EU valia a pena.
Eu amava aquilo. Eu amava a correria, as loucas horas e a pressão para fazer a melhor campanha de marketing que já existiu. Fiquei surpresa ao descobrir que a maioria dos meus colegas gostava de fazer a apresentação e o design, mas não a parte técnica da criação. Ou eles gostavam da criação dirigida, mas não do trabalho com o cliente.
Eu adorava tudo... do princípio ao fim. E, então, conforme eu abria meu caminho entre meus colegas entediados que gostavam de manter as coisas como estavam, deixei o resto da minha vida de lado.
Eu tinha minhas garotas de sempre. Eu tinha Jason. Eu tinha um trabalho que adorava.
O que mais eu poderia querer?
Eu quase desejei que Jason tivesse me traído. Pelo menos eu poderia ter dito que outra pessoa desviou sua atenção. Que o amor dele por ela tinha sido mais forte… ou algo assim. Ele ainda seria um grande idiota, mas, pelo menos, eu saberia que havia um motivo. Um que não fosse que eu importasse tão pouco para ele que alguns meses de aluguel em potencial eram um motivo válido para abandonar o navio.
Eu inclinei minha cabeça para trás e observei as luzes passarem pela janela, passando por mim com um padrão rápido e silencioso de escuridão e luz… escuridão e luz… Parecia dizer, Você é uma idiota… Você é uma idiota.
Estava afundando. No poço do levei-um-pé-na-bunda. Bem, não a parte do término. Essa parte eu assimilei até bem rápido. Foi mais a parte sobre como foi fácil para ele me largar. Que enquanto eu estava construindo esse pequeno sonho na minha cabeça, ele estava procurando por uma colega de quarto que convenientemente pagasse metade da hipoteca e compartilhasse sua cama.
Boa sorte com isso na OLX, querido.
Nunca me senti tão dispensável em minha vida. Meu chefe até havia usado essa palavra. — Kasey, temos que fazer alguns cortes e mesmo que você faça um ótimo trabalho, infelizmente, você é dispensável.
Eu perguntei o que isso significava. O que significa ter três projetos sob sua liderança, seis pessoas subordinadas a você, vários prazos chegando nos próximos dois meses e ainda ser dispensável? Aparentemente, quando você contrata e treina grandes mentes logo que terminam o programa de graduação e que podem terminar o trabalho, mesmo que não tenham conseguido o contrato em primeiro lugar, ou administrado ele após conseguir, você é dispensável. Especialmente se cada um deles ganhasse apenas oitenta por cento do seu salário.
Que bom que eu não tinha um cachorro. Ele provavelmente teria escrito com o xixi dispensável no meu tapete e então fugido com alguma poodle atraente da rua enquanto eu estava fora.
O táxi estacionou em uma rua sob um dos belos e antigos carvalhos que ladeavam uma ampla calçada de paralelepípedos. Meu quarteirão? Não, minha rua era feita de postes padrões e calçadas irregulares. Sem árvores.
Obviamente, esse não era o meu quarteirão.
— Certo. — O taxista se virou e estendeu a mão.
Eu olhei para o taxímetro vermelho piscando. — Dezoito dólares? — Ele não só não me levaria a milha extra para casa, ele nem mesmo me levaria até completar os meus vinte dólares.
Acho que eu não era uma daquelas mulheres que dependem da bondade de estranhos.
— Isso inclui a gorjeta.
Sério mesmo? Esse cara era um charme. Ele estava fazendo Jason parecer decente. Eu estava pensando seriamente em atacar mais um carro.
Entreguei a ele os vinte e esperei.
Ele esperou.
Eu esperei.
— Você vai descer?
Poderíamos ter percorrido a última milha a essa altura.
Eu estendi minha mão. — Quem falou que eu te daria uma gorjeta?
Continuamos nos encarando até que ele colocou dois dólares na minha mão. Eu planejava dar a ele os um e setenta e oito da minha carteira como gorjeta, mas ele me irritou.
Pelo lado positivo, agora eu tenho três setenta e oito. Sim, isso salvaria o dia.
Empurrei a porta e deslizei minhas pernas o mais graciosamente que pude usando uma saia minúscula os meus saltos para ocasiões especiais ridiculamente altos. Eu me endireitei e me encontrei abandonada em frente a uma cafeteria de um bairro chique onde nunca teria dinheiro para morar. O lugar tinha aquelas pequenas lâmpadas que pareciam lâmpadas a gás dos tempos do Jack, o Estripador, e charmosas venezianas verdes em volta das janelas de moldura preta. A porta era pesada, de carvalho, o que me fez pensar que estava nos limites de uma pequena aldeia irlandesa. Olhe para mim, reconheço uma coisa encantadora quando a vejo.
Uma placa dourada e marrom na porta anunciava que eu havia chegado ao Coffeesão.
Bem, isso resumiria minha noite de confusão de um jeito triste e taciturno. Além disso, a cafeína parecia uma boa ideia antes da andada de salto agulha de volta para casa.
Olhando para os meus sapatos, não pude deixar de me perguntar o que estava pensando quando os comprei. Quer dizer, eles eram caros, não eram o meu estilo, e eram incrivelmente desconfortáveis. Mas a mulher disse que meu namorado os adoraria. Eu, sendo a idiota que acabei de descobrir que era, comprei.
Agora, eu estava pagando o preço. Figurativa e literalmente.
Empurrei a porta e respirei o ar com aroma de café. O conforto e o calor aliviaram a minha pele, suavizando cada nervo que estava em alerta máximo desde que a noite havia tomado uma inesperada curva na via de solteirice. Havia coleções de cadeiras estofadas com mesinhas de centro e bancos ao redor de mesas de madeira rústicas. Uma placa de “Leitura Relaxante” repousava contra uma estante de livros no canto com uma coleção de livros usados. Ele até tinha uma lareira contra a parede oposta com a evidência fuliginosa de uso.
Como um oásis desses esteve a um quilômetro de distância da minha casa todo esse tempo e eu nunca soube?
— Posso ajudar? — Atrás do balcão, uma adolescente me olhou com desconfiança, como se eu tivesse acabado de entrar em sua casa em vez de uma cafeteria, ou que estivesse disposta a pagar.
— Vocês ficam abertos até que horas?
— Por quê?
Sério mesmo? Sem querer soar como uma velha, mas essa nova geração é um pouco estranha.
— Porque eu quero pedir um café e relaxar um pouco.
A garota barista me olhou, obviamente tentando descobrir se eu estava mentindo ou não. Quem mente sobre tomar uma bebida em uma cafeteria?
— Até às nove em uma terça-feira — respondeu ela, continuando a me encarar. — Você vai para algum lugar?
Um tanto intrometida, não?
— Não. — Agora era eu quem estava me sentindo um pouco desconfiada.
— Você não acha que está um pouco arrumada demais para só sair para tomar um café?
Bem, era verdade. — Sim.
— Você vai se encontrar com alguém?
— Aqui?
— Sim.
— Por quê?
— Você parece uma daquelas mulheres que saem tarde da noite para encontrar alguém. — Ela se inclinou sobre o balcão e olhou para meus sapatos. — Você está tendo um caso?
— Abby, apenas dê o café à mulher. — A voz era tão rica quanto os grãos de café no balcão, só que sem o retrogosto amargo.
Eu me virei, em direção à voz, surpresa com o cara da qual ela veio. Ele não era o gerente noturno típico. Ele tinha altura média, mas definitivamente era mais bonito do que a média, com um sorriso gentil e cabelo levemente despenteado.
— Olá, me chamo John. — Ele estendeu a mão sobre o balcão. — Se você está aqui para ter um caso, devo avisá-la que instalei câmeras de circuito interno depois que fomos roubados nesta primavera.
Eu não senti uma centelha quando ele apertou minha mão, mas o gesto me fez perguntar por que, por que, eu perdi os últimos três anos com Jason? Já que haviam caras realmente engraçados, legais e gostosões por aí, que provavelmente não iriam te deixar perdida no subúrbio… de novo, eu te pergunto, por quê?
— Não estou tendo um caso… infelizmente. — Não era essa a verdade? Eu era como A Anti-caso.
John olhou para a Garota Barista e depois de volta para mim. — Estranhamente, e essas são palavras que não saem da minha boca com muita frequência, tenho que concordar com Abby. Você está um tanto bem-vestida demais para só vir tomar um café sozinha.
— Bem, isso é o que acontece quando você vai para um jantar romântico e acaba abandonada e sem dinheiro para o táxi.
— Ai!
Abby deslizou o mocha pelo balcão, ainda olhando para mim como se a qualquer segundo eu fosse puxar uma arma e roubá-los.
Em vez disso, tirei meu cartão de débito, considerando um cupcake também, quando John balançou a cabeça.
— Por conta da casa.
Este era seriamente meu novo lugar favorito.
Agradeci e me dirigi para as poltronas perto da lareira. Olhando para o meu telefone, não pude acreditar que eram apenas sete e cinquenta da noite. Minha vida foi completamente aniquilada em menos tempo do que duraria um jantar romântico.
Eu tomei um gole do mocha, um mocha realmente bom, na verdade, e considerei meu próximo passo.
Eu precisava de um lugar para morar, talvez um carro e um emprego, tipo, para ontem. Claro, ontem eu tinha um emprego. A compensação foi de três semanas. Além disso, as duas semanas de férias que eles me deviam me dariam algum tempo para respirar. Não o suficiente para uma respiração profunda. Claro, eu também recebi a pequena quantia da venda dos meus móveis de casa, mas provavelmente teria que comprar coisas novas. O poço só afundava.
— Então, Mocha, qual é o plano? — perguntou John, sentando na cadeira ao meu lado. — Você vai apenas acampar aqui?
Pude ver que o cara estava realmente preocupado. Um completo estranho, preocupado com meu bem-estar. Não pude deixar de pensar que Jason não estaria neste momento pensando se eu estava bem, muito menos se preocuparia com uma estranha.
— Estou apenas tentando recuperar minhas forças para voltar para casa. Vai ser um exercício e tanto com estes saltos.
Ele olhou para mim, olhou para meus sapatos, olhou de volta para mim.
— Minha namorada chegará daqui a pouco se você quiser uma carona. Podemos deixá-la em sua casa, sem problemas.
A namorada dele. Óbvio. Mais uma prova de que todos os bons já foram tomados.
Mas, eu não era de olhar dente de cavalo dado, ou de uma carona.
— Isso seria excelente. Muito mesmo. — Eu olhei para a Garota Barista. — Eu não acho que você poderia dizer a ela que eu estava tendo um caso com sua namorada?
John sorriu. Era incrível como a diferença era sutil entre um sorriso verdadeiro e um sorriso desdenhoso. Era incrível como você pode ter pensado por anos que alguém estava sorrindo para você e então, de um só golpe, você começa a se perguntar se todos aqueles olhares significavam algo menos agradável.
Claro, o universo colocaria o perfeito anti-Jason na minha frente para questionar minha própria cegueira proposital.
— Não ligue para Abby. Ela está em um programa especial de trabalho e estudo para adolescentes. Ela está aprendendo gerenciamento em primeira mão.
— Este programa de estudo e trabalho envolveria checagem com o guardião todas as noites?
O sorriso vacilou. — Não exatamente.
Fiquei surpresa com o quão próximo da verdade eu cheguei com aquele chute.
— Bem, bom para ela. Ela está melhor do que eu.
— Ei, uma noite ruim não é o fim do mundo.
— Verdade. Mas é o combo desempregada-despejada-levar-um-fora que realmente mata uma garota.
— Ah.... Ai, novamente.
— Suponho que você não conheça um lugar para morar ótimo e barato que não precise que eu tenha, sabe, um trabalho, pertences ou um plano?
John se recostou, olhando ao redor enquanto pensava.
— Talvez. — Ele pegou o telefone e mandou uma mensagem para alguém. — Você pode passar aqui amanhã? Posso ter algo para você.
Devia ter feito uma cara tão chocada quanto me sentia, porque John se levantou e me deu o que só poderia ser chamado de um sorriso reconfortante.
— Aproveite o seu mocha. Relaxe. Sarah estará aqui mais tarde e nós cuidaremos de tudo amanhã.
Mais tarde, quando ergui os olhos de um dos livros de autoajuda usados que peguei, uma loira pequena e curvilínea estava com o braço em volta da cintura de John. Eu meio que esperava que ela me olhasse feio quando eles viessem em minha direção, mas em vez disso, seu sorriso se alargou.
— Ouvi dizer que você está tendo uma noite péssima.
Eu ri. Como não poderia? Ela era tão simpática quanto ele. Eles eram, aparentemente, um casal adorável.
— Sim. Bem isso… — Eu puxei meu casaco e peguei minha pequena bolsa. — Obrigada pela carona.
— Sem problemas. Acho que vou aproveitar para te levar para casa enquanto ele fecha — disse ela, pegando sua própria bolsa e caminhou até a porta da frente. — Espero que goste de receber ajuda. John é o Sr. Conserta-Tudo e agora que sabe que você está procurando um lugar, ele colocou seu chapéu de corretor de imóveis amador.
— Não posso discutir sobre o amadorismo de ninguém no momento.
— Ótimo. Só não o deixe pendurar nada em seu novo lar. — Ela pareceu incrivelmente inflexível sobre isso. Eu meio que me perguntei que tipo de arte John andava pendurando pela cidade.
Então, eu apenas sorri, porque quem era eu para julgar, afinal?
Talvez as coisas estivessem melhorando.
4
QUATRO
AS COISAS DEFINITIVAMENTE não estavam melhorando.
Na manhã seguinte, não apenas meu apartamento estava congelando, mas eu não tinha água quente. Algumas semanas atrás, o clima estava apenas friozinho. Mas, com o verão se transformando em outono, a noite agora estava congelante.
Parece que, faltando apenas um dia para o fim do meu contrato de locação, o prédio começaria a ter problemas. Liguei para o zelador do prédio e não fiquei surpresa quando deu direto na caixa de mensagem.
— Micah? É Kasey Lane do 304. Estou no meu apartamento e não tenho aquecimento ou água quente… Espere. — Eu olhei para o meu despertador. O pequeno ícone da bateria estava aceso. — Eu também não tenho eletricidade. O que exatamente está acontecendo aqui? Por favor, me liga.
Enrolei meu edredom verde-musgo em volta de mim, feliz por não ter doado ele ou minha cama, embora ela não “combinasse” com o apartamento de Jason, e me dirigi para a minha porta da frente.
O corredor do prédio estava agradável e quentinho e… iluminado. Isso não era um bom sinal.
Beth, a garota que mora do outro lado, abriu a porta e me pegou em pé no meio do corredor, o edredom puxado para cima em volta do meu nariz enquanto eu tentava me aquecer.
— Sem aquecimento ou água quente. — Olhe para mim. A garota do óbvio.
Ela se inclinou para olhar para o meu apartamento, como se o ar frio pudesse parecer diferente. — Sério? Está tudo bem aqui.
É claro.
Beth me deu um sorriso do tipo o-que-se-pode-fazer-quanto-a-isso e desceu as escadas. O que também não foi uma surpresa. Ela era o tipo de vizinha que passava para avisar que ela estava dando uma grande festa, só para que você soubesse do que se tratava o barulho, mas nunca para te convidar.
Apertei para rediscar e esperei pelo correio de voz de Micah.
— Sério, Micah. Por que meu apartamento é o único que parece uma geladeira? Favor ligar de volta. Estou apenas, você sabe, passando um tempo no corredor de pijama.
Uma porta no andar de cima se abriu e passos pesados cruzaram sobre minha cabeça em direção à escada. O cara, por quem Beth chamava a polícia o tempo todo por fazer o treino P90X depois das sete da manhã de um sábado, dobrou a esquina e parou no patamar.
— Trancada do lado de fora? — Ocorreu-me o quão ruim eu devia parecer antes de tomar meu banho, ou antes da dose de cafeína.
— Não.
— Só passando o tempo? — Ele abriu um sorriso.
E por que não deveria. Devo parecer ridícula. — Sem aquecimento, água quente ou eletricidade.
— Sério? — Ele olhou para a minha porta como se pudesse ver o problema através do painel frágil. — Escute, eu só estou correndo para pegar um café e bagels, mas minha namorada está aqui para passar o fim de semana. Por que você não pega suas coisas e vem tomar banho na minha casa. Ela não vai se importar.
Dan, que aparentemente era o nome do cara P90X, me acompanhou até o apartamento dele, me apresentou a sua namorada e se dirigiu para a porta.
Isso mostrou o quão baixo eu tinha afundado, que eu nem me importava se estava tomando banho no apartamento de um cara estranho. A namorada de Dan pegou uma toalha para mim e certificou-se de que eu tinha tudo de que precisava.
— Para sua sorte, ele sempre contrata uma diarista na semana anterior à minha visita. Tenho um medo mortal do que você poderia encontrar aqui caso contrário.
— Obrigada. — Tentei imaginar Dan, que sempre parecia incrivelmente arrumado, tendo um banheiro imundo. Simplesmente não fazia sentido.
Mas, quem era eu para tentar decifrar o namorado de outra pessoa quando nem mesmo consegui decifrar o meu?
Corri para o meu banho, não querendo interromper o tempo da Namorada do Dan. Além disso, eu tinha um encontro com o dono de uma cafeteria que esperava encontrar um teto para eu morar. Eu estava disposta até a implorar naquela altura.
Sequei o meu cabelo o mais rápido possível e o enrolei em um coque desleixado antes de agradecer a ambos, um pouco triste por só conhecer o vizinho simpático um dia antes de me mudar.
De volta ao apartamento geladeira, abri minhas cortinas para deixar a luz do sol entrar antes de enrolar um lenço em volta do pescoço, puxar meu casaco e erguer minha bolsa. Como eu nunca percebi como ela ficava tão pesada assim com o notebook e o carregador nas minhas caminhadas de apenas uma quadra da minha casa até o ponto de ônibus?
Posso não receber um pagamento pelo dia hoje, mas ainda era um dia útil. Eu tinha muito trabalho a fazer e ainda mais coisas para pensar. Então era melhor já começar a arregaçar as mangas.
O ar estava úmido, o tipo de clima pré-outono que fazia tudo parecer um pouco mais fresco. Foi uma caminhada mais curta do que o esperado. Um pouco mais de um quilômetro. Isso é o que acontece quando você nunca não vai além do que a própria vizinhança, você perde a oportunidade de encontrar jóias escondidas.
Entrei na cafeteria e inspirei o aroma inebriante de café. Estar lá novamente foi a primeira coisa que me fez sentir bem, algo que parecia certo, nos últimos dois dias.
Aproximei-me do balcão, feliz por poder pedir outro daquele mocha delicioso e estranhamente não me surpreendi ao encontrar Abby no balcão novamente.
Ela olhou para mim e balançou a cabeça. — É assim que você sai de casa?
Eu olhei para minhas calças de ioga e jaqueta esportiva.
— Sim. É assim que saio de casa quando preciso caminhar dois quilômetros para sentar e tomar um café enquanto trabalho.
Ela balançou a cabeça novamente, desgosto emanando dela como se ela tivesse acabado de descobrir que eu chutava gatinhos como passatempo.
— Se você insiste em sair assim, vai continuar solteira.
— Eu só estou solteira desde a noite passada, você sabe, quando você me acusou de sair por aí traindo.
— Então. Bem-vinda à Terra dos Solteiros. — Abby me entregou meu mocha como se ele fosse algo muito bom para alguém como eu. — Você vai ficar nessa Terra por um bom tempo.
— Talvez eu queira ficar solteira por um tempo.
Ela olhou para mim por cima da névoa do vapor. — Você não parece alguém que gosta de ficar solteira. — Com isso, ela foi até o final do balcão para limpar alguma máquina.
Fiquei olhando para ela me perguntando se ela estava certa. Eu era do tipo de garota que não gostava de ficar solteira? Era? Foi por isso que fiquei tanto tempo com Jason?
Achava que não, mas estava aprendendo muitas coisas novas sobre mim mesma esta semana.
Sentei-me na mesma poltrona da noite anterior e ponderei. Eu estava definitivamente em um momento de reflexão de vida.
Assim que deixei de lado a reflexão sobre a Terra dos Solteiros, comecei a considerar o verdadeiro problema em questão. No fundo da minha mente, eu tive uma ideia, uma que tinha vivido lá por um tempo tentando criar coragem para emergir. Mas agora, em uma situação mental de luta ou fuga, ela abriu caminho na minha mente e está cutucando o meu cérebro desde que acordei com frio e irritada.
Meu próprio negócio de marketing e design. Divulgação, sites, banners, anúncios… Muitos designs divertidos para fazer sozinha. Sem todas aquelas grandes contas corporativas discutindo sobre o que tal ou tal tom de laranja diz subconscientemente. Apenas trabalho direto para startups, indivíduos e pequenas empresas.
Trabalho acessível, mas lindo.
Eu tinha as habilidades. Eu tinha a vontade.
Examinando meus contatos, tentei descobrir onde poderia encontrar alguns clientes para lançar meu novo negócio assim que o colocasse em funcionamento. Eu não tinha certeza de onde estava a linha ética sobre entrar em contato com ex-clientes. Uma coisa que eu sabia sobre mim mesma, essa não era uma linha que eu cruzaria.
Obviamente, eu precisaria de algo para mostrar a eles. Algo tão bom quanto o que eu conseguia fazer quando tinha recursos, mas com um orçamento muito menor. O que eu poderia oferecer para me destacar? O que faria de mim um sucesso? E que me permitiria pagar o aluguel?
Pesquisei designers no Google e comecei a pegar capturas de tela. Peguei o meu Moleskine e fiz anotações de diferentes coisas ofertadas, preços, cronogramas, esquemas de cores, sites... qualquer coisa que outras pessoas estavam fazendo. Eu marquei exemplos. Fiz anotações do que poderia ser feito melhor, diferente, ou apenas que fosse mais eu.
Foi divertido. Foi emocionante. Mas foi apenas o começo e quando tentei pensar além disso, fiquei um pouco assustada.
Depois de uma hora, já tinha bebido todo o meu mocha. Definitivamente, outro era necessário para traçar um plano de negócios enquanto eu esperava por John.
E, para minha sorte, Abby ainda estava trabalhando no balcão.
— Sabe qual é o seu problema? — começou ela, antes mesmo que eu pudesse fazer o meu pedido.
— Não, mas tenho certeza de que, como minha barista, não há nada que você gostaria mais do que me dizer.
É uma situação triste quando não me sinto estranha ou culpada por discutir verbalmente com uma criança.
— Olhe para você. Você está uma bagunça.
Olhei para baixo. Provavelmente por hábito. Será que Abby começou a canalizar a minha mãe. Eu estava uma bagunça? Emocionalmente ou fisicamente? Ela provavelmente queria dizer um pouco dos dois.
— Isso não é bom — disse ela, como se estar uma bagunça ocasionalmente fosse uma coisa boa e eu pudesse ficar confusa. — Já é difícil ser uma garota, quanto mais uma garota comum. Mas você está reduzindo sua própria classificação de crédito social vindo aqui assim.
Eu não deveria perguntar. Foi um movimento idiota e eu sabia disso mesmo enquanto a pergunta escapava dos meus lábios. — Classificação de crédito social?
— Eu chamo isso de Teoria da Garota Comum. É a razão pela qual você está solteira e não sabe o que fazer sobre isso.
Eu sabia o que fazer sobre isso: Nada.
Eu estava solteira, olhei para o relógio, há catorze horas. Eu não tinha morrido por não ter um homem em minha vida ainda.
Eu estava mais do que viva. Eu estava me sentindo super bem.
Quando decidi morar com Jason, minha mãe não ficou feliz. Tantas indiretas sobre gente interesseira que perdi a conta. Minhas tias se juntaram a ela. Os casais felizes da família também juntaram forças para tentar me convencer do contrário. Ninguém, nenhuma pessoa simplesmente veio até mim e disse que não gostava dele. Eles apenas pensaram que deveríamos nos casar em vez de morarmos juntos.
Ou talvez não gostassem dele.
Mas já essa… essa adolescente, autoproclamada guru do amor, era demais.
— Veja, os caras são muito visuais. — A Garota Barista Abby acenou com a cabeça como se eu não fosse acreditar nela ou isso fosse, sei lá, novidade. — Tudo gira em torno do que eles podem ver. Eles não podem ver que você é inteligente ou engraçada, ou o que quer que seja o seu Poder Feminino. É tudo uma questão visual.
— Se você diz. — Não era minha culpa se isso soou grosseiro até mesmo para mim.
— Agora você entra aqui desse jeito. — Ela acenou com a mão vagamente para mim do seu lado do balcão. — Nada bom.
— Ontem à noite você me acusou de ser uma adúltera.
Eu estava realmente começando a desejar já não ter pago a bebida. Ou que ela já tivesse me dado o meu mocha. Ou que meu ego não estivesse sendo metralhado sem motivo aparente.
Ou… ou… ou…
Ah, a vida fabulosa da garota recém-solteira. A garota solteira comum, aparentemente.
Claro, eu não tinha me arrumado já que viria andando até aqui e trabalharia o dia todo. Calças de ioga e uma camiseta justa eram a melhor escolha. Eu já havia planejado levar todas as minhas peças executivas para revender em um bazar e conseguir um dinheiro para o aluguel.
Claro, roupas de grife e sapatos que esmagam os dedos eram uma parte que eu não me importava em cortar.
Agora só precisava de um lugar alugado para pagar.
Eu toquei o pequeno buraco começando a desfiar ao longo da borda da minha camiseta e pensei comigo mesma que a última coisa que eu precisava agora era outro cara. Eu estava deixando a garota-dependente-de-algo de lado e estava me tornando a Mulher de Negócios Independente.
A Garota Barista chamou a minha atenção quando terminei a minha inspeção do será-que-esta-camisa-pode-ser-salva.
— Talvez um pouco de maquiagem também. Você sabe. Só um pouco de rímel e gloss.
— Meu mocha está pronto? — Sério. Ela achava que esse era o caminho para uma boa gorjeta? Irritar os clientes até que eles paguem para serem deixados em paz?
Eu balancei minha bolsa de moedas. Provavelmente estava muito leve para pagar por aquela bênção.
— Ainda não. — Ela olhou para o copo de viagem vazio em sua mão. — Então, a teoria. Caras. Eles tendem a se avaliarem bem alto, enquanto colocam as mulheres muito abaixo facilmente. Portanto, vamos supor que cerca de oitenta e cinco por cento das mulheres se enquadrem nesse grupo de aparência média. Algumas são classificadas como acima, na média superior, como a classe média alta, e algumas são classificadas abaixo na escala. Mas todas elas caem no meio da curva do sino.
Olhei para a mão dela, aquela com meu copo vazio, esperando que ela terminasse para que eu pudesse voltar ao trabalho. Eu tinha uma empresa para lançar.
— De qualquer forma — continuou ela, colocando meu copo, ainda vazio, na mesa. — Caras não vivem na mesma curva de sino. Quando eles veem aquelas dez por cento das garotas realmente lindas e gostosas, setenta por cento dos caras pensam que essa garota pode ser obtida. Esses setenta por cento estão reduzindo o QGC (Quociente da Garota Comum) significativamente. Pense nisso. Se um cara que está classificado como seis pensa que pode namorar uma nove, quem as garotas seis vão namorar?
O que me deixava assustada era que ela estava realmente fazendo sentido.
Mais do que assustada. Olhei para o lado de fora, só para ver se havia quaisquer outros sinais do apocalipse se aproximando.
— Então, todos aqueles caras da média superior se avaliam acima de uma garota acima da média.
— E os outros trinta por cento dos homens? — perguntei. O que eu estava pensando? Para onde foi a vozinha que vivia na minha cabeça? Que deveria estar gritando, Não dê corda! Não se envolva!
— Bem, a porção mais baixa, os homens abaixo da média, sabem do seu lugar. Eles aceitaram que estão entre os quinze por cento da margem inferior e encontraram uma garota em seu nível de atração. Pense nisso. Você vê uma garota. Você sabe que é bem mais bonita do que ela, mas ela tem namorado. Normalmente não paramos e pensamos, Que bom! Mas eu não namoraria com ele. Nós apenas ficamos presas na coisa toda do ela tem namorado e eu não.
Quem soava a dor de cotovelo agora, Garota Barista?
— Isso ainda deixa cerca de quinze por cento dos caras. — Por que eu ainda estava me torturando assim?
— Sim. — A Garota Barista acenou com a cabeça. — Sim. Você está absolutamente certa. E a maioria deles já tem alguém. Eles foram espertos. Eles agarraram uma ótima garota e estão mantendo-a. O resto deles estão apenas descobrindo o que devem fazer. É melhor você se recompor e se manter uma oito antes de ficar velha demais.
Velha demais?
Eu tinha vinte e seis anos. Para o que exatamente eu ficaria velha demais?
— Posso pegar minha bebida?
A frieza na minha voz deve ter ficado óbvia porque ela fez uma careta e começou a fazer o que quer que eles fizessem atrás do balcão para criar aquele mágico mocha. É melhor eu aproveitar agora. Com minha nova falta de renda, os mochas não ficariam mais na coluna de necessidades básicas onde costumavam residir.
Assim que a Garota Barista Criadora de Teorias terminou minha maravilha espumosa, peguei um guardanapo e voltei para a minha mesa de trabalho, ou melhor, minha poltrona confortável e mesa de centro, no canto da cafeteria.
— Não dê ouvidos a ela. — A voz era suave, meio que aguda no final. Combinava com a garota de uma maneira estranha. Ela devia ter mais ou menos a minha idade, com cabelo castanho claro emoldurando um rosto de fada por trás dos óculos.
— Desculpa?
— Não dê ouvidos a ela. Ela está errada. — A garota olhou para o balcão antes de se mexer na cadeira para olhar para mim. — Ok, ela pode não estar errada. A teoria provavelmente é válida. Mas ela tem cerca de nove anos e você não pode colocar um número em algumas coisas.
— Eu gostaria de acreditar que isso seja verdade. Especialmente porque aquele cenário não me favorece muito neste momento. — Não havia nada de atraente em ser sem-teto. Mais um motivo para colocar o meu negócio em funcionamento.
Toda a ideia de que eu tinha que sempre me virar sozinha me irritou ontem à noite. Havia uma razão que “para melhor ou para pior” fazia parte dos votos matrimoniais. Mas isso era algo de um relacionamento real. Não um que você pensasse que era real, mas aparentemente era apenas uma conveniência para uma das partes. Mais uma razão para Jason e eu não sermos casados. E agora, de jeito nenhum eu procuraria um relacionamento enquanto estivesse sem teto e desempregada.
Claro, de jeito nenhum eu procuraria por um relacionamento por um bom tempo de qualquer maneira. Eu estava declarando que a esfera de três metros ao meu redor era uma zona livre de homens. Posso até fazer voltar a moda das saias gigantescas só para fazer cumprir essa nova sanção.
Mas, a garota não tinha terminado.
— Meu namorado, Ben… — Ela abriu um sorriso bobo no rosto. — Ele é maravilhoso. Tipo, o segundo cara mais lindo que eu conheço. Sério. Eu pareço o tipo de garota que um cara bonito se interessaria?
Quase balancei a cabeça. Não porque ela não fosse bonita. Ela era. De uma maneira fofa, a garota-da-casa-ao-lado-que-é-um-tanto-nerd. Eu tinha certeza de que os caras ficariam atraídos por ela apenas por causa de todo aquele brilho vindo dela. E os óculos. Eu nunca tive inveja de meninas com óculos, mas ela parecia usá-los como se fossem apenas parte de seu visual.
Claro, isso poderia ser apenas o brilho de um relacionamento novo, mas eu estava supondo que ela já era adorável mesmo na era pré-Ben.
— Me chamo Jenna Drake. — Ela se inclinou sobre a mesa de centro, a mão estendida.
Foi um gesto muito acolhedor. Ela simplesmente não era uma daquelas pessoas que você dispensava rudemente porque estava tentando trabalhar. Além disso, o nome dela era vagamente familiar enquanto eu lutava para lembrar de onde. Eu estava realmente, realmente esperando que não tivéssemos frequentado a escola juntas ou algo assim.
Era a última coisa que eu precisava. A famosa rede de fofoca da minha pequena cidade ainda estava viva e bem. Minha mãe me ligaria trinta segundos depois de ouvir sobre meu novo status, e eu receberia um sermão sobre as mulheres que vivem sozinhas no mundo.
Obviamente, minha mãe havia acidentalmente voltado no tempo para os anos 40.
Aos seus olhos, só havia uma coisa pior do que não ser casada… ser solteira.
— Kasey Lane.
— Uau! — Ela puxou um caderninho vermelho e rabiscou nele. — É um ótimo nome. Vou roubá-lo com certeza.
Roubar meu nome? Como um roubo de identidade? Eu não tinha certeza do que mais ela estaria falando, mas ela não tinha nenhuma das minhas informações, então percebi que eu estava bastante segura. Eu só teria que me lembrar de não deixar minha bolsa sozinha… ou jogar minha nota fiscal fora.
Ela olhou para cima e deve ter percebido o olhar horrorizado em meu rosto.
— Ah, não, não se preocupe. Não estou roubando nada real. Apenas seu nome. É um ótimo nome — disse ela novamente, desta vez com um sorriso enquanto colocava o bloco de volta em sua bolsa. — Eu sou escritora e você ficaria chocada se eu te contasse como é difícil inventar novos nomes. Quer dizer, há o quê? Milhões deles? E, no entanto, você acaba pensando sempre nos mesmos, todas as vezes. Já tentei nomear quatro caras diferentes, James.
Ela era uma bolinha de energia… uma energia realmente sem foco.
— Desculpa, Eu tento não sair por aí tagarelando. Não sou muito sociável.
Ela parecia realmente pensar isso. Ela não tinha sido nada além de doce, acolhedora e amigável. Se isso fosse não ser sociável, eu teria muitos problemas.
E a Barista Abby… Bem, Abby já estava a cinco passos além de ter problemas. Talvez precise reconsiderar o Coffeesão como meu novo local para passar o tempo.
— Não. Não, tudo bem — interrompi, antes que ela pudesse começar novamente. — Só fiquei um pouco chocada com a palavra roubar. — Pode ser até divertido saber que meu nome foi usado em algum livro. Uma versão famosa da minha não-eu. Eu poderia pegar o livro e mostrar às minhas amigas na próxima vez que marcarmos algo. Olha, este personagem tem o meu nome! Você não consegue isso sendo uma mãe dona de casa. Espera. — O que exatamente você disse que escrevia?
Com a minha sorte, ela escrevia alguma literatura erótica de nicho estranho com a qual eu teria que lidar toda vez que alguém fizesse uma busca sobre mim no Google.
— YA, jovem adulto.
Ah… Isso parecia bastante seguro. Parecia estranho que eles deixassem uma mulher meio louca escrever para crianças, mas o que eu sabia?
Jenna sorriu e começou a tirar mais coisas de sua bolsa. Um notebook e um cabo, um pequeno cronômetro em forma de girafa, uma pilha de páginas rabiscadas.
— Você não costuma trabalhar aqui, não é? — Ela abriu o notebook e recostou-se na cadeira enquanto ele ligava.
— Primeiro dia. Bom mocha.
— É por isso que você não está familiarizada. Este é o meu escritório oficial do: não-aguento-mais-ficar-na-minha-empresa. — Era difícil não gostar de uma garota que era tão gentil com os outros e ria de si mesma com tanta facilidade.
Eu olhei ao redor. Tirando a Abby, o lugar estava bem morto. Puxei a poltrona para perto de mim, perto o suficiente para empilhar estrategicamente coisas sobre ela.
— É sempre tão quieto aqui?
— Normalmente não às quartas-feiras. Está é uma janela de fluxo baixo do meio da semana. Deve ser o tempo bom. Durante a semana, há uma pequena correria no horário do almoço e, em seguida, silêncio novamente até a multidão do final do expediente. John diz que eles ficam lotados durante o fluxo matinal, mas isso envolveria acordar antes das oito para comprovar, então…
— Maravilha.
— Estarei aqui todos os dias por um tempo. — Ela puxou o notebook para o colo e ajustou o cronômetro. — Uma árvore caiu dentro do meu escritório.
Uma árvore caiu dentro dele? Ela disse isso como se fosse uma ocorrência diária. Quase perguntei a ela sobre isso, mas ela sorriu, colocou os fones de ouvido e começou a digitar.
Levei um momento para me concentrar novamente, o que foi estranho, já que fiquei tão surpresa que ela se sentou no meu canto abarrotado do café e conversou comigo.
Com sorte, nada cairia sobre ela enquanto estávamos trabalhando tão juntas. Ela parecia o tipo de pessoa com quem algo assim aconteceria.
E minha sorte não precisava de ajuda para piorar.
5
CINCO
— EU DEVIA TER ADIVINHADO que vocês acabariam se esbarrando. — A voz de John cortou a música que eu coloquei para tocar no fone para abafar meus pensamentos. Não havia nada como um pouco de Jason Aldean para te animar quando você não queria pensar na vida. Eu estava ignorando que o nome dele era Jason e me concentrando na parte Deus do Country Rock da equação.
Puxei meus fones de ouvido e olhei para ele encostado na ponta do braço da cadeira de Jenna.
— Quem?
Se essa fosse outra tentativa de me dizer como conhecer homens, eu teria que reconsiderar vir para cá, mocha ou não.
— Você e Jenna. Jenna é justamente a pessoa que precisamos perguntar sobre o apartamento.
Eu me virei para a adorável elfa meio escondida atrás da tela de 17 polegadas de seu notebook.
— Você está se mudando?
Sua alegria pareceu diminuir um pouco quando ela balançou a cabeça.
— Não eu. Ben está indo para Londres por um ano e estava pensando em sublocar seu apartamento.
Uau! De certa forma, isso era pior do que levar um fora. Pelo menos eu poderia superar meu ex-idiota. Eu senti que já estava quase lá. Mas, se alguém que eu realmente amasse estivesse indo embora por doze meses… Sim, isso seria um tanto merda. Muita merda.
— Então, ele está apenas querendo sublocá-lo?
Jenna acenou com a cabeça. — Talvez. Ele não tem certeza. A empresa está pagando pela casa dele em Londres, então não é como se ele estivesse saindo no prejuízo. Mas faz sentido ter alguém lá.
Pensei no bairro excessivamente charmoso em que estávamos e em minha falta de dinheiro para bancar tal charme.
— Fica aqui perto? Provavelmente não posso pagar nada neste bairro. — Eu estava ficando cansada da minha própria história de desgraça neste momento. — Eu perdi meu emprego e deveria ir morar com meu namorado, agora ex-namorado, neste fim de semana, então, o aluguel vai ser apertado. Tenho cinco semanas de compensação do trabalho e algumas economias, mas não quero acabar em uma situação ruim em termos de dinheiro.
— Bem, ele vai passar aqui esta tarde. Podemos perguntar o que ele está pensando em cobrar quando ele chegar aqui. Você tem muitos móveis?
— A partir de amanhã? — Eu não conseguia acreditar na situação que fui parar. Que eu permiti que Jason me jogasse. — Basicamente nada.
Jenna e John olharam para mim como se eu tivesse acabado de dizer a eles que fui forçada a colocar meu cachorro para dormir… Você sabe, aquele que eu não tenho e que urinou no meu tapete que não é mais meu.
— É uma longa história — expliquei, esperando não ter que explicar. — Cheia de tristeza e muito site de vendas.
— Certo. — Jenna pegou o celular e estava enviando uma série de mensagens de texto antes mesmo de me responder.
— Então, Kasey. Qual é o plano? — perguntou John, se acomodando na cadeira ao lado de Jenna e tomando um gole de qualquer coisa que cheirava deliciosamente em sua xícara.
— O plano?
— O plano colocando-a-vida-de-volta-nos-trilhos.
Ah… esse plano.
Pensei em evitar a pergunta, mas como hoje era meu primeiro dia oficial como freelancer, provavelmente deveria compartilhar isso.
— Estou começando meu próprio negócio.
— Sério? — Ele pareceu um pouco preocupado. O que, sendo ele um empresário, achei irônico. E preocupante.
— Pois é. Sou designer gráfico. Eu já fiz uma tonelada de campanhas de marketing. Achei que a melhor opção era começar a fazer isso sozinha e trabalhar com uma base de clientes menor do que executar grandes projetos corporativos. Além da coisa toda de: perdi meu emprego.
Jenna olhou para cima, me estudando. Pela primeira vez, vi nela alguém que não era esquisita. Alguém que sabia o que estava fazendo.
— Você tem alguma amostra do seu trabalho?
Droga! Amostras. Eu não tinha chegado tão longe.
— Estou fazendo algumas análises de mercado primeiro para ver em que grupos e clientes avulsos provavelmente estão interessados e são capazes de pagar. Mas, se você estiver curiosa… — Eu rabisquei cinco dos últimos sites que fiz em conjunto com um plano de marketing. — Eu fiz o argumento de venda e acompanhei todos esses projetos.
Jenna pegou o papel e digitou o primeiro. Eu a observei, seu nariz franzido, olhos focados, enquanto ela rolava pela página do primeiro site.
— Quanta liberdade criativa eles lhe deram?
— Depende do cliente. Às vezes, eles não têm ideia do que querem. Às vezes, eles têm só uma visão. — Eu sorri, pensando em meu último trabalho com um advogado que pensava que era um artista desperdiçado. — Ocasionalmente, a visão que eles têm do projeto é possível de fazer. Sempre faço um questionário com os meus clientes de qualquer maneira, o que ajuda a esclarecer as coisas de ambos os lados.
Eu rabisquei questionário na minha lista de tarefas. Era melhor eu já tê-los prontos. E cartões de visita. E meu próprio site. E uma marca. Você sabe, nada que consome muito tempo.
Fiz mentalmente a matemática do quanto-dinheiro-tinha-em-minha-conta, feliz por poder fazer o trabalho sozinha agora.
Jenna assentiu novamente. — Deixe-me olhar. Posso ter mais algumas perguntas.
Olhei para John, sem saber o que estava acontecendo, mas muito feliz. Se eu estivesse interpretando bem a situação, talvez tivesse a minha primeira cliente.
— Vocês, senhoritas, aproveitem as bebidas. — Ele se levantou, balançando sua caneca vazia enquanto caminhava. — Eu tenho que ir tocar o barco.
Um olhar de volta para Jenna me mostrou que eu deveria deixá-la em paz. Uma coisa que aprendi trabalhando em um ambiente corporativo era quando deixar o cliente pensar.
E, se eu fosse ter um cliente, tinha algumas coisas para fazer antes. Olhei para minha lista de tarefas fingindo que tudo aquilo poderia ser feito em uma tarde. Afinal, a ignorância, mesmo no estilo negação, era uma bênção.
6
SEIS
— E AÍ, LINDA. Criando mundos para depois destruí-los?
Esse tinha que ser o Ben. Não apenas porque ele puxou uma cadeira e se sentou praticamente no colo de Jenna e beijou sua testa enquanto se sentava, mas porque eu poderia facilmente acreditar que ele era o segundo cara mais lindo da cidade.
E apaixonado. Ele estava totalmente apaixonado.
— Acabei de acrescentar um acidente de carro enquanto o motorista estava enviando uma mensagem de texto. Só não tenho certeza se é engraçado o suficiente.
Eu não tinha certeza se uma situação daquela tinha alguma maneira de ser algo engraçado, mas o que eu sabia?
— Quero dizer — continuou ela. — É um assunto sério, mas, ainda assim, tem que ser engraçado.
Ben assentiu como se esta fosse uma conversa normal.
— Ah.... Ben! — exclamou Jenna, fechando seu notebook e apontando para mim. — Esta é Kasey Lane. Não é um dos melhores nomes de todos os tempos?
Ben me ofereceu a mão e um sorriso que me disse que ele faria tudo para agradá-la, ou quase tudo. Eu não poderia imaginar encontrar um cara que visse o meu melhor no que os outros consideravam um pouco estranho.
— Ben Donahue.
— Kasey do nome incrível.
Ele deu aquele sorriso para mim e eu não culpei Jenna nem um pouco por estar caidinha por ele. Onde ela era a típica garota nerd de óculos, ele era o típico cara de óculos modelo de catálogo e gostosão. Eles teriam os filhos míopes mais adoráveis de todos os tempos.
— Então, Srta. do Nome Incrível, ouvi dizer que você está procurando um novo lugar para morar.
Aquilo era constrangedor. Mais do que constrangedor. Mas, o que eu poderia fazer? Era verdade, eu estava desesperada e ele poderia ser a resposta.
Eu contei a ele o básico: Emprego perdido, nova empresa, rompimento ruim, o fim.
— Caras podem ser a ruína de todas as coisas boas. Eu sou um cara, mas tento me encaixar em somente cinquenta por cento dos quesitos básicos.
— Cinquenta por cento?
— Meus dois melhores amigos. Um é mulherengo e o outro está tentando salvar o mundo.
— Eu não sabia que uma coisa excluía a outra. — Eu coloquei a mão sobre minha boca. Nada como insultar o amigo do cara de quem eu estava pedindo um favor.
Ben riu. — Certo. Até que faz sentido. Mas Max é um cara legal. Ele foi meu colega de quarto na faculdade. Dane, bem... As mulheres acham que ele é atraente. Vamos resumir assim. Acho que eles se cancelam.
Jenna fechou seu laptop e o colocou de lado. — Você vai gostar do Max. Você vai gostar do Dane também. É quase impossível não gostar, uma vez que você consiga ouvir o que ele diz através daquela beleza cegante que entorpece todos os seus sentidos.
Isso era tudo que eu precisava… mais homens mulherengos. Eles provavelmente tinham namoradas de conveniência que não os pressionavam por um compromisso mesmo estando juntos há anos… ou, você sabe, fossem morar juntos.
— Então, o negócio é o seguinte. Tenho uma casa a cerca de duas quadras daqui. Eu estarei fora por cerca de um ano. — Ele estendeu a mão e envolveu a mão de Jenna na sua. — Quando eu voltar para visitar, eu posso querer entrar no meu depósito, no mais, eu apenas ficaria com Jenna, se não acontecer mais nenhum desastre natural em sua casa. Eu me sentiria bem tendo alguém lá. Saber que não haverá problemas com canos congelados ou arrombamentos neste inverno. Eu estava pensando que isso seria um bom negócio para todos.
Dois quarteirões de distância ficava perto demais de uma região superbonita. Eu tinha certeza de que não seria capaz de pagar um preço que fosse vantajoso para as duas partes, até que ele disse o valor.
— Você não pode estar falando sério. Você pode conseguir o dobro disso.
Ben deu de ombros. — Não preciso do dinheiro por causa do trabalho que arrumei. Minha hipoteca é baixa e seremos nós dois dividindo-a meio a meio. Achei que você gostaria de ver o lugar hoje.
— Após o almoço. Você terá que sentar-se para uma refeição conosco enquanto isso, eu irei interrogá-la sobre sua nova empresa e o grande favor que você vai fazer por mim em troca de morar na casa do meu namorado.
Vou ser honesta, essa declaração, mesmo dita em sua vozinha alegre, me deixou um pouco nervosa.
Jenna voltou a digitar enquanto Ben e eu conversávamos. Me senti estranha batendo papo com o cara dela.
— Não ligue para ela. Ela vai ficar em seu próprio mundo até chegar a um bom ponto para parar.
Com um estalo, ela finalmente fechou o notebook. — Estou pronta para almoçar a hora que vocês quiserem.
De alguma forma, ela fez aquilo soar como se fosse ela quem estivesse nos fazendo esperar esse tempo todo.
— É claro que você está. Mas, Kasey estava tentando terminar algum trabalho. — Ben se inclinou e a beijou levemente antes de olhar para mim com um sorriso. — Estamos trabalhando na parte da conscientização.
— Estou perfeitamente ciente. Só estou com fome.
— Bem, podemos pegar um lanche para você, se isso for fazer você ser legal com a nossa companhia. — Ben se recostou na cadeira, observando Jenna guardar suas coisas.
Jenna parecia triste. Quem olhasse acharia que Ben a estava matando de fome. — Talvez apenas um pequeno lanche. Quer dizer, porque teremos que esperar, depois caminhar até o restaurante e depois esperar pela comida. Então faz sentido um lanche.
— É claro que faz. — Ben me deu um sorriso quando ele se levantou e foi em direção ao balcão. — Nunca fique entre Jenna e seu computador, ou sua comida. Tirando isso, ela é um amor.
Bom saber.
Eu estava prestes a comentar sobre a cintura minúscula de Jenna contrastando com o seu apetite não tão pequeno, mas em vez disso achei que era melhor terminar minha pesquisa para que pudéssemos levar a garota a um restaurante.
Se a comida fosse o caminho para o coração de Jenna, e Jenna fosse o caminho para o apartamento do Ben, eu poderia nos levar a um local de almoço mais rápido do que um bunda-mole mulherengo poderia dispensar uma garota que não enxergava em que tipo de relacionamento na verdade estava.
7
SETE
O APARTAMENTO DO BEN era tudo o que uma garota poderia sonhar. Instalado no último andar de um prédio estilo brownstone, o lugar tinha um pequeno “terraço” que era basicamente a cobertura do apartamento de baixo, um cantinho de café da manhã com uma grande janela, e uma pequena, mas confortavelmente mobiliada sala de estar. A cozinha era pequena, mas tinha um micro-ondas elevado para economizar espaço no balcão, e maximizar a minha capacidade de me alimentar. O quarto fazia divisa com a sala de estar e em um canto cercado por janelas ficava uma escrivaninha fofa.
Eu poderia viver aqui. Eu poderia até trabalhar aqui.
— Como você pode ver, a maior parte da minha hipoteca é localização. — Ben deu um pequeno sorriso autodepreciativo. — É tão pequeno que tive que aprender a mantê-lo limpo. Até uma meia no chão faz tudo parecer bagunçado. O prédio tem regras sobre tudo, então é melhor ter alguém sempre aqui. Mas, é um ótimo espaço e eu não quero ter que vendê-lo.
Se fosse meu, também nunca iria querer perdê-lo.
— Você está realmente disposto a sublocá-lo para mim a esse preço?
— Na verdade eu não ia sublocá-lo. A empresa que contratou meu grupo vai nos acomodar em Londres. Agora eu não vou ter que me preocupar se algo acontecer no prédio, e eu posso me dar ao luxo de voltar para casa com mais frequência. — Ben passou um braço em volta de Jenna. — Você pode ver como o acordo é vantajoso para nós dois.
Eu dei outra volta ao redor do lugar, como se tivesse uma decisão a tomar.
— Eu não posso agradecer o suficiente por isso. Jason me devolveu meu primeiro aluguel e metade da minha parte da fiança, então eu posso transferir o valor ainda hoje.
— Ele te devolveu metade do que você pagou pela fiança? — Jenna colocou as mãos nos quadris quando perguntou.
— Eu sei, mas não sabia o que dizer quando tudo aconteceu. Ele me deu junto com um cartão.
— Ah! O que o cartão dizia? — Jenna tinha aquele brilho nos olhos que estava se tornando familiar. Ela era provavelmente a pessoa mais curiosa que eu já conheci.
— Jenna, nem todos gostam de compartilhar cada detalhe de sua vida pessoal.
— Na verdade… — Eu cavei na minha bolsa procurando o envelope. — Eu nem abri ainda.
— Você não checou se o dinheiro estava todo aí?
— Bem, eu imaginei que quem mentiria sobre devolver apenas metade do seu dinheiro.
Todos nós olhamos para o envelope como se ele fosse começar a falar.
— Bom. — Jenna começou a se balançar. — Abra.
— Amor… — Ben obviamente passava muito tempo gentilmente alertando-a.
— Não. Vamos abri-lo. — Eu rasguei o canto e enfiei meu dedo, passando-o por cima até que eu pudesse puxar o dinheiro e o cartão de dentro. O dinheiro era exatamente a quantia que ele tinha me dito. — Tudo aqui.
— Leia o cartão.
— Jenna Jameson Drake. — Ben a pegou pelos ombros e a afastou de mim para que, com sorte, ela perdesse o foco. — Talvez ela queira ritualisticamente queimar o cartão sem nunca tê-lo lido.
— Uh, essa é boa. — Comecei a considerar os lugares onde poderia queimar a coisa sem ter que depois chamar os bombeiros. — Você é bom nisso… Você deve ter sido uma mulher na vida passada.
— Sou seguro o suficiente da minha masculinidade para aceitar isso como um elogio.
Certo, aqui vai. Tirei o cartão e examinei.
— Tem um gato na capa. Ele está usando uma cartola. — Eu segurei-o para que eles pudessem ver o desenho da capa. — E dentro…
Eu abri o cartão e vi… nada. Nadinha. Ele me deu um cartão em branco, nem sequer assinou.
— Uau. Isso é… eu nem sequer tenho palavras. — Jenna somente encarou o cartão. — E não é sempre que eu fico sem palavras. Mas este pode ser um desses momentos.
Nós três só ficamos lá, parados e encarando cartão.
Encarando como se quanto mais olhássemos, mais chance dele fazer algum sentido.
— Você acha que era só um cartão que ele tinha guardado em casa?
Ontem eu teria dito não. Mas hoje, eu estava percebendo que qualquer coisa relacionada ao Jason era possível.
— Talvez? — Quem sabe? Mas, naquele momento, eu nem me importei. Eu só ia ficar sem-teto por algumas semanas e eu tinha um grande plano de negócios se formando. Talvez levar um fora foi o universo me forçando a me livrar de todas as coisas ruins da minha vida. — Bem, eu adoraria sublocar este lugar.
— Maravilha! — Ben passou um braço em volta de Jenna novamente. — Parece que você vai ter que me aturar todas as noites pelas próximas três semanas.
— Ah.... Uau. Eu não quero forçá-lo a sair de sua casa.
— Não se preocupe com isso. Quer dizer, por que se mudar duas vezes? E de qualquer jeito, para onde você iria por três semanas? Contanto que não se importe que possamos separar um tempo nos fins de semana para que eu possa embalar as minhas coisas.
— Vamos dar um jeito.
— Ele não é o melhor? — disse Jenna, sorrindo para ele. Não admira que ela parecesse sempre tão feliz.
— Pessoal. Vocês são demais. Isso aqui é ótimo. — Lutei contra as lágrimas que não derramava desde que tudo começou dois dias antes. — Eu simplesmente não consigo acreditar nisso.
— Sem problemas. — Ben deslocou um pé atrás do outro, inquieto, obviamente desconfortável com a minha cara de choro. — Por que você não vai para casa e se prepara para se mudar amanhã? Vamos fazer uma troca de trabalho manual. Eu vou ajudá-la a mover as suas coisas para cá e você vai me ajudar a tirar as minhas coisas daqui.
E com isso, voltei para o meu apartamento vazio, frio e escuro para me preparar para me mudar para um paraíso aconchegante.
8
OITO
OITO CHAMADAS. Liguei para Micah oito vezes. Ele não tinha retornado as minhas chamadas quando reportei os meus problemas de água-quente-aquecedor-energia. Nem quando eu liguei para perguntar quando ele resolveria isso. Nem quando liguei para dizer que me mudaria na data acordada e que precisava de um passe de estacionamento para uma van de mudança. E nem quando liguei enquanto voltava.
Quando eu consegui resolver todas as minhas tarefas e decidi ir para casa já estava escuro e eu estava ficando frio e irritada. Além disso, eu realmente não estava muito animada em ter que dormir em um quarto frio e escuro novamente.
Subi os três lances de escada até o meu apartamento e enfiei a chave da casa na fechadura.
Nada.
Verifiquei o número na porta. Sim, eu morava lá. Eu puxei a chave e tentei de novo. Nadinha. Não girava.
Procurei meu celular e verifiquei minhas mensagens. Nada. Nadinha. Quem não liga de volta para um inquilino em uma emergência?
Considerei ligar para ele mais uma vez, mas imaginei que ele simplesmente me ignoraria novamente. Micah nunca foi o melhor zelador do mundo, mas eu nunca pensei que ele me trancaria fora do meu próprio apartamento.
Por outro lado, sempre deixei a janela do meu quarto entreaberta. Jason me disse várias vezes que era uma má ideia. Que eu deveria pelo menos conseguir uma barra para bloquear a janela de abrir mais, já que o acesso da escada de incêndio ficava do lado de fora.
Eu sempre dizia que colocaria a barra. Sempre esquecia.
Mas agora, isso significava que eu tinha outra maneira de entrar no meu apartamento.
Eu desci as escadas e saí pela porta da frente. Na calçada, olhei para o apartamento de Micah, mas a luz estava apagada. Sem qualquer outra opção, dei a volta para a lateral do prédio para começar minha entrada estilo MacGyver.
O primeiro passo era descer a escada de incêndio. Fiz várias tentativas para pular alto o suficiente e conseguir passar a alça da minha bolsa no primeiro degrau da escada e puxá-la para baixo. Quando consegui, ela subiu novamente, batendo contra o patamar acima dela quando tentei desenganchar minha bolsa. Eu estava fazendo tanto barulho que até os gatos de rua tinham fugido.
Depois de mais duas tentativas, a bolsa estava pendurada no meu ombro e a escada estava firmemente segura na minha mão. Eu escalei o metal frio e enferrujado, avançando por janelas escuras e esperando não assustar a pobre Sra. Windsor do segundo andar. Afinal, só faltava agora era ter que explicar mais tarde o porquê de seu ataque cardíaco aos filhos.
Quando cheguei ao patamar fora do meu quarto, tentei cravar as pontas dos dedos no pequeno espaço entre a janela e o peitoril externo. Como eu mal abria a janela, eles mal cabiam. Precisei de toda a minha força para abri-la de um ângulo estranho, trabalhando de um lado e depois do outro. E eu ainda não conseguia realmente encaixar meus dedos.
O que eu precisava era um pé-de-cabra ou algo que pudesse deslizar naquele minúsculo ponto.
E Jason estava convencido de que seria fácil arrombar aquela janela para me roubar.
Com um suspiro de alívio, a janela cedeu e se abriu apenas o suficiente para eu passar. Joguei a bolsa e me agachei para segui-la, inclinando-me e colocando minhas mãos no chão enquanto escorregava como um verme enorme.
Quando chegou na minha bunda, por um momento tive certeza de que não caberia. A essa altura, como eu poderia desistir da ideia? Assim que consegui passar o traseiro, senti um arranhão espetado na minha perna e um puxão na minha calça quando ela ficou presa em algo pontiagudo do lado de fora da escada de incêndio.
Depois de alguns puxões, e algumas sacudidas, ficou óbvio que eu não sairia daquela situação sem rasgar minhas calças de ioga favoritas.
Por outro lado, ninguém estava por perto para me ver sair dessa sem minha dignidade.
Virei de lado, apoiando a cabeça e o ombro no chão. Obviamente, eu teria uma forte dor no pescoço na manhã seguinte. Com minha mão livre, trabalhei em minhas calças de ioga até que pudesse empurrá-las para baixo com os pés. Quando tinha praticamente me despido delas, elas prenderam em meus sapatos, então eu resolvi tirá-los, trabalhando com um pé depois o outro e larguei os sapatos na escada de incêndio. Assim que fiquei livre, deslizei para dentro, abri a janela e estendi a mão para pegar meus sapatos, procurando por eles na escuridão.
Não foi até que eu os avistei que percebi que um feixe de luz estava vindo por trás de mim.
— Apenas se afaste da janela e vire-se lentamente — ordenou uma voz profunda.
Olhei por cima do ombro e pude ver a silhueta de dois homens pela luz do corredor do prédio, mas o resto estava ofuscado pela lanterna apontada para meu rosto.
Minha hesitação deve tê-los incomodado, porque a voz veio com um tom agudo dessa vez. — Senhora, você terá que voltar para dentro da casa. Vamos conversar sobre isso. Calmamente.
— Quem é você?
— Policial Darby. Vou ter que pedir que você erga as mãos e vire-se lentamente.
Oh meu Deus. Eu estava pendurada para fora da janela com minha bunda coberta apenas pela minha ainda-não-me-mudei calcinha. Sem mencionar que a polícia conseguiu entrar no meu apartamento, quando eu não pude. Como diabos isso aconteceu?
Eu deslizei de volta, desejando que eu pudesse derreter no chão, e me virei para encará-lo, minhas calças de ioga erguidas como um escudo na minha frente.
— Você terá que abaixar as calças e vir até aqui.
— Por que você está no meu apartamento? — Eu não abaixaria as calças nem mesmo para a polícia.
— Não é seu apartamento — choramingou uma segunda voz. — Você se mudou.
Eu ergui minha mão para proteger meus olhos da luz. — Micah?
— Ela se mudou.
— Senhor, não parece que a Sra. Lane tenha se mudado.
— Ela me deu o aviso.
— Para o final do mês. Que não é até amanhã.
Esqueça a divindade. Eu precisava de calças. Levantei uma perna e vesti minhas calças de ioga, depois repeti o processo com a outra perna sem me virar ou me curvar.
— Liguei para você nove vezes hoje. Primeiro sobre meu aquecimento estar desligado. Então, sobre minha energia e água quente. Depois, apenas para tentar encontrar você. Você não pôde retornar uma ligação, mas pôde chamar a polícia aqui e abrir a porta antes mesmo que eu terminasse de entrar pela janela.
— Eu não queria que você roubasse o lugar.
— Roubar o quê? — gritei. Eu estava farta disso. De saco cheio de toda a maldita semana. Meu êxtase por ter encontrado um lugar para morar quase se foi. — Minha própria cama? Minhas roupas? Talvez eu roube minha escova de dente usada.
— Sra. Lane, você está compreensivelmente chateada. Você está tendo uma semana e tanto.
— Isso mesmo, estou.
Espera. O quê?
— Primeiro um ataque. Agora invasão domiciliar. Pensei ter dito para você ficar longe de problemas.
Aquilo soou vagamente familiar. Abby não tinha acabado de me dizer para ficar longe de problemas? E para me tornar namorável? Mas, na escala móvel de quanto eu estava disposta a ouvi-la, esse conselho estava no final de qualquer lista que eu pudesse fazer.
— Viu? — exclamou Micah. — Você vai ter que pagar por essa janela.
— Não há nada de errado com a janela.
— Então como você entrou? Hem? — Micah passou por mim e começou a examinar a moldura de perto.
Enquanto isso, examinei a grande silhueta por trás da lanterna.
Micah murmurou para si mesmo, procurando por algo errado com a janela. Mas minha situação ainda não tinha sido resolvida.
— Policial Darby, eu tenho uma pergunta. — Olhei para Micah por cima do ombro, considerando empurrá-lo pela janela. Porém, além da óbvia testemunha policial presente, a ideia de que a escada de incêndio impediria qualquer tipo de queda arruinou a alegria que tive com a visão. — Não é ilegal para um proprietário desligar os seus já pagos serviços e impedir que você entre no seu apartamento pago e com contrato assinado?
— Na verdade, é. — Eu podia ouvir o humor tingindo sua voz, uma risada baixa ao encerrar a frase.
— Então, não apenas não estou presa, mas posso ter um caso para registrar, hum…?
— Bem, não é um grande caso, já que não houve danos. Mas você pode implicar com isso se quiser.
— Não. Eu na verdade só quero dormir em algum lugar quente, com luzes e água quente, já que é a minha última noite aqui.
O Policial Darby baixou a luz e tive um vislumbre de uma mandíbula forte, cabelos curtos e escuros na penumbra. Exatamente o tipo de cara que minha amiga Jayne escolheria. Ele provavelmente pilotava uma moto e ficava muitas vezes carrancudo. O tipo de cara que eu evitava a todo custo. Definitivamente não era o tipo de cara que eu queria continuar me esbarrando enquanto minha vida estava desmoronando.
— Eu acho isso justo. Sr. Marrow, você poderia ligar a energia deste apartamento novamente? — Bem, pelo visto, ele também era a voz da razão.
Micah deu a volta para ficar ao meu lado e resmungou que podia.
— Nos próximos trinta minutos? — O policial Darby obviamente sabia fazer as perguntas certas.
Micah resmungou baixinho como se eu fosse a pessoa que desligou todos os meus utilitários dois dias antes do prazo e ele agora tinha que correr para limpar minha bagunça.
— Então, obrigada por ter vindo. — Fui em direção à porta, na esperança de acompanhar o policial Darby direto por ela e me livrar logo dele.
— Não tão rápido, Srta. Lane. — A porta se fechou, mas o policial Darby ainda estava do lado de dentro. — Você quer me explicar essa onda de azar que você parece ter ultimamente?
— Na verdade não.
— Eu preciso reformular minha pergunta? — Ele olhou para mim, uma mão apoiada casualmente no cinto acima de sua arma, a outra apoiada em seu quadril.
— Você disse que eu não tinha violado nenhuma lei.
— De alguma forma, eu suspeito que você está burlando algumas esta semana. — Graças aos céus estava escuro porque eu sabia que ele devia estar me olhando com aquele olhar de aço. Ele era provavelmente o tipo de policial inescrutável que os atores que faziam papel de policiais estudavam para parecerem bem… inescrutável.
— Eu realmente sou uma cidadã cumpridora da lei.
Eu era. Eu realmente era. Eu simplesmente não estava dando a melhor impressão na minha espiral descendente.
— É melhor que esta seja a última vez que sou chamado por sua causa.
— Eu prometo que será. — Nada mais daria errado esta semana. Eu estava tendo uma onda de acontecimentos felizes desde a noite passada.
— Certo — disse ele, como se não acreditasse em mim. — Apenas, de verdade, comporte-se.
O policial Darby abriu a porta e eu dei uma olhada nas linhas nítidas e ásperas, olhos azuis profundos e cabelo preto azeviche. Eu devo ter ficado encarando-o um pouquinho demais. Ele era apenas cerca de cinco centímetros mais alto do que eu, mas preenchia a porta como se ela tivesse sido construída em torno dele.
— Além disso, Sra. Lane?
— Sim.
— É quarta-feira.
Ele fechou a porta atrás de si enquanto eu tentava descobrir o que aquilo significava. Um homem misterioso. Mas, com sorte, não seria um homem que apareceria novamente em minha vida por um bom tempo.
Principalmente não depois que eu me mudasse para o apartamento de Ben. Tinha a sensação de que subir seminua pela janela era ainda mais desaprovador em bairros chiques.
9
NOVE
AS LUZES ainda estavam desligadas quando o aquecedor ligou. Deitei na cama ouvindo o ar passar pelas aberturas e esperei até que estivesse quente o suficiente para tirar meu casaco.
Você pensaria que depois de ficar sem calças enquanto rastejava para fora do ar frio da noite e entrava em minha própria casa, eu estaria… espere um segundo.
Quarta-feira.
Toda vez que eu pensava que minha humilhação havia acabado por esta semana… só que não. Eu tinha certeza que a calcinha que eu estava usando era azul escura com um dia da semana em amarelo brilhante na bunda.
Obviamente, devo estar usando o dia errado.
Eu me virei perseguindo meu próprio traseiro por um momento antes de desistir e me olhar no espelho.
É claro.
Eu estava vestindo terça-feira.
Fiquei ouvindo o barulho do aquecedor, me sentindo dividida entre a gratidão por nunca ter que encarar o policial Darby novamente e nojinho de mim mesma por desejar ter que encarar o policial Darby novamente. Você sabe, apenas para olhar para ele. Foi bom ver um cara que parecia um cara. Aposto que o Policial Darby não tinha um suéter de cashmere.
Mas, um policial? Tipo, o estereótipo do macho alfa controlador.
Não, dispenso.
Para ser justa, ele lidou com as situações com os dois homens mais loucos que já conheci com facilidade e humor. Ambas eram qualidades que eu percebi que faltavam na minha vida. Não que eu precisasse de um herói… quero dizer, um cuidador.
Sei lá.
Quando as luzes voltaram, concentrei-me no que precisava ser feito, empacotando o que restava das minhas coisas e separando só o que precisaria para o dia seguinte.
Quando guardei os últimos itens, o ambiente estéril perdeu qualquer pequena quantidade de charme que eu consegui colocar nele. Mudar-se para o divino refúgio de Ben seria um grande upgrade no fator de charme.
Lentamente, quase como se estivesse saboreando a última noite ali, caí no sono, feliz por estar sozinha e não precisar lidar com as emoções de mais ninguém. Eu não tinha percebido o quanto eu tive que fazer isso. Jason era temperamental e crítico, e provavelmente simplesmente louco, mas nada disso tinha sido óbvio para mim... até agora.
Tentei afastar a sensação de estupidez. Mas, fazendo uma retrospectiva, tudo ficou claro. Muito claro.
Todas as inseguranças que me levaram a namorar Jason: estar sozinha em uma cidade estranha logo após a faculdade, um novo emprego, um cara mais velho tomando você sob sua proteção, até as razões pelas quais eu fiquei com ele, era o que eu conhecia.
Depois de um dia como uma garota solteira na cidade, senti algo que eu não sabia que tinha perdido. Uma leveza de ser. Uma ausência de preocupação em equilibrar e explicar e suavizar tudo o que acontece ao meu redor.
Estava mais do que feliz com as minhas novas condições. Eu estava contente. O tipo de contentamento que perdurava.
E eu tinha que agradecer a uma pessoa por todo aquele contentamento recém-descoberto: Jason.
Eu estava cega, mas ele arrancou as minhas vendas e me empurrou para o mundo. E era um mundo muito melhor sem ele, mesmo se eu tivesse basicamente mostrado a calcinha a um policial.
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