História Dos Lombardos

História Dos Lombardos
Paolo Diacono – Paulus Diaconus
Um livro histórico, escrito em latim por Paolo Diacono no oitavo século d.C., narra os acontecimentos do povo Lombardo que saiu da Escandinávia para alcançar a Itália e reinar por outros dois séculos. Hoje, Milão é a capital daquela região que leva o nome de Lombardia, terra dos Lombardo. A história é interessante mesmo se a conquista Franca nos tira o gosto do final feliz, Na tv e nas ficções, há histórias que parecem retiradas das histórias deste povo; a vida de Grimoaldo, Rei dos Lombardos vale por si só um romance.
Começa com a saída da Escandinávia e a lenda do nome. Depois, segue uma história de uma longa marcha de aproximação à Itália. Uma breve divagação sobre São Benedito com duas poesias pouco importantes, depois a chegada na Itália, a descrição da península, Alboino, as suas façanhas, Rosmunda e Elmiche que matam Alboino. Os dez anos de anarquia dos duques, Autari e Teodolinda, princesa católica dos Bavaros, Astolfo, segundo marido de Teodolinda, Rotari o Rei do Édito e do primeiro grupo de leis Lombardas, depois o direito romano, um primeiro exemplo de legislação orgânica, importantíssima para a futura história do direito legal. A isto, segue a extraordinária aventura de Grimoaldo com a fuga da prisão, das intrigas, o Ducado de Benevento e a conquista do trono. Depois, Grimoaldo derrota os Francos e os Bizantinos, engana os Avari… . E assim por diante, de rei em rei até a outra história humana, aquela de Liutprando e da sua família. Uma história emocionante e evocativa, útil para compreender a Itália de hoje, dividida entre norte e sul.

Paulo Diacono
História dos Lombardos

Paulo Diacono

HISTÓRIA DOS LOMBARDOS
Historia Langobardorum
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Conteúdo do livro
O livro contém um breve prefácio dividido em seções e a tradução da Historia Langobardorum de Paolo Diacono, Origo Gentis Langobardorum e o Chronicon de Andrea de Bergamo
Uma breve menção é merecida para as Notas, estas são poucas mas práticas, valem-se de Wikipedia e permitem passar entre as listas de Papas, Imperadores e Reis. Passando entre sucessores e antecessores, podem ser encontrados quase todos os personagens citados no texto.
Se conhecem o texto de Paolo Diacono, podem deixar de ler este prefácio ou podem ler só as partes que lhe interessarem.
De todo modo, é dividido em seções temáticas breve e claras, úteis para enquadrar corretamente o texto.

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Informações de base

História dos Lombardos
de
Paulo Diacono

Fórum Barbarico Piccolo
VOLUME 1

o FÓRUM BARBARICO PICCOLO contém os textos medievais, traduzidos do latim ao italiano, mas em um formato essencial, sem conteúdos extras

GBL Grande Biblioteca Latina
Site: www.grndebibliotecalatina.com
e-mail: grandebibliotecalatina.com
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Nota
Se conhecem o texto de Paolo Diacono podem deixar de ler este prefácio, ou podem ler só as partes que lhe interessarem
De todo modo, está dividido em seções temáticas breves e claras, úteis para enquadrar corretamente o texto

A Tradução em italiano, do latim de Andrea Cornalba
Esta não é uma tradução "científica", é respeitosa do texto originário, mas deseja ser de leitura fácil e rápida. Enfim, quer ser divulgativa, de resto, os estudiosos acessaram fontes melhores. As linhas condutoras da translação foram a compreensão e a amenidade do texto. O problema maior foi mesmo a compreensão, colocar as pessoas no local certo para tornar a narrativa clara. Isto me obrigou a repetir continuamente os nomes ou o título para tornar os eventos claros. Isto gerou um texto pouco escolar, pouco elegante, mas no resto, o mesmo autor se mantém em um estilo linguístico original. Bem entendido, original pelo nosso conhecimento linguístico e o nosso hábito ao escrever, para aqueles tempos é um texto de absoluta importância tanto é que a História Romana de Paolo Diacono foi usada como texto escolar durante séculos.
Assim, perdoem a banalidade do léxico e narrativa, considere-a um modo para tornar alto medieval também a tradução. Se lerem Homero, perceberão logo as contínuas repetições e a incapacidade de síntese, uma professora do primeiro grau daria uma nota baixa ao maior poeta. Eu, como sempre, faço um paralelismo entre a evolução literária da humanidade e aquela de um estudante, Homero está no primeiro grau, Virgílio no segundo grau, Paolo na escola técnica profissional, estará só com o Iluminismo se chegar à universidade. Este paralelismo é útil para evitar pretender demais dos antigos, lembrem-se que César está entre os melhores e os mais límpidos escritores latinos e ele era um político e um general. O discurso é longo e interessante, mas não é o tema deste livro, assim, boa leitura.

A História
Por que publicar um livro antigo em latim e principalmente de parte? O motivo é exatamente esse, na definição "de parte": a história escrita é sempre de parte enquanto é gerada por uma "estrutura cultural"; entidade que, com frequência, coincide com o "estado-nação". Na prática para a história, vale o mesmo conceito válido para a arte, cada época dá um julgamento diferente sobre uma determinada obra de arte. Desde rapaz, quando eu estudava arte no segundo grau, ia para a biblioteca da escola para consultar uma famosa e belíssima série dedicada aos pintores, naqueles livros eram descritos os julgamentos críticos de especialistas da arte e artistas de diferentes épocas. Ali, podia-se ver a mudança de opinião com o passar do tempo. Assim, uma obra barroca primeiro gostamos, depois é desprezada e depois volta a ser considerada bonita. Esta mudança de opinião é estritamente ligada aos eventos históricos e às mudanças sociais. Para explicar alguns conceitos basilares vou continuar a usar o paralelismo arte-história, que acredito seja o mais adequado. Conto aqui brevemente uma experiência pessoal tida na Universidade ao prestar um exame de História Medieval. Assistindo aos exames de alguns estudantes meus colegas, notei a dificuldade que tinham ao definir os períodos históricos, ao seu apego às datas. O corpo docente da Estatal de Milão se irritava consideravelmente ao ver a incapacidade de argumentar sobre as datas de início e fim da época Medieval. As datas são convenções escolares, a idade antiga não terminar em um dia em um determinado lugar, mas é uma delimitação que se desloca e leva consigo mudanças sociais, frequentemente não uniformes. O reino goto na Itália ja é talvez da época Medieval, mas nós o consideramos tardio antigo, porque tendemos a fazer iniciar a época Medieval na Itália com os vinte anos das guerras góticas ou com a irrupção na península. A resposta certa à pergunta ''quando começa a época Medieval?'' é a data convencional da destituição do último imperador Romando do Ocidente, acompanhada da determinação que se trata, na realidade, de um longo período de transição que vai de Odoacre, aos Lombardos, e não envolve todo o território de modo uniforme. Se olhamos para a arte, vejamos os esplêndidos mosaicos de Ravenna, mas depois aparece o imponente mausoléu de Teodorico, faço notar que, depois destes, se passa para uma arte pobre paleocristã: a arte marca bem a passagem do mundo antigo aos novos tempos. De igual modo, independentemente da data em que conta-se que Colombo tenha descoberto a América, a arte do segundo quatrocentro florentino já mostrava o Renascimento, que aparece brevemente e logo se dissolve no Maneirismo que se tornará Barroco já na cúpula de Michelangelo de São Pedro. Assim, os Comuns tornam-se Senhorios e a política libera o fio com a antiguidade clássica que tem em si os símbolos do poder. Estranha história aquela da arte Clássica, nasce na democrática Atenas para se tornar instrumento de cada ambição imperial. De todo modo, também a arte decreta o fim da época Medieval, com a volta à plasticidade o "stil novo" de Vasari. Na prática, é o David de Michelangelo e não Colombo, a data certa a ser lembrada.
Assim, tendo esclarecido que é a sensibilidade comum e não as datas a enunciarem a História, acrescentemos o conceito de instrução estatal. Cada estado exalta a história que convém a ele para justificar a sua existência, podia-se adicionar também o fator geográfico que é parte integrante, mas haveria um tratado à Platão e bem longo. Resumindo, os Lombardos dividiram a Itália e para o futuro Estado-Nação, tudo isso que não tem Roma como capital e todo o território nacional como domínio é negativo, sem beleza, não importante. Este era o interesse dos Savoia, patriotas do Ressurgimento, do reino e também do Duce, agora, com um partido chamado Liga Nord, as "trombetas de Roma" voltaram a se fazer ouvir, sujando a verdade histórica. Eu acho que a Itália do Ressurgimento se tornou um estado maduro, pronto a se tornar parte do mundo. De resto, há cento e cinquenta anos, os Savoiardi são famosos biscoitos, ótimos para o tiramisù e o sentimento antigermânico se transformou em antagonismo esportivo. Desta forma, permitindo a todos lerem um texto como esse no formato original sem uma mediação cultural estatal, permite ao homem contemporâneo, "científico", julgar por si e aprofundar o tema como desejar.

O Autor
Paolo Diacono nasceu em Cividale del Friuli, provavelmente em 720 d.c. O seu nome latino era Paulus Diaconus, aquele lombardo Paul Warnefried ou também Paolo di Varnefrido. Era descendente de Leupichi, um dos lombardos que seguiram Alboino durante a invasão da Itália. Quando jovem, foi mandado para Pavia, que naqueles tempos era a capital do Reino Lombardo do Rei Rachis. Aqui foi aluno de Flaviano, frequentou a escola do mosteiro de São Pedro em Ciel d'Oro, de onde depois se tornou docente. Ficou junto à corte também com os sucessivos Reis Astolfo e Desiderio, sob este último, se tornou preceptor da filha Adelperga. Quando a filha de Desiderio se casou com o duque de Benevento Arechi, o seguiu. Com a queda do Reino Lombardo de 774, por causa da prisão do irmão, aceitou transferir-se para junto da corte carolíngia entre os anos 782 e 787, onde foi apreciado principalmente como gramático. Depois da liberação do irmão Paolo fugiu da corte de Carlo Magno e voltou para Benevento, e aqui entrou no mosteiro de Montecassino se tornando Monge Beneditino. Exatamente no mosteiro, escreveu entre 787 e 789 a Historia Langobardorum, a sua obra mais famosa e importante. Um outro fato que se refere a ele, mesmo se indiretamente, é ligado à música e de fato dá um seu hino dedicado à São João Batista, no século XI (onze), Guido d’Arezzo obteve as sete notas musicais, que deram à música um notável passo à frente. Paolo Diacono morreu em Benevento em 799, deixando a sua História desejosamente incompleta porque estava Paolo, que foi usada por muitos séculos como texto didático.

O que é a Historia Langobardorum
O que é a Historia Langobardorum

O que é a História dos Lombardos
Uma bela história, em muitas das suas partes emocionantes, infelizmente as exigências nacionais dos dois séculos anteriores não permitiram uma visão objetiva sobre este período. O problema principal é a nacionalidade dos Lombardos, chamados de estirpe Germânica, tentem entender, com os Austríacos em Milão e Veneza, depois em Trento e Trieste, não se podia mesmo olhar o período lombardo com orgulho nacional. Roma também era um problema, perguntem à Garibaldi e Cavour. Por falar em Garibaldi, ele é um nome conhecido entre os Lombardos, não encontrarão igual na História de Paolo, mas encontrarão uma bela sugestão. Enfim, a Itália nasce anti-alemã e por muito tempo isso que os italianos fizeram, e um pouco também a última guerra, condicionaram a imaginação de todos nós. E ainda, foram os Lombardos a romper a unidade da península, o que irá durar até 1918. Mas, algo importante, os estudos sobre suas origens étnicas da Europa demonstraram que a identificação Estado-Nação é artificial, cultural, frequentemente de recente criação e o sangue é tão misturado que talvez a única verdadeira nação europeia é exatamente a Europa, assim desfrutem da história. Às vezes, será um pouco cansativa, imprecisa, manifestadamente pró-católica e pró-Lombarda, inacabada, falta o final porque o autor, desiludido do final pouco glorioso do reino, nega-se a completá-la. Enfim, uma epopeia sem o 'gran finale'.

A Obra
A obra foi escrita por Paolo Diacono no mosteiro beneditino de Montecassino nos dois anos depois do seu retorno da corte francesa de Carlo Magno junto à qual desenvolvia as funções de gramático. A História relata os acontecimentos por parte do povo chamado Winili, que tomará depois o nome de Lombardos depois da heróica e mítica batalha contra os Vândalos. Assim, seguindo os acontecimentos dos vários reis, a história nos leva em Pannonia e de lá para a Itália. A este ponto, o autor nos conta da Itália no momento da conquista Lombarda, de Alboino e Rosmunda, dos dez anos de anarquia aos quais segue a eleição de um rei. Daqui, a História retoma a narrativa dos acontecimentos da corte. Entram em cena Autari, Teodolinda, Rotari, o excitante evento de Grimoaldo e o último rei de quem nos fala Paolo, o famoso Liutprando, aquele da tão discutida doação de Sutri ao Papa, o presumido início do poder temporal dos papas, mas esta doação é, de fato, uma restituição, a verdadeira doação é anterior à Liutprando.
O autor não falta ao alargar o seu olhar, contando também os casos eclesiásticos do ponto de vista estritamente católico, não deixando de contar-nos sobre os imperadores Bizantinos e dos acontecimentos do próximo e fatal reino Franco. A história é frequentemente imprecisa e, às vezes, claramente errada, mas dá um quadro de conjunto corretamente filo-Lombardo que realça a parcialidade Franco-Papal nos acontecimentos itálicos.
Uma outra particularidade da ocorrência é a nota friulana, Paolo, originário de Cividale, nos mantém constantemente informados sobre o que acontece no nordeste da Itália, e também em Benevento, seu lugar de residência, Ducado estritamente ligado à Friuli e à coroa Lombarda.
As fontes históricas de Paolo são: Origo gentis Longobardorum, um antigo canto que narra a lenda da origem escandinava. Segundo Non, Gregorio di Tours, Isidoro de Sevilha, Beda o Venerável e os Anais do Benevento.

O livro I (Primeiro) nos conta as origens dos Lombardos, descrevendo-nos as várias etapas de aproximação à Itália, até a vitória de Alboino sobre os Gepidi e a partida para a península, além das ocorrências de San Benedetto.

O livro II (Segundo) nos conta a entrada na Itália (com uma descrição da península), a conquista de Pavia por parte de Alboino, a trama da mulher Rosmunda e o assassinato do amador e a morte dos reis.

O livro III (Terceiro) começa narrando-nos algumas ocorrências dos dez anos de anarquia do duques. Ele nos narra parte das travessias do Império de Constantinopla, das três invasões francas, de Autari que casa a católica Teodolinda, em segundas núpcias desta com Agilulfo.

O livro IV (Quarto) o reino de Agilulfo e Rotari, da seção de Cividale em obra dos Avari, a breve história da família de Paolo, até o golpe de estado de Grimoaldo.

O livro V (Quinto) continua com a narrativa detalhada do difícil período do reino, Grimoaldo derrota Francos e Bizantinos, engana os Avari e consolida o Reino. O capítulo termina com a batalha entre os Cuniperto e Alachis.

O livro VI (Sexto) reparte de Cuniperto, conta-nos sobre seu reino, mas fala também sobre o reinado Franco, o Império e os Sarracenos. Depois chega o despótico mas capaz Ariperto, a longa luta com o nobre Ansprando, pai de Liutprando, o último de quem o autor nos conta, porque Paolo, desiludido, deixará a obra inacabada.
Devo acrescentar que o copista, aquele que copiava manualmente o texto original
provavelmente adicionou muitos erros ao texto já por si só impreciso, ou melhor, a nova cópia de uma cópia produzia um número incontável de erros. Este inconveniente será resolvido com a invenção da imprensa. O mesmo Paolo confunde locais e povos, erra os anos, enfim, não é um texto científico, mas tem a sua importância histórica, porque nos mostra aqueles séculos do ponto de vista Lombardo.

O que é o Origo Gentis Langobardorum
O Origo é um breve texto que é inserido no Decreto de Rotari, nos conta as origens do Povo Lombardo, em particular, narra a origem do nome "longas barbas". A mesma lenda nos é narrada também por Paolo, onde porém é definida ridícula. Foi também incluída uma lista parcial dos Reis Lombardos.

Origens dos Longobardos

Origo Gentis Langobardorum
Em nome de Deus, começo aqui a história das origens do povo Longobardo.
1. Existe uma ilha nas áreas setentrionais chamada “Scadanan” (Escandinávia), palavra que literalmente tem o significado de "massacre”. Nesta ilha, vivem muitos povos, entre os quais havia um pequeno chamado Winnili. Entre eles vivia uma mulher de nome Gambara mãe de dois filhos, o primeiro de nome Ybor, o outro Aio. Eles junto à mãe, comandavam os Winnili.
Acontece que os chefes dos Vândalos, ou seja, Ambri e Assi colocaram-se em marcha com o seu exército contra os Winnili e os intimaram: «Ou nos pagam tributos ou terão que se preparar para a guerra contra nós». Então Ybor e Aio junto com a mãe Gambara responderam assim: «É melhor para nós nos preparar para combater em vez de pagar tributos aos Vândalos».
Assim, Ambri e Assi, chefes do Vândalos, rezaram ao deus Godan para lhes conceder a vitória sobre os Winnili. Godan respondeu dizendo: «Concederei a vitória aos primeiros que vir pela manhã ao surgir do sol». Assim, Gambara e os seus dois filhos Ybor e Aio chefes dos Winnili invocaram Frea, mulher de Godan, para que levasse ajuda aos Winnili.
Frea os aconselhou a se apresentarem ao surgir do sol e levar junto aos maridos também as mulheres com os cabelos soltos em torno do rosto como se fosse uma barba. Aos primeiros raios do sol, enquanto se fazia dia, Frea girou o leito onde dormia o marido e o voltou para o Oriente, depois o acordou. Ele ao abrir os olhos viu os Winnili e as suas mulheres com os cabelos soltos e em volta ao rosto como uma barba e disse: «Quem são estes com as barbas longas?». Assim Frea lhe respondeu: «Assim, como deu a eles um nome, conceda-lhes também a vitória». Assim aconteceu que daquele momento, os Winnilos tomaram o nome de Longobardos.
2. Os Longobardos deslocando-se daqueles lugares, chegaram em Golaida, depois ocuparam Aldonus, Anthaib, Banaib e a terra dos Burgundos. Diz-se que nomearam como Rei Agilmundo, filho de Aio, da família dos Gugingos. Depois dele reinou Lamissone, da família dos Gugingos; a ele seguiu Leti, de quem se diz que reinou por aproximadamente quarenta anos.
A ele seguiu Ildeoc, filho de Leti; depois reinou Godeoc.
3. Naquele tempo, o Rei Odoacre saiu de Ravenna com um exército de Alani, foi para Rugilandia, combateu contra os Rugi e matou o seu Rei Feleteo, trazendo para a Itália muitos prisioneiros. Então os Longobardos se deslocaram das suas regiões para se estabelecer na terra dos Rugi e alí permaneceram por diversos anos.
4. À Godeoc seguiu seu filho Claffone, depois dele reinou Tatone, filho de Claffone. Os Longobardos se deslocaram no território de Feld por três anos. Tatone combateu com Rodolfo, Rei dos Erulos e o matou, se apoderou do seu capacete e da sua bandeira; depois dele, os Erulos não tiveram mais um reino. Depois destes eventos, Vacone filho de Unichis matou o Rei Tatone, seu tio paterno, junto à Zuchilone. Vacone combateu também Ildichi, filho de Tatone, que derrotado fugiu para junto dos Gepidos onde morreu. Assim, os Gepidos para se vingar da ofensa declararam guerra aos Longobardos.
Naquele tempo, Vacone obrigou os Svevi a se submeterem ao Reino Longobardo. Vacone teve três mulheres: Raicunda, filha de Fisud Rei dos Turingos. Depois casou Austrigusa, mulher de estirpe Gepide, da qual teve duas filhas: a primeira, de nome Wisigarda, foi a mulher de Theudiperto Rei dos Francos; a segunda, de nome Walderada, foi a mulher de Scusualdo um outro Rei dos Francos, que depois começou a odiá-la e a deu como esposa para Garibaldo. Vacone teve uma terceira mulher, Silinga filha do Rei dos Erulos; dela teve um filho de nome Waltari. Quando Vacone morreu, seu filho Waltari reinou por sete anos mas não teve sucessores. Todos eles foram Letingos.
5. Depois de Waltari reinou Audoino, este conduziu os Longobardos em Pannonia. Depois dele, o Reino passou ao seu filho Alboino, cuja mãe foi Rodelenda.
Naquele tempo, Alboino combateu com o Rei dos Gepidos Cunimondo. Cunimondo morreu naquele combate e os Gepidos foram derrotados. Alboino tomou como mulher Rosmunda, filha de Cunimondo, capturada como prisioneira de guerra, enquanto lhe tinha morrido a primeira mulher Flutsuinda, filha de Flothario Rei dos Francos, de quem tinha tido uma filha de nome Albsuinda. Os Longobardos habitaram na Pannonia por quarenta e dois anos.
O mesmo Alboino conduziu os Longobardos na Itália, sob convite dos secretários de Narsete. Alboino, Rei dos Longobardos, partiu de Pannonia no mês de abril, na primeira assembleia depois da Páscoa. Com certeza na segunda assembleia começaram a depredar a Itália e na terceira assembleia se tornou o chefe da Itália. Alboino reinou na Itália por três anos e foi morto no seu Palácio de Verona por Elmichi e por sua mulher Rosmunda através de Peritheo.
Elmichi quis reinar mas não pode fazê-lo porque os Longobardos queriam matá-lo. Então Rosmunda escreveu ao prefeito Longino para que a acolhesse em Ravenna. Quando Longino ouviu este pedido se alegrou e mandou um navio da frota para pegá-los. Rosmunda, Elmichi e Albsuinda, filha de Alboino, embarcaram levando consigo para Ravenna todos os tesouros dos Longobardos. Em seguida, o prefeito Longino tentou convencer Rosmunda a matar Elmichi para depois se tornar sua esposa. Ouvindo os seus pedidos, Rosmunda preparou um veneno e depois que Elmichi tinha tomado banho, lhe ofereceu para beber uma bebida quente. Mas, assim que ele bebeu percebeu ter ingerido uma poção mortal, ordenou que também Rosmunda bebesse, mesmo se ela não quisesse e assim, morreram os dois. Assim, Longino tomou os tesouros dos Longobardos e Albsuinda, filha do Rei Alboino, carregou-os em um navio dirigido para Constantinopla e ordenou que fossem entregues ao Imperador.
6. O resto dos Longobardos escolheram como Rei Clefi, da casa dos Belei, Clefi reinou por dois anos e depois morreu. Os duques dos Longobardos se autogovernaram por doze anos, depois do que escolheram como seu Rei Autari, filho de Claffone. Autari tomou como mulher Teodolinda, filha do Rei Garibaldo e Walderada dos Bavaros. Junto à Teodolinda veio o seu irmão de nome Gundoaldo e o Rei Autari o nomeou Duque da cidade de Asta (Leste=Asti). Autari reinou por sete anos. Acquo (Agilulfo), Duque de Turingia, partiu de Turim e se uniu à Rainha Teodolinda tornando-se Rei dos Longobardos.
Agilulfo matou os duques que se opunham a ele, Zangrolf de Verona, Mimulf da ilha de S. Giuliano, Gaidulf de Bérgamo e os outros que lhe eram rebeldes. Acquo (Agilulfo) genou com Teodolinda uma filha de nome Gunperga e reinou por seis anos. Depois dele, reinou Arioaldo por doze anos. Depois ainda reinou Rotari, da dinastia dos Arodingi. Ele destruiu as cidades e as fortalezas dos Romanos que se encontravam ao longo do litoral, dos arredores de Luni até à terra dos Francos e à leste até Oderzo. Combateu junto ao rio Scultenna e naquela batalha caíram oito mil Romanos.
7. Rotari reinou por dezessete anos. Depois dele reinou Ariperto por nove anos e depois reinou Grimoaldo. Naquele tempo, o Imperador Costantino partiu de Constantinopla e veio para a região da Campania, depois se deslocou para a Sicília e foi morto pelos seus. Grimoaldo reinou por nove anos e depois reinou Pertarito.

História dos Lombardos

Historia Langobardorum

Paulo Diacono
Paulus Diaconus

Traduzione di
Peruto Daniela

Primeiro Livro
1. A região setentrional, tanto mais é afastada do calor do sol e fria pelo gelo das neves, mais é saudável para o corpo humano e adequada a difundir as estirpes. Ao contrário, as regiões dispostas ao sul, são mais próximas ao sol, tanto mais são ricas de doenças e pouco adequadas para fazer crescer os mortais. Deste modo, acontece que muitos povos nascem sob a ursa, assim que toda aquela região, do Tanai ao ocidente, mesmo se nela mesma, cada uma das localidades têm um nome próprio, é chamada de modo comum, Germânia. Quando os Romanos a ocuparam, chamaram as duas províncias além do Reno de Germânia Superior e Germânia Inferior.
Desta populosa Germânia, inúmeros grupos de prisioneiros foram levados embora e dispersos, vendidos como escravos junto aos povos do sul. Mas é verdade também que muitas estirpes saíram dela, porque gera muitas a ponto de não poder nutri-las e deste modo, afligiram partes da Ásia e, principalmente, a contígua Europa. Isto é testemunhado pelas cidades destruídas em todo o Lírico e na Gália, mas sobretudo aquelas da sofrida Itália, que experimentara a crueldade de quase todos aqueles povos. Pela Germânia, uniram-se os Vândalos, os Rugi, os Eruli, os Turcilingi e outros povos ferozes, bárbaros. Do mesmo modo, chegou à estirpe dos Winili, ou seja, os Lombardos, que depois reinou de forma feliz na Itália. Eles também são germânicos, mesmo se muitos narram que eles desceram da ilha Escandinava.
2. Desta ilha, fala também Plinio Segundo nos seus livros sobre a natureza das coisas. Ela, como nos contam aqueles que a visitaram, não é sobre o mar, mas é circundada por ondas marinhas, estas penetram no interior da terra, favorecida pelo baixo nível das suas costas. As populações se estabeleceram ali, muito prolíficas, não podendo mais habitá-las todas juntas, se dividem, como é contado, em três partes, e com o sorteio escolheram quem devia deixar a terra dos pais.
3. Assim, aquela parte a quem tocou a sorte de ter que abandonar o seu país e procurar terras estrangeiras, foram dados dois chefes, Ibore e Aione. Dois irmãos jovens, florentinos e os mais fortes de todos. Saudaram a todos juntos aos seus caros e a terra dos pais, depois saíram em marcha para encontrar novas terras para morar e estabelecer a própria base. Entre eles, estava a mãe dos dois líderes, se chamava Gambara, mulher de grande talento e que provia a aconselhar e fornecer sabedoria. Nos momentos de incerteza, eles contavam com ela, sempre.
4. Não pretendo me afastar do assunto tratado, se por algum tempo inverto a ordem da narrativa e conto, em breve, até que a minha pena se encontre na Alemanha, por um prodígio, que lá é conhecido por todos, além de qualquer outra coisa. Nos extremos territórios da Alemanha, na direção do norte, nas margens do Oceano, sob um alto penhasco, se encontra uma cavidade onde sete homens, não se sabe há quanto tempo, repousam adormecidos em um longo sono, íntegros não só no corpo mas também nas roupas, exatamente porque resistem sem serem corrompidos depois de tantos anos, são objeto de veneração, por parte daquelas pessoas incultas e bárbaras. Eles, naquelas roupas, parecem Romanos. De tal forma levados pela ganância, quiseram despir um e pelo que se conta, logo secarem-se os braços. Esta punição apavorou os outros, assim ninguém ousou mais tocá-los. Pode-se imaginar, por qual motivo a divina Providência os conserva intactos por tantas estações, talvez porque um dia, acha-se que por serem apenas cristãos, acordando, com a sua pregação levarão a salvação àqueles povos.
5. Perto deste lugar, moravam os Scritobinos. Assim se chama aquela gente que nem no verão estão livres das neves e das feras. Eles se nutrem apenas de carne crua dos animais selvagens e com as suas peles ásperas tentam se cobrir. Fazem derivar o seu nome de um vocábulo que na sua linguagem bárbara significa “saltar", de fato, dão a caça às feras, correndo em saltos, sobre madeiras curvas com uma certa arte em forma de arco. Perto deles, vive um animal parecido com o cervo, eu mesmo vi uma roupa feita com a sua pele, deixada áspera com pelos como era sobre o animal, era semelhante a uma túnica, longa até os joelhos como eles usam da forma que me foi referido. Nestes lugares, nos dias de solstício de inverno, apesar de ter a luz do dia, o sol nunca é visto e os dias são curtíssimos, mais que em qualquer outro lugar e as noites mais longas. De resto, tanto mais nos afastamos do sol, tanto mais se está mais baixo no horizonte, as sombras se alongam. Na Itália, como escreveram os antigos, no dia de Natal, a sombra do corpo humano mede nove pés, eu na Gália Belgica, em um lugar chamado Villa di Tatone, medindo a minha sombra a encontrei com dezenove pés e meio. Assim, ao contrário, quanto mais nos aproximamos do sol, indo para o sul mais as sombras se tornam curtas, a ponto que durante o solstício de verão, quando o sol está a meio céu, no Egito, em Jerusalém e nas regiões próximas, não se veem sombras. Na Arábia, no mesmo período, o sol é visto além da metade do céu, no sentido setentrional e, por consequência, as sombras estão voltadas para o sul.
6. Não muito longe da costa do que falamos antes, na direção do ocidente, onde o Oceano se estende sem fim, há aquele profundíssimo abismo de água que normalmente é chamado "umbigo do mar”, dizem que duas vezes por dia engole as ondas do mar e duas vezes as rejeita, como é demonstrado pela rapidez da maré naquelas praias. Um abismo parecido ou vórtice é chamado, pelo poeta Virgilio, Cariddi; ele o põe no estreito da Sicília e o descreve assim:
Ocupa o lado direito da Sicília, o esquerdo a inabalável Cariddi e três vezes do profundo vórtice da imensidão engole as grandes ondas em seu abismo e de novo o ar e volta a atirar-se, flagelando com as ondas as estrelas.
Do vórtice que falamos antes, é dito que arrasta violentamente os navios, tão rápido a ponto de igualar o voo das setas através do ar, tanto que às vezes se perdem sem escapar naquele horroroso abismo. Geralmente, em vez disso, enquanto já estão para serem submersos, são rejeitados para longe da água de forma imprevista e com a mesma velocidade com a qual as sugou. É dito que um outro vórtice semelhante se encontra entre a ilha Britânica e a Gália, isto é confirmado por aquilo que acontece nas praias da Sequania e da Aquitania. Estas duas vezes por dia são submersas inesperadamente, tanto que se alguém é surpreendido um pouco longo da costa, consegue escapar com dificuldade. Podem ser vistas as águas dos rios daquelas regiões subirem rapidamente na direção da fonte por muitas milhas e as águas doces tornarem-se amargas. A ilha de Evodia está a trinta milhas das praias da Sequania, mas os seus habitantes afirmam ouvir o barulho das águas que são descarregadas naquelas de Cariddi. Ouvi falar por uma pessoa que desfruta de grande estima entre os Galeses que muitos navios que foram levados por uma tempestade, acabaram sendo engolidos por este vórtice. Um apenas daqueles homens que se encontrava em um daqueles navios conseguiu se salvar, foi encontrado flutuando ainda vivo, único entre os seus, arrastado pelas violentas correntes na direção do precipício, chegou à beira daquele terrível abismo, já morto de medo, viu aquele buraco enorme profundíssimo sem fim, quando já tinha perdido a esperança foi jogado contra uma pedra, onde se agarrou. Toda a água tinha fluído no turbilhão deixando descoberto o fundo do mar e enquanto ele esperava angustiado e cheio de medo pelo fim inevitável, inesperadamente, viu aparecer grandes montanhas de água, elas subiam do fundo; em primeiro lugar, viu ressurgir os navios que tinham sido engolidos, assim quando um lhe chegou perto, ele se segurou com todas as forças. Em um instante, rapidamente, ele voou próximo à costa, assim fugiu da cruel sorte e pode em seguida contar o perigo que correu. Ainda no nosso mar, o Adriático, mesmo se em modo menor, invade as praias das Venezas e de Istria, assim podemos pensar que haja redemoinhos, claro pequenos e escondidos, que engolem e rejeitam as águas adriáticas e dos outros mares itálicos. Depois de ter referido estas coisas, é hora de retomar a narrativa.
7. Sob a guia de Ibore e Aione, os Winili saíram da Escandinávia e chegaram em uma região chamada Scoringa, onde pararam por alguns anos. Naquele tempo, Ambri e Assi, líderes dos Vândalos, incitavam com guerras contínuas todas as populações próximas. Encorajados pelas muitas vitórias, mandaram aos Winili mensageiros com a solicitação de um tributo, dando como alternativa a guerra. Assim, Ibore e Aione, levados pela mãe Gambara, decidiram que era melhor defender a liberdade com as armas do que aceitar a infâmia de pagar o tributo. Deste modo, mandaram mensageiros com a resposta aos Vândalos, esta dizia que combateriam em vez de submeter-se. Naquele tempo, os Winili estavam todos na flor da idade juvenil mas escassos em número, pois eram só um terço de um povo que vive em uma ilha não muito grande.
8. A este ponto, os antigos contam uma fábula ridícula. Os Vândalos ficaram com Godan para pedir a vitória sobre os Winili, mas o Deus respondeu que teria dado a vitória àqueles que tivessem visto em primeiro lugar o nascer do sol. Gambara em vez disso, ficou com Freia, mulher de Godan, e pediu a vitória para os Winili, a deusa deu-lhe um conselho: disse que as mulheres deviam soltar os cabelos e ajustá-los em torno ao rosto como uma barba, depois tinham que se unir aos homens e dispor-se com eles na batalha em um lugar onde fossem visíveis por aquela janela por onde Godan costumava olhar para o oriente. Assim, os Winili fizeram e, ao nascer do sol, Godan viu as mulheres arrumadas daquele modo e não vendo o engano, perguntou à sua mulher: «Quem são aqueles Longobarbas?». Então Freia lhe pediu para dar a vitória àqueles a que tinha apenas dado o nome. Assim, Deus deu a vitória aos Winili. São coisas de pouca conta e ridículas, onde a vitória não é mérito do valor dos homens mas esbanjada pelos Deuses.
9. De todo modo, é certo que, daquele momento, os Winili foram chamados Longobardos exatamente pela particularidade da sua longa barba nunca cortada. Do resto na sua língua“lang”, significa longa, e “bard”, barba.
Wotan, que ao mudar uma letra torna-se Gotan, é o mesmo que os Romanos chamam Mercúrio e é adorado como Deus por todos os povos da Germânia. Remonta antigamente que este Deus não estivesse na Germânia mas na Grécia.
10. Assim os Winili, chamados também Longobardos, atacaram em batalha, com fúria, lutando pela glória de serem livres, conquistaram a vitória.
Sucessivamente, atingidos pela carestia naquela província chamada Scoringa, perderam muito da sua coragem.
11. Emigrando daquelas regiões, enquanto se preparavam para entrar em Mauringa, encontraram o caminho fechado pelos Assipittos, estes estavam decididos a não permitir o trânsito nas suas terras sob qualquer condição. Os Longobardos, visto o grande número de inimigos e o seu exíguo exército, não ousaram entrar em batalha. Decidindo assim o que fazer, na necessidade, planejaram um estratagema, fizeram acreditar aos inimigos de ter no próprio campo dos Cinocefalos, homens com a cabeça de cachorro, que combatem sem parar e bebem o sangue dos inimigos mortos ou, no caso de não conseguir apoderarse de um inimigo, matam a sua sede com o próprio. Para dar crédito a estas vozes, ampliam o campo e as tendas, além de acender muitíssimos fogos. Os inimigos caíram no engano e não ousaram mais tentar a sorte naquela guerra que antes a procuravam.
12. Os Assipittos, todavia, tinham entre si um guerreiro considerado fortíssimo e com este fortíssimo campeão queriam obter a vitória. Proporam então aos Longobardos escolher um verdadeiro campeão para medir-se em duelo com eles. O pacto firmado era que se tivesse vencido o guerreiro Assopitto, os Longobardos, teriam voltado sobre os seus passos renunciando a passar por aquelas terras; se vencesse, o Longobardo teria o caminho livre. Os Longobardos estavam incertos sobre o qual escolher entre eles para mandar contra aquele fortíssimo guerreiro. Assim, uma tal condição servil, se ofereceu para combater por conta dos Longobardos contanto que a ele e a todos os seus descendentes fosse retirada a mancha da escravidão. O que dizer mais? Os Longobardos, reconhecidos aceitaram e prometeram conceder-lhes o que ele solicitava. Ele, ao sair das filas longobardas, enfrentou o inimigo, obteve o direito de passagem para os Longobardos e por si e os seus caros, a liberdade.
13. Ao chegarem finalmente em Mauringa, os Longobardos decidiram retirar a escravidão a muitos para aumentar o número de combatentes. A elevação destes ao estado de homens livres previa uma cerimônia com o presente de uma flecha e o murmuram de uma antiga fórmula na língua de seus pais. Depois deste ato, saíram da Mauringa e entraram em Golanda onde pararam por algum tempo, diz-se aliás que pararam por algum tempo, alguns anos. Ocuparam Anthab, Banthaib e Vurgundaib, podemos considerar que são vilas ou locais de pouca importância.
14. IV (quarto) século. Mortos no meio tempo Ibore e Aione, que tinham guiado os Longobardos fora da Escandinávia e governado até este ponto, não querendo ser submetidos só aos Duques imitando as outras estirpes germânicas, elegeram um seu Rei. Reinou primeiro Agelmondo, filho de Aione, traía a sua dignidade dos Gugingos, uma estirpe que entre eles era a mais nobre. Os avos persistiram pois ele reinou por trinta e três anos.
15. Naquele tempo, uma meretriz, que tinha dado à luz sete crianças, mãe cruel mais que uma fera, jogou-os em uma lagoa para deixá-los morrer. Se isto parece estranho e alguém acredita ser impossível, releia os escritos dos antigos onde encontrará que não só sete, mas também nove crianças foram geradas de uma só vez, isto foi típico principalmente entre os Egípcios. O Rei Agelmondo, passando por aquela lagoa, vendo as pobres crianças, parou o cavalo e com a lança tentou removê-los, um deles alongou a mão e segurou a haste do Rei. Agelmondo, profundamente atingido, declarou que se tornaria um grande e depois de tirá-lo da água o confiou aos cuidados de uma ama, deu também a ordem que fosse criado com todos os cuidados e visto que tinha sido retirado de uma lagoa, que na sua língua se diz “lama”, deu-lhe o nome de Lamissione. Crescido, Lamissione tornou-se corajoso e também o mais valoroso na guerra, tanto que se torna regente com a morte de Agelmondo. Conta-se que um dia, enquanto os Longobardos estavam em marcha com o seu Rei, chegando nas margens de um rio, ali encontraram o passo bloqueado pelas Amazonas. Lamissione se jogou no rio e foi combater com a mais forte delas, a matou e conquistou glória para si e a passagem para os Longobardos. Tinha, de fato, sido estabelecido um pacto entre os dois exércitos, se as amazonas tivessem vencido Lamissione, os Longobardos teriam se retirado do rio, se em vez disso, tivesse vencido Lamissione, os Longobardos teriam tido o direito de atravessar o rio. Todavia, a cronologia desta narrativa parece pouco crível, quem conhece as histórias dos antigos sabe que a estirpe das Amazonas foi exterminada tanto tempo antes e que era colocada em locais diferentes destes. Considerando porém que as antigas histórias foram conservadas com dificuldade e de modo vago e impreciso, pode-se supor que uma parte delas continuou a existir naquelas remotas terras selvagens da Alemanha. Do resto também eu ouvi dizer que nas remotas regiões internas da Alemanha ainda hoje vive uma tribo destas mulheres.
16. Atravessado o rio, os Longobardos alcançaram novas terras e ali moraram por algum tempo. Como aqueles locais eram tranquilos e sem suspeita de más surpresas, se tornaram menos atentos e negligenciaram a segurança, coisa que é sempre mãe de calamidades e que trouxe-lhe uma desventura não pequena. De fato, à noite, enquanto todos repousavam relaxados e sem nenhuma precaução, inesperadamente caíram sobre eles os Burgúndios. Muitos foram feridos e muitos outros abatidos, como também o Rei Agelmondo, além disso arrastaram em escravidão a única filha.
17. Depois desta desfeita, pensaram em recuperar as forças, pois os Longobardos deramse como Rei aquele Lamissione de quem tínhamos falado. Este último, com o ardor da idade juvenil, estava pronto a medir-se em guerra para vingar a morte de Agelmondo, aquele que o tinha criado. Voltou assim as armas contra os Burgúndios, mas no primeiro confronto os Longobardos voltaram as costas ao inimigo e se refugiaram no acampamento. Vendo isso, o Rei Lamissione, encobrindo tudo com a voz, gritou aos seus guerreiros que se lembrassem do ultraje sofrido, revendo a vergonha, como os inimigos degolaram o seu rei, de que modo tinham conduzido em escravidão sua filha, ela que eles tinham esperado ver sua rainha. Incitou-os a defender com as armas a si mesmos e os próprios caros, dizendo que é melhor morrer em batalha que suportar o escárnio dos inimigos como escravos sem valor. Gritando estas coisas, ameaçando e fazendo promessas, encorajou os ânimos para enfrentar a batalha, disse também que se tivesse visto alguém combater em condição servil, lhe teria dado além dos prêmios também a liberdade. Inflamados pelas incitações e pelo exemplo de seu chefe, que em frente a todos tinha se lançado na batalha, Longobardos irromperam fazendo massacres, assim colheram a vitória sobre os seus vencedores, vingando a morte do próprio rei e os males sofridos. Dos despojos dos inimigos mortos, recolheram também um grande saque e isto os tornou mais audazes para enfrentar os riscos da guerra.
18. Morto Lamissione que tinha sido o segundo Rei dos Longobardos, subiu ao trono Lethu. Ele reinou por aproximadamente quarenta anos e deixou ou trono para Hildehoc que foi o quarto Rei e à sua morte, o quinto foi Godehoc.
19. Naquele tempo, entre Odoacre, que há alguns anos reinava na Itália e Feleteo, chamado Feba, Rei dos Rugios, teve origem uma grande inimizade. Na época, Feleteo habitava as terras além do Danúbio, aquele que exatamente o Danúbio divide-se de Norico. Sempre naquele território, havia o mosteiro do beato Severino, que ali vivia em santa abstinência e, no tempo, já era digno de grande estima pelas suas muitas virtudes. E apesar de ter vivido naquele lugar até à morte, agora Nápoles é que conserva os seus míseros e pequenos despojos. O beato Severino tinha com frequência tinha advertido Feleteo e a sua mulher Gisa de abster-se da iniquidade, mas eles, desprezando as suas palavras, não o ouviram assim o beato previu a eles aquelas desventuras que depois os atingiram. Odoacre assim, recolhidos os povos sob o seu comando, Turcilingios, Erulos, parte dos Rugios a ele já submetidos e também outros da Illiria, entrou em Rugiland, derrotou os Rugios, realizou um massacre quase total e matou também o Rei Feleteo. Voltando para a Itália, depois de ter devastado toda a região, levou consigo muitíssimos prisioneiros, deixando aquelas terras quase desabitadas. Então, os Longobardos, aproveitando do momento, deixaram a sua região para ocupar o Rugiland. Em latim Rugiland significa "a terra avita dos Rugios”, esta era uma terra muito fértil e aqui os Longobardos moraram por muitos anos.
20. No curso destes eventos, morreu Godehoc a quem sucedeu seu filho Claffone. Morto também Claffone, que era o sétimo, subiu ao trono o filho Tatone. Abandonado também os Rugiland, os Longobardos habitaram em campos abertos, em língua bárbara chamados “feld". Há três anos, os Longobardos moravam nestas terras quando irrompeu a guerra entre Tatone e Rodulfo, Rei dos Erulos. Os dois soberanos tentaram firmar um pacto de amizade entre Erulos e Longobardos, mas acendeu-se a discórdia entre eles. A causa foi esta, um irmão do rei Rodulfo tinha vindo oferecer a paz a Tatone, concluída a missão, enquanto voltava para a sua pátria, aconteceu de passar em frente à casa da filha do Rei, Rumetruda, esta, curiosa pelo grande exército que o acompanhava, perguntou quem era o homem circundado por uma nobre corte tão importante, lhe responderam que se tratava do irmão de Rodulfo Rei dos Erulos, que depois de ter instalado a embaixada em Tatone, voltava para a pátria. Rumetruda mandou um mensageiro para convidá-lo para vir até ele, oferecendo-lhe uma taça de vinho. Ele, de coração aberto como era, aceitou. A garota, vendo que era de pequena estatura, com a arrogância que nasce do orgulho, o humilhou com palavras de escárnio, o nobre homem, ardendo de vergonha e junto à raiva, lhe respondeu com palavras que na garota provocaram uma perturbação ainda maior. Rumetruda, acesa com furor feminino, não conseguindo segurar a dor no espírito, apressou-se a continuar o mal que a sua irresponsável mente tinha concebido. Simulou sentir-se ofendida, com o vulto sorridente e doces palavras adulou o seu hóspede, o fez sentar em um lugar com as costas voltadas a uma janela que tinha feito cobrir com um tecido precioso, como para render honrarias ao seu hóspede, na realidade não queria deixá-lo suspeito. Neste ínterim, a besta feroz, tinha dado ordem aos seus servos para tomarem posição por trás da janela, e ao seu sinal, ou seja, quando ela estivesse voltada ao mordomo, tivesse ordenado «misturar» de golpeá-lo com as lanças. E assim ocorreu. Assim que aquela cruel mulher deu o sinal, as ordens cruéis foram cumpridas. O irmão de Rodulfo, atravessado pelas lanças, caiu no chão e deu seu último suspiro.
Quando foi contado a Rodulfo a cruel sorte do irmão, ele sofreu muito e se acendeu nele o forte desejo da vingança. Assim rompeu o pacto que tinha acabado de firmar com Tatone e declarou guerra. O que acrescentar a isso? O encontro ocorreu em campo aberto. Rodulfo, depois de ter implantado as suas tropas para a batalha (512 aproximadamente), certo da vitória, se retirou no seu acampamento onde jogava na mesa. Naqueles tempos, os Erulos eram treinados para a guerra e conhecidos por ter derrotado muitos povos. Os Erulos combatiam nus, tanto por serem mais ágeis quanto pelo fato de não dar importância às feridas feitas pelos inimigos; assim combatiam com coberto só aquilo que era preciso para o pudor. Rodulfo, enquanto jogava tranquilo na mesa, ordenou a um servo de subir sobre uma árvore ali próxima para comunicar-lhe do andamento da vitória. Tendo absoluta confiança nos seus, ameaçou o servo de mandar cortar-lhe a cabeça se ele ousasse dizer-lhe que os Erulos estavam em fuga. O servo, mesmo vendo logo que o exército do seu Rei se dobrava, não disse nada, aliás, interrogado sempre mais frequente pelo Rei, respondeu que eles combatiam magnificamente. Não ousou dizer nada mesmo quando viu as últimas tropas de Erulos voltar as costas aos inimigos, então mesmo se tarde, irrompeu em lamentos. «Aí de ti, miserável Erolia» disse, «que és perseguido pela ira do céu». Com estas palavras o Rei, perturbado, perguntou: «Não será em vez disso que os meus Erulos estão voltando fugindo?». E o servo: «Não eu, mas tu mesmo, oh senhor, o disseste». Assim como acontece com frequência nestes casos, incertos sobre o que fazer, colhidos de surpresa com a vinda dos Longobardos, foram massacrados. Também o Rei, mesmo realizando vãos atos de heroísmo, foi morto. No entanto, o exército dos Erulos fugia aqui e ali, disperso e a ira do céu os golpeou, eles correndo pela planície estendida, verdejante por plantas de linho, acreditaram que poderiam atravessar as águas a nado, assim tentaram atravessá-las e enquanto estendiam inutilmente os braços, foram cruelmente golpeados pelas espadas longobardas. Eles, completada a vitória, se dividiram com o grande saque no campo dos Erulos. Tatone pegou a bandeira de Rodulfo, por eles chamado “bando” e também o elmo que era comum usar na guerra. Daquele momento, os Etrulos, perderam a importância entre os povos, a ponto que não tiveram mais um Rei. Os Longobardos por sua vez, ficando mais ricos e aumentado notavelmente o exército com os povos submetidos, iniciaram a procurar outras guerras sem ser provocados e aumentar notavelmente em qualquer lugar a sua fama e o seu valor em batalha.
21. Mas Tatone não pode se alegrar muito com este triunfo, pouco depois foi enfrentado e morto por Wacone filho de seu irmão Zuchilone, assim Wacone teve que enfrentar Ildichi, filho de Tatone. Wacone derrotou também Ildichi que foi obrigado ao exílio e refugiou junto aos Gepidos onde viveu até a sua morte. Por este motivo, entre Gepidos e Longobardos nasceu uma longa inimizade. Sempre nestes tempos, Wacone agrediu os Svevos e os submetidos. Se alguém colocasse isso em dúvida, releia-se o edito de Rotari sobre as leis longobardas e em quase todos os códigos encontrará aquele que nos falamos nesta pequena história.
Wacone teve três mulheres: a primeira, Ranecunda, era filha do Rei dos Turingos, depois casou-se com Astrigosa, filha do Rei dos Gepidos e desta teve duas filhas, Wisigarda, que foi mulher de Teodeberto Rei dos Francos, Salderada, a outra filha casou com Cusupaldo, um outro Rei dos Francos, este porém tomou-se de ódio e a deu como esposa a um dos seus homens, um tal Gariboldo. Wacone teve depois uma terceira mulher, Salinga, filha do Rei dos Erulos, esta deu a Wacone um filho que ele chamou Waltari. Com a morte de Wacone, Waltari se torna o oitavo rei longobardo. Todos estes Reis eram Lithingos, uma nobre estirpe longobarda.
22. Waltari manteve o reino por sete anos antes de morrer, depois dele o nono Rei a conquistar o reino foi Audoino que pouco depois levou o povo longobardo para Pannonia.
23. A hostilidade entre Gepidos e Longobardos é enfim enfrentada e tanto uma parte quanto a outra se preparava para a guerra. Chegou assim o dia da batalha, os lados se enfrentaram obstinadamente e nenhum dos dois conseguia prevalecer sobre o outro. Aconteceu que, durante o combate corpo a corpo, se encontraram Alboino filho de Audoino e Turismondo filho do Rei Gepido Turisindo, Alboino, golpeando-o com a espada, o fez cair do cavalo e o matou, os Gepidos vendo o filho do Rei morto, perderam a cabeça. De resto, Turismondo sustentava a parte maior do cansaço em batalha, assim em breve, os Gepidos fugiram. Os Longobardos os perseguiram com obstinação, derrotando e matando-os quanto mais fosse possível, depois voltaram atrás a pegar os despojos dos mortos. Depois de ter desfrutado a fundo a vitória, os Longobardos voltaram às suas bases e sugeriram ao Rei Audoino de convidar ao seu convívio Alboino, aquele que com o seu valor tinha obtido a vitória, assim como foi companheiro do pai no perigo, assim o fosse no convívio. Audoino respondeu que não podia fazê-lo para não infringir a tradição de sua gente: «Vocês sabem» disse, «que entre nós não é permitido que um filho fique em convívio com o pai se antes não tiver recebido como presente armas das mãos de um Rei estrangeiro».
24. Ao ouvir estas palavras do seu pai, Alboino pegou apenas quarenta guerreiros e foi a Turisindo Rei dos Gepidos, aquele com o qual pouco antes tinha combatido em guerra, e lhe expôs o motivo da visita inesperada. Este o acolheu com bondade e o fez sentar à sua direita onde geralmente costumava sentar Turismondo, o filho há pouco morto em batalha. Assim, acontece que enquanto a mesa variadamente arrumada ia se enchendo de comida, Turisindo foi oprimido pelo pensamento do filho morto que geralmente sentava-se naquele lugar onde agora estava o seu assassino, assim enfim, depois de dar profundos suspiros, deu voz à sua dor e disse: «Este lugar me é caro e para mim muito triste ver quem hoje está sentado». Então, estimulado pelas palavras do pai, o outro filho do Rei, que estava presente na sala, começou a insultar com injúrias os Longobardos, ridicularizando o seu hábito de cobrir-se com pequenas faixas brancas a parte baixa da perna, «são como aqueles cavalos que têm os pés brancos até o joelho», afirmou, «Não prestam para nada os cavalos aos quais vocês se parecem». Com estas palavras, um Longobardo respondeu:«Vá ao campo Asfeld e ali terá a prova do quanto chutam estes cavalos que fala; lá onde jazem dispersos os ossos do seu irmão, como aqueles de um jumento que não vale nada». Ao ouvir isto, os Gepidos, não suportando a humilhação, pularam de raiva e tentaram vingar-se da injúria. Os Longobardos, apesar disso, colocaram a mão no cabo das espadas prontos para combater mas o Rei, levantando da mesa, se colocou no meio, contendo os seus da ira e do combate e ameaçou punir quem por primeiro tivesse iniciado a batalha e também que «Não agrada a Deus a vitória de quem mata o hóspede na sua casa». Acalmada deste modo a disputa, retomou o convívio com ânimo alegre. Turisindo tomou as armas do filho Turismondo e as deu à Alboino e o reenviou incólume ao reino do pai. Ao voltar ao pai, Alboino desde então tornou-se seu conviva e enquanto recebia o luxuoso tratamento de Rei, contava de modo ordenado tudo que lhe tinha acontecido com os Gepidos no reino de Turisindo. Os presentes ficaram admirados e louvaram tanto a audácia de Alboino quanto a nobre lealdade do Rei Gepido.
25. Neste período, Giustino Augusto regia com prosperidade o império Romano, concluiu vitoriosamente muitas guerras e também na legislação civil deixou a sua marca. Com o patrício Belisario derrotou definitivamente os Persas e, sempre por obra do general Belisario, apagou, exterminando-os, a estirpe dos Vândalos capturando também o seu chefe Gelismero. Assim, reconquistou o Império Romano, depois de noventa e seis anos de domínio dos bárbaros e toda a África Romana. Depois, ainda com o valor de Belisario, derrotou na Itália a estirpe dos Gotos, aqui também capturou o seu Rei Vitige e depois ainda os Mauros com o seu Rei Amtalan, que infestavam a África. Sempre com a guerra submeteu também outras pessoas e por isso mereceu o título de Alamannico, Gótico, Franco, Germânico, Antico, Alanico, Vandalico e Africano. Colocou ordem nas leis dos Romanos, que tinham se tornado muito prolixas e com frequência inúteis e contraditórias, aboliu as numerosas promulgações dos muitos princípios que o tinham precedido em só doze livros e chamou este volume de Código Justiniano. Também as leis de cada um dos magistrados e juízes, que alcançavam quase dois mil livros, os organizou em cinquenta e chamou esta obra de Código dos Digestos ou das Pandette. Na nova forma, compôs os quatro livros das Instituições que reúnem os princípios gerais de todas as leis. Dispôs também que as novas leis emanadas por ele fossem reunidas em um volume e o chamou de Código Delle Novelle. Dentro dos muros de Constantinopla fez erguer um templo a Crisostomo, à Sabedoria de Deus Pai e o chamou com o vocábulo grego Agian Sophian, ou seja, Santa Sabedoria. A construção é magnífica e audaz, tanto que em nenhuma parte do mundo pode-se ver uma semelhante. Giustiniano era de fé católica, dirigido a operar e justo nas sentenças e é por isso que tudo lhe saía bem. Sob o seu reino, em Roma, vivia Cassiodoro, excelente tanto na ciência humana quanto nas coisas divinas, em particular compôs, com espírito elevado e aguda interpretação, os Salmos mais obscuros. Cassiodoro foi primeiro cônsul, depois senador e enfim monge. No mesmo período, também o abade Dionigi se estabeleceu em Roma e com grande perícia calculou o ciclo Pascoal. E ainda, Prisciano compreendeu as mais profundas leis da arte da gramática e Aratore, subdiácono da igreja de Roma, colocou em versos métricos os atos dos Apóstolos.
26. Neste mesmo tempo, também o nosso beato padre Benedetto brilhou pelos méritos da sua extraordinária vida e as virtudes apostólicos, antes em Subiaco, um lugar a quarenta milhas de Roma e depois na cidadela de Cassino chamada também “La Rocca”. Como é sabido, o beato Papa Gregorio nos seus Diálogos estendeu com belo estilo uma sua biografia. Eu também, elenquei em “metro elegíaco” um a um os seus milagres, dispondo-os em simples dísticos assim:
De onde iniciarei com os teus triunfos, oh Benedetto santo
com o acúmulo de tuas virtudes de onde iniciarei?
Glória a ti, padre beato, que com o próprio nome revelas o teu mérito!
Brilhas da luz do século, Glória a ti, padre beato!
Norcia, quanto puder une-te ao louvor ou a tu exaltada para quem, tão grande criou;
Oh tu que ao mundo trazes o sol, Norcia, quanto puder une-te ao louvor.
Oh criança labuta com prestígio, que com os costume trascende os seus anos
E os velhos que ultrapassa, oh criança labuta com prestígio!
Oh flor tua, oh paraíso, não curou aquilo que floresce no mundo,
Não curou o esplendor de Roma a tua flor, oh paraíso.
Recolhe amargurada a ama os pedaços do vaso partido,
Feliz pode restituir o vaso recomposto a ama.
Aqueles que de Roma têm o nome escondem entre os penhascos a reclusa;
oferece a ajuda da sua piedade aqueles que de Roma têm o nome.
De Louvor a ti, Cristo, ressoam os antros escondidos a todos os mortais;
O frio, os ventos gélidos, as neves corajosamente os suportas por três anos;
No amor a Deus não curas o frio, os ventos gélidos, as neves.
É aceito o engano venerando, louvam-se os furtos que inspiram a piedade;
Pois com ele se nutriu o homem consagrado a Deus, é aceito o engano.
Dá o sinal que o alimento chegou, mas o lívido quer opor-se;
Não de menos a outra fé dá o sinal que o alimento chegou.
De acordo com o rito celebra a festa quem oferece escutar a Cristo;
Nutrindo o que jejuar, de acordo com o rito celebra a festa.
Ávidos pastores levam à gruta sustentação acolhida
Mas leva alimentos desejados para almas serenadas.
Fogo apaga fogo, enquanto as carnes são dilaceradas pelos arbustos;
O fogo carnal é apagado pelo fogo celestial.
Uma morte iníqua é ocultada, mas de longe ele adverte sagaz;
Não suporta as armas da cruz a morte iníqua ocultada.
Corrigem a mente que vagueiam leves hastes e a disciplinam;
Leves hastes se fecham deixando fora a peste que vagueia.
Um córrego de água perene jorra da rocha nativa;
os aros de corações irrigam a onda perene.
No fundo do desfiladeiro tinhas descido, aniquilando ao soltar-se do cabo;
voltou a subir na superfície, deixando o fundo do desfiladeiro.
Caído na água enquanto espera a ordem do pai, sobrevive;
corre sobre a água, enquanto aguarda a ordem do pai.
A onda acompanha a quem seguiu logo a ordem do mestre;
a quem não sabia onde estivesse correndo, a onda o acompanhou.
E tu, pequeno menino, és atraído na onda e não te afogues;
e intervém, testemunho verdadeiro também tu, pequeno menino.
Ficam tristes os pérfidos corações agitados da estímulos maus;
inflamem-se do Inferno os pérfidos corações se entristecem.
O corvo pega o alimento oferecido pelas mãos benignas;
e ao comando leva para longe o alimento mortífero o corvo.
Se o coração santo dói que o seu inimigo seja morto na queda;
pela culpa do discípulo dói o coração santo;
Nas margens amenas do Lírios gloriosos, guias te acompanham;
do céu caíste nas margens amenas dos Lírios.
Serpente iníqua, tu foste despido do bosque da área;
para as pessoas que perdeste, oh iníqua serpente, tu te enfurecesses.
Malvado que estás por cima, vai embora: deixa colocar nos muros os mármores;
A sua ordem te dobra: vai embora, malvado que estás por cima.
É visto um fogo voraz elevar-se com falsas chamas;
mas tu, Gema reluzente não percebes aquele fogo voraz.
Enquanto se joga na parede, com dilacera as vísceras do irmão;
O irmão volta salvo, enquanto se joga na parede.
Parece que isto foi feito escondido, ficaram admirados os glutões;
do dom tido escondido aparece o fato.
Tirano feroz, as redes de teu engano são vãs.
recebas um freio para a tua vida, feroz tirano.
Os muros gloriosos de Nuka por nenhum inimigo serão abatidos;
um turbilhão – lhe diz – abate os gloriosos muros de Numa.
Do fiel inimigo és golpeado, para que tu não ofereças o sagrado dom ao altar;
Tu ofereces o sagrado dom ao altar; és golpeado pelo fiel inimigo.
No futuro, ele vê cada recinto do rebanho dado pela mão a uma estirpe;
mas aquela estirpe reconstroi cada recinto do rebanho.
Oh servo amigo da fraude, estás frustrado com as lisonjas da serpente;
mas não és presa da serpente, servo amigo da fraude.
Mente arrogante, cala-te: não murmura de quem vês os pensamentos silenciados;
tudo se revela ao profeta; cala-te, mente arrogante.
Alimentos feitos descer do céu os caçam a negra fome;
e ao mesmo tempo é expulsa a negra fome da mente.
Ficam atônitos os corações de todos, que tu sem corpo esteja presente;
que tu em visão de surdina, os corações de todos permanecem atônitos.
Ao comando da voz tentam para as línguas;
fogem do sepulcro ao comando da voz.
ao comando da voz não é concedido a eles ficar durante o rito;
junto aos ritos sagrados ao comando da voz.
Parte-se a terra e do ventre rejeita o corpo sepultado;
ao teu comando a terra partida no seu ventre o corpo.
O pérfido dragão seduz o fugitivo a apressar-se;
mas bloqueia o caminho proibido o pérfido dragão.
Uma doença mortal abalou tua cabeça;
ao teu comando foge a doença mortal.
Piedoso ele promete a quem precisa do metal ocre sem tê-lo;
por obra do céu o piedoso encontra o metal ocre.
Tu, digno de compaixão, que lhe mancha a pele venenosas serpentes;
obtém a pele intacta como antes, oh digno de compaixão.
Fazem alternar as ásperas rochas de vidro, nem sabem parti-las;
servem intactas as ásperas rochas de vidro.
Por que camareiro, hesitas em oferecer uma gota do vaso?
Veja: as jarras esborram. Por que hesitas camareiro?
Como podes ter remédio tu que não tens qualquer esperança de salvação;
Tu que sempre dás morte, como podes ter remédios?
Ah, velho miserável, tu cais com os golpes do inimigo;
mas com um golpe voltas a ti, velho miserável.
As cordas do bárbaro apertam as mãos inocentes;
Sozinhas se desfazem das mãos as cordas do bárbaro.
Aquele soberbo a cavalo berra, grita ameaças,
prostrado ao chão jaz aquele soberbo a cavalo.
Nos ombros, o pai leva o corpo do amado filho extinto;
o pai leva nos ombros o filho vivo.
Tudo vence o amor: com a chuva ligou a irmã ao beato;
fica afastado das pálpebras o sono, tudo vence o amor.
Aceito pela sua simplicidade, voa no alto dos céus como uma colomba;
Alcança o reino do céu, pela sua simplicidade.
O abraçado a Deus, cujo todo o universo se revela,
tu que os arcanjos manifestas ou abraçado a Deus.
Em uma esfera de fogo com o justo se levanta no etéreo;
o qual ardia um sagrado amor ou fecha uma esfera de fogo.
Três vezes chamado alcança quem deveria ser testemunha do prodígio;
precioso pelo amor do pai, três vezes chamado chega.
O bom líder, que incentiva combater reforços com os exemplos o anima
te lanço primeiro entre as armas, oh bom líder, incentiva combater.
Sinais congruentes compila deixando a vida comum;
apressando-se na vida, sinais congruentes cumpre.
Salmista assíduo, nunca concedia repouso à sua pena;
cantando a Deus se reprime o assíduo salmista.
Aqueles que só um coração tiveram, envolve um mesmo sepulcro;
Igual glória envolve aqueles que tiveram um só coração.
Um esplêndido caminho surge, aceso com tochas cintilantes;
um caminho pelo qual o Santo ascendeu esplêndido apareceu.
Ao alcançar o recinto rochoso, no seu devaneio obtém a salvação;
foge do seu devaneio, alcança o recinto rochoso.
Pobres versos compôs o suplicante servo em oferta;
exilado, pobre, fraco, pobres versos compões.
Aceitos te sejam, te rogo, oh guia do percurso do céu;
Oh pai Benedetto, te rogamos, te sejam aceitos.
Nós compomos também um hino em “metro iâmbico Arquilóquio”, que contém os únicos milagres do mesmo Pai Benedetto:
Com ânimo espontâneo, Irmãos, Venham; em Coro unem-se no canto; vivamos as alegrias desta
radiosa festividade.
Neste dia Benedetto
que nos mostra o árduo caminho,
o nosso pai subiu ao áureo reino, colhendo o prêmio de seu trabalho. Como estrela nova brilhava,
que disperde as névoas do mundo. Ainda à margem da vida
voltou a fugir dos prados floridos do século. Poderoso ao operar milagres,
do sopro de Deus inspirado,
resplandeceu para prodígios e previu
o que guardava o futuro.
Destinado a dar alimentos a tantos, recompôs o exame do grão; escolhendo para si um angustiante cárcere, o fogo se extingue com fogo.
Com a arma da Cruz parte
a taça que traz o veneno; disciplina a mente que vagueia
com o suave flagelo do corpo. Jorram riachos das rochas;
o ferro retorna do fundo da água; obedecendo corre nas ondas;
com um manto o menino escapa da morte.
É revelado o veneno escondido;
o alado realiza os comandos.
Um desmoronamento esmaga o inimigo;
volta atrás o rugente leão.
Torna-se leve a pedra imóvel;
o pedido imaginário se dissipa.
Torna saudável quem estava despedaçado;
o abuso cometido em outro lugar se revela.
Astuto, está mascarado;
indevido que oprime, está em fuga.
Já são conhecidos, eventos do futuro;
os teus mistérios mais escondidos, no coração.
No sonho se põem as fundações
a terra rejeita os cadáveres.
Pelo dragão é formado o fugitivo;
moedas fazem chover o éter.
Resiste o cristal à rocha;
esborram de óleo os jarros.
A sua vista desmancha as correntes;
os mortos retornam à vida.
O poder de tão grande luz
é vencido pelo desejo da irmã
quanto mais um ama, tanto maior a força
que decifra para voar no céu.
Reluz na noite um esplendor
desconhecido antes das pessoas;
percebe-se nele todo o globo,
e entre as chamas o Santo em cruz.
Entre estas coisas, com a sua palheta tornou claras admiráveis realidades, semelhantes ao néctar;
traçou, de fato, uma linha precisa
de vida consagrada para os seguidores.
Mas você, afinal guia poderoso para seus filhos,
seja propício aos suspiros do rebanho;
desencadeie ele no bem e se guarde da serpente para seguir no seu caminho.
Gostaria de referir aqui um fato que o beato Gregorio não menciona na vida de San Benedetto, nosso pai fundador. Quando, por inspiração divina, vem de Subiaco nestes locais onde agora repousa, foi seguido por três corvos que ele costumava nutrir, eles voaram em torno por cinquenta milhas. Ao chegar a uma encruzilhada, lhe apareceram dois anjos em forma de jovens para indicar-lhe o caminho a tomar.
Sempre aqui vivia um Servo de Deus em uma humilde casinha ao qual o céu tinha dito: «Tenha cuidado destes lugares, um outro amigo está aqui». Ao chegar aqui, na Rocca di Cassino, Benedetto se mortificou em uma severa e contínua abstinência, sobretudo, no tempo de quaresma fazia retiro, afastado dos problemas do mundo. Estas notícias as encontrei no canto do poeta Marco, que vindo em visita a Benedetto compôs alguns versos em seu louvor, não os mostro aqui em seguida porque não quero alongar-me demais na narrativa. Foi com certeza o Céu a conduzir Benedetto neste local fértil sob o qual se estende um vale exuberante: queria que aqui se reunisse uma congregação de muitos monges, assim como acontece realmente, graças à orientação de Deus.
A terminar de narrar estas coisas, que não podia ignorar, volto à nossa história.
27. Audoino, Rei dos Longobardos, teve como esposa Rodelinda, ela gerou-lhe um filho, Alboino, adequada à guerra e valoroso na ação. Morto Audoino, o décimo Rei foi assim Alboino que se torna com os votos de todos. As muitas ações de Alboino o tornaram famoso e Clotario, Rei dos Francos, quis unir-se a ele dando-lhe como mulher a própria filha Clotsuinda, desta união nasceu só uma filha, Albsuinda.
No entanto, morreu Turisindo, Rei dos Gepidi, ao qual seguiu Cunimondo. Este, querendo se vingar das velhas rusgas sofridas, rompeu o tratado de paz com os Longobardos e preparou a guerra. Alboino tinha firmado um pacto perpétuo com os Avaros, aqueles que um tempo eram chamados Unos e só em seguida Avaros, do nome de um seu Rei. Alboino partiu para a guerra provocada pelos Gepidi e enquanto estes últimos, de várias direções, se moviam contra ele, como por acordos tidos com o Rei Longobardo, os Avaros invadiram o território dos Gepidos. Um triste mensageiro chegou à Cunimondo com a notícia que os Avaros tinham entrado nas suas terras. Abatido no moral, disposto em frente a uma escolha angustiantes, Cunimondo decidiu enfrentar antes os Longobardos e encorajando-os à batalha adicionou que depois de tê-los vencido teria expulsado da sua pátria os Unos.
A inevitável batalha foi conduzida com todas as forças, os Longobardos resultaram vencedores e cruelmente se lançaram contra os Gepidi com tanta fúria que os massacraram quase que completamente, tanto que a duras penas salvou-se quem levou a notícia do extermínio. Naquela batalha, Alboino matou Cunimondo e, retirando-lhe a cabeça, a fez de copo para beber, do tipo daqueles que junto deles são chamados “scala” e em latim “patera”. Fez também prisioneira a filha do Rei Gepide de nome Rosmunda e uma grande multidão de homens e mulheres de todas as idades. Alboino, dado que Clotsunda estava morta, tomou Rosmunda como mulher e sua futura desgraça, como depois ficou claro. Com aquela vitória, os Longobardos recolheram uma grande riqueza. A estirpe dos Gepidi foi destruída, quem escapou acabou na parte sujeita aos Longobardos e em parte sob o duro jugo do Império Uno que até hoje ocupa a sua pátria.
O nome de Alboino, em vez disse, surgiu com grande fama tanto que junto aos Bavaros, Saxões e outros homens que falam a mesma língua, conta-se que as suas proezas, a fortuna em guerra, o valor em batalha e a gloria. Sob o seu governo, os Longobardos fabricaram também muitas novas armas de uma madeira especial como se conta ainda hoje.
Fim do Primeiro Livro

Segundo Livro
1. Enquanto a fama das contínuas vitórias dos Longobardos se difundia em todos os lugares, Narsete, “Cartulário imperial” e governador na Itália, estava ocupado preparando a guerra contra o Goto Totila. Já tendo sido os Longobardos federados do Império, Narsete mandou embaixadores para Alboino pedindo-lhe de colocar-lhe à disposição um contingente auxiliar para a iminente guerra contra os Gotos. Alboino enviou um contingente de homens escolhidos que chegaram na Itália atravessando o golfo do mar Adriático. Estes aliados dos Romanos participaram das batalhas derrotando e exterminando os Gotos, matando também o Rei Totila, honrados e cheios de presentes, voltaram para as suas terras.
Por todo o tempo em que ficaram separados em Pannonia, os Longobardos foram Federados da República Romana e os ajudaram contra os seus inimigos.
2. Naqueles anos, iniciou uma guerra contra o Duque Buccellino. O Rei Franco Teodeberto, no momento de voltar para a Gália, o tinha deixado na Itália junto a um outro Duque, Amingo; tinham o dever de submeter toda a península. Buccellino mandou ricos presentes ao seu Rei, estas eram parte do grande saque acumulado e enquanto se preparava para passar o inverno na Campania, foi alcançado e vencido, por Narsete em uma dura batalha na localidade conhecida com o nome de Tanneto. Na batalha, o mesmo Buccellino é morto. Em seguida, Amingo tentou levar ajuda à Windin, um Conde Goto que tinha se rebelado a Narsete, ambos foram derrotados pelo general Romano, Windin foi enviado em exílio em Constantinopla enquanto Amingo foi assassinado pela espada de Narsete. Um terceiro Duque, Leutario, irmão de Buccellino, carregado com muito produto de saque, tentou voltar para a pátria, mas entre Verona e Trento, perto do lago Benaco, morreu de doença.
3. Narsete teve que arcar com ainda uma guerra contra Sindualdo Rei dos Brionos, uma parte daquela estirpe de Eruli que Odoacre levou consigo no tempo da sua vinda na Itália. Em Sindualdo, Narsete tinha dado muitos privilégios na qualidade de aliado de Roma, mas depois Sindualdo, tomado pelo orgulho e pelo ímpeto de reinar se rebelou a Narsete. Ele o derrotou em batalha e o capturou, depois Sindualdo acabou enforcado em uma alta trave.
Além disso, o Patrício Narsete, para o trâmite do general Digisteo, homem forte e belicoso, ocupou toda a Itália. Narsete foi para a Itália como Cartulario mas graças ao seu valor obteve o Patriciado. Era um homem pio, de religião católica, generoso com os pobres e cuidadoso na restauração das igrejas. Tão fervoroso nas vigílias e nas orações que obteve a vitória mais com as súplicas a Deus do que com as armas.
4. No tempo em que Narsete governava a Itália, explodiu uma gravíssima epidemia de peste na província da Ligúria. Inesperadamente apareceram manchas nas casas, nas portas, nos vasos e nas roupas, quando alguém tentava limpá-las estas se tornavam ainda mais evidentes. Passado um ano, aos homens apareceram glândulas grandes como uma noz ou uma tâmara nas áreas inguinais e em outras partes delicadas do corpo. A isto seguia uma forte febre que em três dias levava à morte. Quem conseguia superar os três dias tinha boas esperanças de sobreviver. Em todos os lugares havia luto e lágrimas e como entre o povo tinha se espalhado a voz de quem se afastava das casas podia sobreviver, elas eram abandonadas, vazias, só os cães ficavam para guardá-las. Permaneceram sozinhos nos pastos os rebanhos, sem pastores para vigiá-los. Onde antes se avistavam vilas e acampamentos cheios de gente, agora eram desertos e abandonados pois todos tinha fugido. Fugiam os filhos deixando sem sepultar os cadáveres dos pais, fugiam os pais deixando os filhos tomados pelas fortes febres. Quem persista e continuava oferecendo piedosa sepultura como por antigos costumes, era contagiado e ficava por sua vez sem ser sepultado. Ao oferecer a última honraria ao cadáver do defunto deixava o seu cadáver sem a honra da sepultura.
Os locais voltaram ao silêncio primordial, nenhuma voz nos campos, nenhum apito de pastores, nenhum perigo de feras para o gado, nenhum para os pássaros domésticos. As colheitas que já tinham que estar sendo colhidas, esperavam o colhedor, a vinha já sem folhas e com a uva avermelhada permanecia ilesa na videira enquanto já o inverno começava.
O silêncio reinava soberano onde antes se ouviam as trombetas de guerra e o estrondo das armas, nenhum viajante e nenhum combatente, mas mesmo assim havia cadáveres até onde o olhar pudesse alcançar. Os abrigos dos pastores tinham se tornado tumbas para os homens e as habitações para as feras. Mas esta desventura golpeou só os Romanos no território italiano até a fronteira com os Alemães e os Bavaros.
Enquanto isso acontecia na Itália, morria Giustiniano e em Constantinopla Giustino II (Segundo) assumiu o comando do estado. Narsete capturou Vitale, bispo da cidade de Altino, que muito tempo antes tinha fugido para Agunto no Reino dos Francos e o condenou ao exílio na Sicília.
5. Narsete, vencida cada estirpe Gota na Itália e também os outros que falamos antes, colocou junto riquezas de ouro, prata e outras coisas preciosas, suscitando grande inveja naqueles Romanos que ele tinha defendido e protegido dos muitos inimigos. O seu ódio produziu uma mensagem que mandou escondido para Augusto Giustino e sua mulher Sofia, uma mensagem que recitava assim: «Aos Romani é agradável ser escravo tanto dos Gotos quanto dos Gregos, do momento que nos governa um eunuco, Narsete, e nos mantém oprimidos em escravidão e que o nosso pio Príncipe o ignora. Libere-nos das suas mãos ou certamente entregaremos a cidade de Roma e com ela nós mesmos, aos pagãos.». Ao saber disso, Narsete respondeu com estas palavras: «Se agi mal com os Romanos, mal terei». O imperador, indignado com Narsete, mandou Longino para a Itália como Prefeito para tomar o lugar.
Narsete, amedrontado por estas coisas e sobretudo pela princesa Sofia, não ousou voltar para Constantinopla. A propósito disso, conta-se que a mulher do Imperador, ao saber que Narsete era um eunuco, disse que a teria colocado com as moças no gineceu para separar os novelos de lã. E parece que Narsete tenha respondido: «Irei tecer uma trama tal que enquanto for viva não poderá liberá-la». Mas depois, amedrontado e aborrecido pelo ódio da princesa, se afastou para Nápoles, uma cidade da Campania e ali enviou mensageiros ao povo Longobardo convidando-o a deixar a pobre terra de Pannonia para vir conquistar a bem rica Itália. Para seduzi-los à conquista, enviou muitos tipos de fruta e outros produtos dos quais a Itália é rica. Os Longobardos acolheram com favor aquela mensagem também porque já há tempo a esperavam e desejavam fazer isto, antecipando as muitas vantagens. E logo no céu da Itália apareceram à noite espadas de fogo, presságio daquele sangue que será versado para este acontecimento.
6. Alboino decidiu partir para a Itália com os Longobardos, pediu ajuda aos seus velhos amigos, os Saxões, pois queria ter o máximo de guerreiros possível para levar ao fim a conquista. E os Saxões vieram até ele, vinte mil guerreiros com mulheres e filhos, como acertado, decididos a participar da conquista.
Ao tomarem conhecimento disso, Clotario e Sigiberto colheram a ocasião para distribuir Svevi e outros povos nos territórios deixados livres pelos Saxões.
7. Alboino deixou as terras dos Longobardos, a Pannonia, aos seus amigos Unos mas com o pacto que fosse obrigados a voltar, os Avaros teriam restituído aqueles campos aos Longobardos. Assim, os Longobardos, recolhido cada bem doméstico, com mulheres e filhos, foram em marcha rapidamente para a Itália. Tinham habitado a Pannonia por quarenta e dois anos, saíram em abril, a tempo da "primeira assembleia eclesiástica”, o dia depois daquele de Páscoa que naquele ano, segundo os cálculos, caía no primeiro de abril, quando já tinham passado 548 anos da encarnação do Senhor.
8. Quando o Rei Alboino chegou à fronteira com a Itália com todo o exército e com a multidão de povos em seguida, subiu em um monte que se elevava naqueles lugares e de lá contemplou aquela parte da Itália até onde o olhar podia alcançar. Daquele momento, aquele monte foi chamado “Do Rei”. Conta-se que naquele monte viviam também bisões selvagens e não havia motivo de se maravilhar porque a Pannonia está próxima e ali estes animais são prolíficos. Um velho digno de confiança me contou que no monte viu uma pele de um bisão morto sobre o qual podiam se estender até quinze homens.
9. De lá, Alboino entrou na província de Veneza, praticamente sem encontrar resistência, a capital da região é a cidade, ou melhor, a fortaleza de Cividale del Friuli. E logo começou a pensar a quem dar o comando daquela região. A Itália ao leste é circundada pelo mar Adriático e depois pelo mar Tirreno a sudoeste, ao norte e noroeste é protegida pelos altos Alpes, que não têm passagens se não estreitas gargantas e altos cruzamentos, à nordeste em vez disso, naquela área que faz fronteira com a Pannonia, tem uma passagem bastante fácil. Refletindo sobre qual Duque colocar no comando de Cividale del Friuli, escolheu Gisulfo, homem hábil em todas as coisas que era também seu sobrinho e seu Escudeiro, que na sua língua se diz “marphis”. Gisulfo disse que não teria aceito o governo daquela região se não lhe fossem atribuídas os “Fara” escolhidos por ele e Alboino lhe concedeu, Gisulfo pediu também rebanhos de cavalos de boa raça, isto também lhe foi concedido. Assim ele escolheu entre os mais nobres Fare dos Longobardos e obteve grandes honras e o título de Duque.
10. Nos anos em que os Longobardos invadiam a Itália, o Reino Franco foi dividido em quatro partes pelos filhos do defunto Rei Clotario. O primeiro, Ariperto, se estabeleceu em Paris, o segundo, Guntramno, governou em Orleans, Ilperico colocou o seu trono em Suisson, de onde tinha reinado seu pai Clotario e Sigiberto governou a cidade de Metz.
Neste mesmo período era Papa o santíssimo Benedetto.
No comando da cidade de Aquileia estava o beato Patriarca Paolo, o qual, temendo as barbáries Longobarda, se refugiou na ilha de Grado levando com ele o tesouro da igreja de Aquileia.
No inverno que precedeu a chegada dos Longobardos, na planície caiu muita neve como de costume nos picos dos Alpes e depois no verão a colheita foi abundante como não se lembrava há tempo.
Sempre nestes anos, os Unos, ou seja, os Avaros, ao saber da morte de Clotario atacaram seu filho Sigiberto mas este os enfrentou em Turingia no rio Elba, os enfrentou em combate e depois sob seu pedido lhes concedeu a paz. À Sigiberto é dada como mulher Brunechilde que veio da Espanha. Ela lhe deu um filho de nome Childeberto.
Depois, de novo, os Avaros atacaram Sigiberto nos mesmos locais da anterior batalha e desta vez venceram, massacrando o exército Franco.
11. Neste ano, Narsete voltou para Roma da Campania mas morreu logo depois, o seu corpo foi colocado em uma arca de chumbo e com todas as suas riquezas foi enviado para Constantinopla.
12. Quando Alboino chegou no rio Piave, o bispo de Treviso, Felice, ficou contra e a ele e Alboino concedeu conservar todos os bens da Igreja, mostrando-se bondoso e confirmou isto com a “Pragmática Sanção”.
13. Tendo nomeado este Felice, quero aqui falar do venerável e santíssimo Fortunato que nos conta que Felice foi seu companheiro. O Fortunato de quem estou para lhes falar nasceu em um lugar chamado Valdobbiadene a não pouca distância do castelo de Ceneda e da cidade de Treviso. Foi criado em Ravenna onde se tornou célebre na arte da gramática, na retórica e também na métrica. Tendo ambos dor nos olhos, foram juntos para a basílica dos beatos Paolo e Giovanni disposta no interior dos muros da cidade. Aqui há um altar construído e honra do beato Martino confessor, aí sobre uma janela existe uma lâmpada para iluminar. Com o óleo daquela lâmpada, Fortunato e Felice ungiram os olhos e logo a dor dos olhos sarou, como desejado por eles. Por este motivo, Fortunato venerou sempre o beato Martino e pouco antes que os Longobardos invadissem a sua pátria foi para Tours em visita ao sepulcro do santo. O mesmo Fortunato nos conta em versos a sua viagem através das correntes de Tagliamento, Ragogna, Osoppo, os Alpes Giulie, a fortaleza de Agunto, os rios Drava e Birro, as terras dos Brioni, a cidade de Augusta, banhada pelo Birro e Lech. Depois de chegar em Tours e ter cumprido seu Voto, estabeleceu-se em Poitiers onde escreveu, em prosa e versos, muitas vidas de santos. Em Poitiers foi ordenado primeiro presbítero e depois bispo e agora repousa sepultado com dignas honras. Ali escreveu também a vida do beato Martino, quatro livros em hexâmetros. E escreveu muitos outros carmos em doce e culta língua, hinos para as festividades cristãs e para os amigos. Foi em peregrinagem no seu sepulcro como lhe pedido por Apro, abade daqueles locais e ali compôs este epitáfio.

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História Dos Lombardos Paolo Diacono – Paulus Diaconus
História Dos Lombardos

Paolo Diacono – Paulus Diaconus

Тип: электронная книга

Жанр: История Средних веков

Язык: на португальском языке

Издательство: TEKTIME S.R.L.S. UNIPERSONALE

Дата публикации: 16.04.2024

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О книге: Um livro histórico, escrito em latim por Paolo Diacono no oitavo século d.C., narra os acontecimentos do povo Lombardo que saiu da Escandinávia para alcançar a Itália e reinar por outros dois séculos. Hoje, Milão é a capital daquela região que leva o nome de Lombardia, terra dos Lombardo. A história é interessante mesmo se a conquista Franca nos tira o gosto do final feliz, Na tv e nas ficções, há histórias que parecem retiradas das histórias deste povo; a vida de Grimoaldo, Rei dos Lombardos vale por si só um romance.

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